quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Eu e os foguetes (Ai, Corinthians)

Eu sou do Benfica. Desde que me entendo por gente. Toda a minha família é. E gosto muito do Benfica. Gosto mesmo. Gosto de ver os jogos e de acompanhar os resultados. Houve alturas em que planeava o meu dia de estudo de forma a que a hora de descanso casasse com a hora do jogo do Benfica. E lá ficava com o meu irmão - que me culpa até hoje de ser do Benfica - a torcer por eles. Ganhamos carinho por alguns jogadores que ficam mais épocas e, que quando saem, parecem não se esquecer de nós, e consideramos non grata aqueles que deixam o Benfica "a mal" - vêm-me à cabeça uns dois ou três exemplos. Ora bem, posto isto, e assumindo que entendo o que seja gostar de um clube e torcer por ele, deixem-me admitir-vos o que me passa hoje pela cabeça: não entendo os adeptos do Corinthians. Não entendo e não gosto. E, perdoem-me, corinthianos, mas realmente antes de vir viver para aqui, eu mal sabia que a vossa equipa existia. Para mim, as grandes equipas do Brasil eram Flamengo, São Paulo e Palmeiras. Só quando cheguei aqui comecei a perceber a dimensão da...como lhe chamar?.. Da devoção dos adeptos do Corinthians. Chega a ser uma doença. Desculpem-me dizer-vos isto, pá, mas parem para pensar comigo: um casal que vai passar a lua de mel ao Japão só para ver o raio do jogo do Mundial de Clubes, outro que deixa de comer para comprar a passagem, outro que pede a demissão para viajar com o dinheiro da rescisão?! E olhem que eu citei três exemplos, mas são aos milhares! Meus amigos, não vos parece, pelo menos um pouco, exagerado? Mas até aí, tudo bem, é com cada um e é como se costuma dizer: cada um sabe de si e Deus sabe de todos. O problema é quando não é só com cada um e mexe com cada um de nós. Não posso entender e achar que seja normal que estes fulanos tenham passado a noite, desde as malditas 4 horas da manhã a mandar foguetes só porque a equipa vai jogar às 8 horas da manhã locais um jogo do Mundial de Clubes! Meus amigos, o jogo ainda não foi! Eles estão lá no Japão, longe pra caramba - pra não escrever pior-, não ouvem os vossos foguetes. Mas eu sim! O meu marido que acorda bem cedo para ir trabalhar, e o nosso bebé. Ouvi-os às 4 horas da manhã e em vários horários até agora, em que vos escrevo (lá vai mais um, c´um caneco). Ouvi, e não queria ter ouvido. Inclusivamente ouvi um buzinão também pelas 4 horas da manhã - acho até que inspirado pelos malditos foguetes- digno de qualquer título nacional ou mundial, felizmente numa estrada longe daqui, já que o som era remoto, mas ainda assim, espantem-se, audível e perceptível,  Para quê, meus amigos? Só me resta torcer para que o Corinthians perca, porque se é assim antes do jogo, não quero sequer imaginar como seria depois de uma vitória. Recordo-me bem como foi depois da conquista da Libertadores. Thanks but no thanks, não gostaria de repetir a dose. (E lá vai mais um foguete.)


P.S. Que me desculpem os adeptos do Corinthians que não se enquadram nesta descrição e não vivem os eventos desportivos da sua equipa desta forma desmesurada.

Pensamentos soltos



A minha alma comunga, una, com tudo o que a rodeia em pequenos momentos como este. Momentos banais. Tão fugazes como o vaguear das nuvens pelo céu. Momentos que poderiam passar despercebidos. Mas enquanto eu parar, seja em que cidade do mundo for, seja a que altura do dia for, para suspirar com o peito cheio e arrebatado perante a beleza do céu, de um pôr-do-sol ou do brilho da lua, continuo a ser eu mesma, continuo à procura, continuo a ter a semente do sonho dentro de mim e a sentir, com todas as partículas do meu ser, que vale a pena viver neste mundo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Eu e a feira

 Sexta feira. Chegam carrinhas, camiões, camionetas. Descarregam tudo bem cedo e, metade da rua, ganha uma nova configuração até ao começo da tarde. Barracas umas a seguir às outras, rua acima, até à rua transversal. Cheiros, cores, sons. Tudo é diferente nesse dia. É dia de feira.
Saio de manhã com o pequeno e vamos às barracas do costume, comprar as coisas de sempre. Já nos conhecem. Somos bem atendidos - aquela malta sabe vender! O pequeno recebe sempre um cacho de uvas extra, cortesia da casa. É frequente ouvirmos o "pra você faço X reais, moça." É preciso manter a freguesia. No começo, reparavam no meu sotaque. Uns arriscavam apenas " você não é daqui..." Outros afirmavam sem pingo de dúvida na voz "você é portuguesa." É frequente partilharem que são filhos ou netos de portugueses. Perguntam de que cidade sou e dizem de onde são os familiares. Perguntam se o pequeno é português ou brasileiro . "Os dois. Nasceu lá, mas também tem cidadania aqui." Quando me perguntam se é do Corinthians, respondo com um sorriso "é do Benfica", mas não resisto a acrescentar "com certeza aqui vai ser do São Paulo." Na verdade, vai ser do que ele quiser, mas cada um puxa a brasa à sua sardinha... e espera que ele não escolha Corinthians ou Porto!
Ele gosta de ir comigo à feira. Ajuda a puxar o carrinho e a escolher as batatas e os tomates. Sabe qual é a ordem pela qual vamos às barracas. Todos sabem o nome dele e ele sabe o de alguns. Tudo se tornou num ritual. Passeamos pela longa rua ao som dos gritos dos vendedores. Passamos pelas barracas dos deliciosos pastéis de feira e do caldo de cana. Depois vem a do senhor que vende de tudo um pouco, desde abre-latas a brinquedos "ching-ling" que o pequeno sempre observa como quem pede. Depois vêm as cebolas, limão e alho no senhor que também vende o coco ralado que ele mesmo vai ralando toda a manhã e sempre me pergunta se "não quer levar hoje?" Bancas das bananas. Várias, com todos os tipos possíveis e imaginários de banana que, até chegar aqui, eu nem sabia da existência. Na barraca dos temperos fico impressionada com a multiplicidade de cores e aromas. Há as bancas do peixe e da carne, de todos os tipos de legumes e, claro, das frutas. Exóticas, menos exóticas. A pêra portuguesa (entenda-se pêra rocha) não falta em nenhuma!..O pequeno gosta das uvas. Melancia e pêssego completam as preferências. Eu descobri que o diospiro é caqui e que adoro abacate.
Voltamos para casa de mãos vazias...o carrinho chega cheio, pouco depois, pelas mãos do rapaz que faz o favor de nos levar as coisas a casa.
Arrumamos tudo com que nos vamos deliciar durante a semana e guardamos o carrinho vazio...até à sexta seguinte.