terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Coisas que me fizeram parar



Vi esta frase na casa da R., uma das minhas melhores amigas, e não pude deixar de o mostrar aqui. Porque esta é talvez a maior lição que eu tenha de aprender aqui em São Paulo: dançar à chuva. Já tenho ensaiado alguns passos embora, por vezes, continue a fugir a sete pés para algum canto e, enrolada na bolinha mais perfeita que o meu corpo permita, una as mãos a pedir por tudo o que é mais sagrado que a tempestade passe. Mas uma coisa posso dizer: como é tão mais fácil abraçar este desafio com uma grande amiga por perto!.. Porque se há coisa que melhora a vida de uma pessoa é viver na mesma cidade que uma das melhores amigas. Mesmo que nos vejamos uma vez por mês, mesmo que falemos uma ou duas vezes por semana ao telefone. O simples facto de a saber por perto, à distância de um trajeto de táxi ou de ônibus é reconfortante e apaziguador. Eu sei que ela está lá, e ela sabe que eu estou aqui e, acreditem ou não, isso faz toda a diferença para a nossa alma. (Ou não fosse a R. minha irmã de alma!..)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Eu e a verdade

Esta semana eu e meu pequeno fomos de ônibus ao parque. No caminho, o ônibus parou num semáforo e a janela em que estávamos ficou bem em frente a uma calçada onde um morador de rua dormia enrolado em cobertores velhos, com um cartaz alusivo a Jesus à sua frente. Ele nem se apercebeu que paramos ali. O meu pequeno, por outro lado, apercebeu-se de que ele estava ali parado e, num ônibus quase vazio em que todos, querendo ou não, ouviam o que ele dizia, ergueu a voz, intrigado e indignado: "mamãe, está ali um senhor a dormir no chão!" Eu não dei muita conversa, esperando não ter de entrar em maiores explicações que, à partida, me pareceram difíceis para a compreensão de um pequeno ser de 3 anos e picos. Mas ele, como sempre faz, insistiu: "Mamãe, porque é que ele está a dormir no chão?" Eu tentei explicar, sem detalhes, que ele dormia ali por não ter outro lugar para dormir. Ele continuou, num tom de voz ainda mais forte: "Mas pessoas não dormem no chão! Pessoas dormem nas camas!" O meu olhar cruzou-se com o de uma jovem senhora que estava algumas filas mais atrás. Ela sorriu-me, como quem diz "e agora?..", e sorriu a olhar para ele, intuo que admirando a sua bonita ingenuidade. "Filho, algumas pessoas não têm cama, não têm casa e, por isso, muitas vezes têm de dormir no chão." Ele não entendeu, e continuou a questionar-me "Mas porque é que ele não dorme numa cama?" Eu, sem muitos argumentos, reiterei "algumas pessoas não têm casa, filho, infelizmente...Precisam de dormir na rua porque não têm casa." Ele, surpreendentemente, terminou o assunto, em paz e positivismo, dando-lhe o fim que melhor coube no seu entendimento e que mais lhe agradou à sensibilidade: "ah, já entendi!.. A casa dele é muuuuito longe, por isso que ele deitou ali no chão a descansar um pouco." Eu sorri e, rendida, concordei com ele "É isso, meu amor, a casa dele ainda está longe mas, um dia, ele vai chegar lá." Como disse Ferreira Gullar uma vez "verdade sobre a existência, sobre a vida? ninguém sabe o que é isso, então, se a gente não sabe nada do sentido de tudo, mais vale inventar pro bem!"




quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Coisas que nos fizeram....andar









O Ibirapuera. Que belas manhãs lá tivemos estes dias! Manhãs de sol aberto e muito calor motivaram-nos a, pela primeira vez em quase dois anos, arriscar uma ida até lá. Foi tão positivo que, logo no dia seguinte, repetimos a dose - aproveitando enquanto é bom tempo. Não sei porque esperamos tanto tempo para o conhecer. O parque é enorme, tem dois lagos com cisnes - o que é um ponto a favor de quem vai com crianças pequenas- e diversas áreas de lazer, desde playgrounds, a quadras de basket, espaço para andar de skate ou patinar e espaços com equipamentos para fazer exercício físico. Tem várias unidades móveis de polícia, pelo que é bem vigiado. Junto ao portão 3 é possível alugar uma bicicleta. O serviço funciona muito bem. Em dia de semana, de manhã, não há tempo de espera, é praticamente só fazer o pedido, e seguir viagem. Têm disponível bicicletas grandes, pequenas com rodinhas e uma espécie de carro para pedalar que é alugada a idosos ou pessoas com deficiência física. O preço também é bem acessível: R$5 por hora. Ainda nos disponibilizam capacetes e um cadeado para a bicicleta. Dentro do parque há um ciclovia e, mais uma vez, em dia de semana e de manhã, não há, digamos, tráfego intenso e é bem fácil passear pelo parque, tanto de bicicleta quanto a pé. Pedalamos e andamos quilómetros no parque! Ainda visitamos o MAM, passeamos no Jardim das Esculturas e, claro, aproveitamos os playgrounds. Alguns brinquedos estão em mau estado mas, regra geral, as coisas funcionam bem e são bem diversificados - o pequenote adorou, e o difícil foi tirá-lo de lá! Há quem aproveite as sombras das árvores para fazer piquenique - que é um dos nossos planos para uma próxima visita! O parque também tem (que eu tenha visto) restaurante e uma lanchonete, para além dos vendedores ambulantes. Podemos apreciar as maravilhosas arquiteturas de Niemeyer e uma coisa que faz falta em São Paulo e, ali, encontramos de sobra: céu aberto, verde e água.
Aprovadíssimo!



Sessão de fotografia junto ao MAM


Oca

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Subscrevo



"I believe in dreams.

I believe in laughter.

I believe in family."



Numa casinha de Papai Noel, algures em São Paulo.

domingo, 27 de outubro de 2013

Coisas que me fizeram parar

  Não sei ao certo que árvore é esta. Vêem-se aqui e acolá por São Paulo. Para mim, são uma associação inequívoca e imediata com os arbustos que espreitavam por entre a rede que circundava a minha primeira escola. Isso faz-me sorrir e, como naquela época, passo-lhes a mão delicadamente e sinto as leves cócegas na pele.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Coisas que me fizeram parar



Desculpem, mas não me canso desta imagem. Embora já a tenha retratado, há dias em que não resisto a fazê-lo novamente.

domingo, 20 de outubro de 2013

Coisas que me fizeram parar



As chuvas e ventos fortes espalharam a Primavera pelo chão.

Isto não é verdade



A quem se desloca de ônibus em São Paulo: isto é mito. O ônibus não só pode, como várias vezes inicia a marcha com as portas ainda abertas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Coisas que me fizeram parar








 Fiquei absoluta e totalmente extasiada quando me deparei com esta árvore há alguns dias atrás. Linda, linda, linda. Acho que foi a árvore mais bonita que já vi na vida! Como nenhuma das fotografias que tirei lhe fez jus, deixo aqui todas. O engraçado é que, quando a vi, parei, sorri e, num suspiro, a minha alma entrou no ritmo do compasso da árvore. Procurei o telemóvel para tirar a foto e enquadrei-me o melhor que pude para captar a sua luz. Fui tirando várias fotos e isso fez parar uma senhora que por ali passava, na direção oposta à minha. Quando nos cruzámos, ela sorriu e disse "Tá um show, não? Conseguiu tirar a foto?" Retribui o sorriso, disse que achava que sim, e depois de "tchau" e mais um sorriso, seguimos o nosso caminho. Mais tarde, no meu trajeto de volta, parei novamente para tirar mais umas fotos. Mais uma vez, na direção oposta vinha uma senhora. "Linda demais, não?" "Com certeza", respondi. "Ainda há dias não tinha uma flor! Acho que é uma árvore de milagres...", disse ela. "Eu nunca tinha visto nenhuma nem parecida!..", admiti. "Essa árvore é o ipê. Há branca, amarela e rosa. É o símbolo do Brasil." "Não fazia ideia", respondi. "Eu mesma vou tirar uma foto! Está mesmo linda demais!", disse ela enquanto segurava o seu telefone na mão. Sorrimos, eu segui o meu caminho e ela...parou. 
Neste dia, diante de tamanho exemplo de perfeição da natureza, eu parei e, em consequência, outros pararam também. Não é de admirar: o que nos fez parar foi algo tão incrivelmente belo que me custa a crer que alguém que por ali passe lhe fique indiferente.
E como a primavera está aí à porta, não resisti a tirar a última foto:




terça-feira, 10 de setembro de 2013

Eu e Deus

Nunca me preocupei com religião ou espiritualidade. São assuntos que nem me aqueciam nem arrefeciam. Se Deus existe, eu (ainda) não tive o prazer de o conhecer e, também, diga-se, não era coisa que me afetasse minimamente. Ao mesmo tempo, sempre senti, isso sim, uma energia especial fluir em mim em virtude de uma série de coisas, como o pôr-do-sol, o azul do céu, a música, a beleza de uma flor, o canto de um pássaro, ou o conforto do abraço do meu filho. A minha alma "descansa" nesses momentos. Aquela mítica sensação de "um" com tudo...já a toquei em diversos desses momentos.
E eis que nos meses que passaram li (ou reli) alguns livros que, aparentemente, não tinham qualquer coisa que fosse em comum: "O símbolo perdido" de Dan Brown, "Comer, orar e amar" de Elizabeth Gilbert e "Maturidade" de Osho, e todos eles, de alguma forma, me apontaram um mesmo caminho e mexeram irremediavelmente com o meu coração.
O primeiro que li desta sequência foi o de Dan Brown. Boa leitura, como todos os outros que li dele. Empolgante e cheio de curiosidades históricas. Algumas passagens do livro, no entanto, chamaram particularmente a minha atenção e levaram-me à reflexão.



"Na verdade, a mais antiga busca espiritual do homem era para perceber seu próprio entrelaçamento, sentir sua interconexão com todas as coisas. O homem sempre quis se tornar "um" com o Universo...alcançar o estado de união." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"- Peter, a Bíblia e os Antigos Mistérios são opostos completos. Os mistérios falam do deus dentro de nós...do homem como deus. A Bíblia fala do Deus acima de nós...e nela o homem é um pecador impotente.
- Isso! Exatamente! Você tocou no xis da questão! No instante em que a humanidade se separou de Deus, o verdadeiro significado da Palavra se perdeu. As vozes dos antigos mestres foram engolidas pela ladainha caótica daqueles que se autoproclamam escolhidos e gritam serem os únicos a compreender a Palavra...que está escrita na sua língua e em nenhuma outra. 'Não sabeis que sois deuses?' "
(...)
- Buda disse 'Você mesmo é Deus.' Jesus ensinou que 'O reino de Deus está entre vós' e chegou até a nos prometer que 'Quem crê em mim fará as obras que eu faço e fará até maiores do que elas.' Até mesmo o primeiro antipapa, Hipólito de Roma, citou a mesma mensagem, dita pela primeira vez pelo erudito gnóstico Monoimus: 'Abandone a busca por Deus...em vez disso, procure por ele tomando a si mesmo como ponto de partida.' "
Langdon se lembrou da Casa do Templo, onde a cadeira do Cobridor da loja trazia, em seu espaldar, a inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO.
- Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se esqueceu de que é divino." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"Com delicadeza, ela ergueu a mão e tocou a têmpora de Langdon.
- Existe um motivo para temple, em inglês, significar tanto 'têmpora' quanto 'templo', Robert.
Enquanto Lagdon tentava processar o que Katherine acabara de dizer, lembrou-se inesperadamente do Evangelho gnóstico segundo Maria: Onde a mente está, lá está o tesouro." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"- Talvez você tenha ouvido falar nos exames de ressonância magnética feitos em iogues meditando. Quando em estado avançado de concentração, o cérebro humano produz, por meio da glândula pineal, uma substância parecida com cera. Essa secreção cerebral não se parece com nenhuma outra substância do corpo. Ela tem um efeito incrivelmente curativo, é capaz de regenerar células e talvez seja um dos motivos por trás da longevidade dos iogues. Isso é ciência, Robert. Essa substância tem propriedades inconcebíveis e pode ser criada por uma mente em estado de profunda concentração. 
O mais incrível de tudo é que, assim que nós, humanos, começarmos a dominar nosso verdadeiro poder, teremos enorme controle sobre o mundo. Seremos capazes de projetar a realidade em vez de simplesmente reagir a ela. Se os pensamentos afetam o mundo, então precisamos tomar muito cuidado com a maneira como pensamos. Pensamentos destrutivos também têm influência, e todos sabemos que é muito mais fácil destruir do que criar." (O Símbolo Perdido- Dan Brown).


Segui para o livro seguinte que encontrei, por acaso, perdido aqui por casa. Até já tinha visto partes do filme baseado em "comer, orar e amar", mas não me recordava bem e resolvi começar pelo princípio e ler o livro. Este, sim, mexeu muito comigo. Li todo o livro e, posteriormente, reli a parte de "orar" algumas vezes. Para minha surpresa, estava a ler, por outras palavras, algumas coisas idênticas às que tinha encontrado em "o símbolo perdido".



"Os iogues, no entanto, dizem que o descontentamento humano é um simples caso de identidade equivocada. Nós somos infelizes porque achamos que somos meros indivíduos, sozinhos com nossos medos e falhas, com nosso ressentimento e nossa mortalidade. Acreditamos equivocadamente que nossos pequenos e limitados egos constituem toda a nossa natureza. Não conseguimos reconhecer nossa natureza divina mais profunda. Não percebemos que, em algum lugar dentro de todos nós, existe um Eu supremo que está eternamente em paz. Esse Eu supremo é a nossa verdadeira identidade, universal e divina. Se você não perceber essa verdade, dizem os iogues, estará sempre desesperado, ideia expressa de forma inteligente na seguinte frase irritada do filósofo estóico grego Epíteto: "Você leva Deus dentro de si, seu pobre desgraçado, e não sabe disso." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"Mas ioga também pode significar tentar encontrar Deus por meio da meditação, por meio do estudo erudito, por meio da prática do silêncio, por meio do serviço da devoção, ou por meio de um mantra - a repetição de palavras sagradas em sânscrito. Embora algumas dessas práticas pareçam ter uma derivação bastante hinduísta, ioga não é sinónimo de hinduísmo, nem todos os hindus são iogues. O verdadeiro ioga não compete com nenhuma religião, nem a exclui. Você pode usar seu ioga - as suas práticas disciplinadas de união sagrada- para se aproximar de Krishna, Jesus, Maomé, Buda ou Javé. (...) 'Nosso propósito nesta vida, portanto', escreveu Santo Agostinho, ele próprio um pouco iogue, 'é recuperar a saúde do olho do coração através do qual se pode ver Deus.'" ("Comer, Orar e Amar"- Elizabeth Gilbert)

"Existe um motivo pelo qual Deus é chamado de presença - porque Deus está bem aqui, agora. O presente é o único lugar onde se pode encontrá-lo, e o agora é o único momento. No entanto, permanecer no presente exige que a pessoa se concentre inteiramente em um só ponto. Diferentes técnicas de meditação ensinam a concentração de diferentes formas. (...) Dizem que os grandes mantras em sânscrito possuem poderes inimagináveis e, se você conseguir se ater a um deles, eles têm a capacidade de conduzi-lo até as margens da divindade." ("Comer, Orar e Amar", Elizabeth Gilbert)

"Deus vive dentro de você, como você."
COMO você.
Se existe uma única verdade nesse ioga, essa frase a resume. Deus vive dentro de você como você mesmo, exatamente da maneira que você é. (...) Para conhecer Deus, você só precisa renunciar a uma coisa - à noção de que é algo distinto de Deus. Fora isso, simplesmente permaneça como foi criado, dentro do seu caráter natural." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"E o santo disse: "Não existe nada que você ame?" A mulher admitiu que amava seu pequeno sobrinho mais do que qualquer outra coisa na vida. O santo disse: "Então, pronto. Ele é seu Krishna, o seu bem-amado. Quando você serve ao seu sobrinho, está servindo a Deus." (Comer, Orar e Amar- Elizabeth Gilbert)



"Nós buscamos a felicidade por toda a parte, mas somos como o mendigo da fábula de Tolstoi, que passou a vida sentado em cima de um pote de dinheiro, mendigando centavos de todos os passantes, sem saber que sua fortuna estava bem debaixo dele o tempo todo. O seu tesouro- a sua perfeição- já está dentro de você. Porém, para acessá-lo, você precisa deixar para trás o frenesim da mente e abandonar os desejos do ego e adentrar o silêncio do coração." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"O eixo da calma fica no seu coração. É aí que Deus reside dentro de você. Então, pare de procurar respostas no mundo. Simplesmente retorne sempre a esse centro, e sempre vai encontrar a paz." (Comer, Orar e Rezar- Elizabeth Gilbert)



" - Você precisa aprender a escolher seus pensamentos do mesmo jeito que escolhe as roupas que vai usar a cada dia. Isso é uma capacidade que você pode aprimorar. Se você quiser tanto assim controlar as coisas da sua vida, controle a sua mente. Ela é a única coisa que você deveria estar tentando controlar. Largue todo o resto, menos isso. Porque, se você não conseguir dominar seu pensamento, vai ter muitos problemas para sempre.
À primeira vista, isso parece uma tarefa quase impossível. Controlar seus pensamentos? Em vez de o contrário? Mas imaginem: e se fosse possível?" ("Comer, Orar e Amar", Elizabeth Gilbert)


No final de tudo isto, reli "Maturidade" de Osho. E lá estavam, os mesmos princípios, as mesmas temáticas, as mesmas...crenças.



"Todo o meu esforço vai no sentido de o tornar consciente de que nada é preciso, nada mais é precioso. Você já o possui aí, existe dentro  de si. Mas você terá de fazer tentativas, abrir portas, encontrar maneiras de o descobrir. Tem de escavar para o encontrar; o tesouro está lá." ("Maturidade", Osho)



"Partindo do coração, vocês encontram-se subitamente no vosso ser, exatamente no centro." ("Maturidade", Osho)



"Maturidade é saber que há algo dentro de si que é imortal, é saber que há algo dentro de si que transcenderá a morte - isso é meditação. A mente conhece o mundo; a meditação conhece Deus. A mente é uma maneira de compreender o objeto; a meditação é uma maneira de conhecer o sujeito. A mente preocupa-se com o conteúdo, e a meditação preocupa-se com o recipiente, a consciência." ("Maturidade", Osho)



"Meu amigo, eu procurava-me e buscava-me a mim próprio. Em vez de me encontrar a mim mesmo, encontrei o mundo inteiro, o universo inteiro. A gota de orvalho não desapareceu dentro do oceano, o oceano é que desapareceu dentro da gota de orvalho." ( "Maturidade", Osho)



Esta passagem fez-me lembrar uma outra que, há muitos anos atrás, vi no filme "terças com morrie". Uma ondinha ia a passear, alegremente, pelo oceano. Quando começou a avistar a costa reparou, assustada, que as ondinhas lá rebentavam, e disse apavorada para outra "vamos morrer na praia!" A outra sorriu e disse "não percebeste ainda? Tu não és uma onda, tu és parte do oceano."

E, umas quantas páginas à frente, no mesmo livro, encontro:



"Uma gota de orvalho deslizando da folha-de-lótus para dentro do oceano...Poderão pensar que a pobre gota se perdeu, que perdeu a sua identidade. Mas vejam isso de outra perspetiva: a gota tornou-se o oceano. Não perdeu coisa nenhuma, tornou-se imensa. Tornou-se oceânica." ("Maturidade", Osho).



Para terminar, nas últimas semanas, esbarrei, igualmente por acaso, neste e neste artigo.



"A fé é a crença naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de facto conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso acto de humanidade; seria apenas...uma prudente apólice de seguros.
Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser céptica, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Tudo o que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sanguínea da mesma forma que a luz se diverte sobre a água." (Comer, Orar e Amar- Elizabeth Gilbert)




Posto isto, é oficial: estou à procura de Deus. E tenho fé que estou perto de o encontrar.



"Há um ditado que diz que o primeiro passo é praticamente a jornada inteira." ("Maturidade", Osho)








Para leituras complementares:


http://www.eckharttolle.com/

http://www.osho.com/

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Coisas que nos fizeram parar




"Mateus, mamã, venham ver que estrela mais bonita!.." Corremos lá para fora.
"Que linda!..", disse o pequenote com os olhinhos a brilhar quase tanto como a lua e a estrelinha.  Ficámos tão maravilhados que tentámos registar o momento. Infelizmente, a fotografia não faz jus à beleza do momento.  Pelo menos, fica guardado na nossa memória: o dia em que, totalmente por acaso, presenciamos um fenómeno de rara beleza. Afinal não era uma estrelinha, mas um planeta. Vénus e a lua numa dança na imensidão do céu. Nós, aqui num cantinho da Terra, curvamo-nos e agradecemos por tamanha perfeição. (E, já agora, por estarmos juntos nesse momento.)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Eu e ouvir rádio

Sempre gostei de ouvir rádio. Recebi a minha primeira aparelhagem de presente quando tinha 11 ou 12 anos de idade. À noite, habituei-me a programar o "sleep" através do controle remoto- o que, aos poucos, fui aprendendo a fazer, totalmente às escuras, apenas seguindo o tacto- e deixava-me embalar repetidamente por alguma música de qualquer CD ou então pela sucessão aleatória de músicas de uma estação de rádio. De vez em quando, nas minhas insónias, ouvia aqueles programas de rádio em que as pessoas ligam para a estação para opinar sobre qualquer tema ou partilhar alguma história de vida. Numa dessas noites, descobri um programa que passei a acompanhar por algum tempo. Cada noite tinha um tema que era discutido. Eram lidas cartas e os ouvintes telefonavam para falar em direto. Era um programa feito para "malta jovem", polémico, fazia-nos refletir, e eu sempre gostei disso.
Depois da aparelhagem veio o walkman. Talvez alguns de vocês, neste momento, se interroguem o que raio é o walkman. Bom, era um dispositivo móvel, que ouvíamos com fones. Uma espécie de pré-história do mp3, Ipod e afins. Possibilitava-nos ouvir rádio ou cassetes. E aqueles que se interrogaram sobre o que seria um walkman, pensam agora "o que será cassete?", e outros dizem "ah, sei o que é! O meu pai/irmã mais velha já me mostrou as que ele tinha", e outros, ainda, próximos da minha geração, pensam "iiiiihhhhh, as cassetes!!!.." No walkman, procurávamos as estações de rádio através de uma rodinha que, milímetro a milímetro, com toda a perícia, paciência e, às vezes, persistência, íamos rodando até encontrar alguma estação que pudéssemos ouvir sem aquele ruído chuvoso presente em tantas delas. Uma vez encontrada, lá ficávamos. Não era fácil saltar de estação em estação - ao contrário da aparelhagem, em que podíamos memorizar as nossas estações preferidas e ir saltando de uma em uma com facilidade.
Sempre ouvi muita música também no carro. No meu primeiro carro, tinha um daqueles auto-rádios bem antigos, que nem os assaltantes quiseram levar quando me entraram no carro e me roubaram as raquetes de ténis!.. Tal como no walkman, só ouvia rádio ou cassetes. Foi nesse aparelho que ouvi, para além de muita música, muitos "homem que mordeu o cão". Depois desse programa, habituei-me a ouvir alguns programas da manhã ou outras rubricas diárias. Boa disposição garantida logo no começo do dia! E música, sempre música. Muita música, de todos os géneros, tipos, nacionalidades.
Hoje, graças ao meu telemóvel munido de fones, os meus trajetos de ida e volta do trabalho são iluminados por mais notas musicais. Lá vou eu, a pular de estação em estação - no telemóvel também é fácil realizar esta operação- a ouvir ora Beethoven ou Prokofiev, ora os grandes êxitos do momento no mundo pop/rock, ora os grandes clássicos de sempre ou os grandes êxitos que já se tornaram clássicos ou algum eterno e incontornável da MPB ou do jazz. Na semana passada ouvi, em direto, um pouco dos Proms 2013. No mesmo dia, já tinha ouvido uma versão parecida com esta para a música, já clássica, dos Smashing Pumpkins "Tonight, tonight". Está certo que lhe falta aquele momento especial do início da música, mas eu sou uma inveterada fã de (boas) versões acústicas. Gosto de algumas músicas novas que passam várias vezes nas diferentes estações, como esta do Jack Johnson. Tem uma leveza e um calor que é bem-vindo nos trajetos atribulados (e, agora, frios) no trânsito de São Paulo. A música erudita fica por conta dos 103,3.
Gosto de ouvir as músicas que aprendi a adorar na adolescência. Eram a novidade. Agora são clássicos. Foi a época do grunge, da explosão de bandas como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, ou mesmo os Radiohead, num registo bem diferente do que é o seu atual. Há dias atrás, quando começou esta dos Oasis, sorri ao lembrar-me das dezenas e dezenas de vezes que a cantávamos no recreio da escola, a plenos pulmões. Entre tantas que tenho ouvido e que me remetem a este ou aquele momento, esta da Whitney Houston foi a que me levou à lembrança que revivi com mais carinho. Eu, a Joana e a Vanessa no carro, a caminho de Santa Comba Dão. Começa a música, aquela mesmo, no rádio. Sem ensaio prévio, iniciamos uma performance inesquecível! Uma cantoria desenfreada - só lá faltava o nosso amigo Franças!- acompanhada de uma coreografia que eu, ali sozinha no autocarro, recriei mentalmente. Consigo ver a expressão das minhas amigas, os gestos que improvisávamos ao som das batidas fortes que lançam o refrão, os olhares teatrais e, no final, as gargalhadas em que tudo acabou. Passados estes anos, cada uma de nós vive num país diferente, mas os laços de amizade que nos unem permanecem fortes, inalterados. Não podemos estar juntas sempre que queremos. Na verdade, mal me lembro quando foi a última vez que estivemos as três juntas. Na distância que nos separa, nem sequer falamos tanto quanto gostaríamos. Sabemos menos umas das outras do que sempre nos habituámos a saber. Mas foi nesta distância que aprendemos que, às vezes, basta saber que a(s) outra(s) existe(m). Não só lá, seja em que país for, mas aqui, no nosso coração. E às vezes basta recordar momentos como aquele no carro, ou uma simples palavra como "atitude", para nos sentirmos mais próximos até de nós mesmos. Como dizia a Vanessa, em conversa sobre este assunto e em que ela recordou outro grande dia nosso (o dia em que vimos, na sala da casa dos pais da Joana "O diário de Bridget Jones"): "às vezes preciso disso, sabes? brings us to the ground...", ou diria eu "traz-nos de volta".
E então surge a outra grande lição: fiquemos atentos, sempre e a qualquer hora, porque qualquer momento, todos os momentos são potencialmente eternizáveis.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Coisas que me fizeram parar

Av. Paulista


Estou em São Paulo há mais de um ano e meio, e cruzo uma das suas principais avenidas quase todos os dias, mas neste mais de ano e meio, estive lá, realmente, em quatro ocasiões: nesta, nesta, numa outra em que passei de autocarro e ia mais preocupada com o caminho e o horário do meu compromisso do que, propriamente, em olhar por onde estava a passar, e ontem. Aqui fica um pouco do que vi: um dos prédios mais emblemáticos da Paulista e o belíssimo céu que cobria a região do Masp.




Av. Paulista

segunda-feira, 29 de julho de 2013

E lá vem...

...mais uma festa da Achiropita!

É já no dia 3 de Agosto que começa - e acontece em todos os finais de semana de Agosto.

Para quem aprecia uma boa fogazza e outras iguarias italianas. A criançada, além da boa comida, também gosta das barracas dos joguinhos- e, admita-se, alguns adultos também.

A não perder, na rua 13 de Maio, Bela Vista.

domingo, 28 de julho de 2013

Eu e o meu sotaque

É frequente abordarem-me na rua devido ao meu sotaque. À partida, até soa peculiar dizer "o meu sotaque", mas uma vez que aqui eu sou a minoria, a estrangeira, o sotaque é realmente meu. Muitas vezes é algum brasileiro descendente de portugueses que vem, alegre e orgulhosamente, naquela forma calorosa de ser dos brasileiros, revelar-me que, no fundo, no fundo, temos a mesma raíz: "você é portuguesa, não é?" "sim." "O meu pai/mãe/avó/avô também é/era!", dizem com um sorriso aberto. E acrescentam logo a cidade onde o parente nasceu. Confesso que, por vezes, não faço ideia de onde fica, mas sorrio sempre, acenando com a cabeça, e respondo que "sou de Lisboa". Às vezes eles também já lá estiveram e dizem "como é linda" e, outras vezes, revelam-me o quanto gostariam de lá ir. (Penso, secretamente: pois, eu também gostava.) A maior coincidência que já me aconteceu foi com um senhor que estava sentado ao nosso lado no autocarro. O Mateus e ele começaram a interagir e, quando ele me ouviu falar, afirmou "portuguesa." Quando lhe disse que era de Lisboa, respondeu-me "alfacinha". Percebi logo que, ou era português há muitos anos aqui, ou descendente de português. "Eu vivo aqui há mais de 30 anos, mas também sou português. De Lisboa.", disse ele. Conversa vai, conversa vem, percebemos que ele viveu décadas no mesmo bairro que eu, numa rua bem próxima da rua onde vivi mais de 15 anos com a minha mãe e irmão. Outras vezes, abordam-me com o já clássico para mim "você não é daqui..." A seguir ao meu "não..." já ouvi de tudo: há quem não se arrisque e se limite a perguntar "é de onde?", mas outros, perguntam com tom decidido, quase afirmando, as suas suspeitas, e já ouvi de tudo, desde "é portuguesa" a "italiana", passando por "espanhola" e, até mesmo, "é do sul".
No parque a que costumo ir com o Mateus é frequente ser questionada sobre o meu sotaque ou o meu pais. A cena mais caricata aconteceu quando uma menina me veio mostrar uma raíz de uma planta "olha: uma raíz!" Eu sorri e corroborei "é mesmo, você encontrou uma raíz". (Sim, eu modifico algumas estruturas frásicas e algumas expressões para que me entendam melhor, particularmente as crianças, mas mantenho o meu sotaque.) E ela, com um ar de quem sabe dos assuntos, corrige-me "não, é uma ráíz". E eu, primeiro sem entender, continuei "sim, uma râíz". "Não, não", diz-me ela com um ar de professora paciente, "rá-íz". Então percebi o equívoco, e antes que desse um nó na cabeça da menina, imitei o sotaque dela e, mais tranquila, lá seguiu ela para a brincadeira seguinte. A bem da verdade se diga que até o Mateus já me corrigiu uma ou duas vezes. Não lhe levo a mal, claro. Acho engraçado o igualmente ar sapiente dele a mostrar-me que conhece as palavras. E há, de facto, palavras que só agora está a ouvir pela primeira vez, e não é com o meu sotaque que as aprende. Seja como for, acaba por aprender com os dois, que só lhe faz bem ao ouvido, e diz "para mim é "báskéte", e para você é "básket".
Com os meus alunos tenho especial atenção. Entendem quase tudo o que digo. Quando surge alguma dúvida, é só escolher outra palavra ou expressão, ou atenuar o tal meu sotaque. Por exemplo, tenho muito cuidado a pronunciar a palavra "descer". Nós, portugueses, fazemos jus à expressão "a descer todo o santo ajuda" e deslizamos pela palavra com uma rapidez que, atropelando pelo caminho o "c" e o "s", acabamos por dizer "dexêr". Os brasileiros, pelo contrário, poupam nos "ss" e o descer deles soa a "dêcêr". Então, sempre que tenho de dizer essa palavra aos meus alunos - ou seja a quem for-, digo muito bem dito e com toda a calma o "des-cer". Com uma das minhas alunas tive uma agradável conversa sobre a diferença de sotaques a propósito da palavra "colcheia". Pediu-me para escrever a palavra. Depois, muito politicamente correta e amorosa, como sempre é, disse-me, como se alguém tivesse culpa no cartório, "é que, sabe, você fala como escreve, e nós mudamos algumas palavras...por exemplo, aqui está um "l", mas a gente fala como se estivesse um "u". Eu sorri. "Não há certo nem errado. Cada um tem a sua forma de dizer, o seu sotaque. Mas a gente se entende, não é?" Ela acenou sorrindo.
Quem mais me pergunta "você não é daqui" são os taxistas. Há tempos atrás, um deles disse-me "ah, de Portugal...E porque não deixou o sotaque lá?", brincou. "Bom, é o meu, só tenho este", respondi educadamente. "Mas assim está a mostrar que é portuguesa." "E...deveria esconder?", perguntei intrigada. "Não, não, claro que não...Não é isso..." disse ele meio atrapalhado. "O senhor me entende, não é?" "Sim, perfeitamente." "Então...por isso que não vejo necessidade de modificar o meu sotaque. Só preciso de ter cuidado com algumas coisas: falar devagar e com atenção às expressões que utilizo e, dessa forma, toda a gente me entende bem. Com o meu sotaque. Com ele cresci e, acredito, com ele irei morrer."




quarta-feira, 24 de julho de 2013

Eu e a feira - parte II

Sexta-feira de manhã o nosso programa é sempre o mesmo: feira. Há algumas semanas, estávamos nós a escolher a fruta da semana, quando vemos um senhor a andar esbaforido rua abaixo. Ia gritando aos quatro ventos "tá descendo, tá descendo!" Ainda estava eu a absorver o que quereria dizer aquela afirmação, quando vejo os senhores de uma banca próxima embrulhar de forma rápida, eficaz e profissional tudo o que estava em cima da mesa com o próprio lençol que servia de base. Em 5 segundos fizeram a trouxa, mais 5 segundos para tirar as madeiras que serviam de tampo de mesa, et voilà: sobrou um amontoado de caixas vazias, com ar de abandonadas e inutilizadas. Não sei precisar quantos segundos depois, vejo um grupo de polícias e funcionários da prefeitura a passar. Iam caminhando e observando todas as bancas.
Eram eles que, calma e atentamente estavam "descendo". Os outros, o mais rápido que puderam...subiram.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Nós e o Jardim Zoológico






Um dia de inverno que mais parecia verão. O Jardim Zoológico de São Paulo repleto de crianças acompanhadas dos pais ou outros familiares, ou em excursões de escola. Já lá tínhamos levado o Mateus o ano passado. Nessa ocasião, as suas pernas não aguentaram tanto quanto ele gostaria. Desta vez, andou que nem gente grande! Só queria colo para conseguir ver melhor os bichos. Mal os via, elegia logo outro diferente para procurar, o que, diga-se, nem sempre é tarefa fácil. O Zoo não tem a melhor sinalização mas, como ali andamos todos ao mesmo, é comum os visitantes que se cruzam em sentidos opostos partilharem informação sobre o que está para aquele lado. Outra boa ajuda são os próprios funcionários do parque que, pelo menos connosco, foram solícitos. 
Os bichos preferidos do Mateus continuam a ser o elefante, a girafa e o macaco, mas quando lhe perguntamos de qual gostou mais, a sua resposta é imediata e inequívoca: "todos!" Eu acho que não poderia haver melhor resposta. O Zoo realmente faz a alegria da petizada. Fora uns choros ou outros, uma birra aqui e acolá, o que mais se vê é sorrisos, dedos entusiasticamente apontados aos bichos e frases que, entoadas num tom alegre, começam com "olha ali o..." No final do dia, o que mais se vê são pequenos corpos esgotados pelo cansaço de tanta animação num só dia. Ao Mateus, tudo lhe chamou a atenção, desde a ave mais pequena ao animal mais feroz, e até os caixotes do lixo fizeram parte da sua diversão- aliás, uma bela aquisição do parque. Tivemos a felicidade de ver o mais novo habitante do Zoo: uma girafa de duas semanas de vida e o casal leão e leoa. Levámos todo o tipo de arsenal alimentar para o pequeno, pois da experiência do ano passado, retivemos a falta de opção para fazer uma refeição e, pior ainda, o elevado custo da mesma.
O Zoo fica fora de mão para quem vive no centro de São Paulo, mas tem facilidade de transporte: metrô até perto e dá para comprar um bilhete de entrada para o Zoo na própria estação que inclui um transporte numa mini-van da estação de metrô até ao Zoo - deixa-nos já dentro do parque- e que nos leva de volta à estação. 
Um ótimo programa para se fazer em família, especialmente para quem tem crianças pequenas. Foi um dia cansativo, mas profundamente recompensante: o Mateus adorou! E nós também. 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nós e as contações de histórias

Era uma vez uma contação de histórias. As crianças chegavam pela mão ou colo dos pais, olhar atento e curioso. Uma, outra e mais outra até formar um pequeno grupo, heterogéneo, de meninos e meninas, pequenos e graúdos, sossegados e irrequietos. Quando o grupo já estava bem composto, começava a festa. Era uma festa das palavras e dos gestos, e às vezes com a participação de alguns boneco, outros adereços e música. Mas o que nunca podia faltar era o cenário: o reino da imaginação. Cada menino ou menina ia participando com uma ideia do que lhe passava pela cabeça. Juntos, criavam a história. Um dizia que na fazenda estava o canguru, e outro dizia que a vaca estava na floresta. Um dizia que atrás da parede estava um urso, e outro dizia que era um leão. Como peças de um puzzle, cada pedacinho da imaginação de cada um formava uma paisagem com personagens e aventuras. No final, já todos sentados no chão, ouviam uma história da imaginação da senhora ou senhores com quem tinham brincado de faz-de-conta, e tudo acabava em palmas e sorrisos.


É assim por várias livrarias e instituições em São Paulo, principalmente, em mês de férias como este.
Já fomos à FNAC e à Saraiva. Um belo programa para se fazer com crianças.

domingo, 14 de julho de 2013

Coisas que fizeram o Mateus parar



Tatu-bola. No parque a que costumamos ir há uma boa população deles. Na minha terra chamamos-lhe bichinho-de-conta. Curiosamente, eu tinha sensivelmente a mesma idade que o Mateus tem agora quando me encantei por estes bichinhos. "Caçava-os" na escola, e mostrava-os aos meus pais no final do dia. Como podem imaginar, as minhas lembranças da pré-escola não são tão presentes quanto eu gostaria, mas se há coisa de que me lembro é dos bichinhos-de-conta. Todos nós gostávamos de brincar com eles. Tenho outras boas memórias daqueles três anos que ali passei- como é estranho e deixa o coração desencontrado olhar para os prédios que construíram no lugar da nossa escola!.. Havia um cão preso perto do refeitório. Ladrava muito. Nós tínhamos medo, mas não resistíamos a trepar pela cerca e espreitar lá para dentro. Na altura, parecia-nos um ato de coragem...E por falar em refeitório: eu e a Inês ficávamos com mais dois ou três amigos tempos infindáveis até acabar de comer - agora que penso nisso, eu tinha exatamente a idade do Mateus quando conheci alguns dos amigos que mantenho até hoje, e outros tantos que relembro com carinho. Brincávamos num recreio que tinha uns pneus velhos - hoje em dia, não creio que fosse permitido. A minha educadora Maria, por quem tinha adoração e tenho, até hoje, um enorme carinho e amizade- como eu gosto da expressão xi-coração! Quando o senhor fotógrafo ia lá tirar-nos fotografias: à turma toda, sozinhos e com dois amigos que elegíamos. As obras de arte que fazíamos com aquelas tintas a esborratar-nos por completo as mãos. As mini-casas-de-banho. A hora da sesta naquelas caminhas azuis. As histórias que a Maria nos contava, com todos sentados no chão. As brincadeiras com as frutas e legumes de plástico.  As aulas de educação física e de música naquele pequeno ginásio. E quando a Maria casou, ficou um educador connosco por algum tempo. É das coisas que melhor me lembro daqueles anos: um dia em que ele juntou um monte de nós ao redor e disse que ia fazer algo fantástico. Atirou uma corda ao ar, bem alto, o mais alto que conseguiu. Depois, com a voz e a expressão mais entusiasmada que eu já lhe tinha visto, disse-nos: "um pedaço de céu!.. olhem aqui, estão a ver? é um pedaço de nuvem aqui!" Nós não víamos nada, claro, mas todos partilhávamos do entusiasmo dele e enquanto nos acotovelávamos para tentar ver, apontávamos em êxtase: "olha ali!.. olha a nuvem!" Para nós, naquele momento, aquilo era real. A nuvem estava mesmo ali. Conseguíamos vê-la claramente. E, puxa, aquilo era melhor que uma legião de tatus-bola!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Nós e as reclamações

Há tempos que ando para escrever sobre isto, porque foi uma coisa que me impressionou Acho que estou mal habituada porque em Portugal - pelo menos em Lisboa - não são raras as vezes em que pedimos o livro de reclamações e nos acontecem coisas como: "ah, isso não é comigo, é com o fulano" "Tudo bem, então peça ao seu colega, por favor." "Oh sicrano, tu sabes onde está o fulano? Espere aí, é só um segundo." Aguardamos e vem o fulano. "Estamos sem livro. O outro acabou e ainda não foi substituído." Na melhor das hipóteses, dão-nos logo o tal do livro, escrevemos tudo o que nos indigna e, no final, recebemos um mero "ficou registado." Ah, 'tá. Ok. Ótimo. Ainda assim, é bom que façamos a nossa parte, que exerçamos a nossa cidadania. Em Portugal, a única vez que tivemos um retorno positivo foi na - sim, vou dizer a marca - Chicco. O carrinho de passeio do Mateus tinha defeito. Depois de terem tentando corrigir o problema por duas vezes, e de termos falado, escrito email, etc, optaram por o trocar por outro do mesmo modelo. Continuou a dar problemas. Trocaram todo o conjunto trio de carrinho de passeio, alcofa e ovinho por um outro conjunto de outro modelo - diga-se, melhor até do que aquele que tínhamos adquirido e que já tinha saído da linha de produção.
Ora, aqui no Brasil, há cerca de um mês, resolvemos fazer uma reclamação no site da - sim, também vou dizer a marca- Sadia. Escrevemos tudo o que entendemos, da forma mais clara e concreta e, no final...apareceu uma mensagem parecida com "ops, ocorreu um erro, mas fique com esta receita de brinde." Satisfeitos com o ocorrido, fizemos um texto parecido com o que tínhamos acabado de redigir e publicámos num conhecido site de reclamações. Pois, pasmem-se: no dia seguinte recebemos uma chamada do SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) da Sadia. Tinham tomado conhecimento da nossa reclamação, quiseram saber mais detalhes "para que melhorias sejam efetuadas" e deixaram-nos à escolha que produtos gostaríamos que nos fossem levados a casa para ressarcir dos outros em questão. Dia e hora marcados, e nós, confesso, ainda com alguma incredulidade, vemos o motoboy chegar com os ditos produtos. Cinco estrelas! Na reclamação que fizemos no dito site, relatámos de forma elogiosa a ação subsequente da marca, e fizemos questão de ligar ao SAC da Sadia e, da mesma forma, elogiar o trabalho. Porque se é nosso dever reclamar e exigir os nossos direitos, também deve ser elogiar o bom serviço que nos é prestado. Mais uma vez, aqui fica o meu elogio.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Coisas que me fizeram parar







 Flores de...inverno. Com gotas de chuva a deslizar por elas abaixo. Pena que a fotografia não lhes fez jus!..

Eu e o meu filho

Eu e o meu filho nascemos num dia 23: ele de Março e eu de Junho. Nascemos em Lisboa: ele no começo da Primavera, e eu no começo do Verão - em São Paulo ele comemora o aniversário no começo do Outono e eu no começo do Inverno. Ele tem olhos azuis como o avô, e eu esverdeados como a avó. Ele tem o cabelo forte como o pai, e eu fino e liso como a mãe. Ele tem uma marca de nascença na nuca idêntica à do pai, e eu um sinal no peito idêntico ao da mãe. Ele tem a pele bem clara, e eu também. Ele tem o sorriso lindo como o pai. Ele é reguila, ativo e alegre como eu era na idade dele. Ele é esquisito para comer, e eu era mais ainda na idade dele. Ele gosta de dormir com o pé de fora da cama como o pai, mas com os lençóis e cobertores bem arrumadinhos como a mãe - quando a cama está desarrumada ele diz que "está tudo misturado". Eu sou teimosa, e ele teimoso e meio é. Ele tem uma personalidade forte, vincada, e eu uma personalidade fortemente recatada, guardada em mim e de acesso limitado aos demais. Ele adora correr, saltar e fazer "bagunça", e eu mais ainda na idade dele - e confesso, ainda hoje gosto, principalmente com ele. Ele dorme agarrado ao Orelhudo, e eu dormia agarrada à almofadinha que a minha avó me fez.  Ele adora brincar- ele mesmo já me disse que "brincar é a minha coisa favorita"-, e eu adoro brincar com ele. Na verdade, eu também adoro ficar de mera espectadora a vê-lo brincar. (Ele brinca como o meu irmão brincava na idade dele.) Eu adoro enchê-lo de beijinhos e abraços, e ele adora fugir de mim e fazer disso a nossa brincadeira- em pequena eu também dizia "a fábrica de beijinhos já fechou.". Ele adora passear e eu adoro levá-lo a passear. Ele tem sempre as mãos quentinhas como o pai. Tê-lo no colo é o que mais me dá paz, e tê-lo em birra ou num dia não é o que mais me tira do sério! Ele é a minha maior fonte de ânimo e a minha maior exaustão. Ele é a minha maior alegria e a minha maior preocupação.
Ele tem 3 anos e 3 meses, e eu 32 anos. 32 anos...Começo a entrar numa idade em que os anos se sucedem rápido demais e parece nunca chegar o tempo ou a oportunidade para que as coisas se concretizem como sonhámos. Na verdade, os próprios sonhos se vão desvanecendo em meras ilusões disformes daquilo que antes nos pareciam inequívocas imagens de um futuro que estava logo ali à nossa frente, ao nosso alcance. Agora, começamos a passar para o outro lado: aquele em que, quanto mais andamos, mais longe tudo parece ficar. O próprio passado está mais longe. Coisas que recordávamos com clareza, começam a falhar-nos na memória - como o nome da colega de escola, do professor ou o ano em que determinada coisa aconteceu- e aquelas que temos ainda bem presentes, tornam-se valiosas, pequenas relíquias. Relíquias de um presente que talvez não tenhamos valorizado o suficiente mas que, às lentes do passado, ganham uma áurea de carinho. Como o bolo da avó, as brincadeiras de Verão, as peripécias  na escola ou aquele filme que vimos 20 vezes! Aos 32 anos já tive, como todos, algumas perdas - nuns casos foi a morte que me levou, e noutros levou-mas a vida-, e já coleciono um passado considerável. É um passado, em tudo, eclético. Fiz de tudo um pouco, desde cantar num coro infantil, a jogar futebol, estudar Direito, ser ginasta ou pianista. A verdade é que me orgulho de muita coisa que fiz nestes 32 anos, mas o meu pequenote é, de longe, o maior orgulho que tenho na vida! Está certo que ele veio sem eu esperar e que eu não tenho o menor mérito que seja no menino lindo e especial que ele é. Digamos que nos saiu assim na rifa. (Em última análise, e caso se acredite em algo desse teor, talvez algum mérito tenhamos tido para que, no final das contas, nos tenha calhado na rifa). Veio com uma personalidade fortíssima de brinde, temperada com uma notável teimosia. Ainda assim, é um menino carinhoso e a coisa mais adorável desta vida. Ainda assim é, de todas as coisas especiais que fiz na vida, indubitavelmente a mais especial de todas! E de tão especial que é, mantém bem aceso em mim o sonho. Porque apesar dos meus 32 anos me arrastarem para a linha do realismo e, por vezes, - porque não admiti-lo? - do pessimismo, não deixei de ser o que sempre fui: uma sonhadora nata! E se ainda sonho assim, com todas as minhas forças, ele - o meu pequenote de 3 anos e 3 meses - é a principal razão para isso. Ele faz brotar a esperança onde nada parece possível que possa florir. Ele faz tudo valer a pena.  Ele faz-me sorrir só de olhar para ele. Por mais dias, meses ou anos que passem, continuo a olhar para ele e mal acreditar que é meu. Um filho pode não ser o sentido da vida, mas sem dúvida dá um sentido à vida. Ele é o meu norte, a minha estrela-guia. O (que me parece ser) melhor para ele é a minha bússola. É por ele que faço e deixo de fazer tudo. É por ele que luto. E quando eu olho para os seus lindos olhos azuis e o seu sorriso iluminado, como poderia deixar de sonhar? Não. Nem mesmo se quisesse. Ele próprio é sonho feito realidade. E de sonho em sonho, de tanto acreditar, tenho a certeza que vou dar-lhe o melhor futuro, o melhor presente. Ele merece! E eu não posso sequer imaginar que não vá ser dessa forma. Eu não posso deixar de sonhar por ele e para ele. Nem mesmo posso deixar de sonhar os meus próprios sonhos que, verdade seja dita, também têm direito a viver. E, um dia, ele há-de ter orgulho em mim, neles, em cada um que eu perseguir e conquistar. E, um dia, ele vai correr atrás dos sonhos que escolher, e eu estarei ao seu lado, e repetirei incontáveis vezes a mesma frase que já escrevi hoje: ele é o maior orgulho que tenho na vida.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Pensamentos soltos

Não deixa de ser, no mínimo, curioso que, após a onda de protestos pelo país (e até mundo afora), tanta coisa esteja a ser aprovada, formulada ou abandonada.
Felizmente que os protestos surtiram algum efeito...Mas fica a questão: porque é que essas medidas não foram tomadas antes? Se em menos de uma semana foi possível evitar subidas de tarifas - e fica outra dúvida: se era possível evitar, porque subiu?-, aprovar novas leis e pôr em cima da mesa novas ideias, porque tudo isso não foi feito antes?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Coisas que me fizeram parar





O outono está cheio destas árvores decoradas de pequenas flores cor de rosa. Conforme caem, formam um manto ora denso, ora disperso, mas, seja como for, bonito de se ver.

Conversas paralelas

Dentro do ônibus é impossível não se ouvir algumas conversas entre passageiros. Há dias, presenciei um diálogo muito interessante entre uma senhora idosa e um senhor sensivelmente na mesma faixa etária que ela.

- Vou sair no ponto próximo ao Hospital...que é o lugar de gente da nossa idade neste país. - disse ele a rir.

- É...esse país não vai bem - respondeu ela, e acrescentou logo em seguida- E essa nossa juventude, hein? Saindo às ruas, se expressando...Eu bato palmas!.. Tem mais é que gritar mesmo! Eu é que já não posso, que minhas pernas não permitem, senão também eu estaria lá no meio deles gritando e muito!

- É uma vergonha, tanta corrupção, esses políticos inúteis- concordou ele.

- E viu que a Dilma ainda foi falar com o Lula? O que é que esse aí ainda tem que ver com a história? Não saiu já? Não tem porquê falar com ele sobre o que fazer - respondeu indignada. - E o outro lá que só fica contra os gay. Eu não sou contra nada disso, não. O corpo é de cada um, e cada um faz o que entende com ele. Eu só não concordo com a violência. Isso não pode! Aquele gente que vai de rosto tapado, a gente vê logo que não é gente séria. Gente do bem vai de cara limpa. Naqueles vândalos a polícia tem mais é que bater mesmo!

- Onde será que vai para isso aí, hein? - questionou ele.

- Eu não sei, mas eu espero que essa juventude consiga levar o nosso Brasil pra melhor. O nosso país é muito rico, muito rico. Tem tudo pra dar certo.

- É verdade. E essa juventude merece um país melhor. - concordou ele - Meu ponto. Tudo de bom para a senhora.

- Tudo de bom para o senhor também.

E ela sorriu para mim. Acho que pensou que eu era uma jovem brasileira que sai para a rua para protestar. Como eu disse um destes dias quando me perguntaram se estou a ir para a rua lutar pelo Brasil "bom, para a rua eu não vou, mas eu estou na torcida!"

domingo, 23 de junho de 2013

Eu

Eu sou eu,
Tu, ela, nós
E eles também.

Eu sou filha,
Sou mãe,
Irmã, amiga
E mulher.

Eu sou nenhum,
Sou todos
Ou até alguém.

Eu sou amor.
Sou esperança e desânimo,
Fé e descrença.
Eu sou dor.

Eu sou pôr-do-sol
E aurora,
Lua cheia e lua nova,
Raio de sol
Que trespassa a nuvem
E nuvem que pinta o céu.

Eu sou mar.
(Imenso mar
Que aproxima e distancia!)
Sou lago, montanha,
Folha de outono
E flor de primavera.

Eu sou música,
Consonância e dissonância,
Maior e menor,
Preto e branco.

Eu sou sonho.
Sou passado,
Presente
E futuro (talvez).

Eu sou as escolhas
Que fiz
E as que deixei de fazer.

Eu sou tudo (isto)
E nada (disto).
Sou o que as palavras
Não dizem
E o que o silêncio
Não cala.

Tudo quero
E nada espero.
Sou espera ansiosa
E pressa paciente.
Sou a paz
E a loucura dormente.

Eu sou o que sou
O que fui
E o que sonho ser.
(Eu sou.)
Eu.

sábado, 22 de junho de 2013

Coisas que me fizeram parar




De todas as manifestações das últimas semanas, esta foi das que me arrepiou mais. Talvez porque a música me corre nas veias, e ouvir uma multidão a cantar a cappella atinge em cheio o meu centro de emoções.

É bonito o que o povo brasileiro está a fazer: erguer a voz por um futuro melhor. Um presente melhor.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Coisas que me fizeram parar








As orquídeas. Fazem-me parar quase todos os dias.
Pelo que tenho entendido, este é um costume da cidade de São Paulo ( pelo menos em alguns bairros) : as orquídeas nas árvores. Vejo-as por todo o lado. E gosto! Muito. São pequenos, inesperados e especiais toques de beleza. Como se de verdadeira poesia tratasse.

Os brasileiros e as manifestações

Tem sido uma semana intensa.  Aqui, acolá e acoli pelo Brasil inteiro - e até fora do Brasil - há manifestações contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. Como moramos próximo à Avenida Paulista, que tem sido o palco principal das manifestações em São Paulo, temos convivido diariamente com o som incessante dos helicópteros que captam as imagens dos protestos. Eu diria que esse aumento da tarifa dos transportes foi apenas a motivação, a gota de água que fez transbordar a paciência dos brasileiros e os fez sair do descontentamento inerte para a demonstração ativa dos seus pontos de vista. As manifestações, todos os protestos, vão muito além da questão da tarifa dos transportes. É um protesto contra tudo o que vai ficando entalando na garganta do povo, esganada por tanta indignação e por um custo de vida quase insustentável para a grande maioria das pessoas. Num país em que falta quase tudo - educação e saúde pública de qualidade, segurança, infraestruturas que possibilitem um maior e melhor crescimento- e em que sobra corrupção, a organização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos choca muita gente. É bom para o país? Certamente terá o seu lucro. Mas o povo não precisa de estádios. Ainda para mais de estádios que, após esses eventos, pouca ou nenhuma utilidade vão ter. (Veja-se o exemplo do que aconteceu com o Estádio de Aveiro em Portugal, ou mesmo do Estádio do Algarve.) Do que se precisa é de escolas, hospitais, um transporte público mais eficaz, de não ter medo de andar na rua, de ter empregos com salários compatíveis com o custo de vida deste país, ou então de um custo de vida compatível com a realidade da grande maioria dos salários deste país. O preço das coisas aumenta a cada dia. Dou um pequeno exemplo: há três semanas comprei uma embalagem de papa para o meu filho por R$7,99. Esta semana deparei-me com uma alteração no preço: R$9,25. Diga-se que, só de si, R$7,99 por uma embalagem de papa é caro! O que dizer, então, do aumento? E já nem falo dos produtos na feira, no supermercado, ou ainda de roupa ou tudo o que seja artigos para criança. Não é à toa que quem tem a possibilidade de viajar para a Europa ou Estados Unidos, volta com as malas cheias de todo o tipo de coisas compradas lá. E note-se que quem tem a possibilidade de fazer essas viagens são pessoas de boa ou muito boa condição económica. Ainda assim, não hesitam em poupar (e bem!) na hora de comprar fora do país- e notem como é contraproducente: quem tem poder de compra, opta por comprar fora do país. Isto são apenas exemplos triviais do que aqui se passa (e fico-me por estas coisas mais simples: nem vou entrar no assunto da creche.) Do que se passa na realidade de quem vive aqui todos os dias, e não do que se passa na realidade dos relatórios de crescimento económico ou  quaisquer outras ferramentas políticas. A ideia que se vendia aos brasileiros e ao estrangeiro já não cola. Isto não é o mar de oportunidades que se pinta nos noticiários. Com certeza está bem melhor que a Europa e que muitos países mundo afora. Ninguém põe isso em causa. Só não está é tão bom quanto se tenta fazer crer. Mas ao que parece, o povo já não crê que vai ver: quer ver para crer. Está de olhos bem abertos, e saiu às ruas para mostrar que já não quer só ouvir conversa fiada. Quer concretizações visíveis, palpáveis, que façam a diferença no rumo deste país, destas pessoas. Um país que tem beleza natural, um povo acolhedor, recursos naturais riquíssimos, que tem tanto por fazer, tem a obrigação de fazer muito mais,de ser muito mais! É só seguir a direção certa.
Tal como Portugal, o Brasil não tem uma classe política que honre o seu país. É uma classe política que coloca o país a servi-la, a desmando dos seus interesses pessoais, e não, como deveria ser, que se coloca ao serviço do país. Mas, tal como em Portugal, as pessoas comuns estão a mostrar-se mais atentas, mais reivindicativas. Pena que, no meio de toda a multidão que simplesmente quer exercer os seus direitos democráticos, haja umas poucas dezenas que recorrem à violência, depredação e até saque. Notável o que aconteceu ontem em Brasília, e hoje na Avenida Paulista em São Paulo: tudo de forma absolutamente pacífica e ordeira. Só a força da massa humana, a energia eletrizante de dezenas de milhares de vozes a cantar o hino brasileiro. Assim os argumentos são ouvidos. Assim só dos argumentos se pode falar. E é isso que move todos os que caminham por aquelas ruas que, no dia a dia, são de trânsito intenso e nesta semana se transformaram em enormes passadeiras repletas de gente. Até onde vão caminhar? Qual o objetivo que as motiva neste momento?
Os próximos dias o dirão.
Uma coisa é certa: o que esperam alcançar no final do caminho é um futuro melhor. E uma coisa ninguém lhes tira: a esperança nesse futuro. É por acreditarem nele que continuam a dar cada passo. E enquanto caminham, com o vento da mudança a bater-lhes no rosto, o futuro aproxima-se, a pouco e pouco.