quinta-feira, 21 de março de 2024

Eu e yoga

 



Nos últimos 5 meses e meio intensifiquei e, principalmente, aprofundei a prática de yoga. Claro que melhorei a flexibilidade, certamente algumas posturas mais exigentes que não eram confortáveis há meses atrás estão bem mais cómodas agora. Poderia mostrar fotografias de abertura de pernas, torções, ou em que fico de cabeça para baixo, mas eu sinto que a minha maior conquista está aí, nessas duas fotografias. Talvez a diferença não seja muito notória, mas a sensação que está por trás de uma fotografia e da outra é bem diferente. A aparência da postura é idêntica, mas a atuação e intenção que a anima são diferentes. Na primeira havia resistência, na segunda há entrega. As maiores evoluções que o yoga nos proporciona são assim mesmo: subtis, quase imperceptíveis pelo lado de fora, mas profundas no lado de dentro. Mais do que atingir a forma, atingem a essência. Hoje, eu sinto-me mais confortável no meu próprio corpo, tudo está mais encaixado, e isso permite que a mente se vá estabilizando também. Quando o corpo chama muito a atenção, a nossa atenção fica escrava dele. Quando assentamos no corpo, abre-se um espaço para que a atenção flua para outras coisas. Mais do que isso, percebemos que é possível direcionar a atenção. Surgem novas sensações, percepções. E, não, não são todas boas, positivas e maravilhosas. Às vezes é com alguma sombra que nos deparamos. E tudo bem. O yoga não é só sobre luz e viver sereno 100% do tempo, é sobre abraçar tudo, de peito aberto, com completude, inteireza, autenticidade, abertura. É sobre aprender a navegar pelos dias bons e maus, e saber que passos para a frente e para trás fazem parte do caminho. O mais importante é caminhar, o mais importante é o passo que damos aqui e agora.

Agradeço ao meu professor Caio Corrêa e à potência da troca que acontece no grupo inspirador e acolhedor que compõe a turma do @yogalaya_ .
Seguimos, com empenho e abertura.

Eu e Jacob Collier

 


Jacob Collier é, sem sombra de dúvidas, um dos músicos mais geniais do nosso tempo - e, atrevo-me a dizer, de todos os tempos! Não só é um excelente cantor com um timbre que vai dos graves mais profundos aos mais cristalinos falsetes, como é um exímio pianista, guitarrista, e um multi-instrumentista de todo o tipo de instrumentos. Além disso, é absolutamente admirável a sua compreensão da música, o senso de harmonia, o sentido rítmico que pulsa em tudo o que faz. As suas músicas não distraem: inspiram, espelham a sensibilidade e o quanto a música lhe corre nas veias. As versões que faz de músicas de outros cantores ou bandas são magníficas: descontruções e reconstruções que ganham uma nova cor à luz da sua imaginação prodigiosa.
E o que dizer de Jacob Collier em palco? Despojado, alegre, simples, às vezes de pé descalço, passeia pelo palco e pelos vários instrumentos como se estivesse em casa. E quando se torna o maestro do público, transformando aquela massa humana de desconhecidos, heterogénea, imensa, num gigantesco coro afinado a cantar a várias vozes, não há quem possa ficar indiferente! Milhares de pessoas, sem qualquer ensaio prévio, seguem intuitivamente os gestos de Jacob Collier, e o espaço reverbera com a música vinda de todos os cantos. As vozes fundem-se, e de forma brilhante, Jacob constrói uma narrativa com harmonias vibrantes e surpreendentes. Naqueles minutos, não existe diferença de idade, crença, nacionalidade, género, raça que prevaleça: todos são Um, e a música é a sua linguagem. Naqueles minutos, a música faz o que de melhor sabe fazer: une. Jacob Collier, ao dirigir coros nas plateias pelo mundo afora, mostra-nos a maior e mais bonita verdade da nossa existência: somos todos mais parecidos do que diferentes, somos todos parte de uma mesma coisa, e somos mais fortes quando nos unimos.

Eu, as árvores e as orquídeas

 


A Natureza tem colaborações tão bonitas!.. Uma delas é a das orquídeas e das árvores. Aqui em São Paulo, é muito comum ver as orquídeas entrelaçadas nas árvores. As orquídeas acomodam-se, a árvore acolhe. A orquídea beneficia-se, fortalece-se, floresce, sem prejudicar a árvore em nada. A árvore dá, desinteressadamente. Doa, sem esperar nada em troca, não teme a presença da orquídea, não a repulsa. As duas encontram uma forma de coexistir harmoniosamente juntas. E somos nós que também ganhamos: ao contemplar a árvore ainda mais embelezada, enfeitada, e as orquídeas a florescer, coloridas. Poderíamos aprender tanto com a Natureza...A presença do outro nem sempre tem de ser encarada como uma ameaça. Na diferença, algo bonito pode florescer. Na colaboração, o crescimento acontece. No entendimento, a Beleza manifesta-se. Que possamos ser mais árvore para as orquídeas que precisam de nós.

Eu e os erros

Se eu escrver uma palavra errada pelo meio do caminho de um texto, o seu cérebro vai lê-la corretamente. Não vai atrapalhar a sua compreensão. Às vezes, nem sequer se apercebe do erro. (Percebeu o meu erro na primeira frase deste texto?..) Isto porque o nosso cérebro é especialista em poupar energia criando atalhos: quando lê uma palavra parecida com outra que já conhece, assume que se trata dela mesma e não gasta mais tempo nisso. Então, estamos sempre a observar o mundo através das informações que já temos. Nunca vemos o mundo como ele é. Vemo-lo através dos filtros e automatismos que vamos criando. Isso significa que podemos estar a olhar para várias "palavras erradas" todos os dias sem nem nos apercebermos disso. São os nossos conhecimentos, experiências, crenças que vão criando as lentes através das quais vemos e interpretamos o mundo à nossa volta. Nada no mundo é só preto ou branco: tudo depende das cores que temos nas nossas lentes. Exatamente por isso, há pessoas que passam pela mesma experiência de forma muito diferente - por exemplo uma doença ou o luto. A verdade é que não há um mundo apenas a ser visto, mas cerca de 8 bilhões de formas de ver o mundo. Não se renda às "palavras erradas", não se limite pelas suas crenças ou vivências passadas. O mundo é vasto e cheio de possibilidades. Não dá para prestar atenção a tudo, mas em cada coisa que fazemos deve estar toda a nossa atenção. E, com essa presença, podemos abraçar a grande questão: de que forma escolhemos ver o nosso mundo? 

Eu e a dor

Hoje, um dos meus alunos estava com uma dor no pé. "É horrível sentir dor! Seria melhor se não existisse dor..." De facto, sentir dor é terrível, mas não poderíamos viver sem ela. A dor nada mais é do que um sinal de alerta do corpo. Como um alarme que toca cada vez que o corpo se sente ameaçado. Se não sentíssemos dor, poderíamos queimar-nos de forma irreversível, ou passar a vida a quebrar ossos, romper músculos ou tendões. É a dor que nos impede de ultrapassar os limites do nosso corpo. Também a dor emocional é um sinal de alerta de que ultrapassámos algum limite no nosso universo interno. Se nos magoa, se nos constrange, se nos amedronta, é preciso refletir em que limite esbarramos. A dor é desagradável, mas necessária e, se soubermos ouvi-la, é uma excelente professora sobre o assunto mais relevante da nossa vida: nós mesmos.

Eu e a beleza de cada um


 São Paulo está florida. Flores violeta, cor-de-rosa, brancas e amarelas cobrem as árvores pela cidade. Nas primeiras vezes que me deparei com elas pensei "Que árvores bonitas!.. Bom, não são como os ipês, mas são bonitas." Dia após dia, fui admirando mais a sua beleza, as suas cores únicas e, acima de tudo, fui procurando evitar a comparação com os ipês. Claro que a beleza destas árvores não é comparável com a dos ipês, porque cada uma tem a sua beleza própria. Os ipês causam-nos um deslumbramento que é difícil de igualar. Ficamos estarrecidos. Mas estas árvores, são lindas na sua forma mais singela, com flores delicadas, mas cores fortes. O violeta, principalmente, é lindíssimo e destaca-se na paisagem da cidade. Se olharmos para estas árvores à procura da beleza de um ipê, vamos decepcionar-nos. Se as admiramos com a sua beleza própria, vamos encantar-nos.
Às vezes, tudo depende da perspectiva com que abordamos alguma coisa. O peso das expectativas, pode estragar muitas experiências e interações. É preciso perceber o que está à nossa frente, quem está à nossa frente, para que possamos ter a melhor experiência possível, mais completa, única. Quando for saborear um morango, saboreie aquele morango, não o que comeu na semana passada, ou o que comia na sua infância. Não o compare com nenhuma outra experiência. Quando assistir a um concerto, ouça a música desse concerto, não reviva o concerto a que assistiu no passado. É preciso ver o que realmente está à nossa frente para que possamos deleitar-nos na experiência.