segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Coisas que me fizeram parar








 Fiquei absoluta e totalmente extasiada quando me deparei com esta árvore há alguns dias atrás. Linda, linda, linda. Acho que foi a árvore mais bonita que já vi na vida! Como nenhuma das fotografias que tirei lhe fez jus, deixo aqui todas. O engraçado é que, quando a vi, parei, sorri e, num suspiro, a minha alma entrou no ritmo do compasso da árvore. Procurei o telemóvel para tirar a foto e enquadrei-me o melhor que pude para captar a sua luz. Fui tirando várias fotos e isso fez parar uma senhora que por ali passava, na direção oposta à minha. Quando nos cruzámos, ela sorriu e disse "Tá um show, não? Conseguiu tirar a foto?" Retribui o sorriso, disse que achava que sim, e depois de "tchau" e mais um sorriso, seguimos o nosso caminho. Mais tarde, no meu trajeto de volta, parei novamente para tirar mais umas fotos. Mais uma vez, na direção oposta vinha uma senhora. "Linda demais, não?" "Com certeza", respondi. "Ainda há dias não tinha uma flor! Acho que é uma árvore de milagres...", disse ela. "Eu nunca tinha visto nenhuma nem parecida!..", admiti. "Essa árvore é o ipê. Há branca, amarela e rosa. É o símbolo do Brasil." "Não fazia ideia", respondi. "Eu mesma vou tirar uma foto! Está mesmo linda demais!", disse ela enquanto segurava o seu telefone na mão. Sorrimos, eu segui o meu caminho e ela...parou. 
Neste dia, diante de tamanho exemplo de perfeição da natureza, eu parei e, em consequência, outros pararam também. Não é de admirar: o que nos fez parar foi algo tão incrivelmente belo que me custa a crer que alguém que por ali passe lhe fique indiferente.
E como a primavera está aí à porta, não resisti a tirar a última foto:




terça-feira, 10 de setembro de 2013

Eu e Deus

Nunca me preocupei com religião ou espiritualidade. São assuntos que nem me aqueciam nem arrefeciam. Se Deus existe, eu (ainda) não tive o prazer de o conhecer e, também, diga-se, não era coisa que me afetasse minimamente. Ao mesmo tempo, sempre senti, isso sim, uma energia especial fluir em mim em virtude de uma série de coisas, como o pôr-do-sol, o azul do céu, a música, a beleza de uma flor, o canto de um pássaro, ou o conforto do abraço do meu filho. A minha alma "descansa" nesses momentos. Aquela mítica sensação de "um" com tudo...já a toquei em diversos desses momentos.
E eis que nos meses que passaram li (ou reli) alguns livros que, aparentemente, não tinham qualquer coisa que fosse em comum: "O símbolo perdido" de Dan Brown, "Comer, orar e amar" de Elizabeth Gilbert e "Maturidade" de Osho, e todos eles, de alguma forma, me apontaram um mesmo caminho e mexeram irremediavelmente com o meu coração.
O primeiro que li desta sequência foi o de Dan Brown. Boa leitura, como todos os outros que li dele. Empolgante e cheio de curiosidades históricas. Algumas passagens do livro, no entanto, chamaram particularmente a minha atenção e levaram-me à reflexão.



"Na verdade, a mais antiga busca espiritual do homem era para perceber seu próprio entrelaçamento, sentir sua interconexão com todas as coisas. O homem sempre quis se tornar "um" com o Universo...alcançar o estado de união." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"- Peter, a Bíblia e os Antigos Mistérios são opostos completos. Os mistérios falam do deus dentro de nós...do homem como deus. A Bíblia fala do Deus acima de nós...e nela o homem é um pecador impotente.
- Isso! Exatamente! Você tocou no xis da questão! No instante em que a humanidade se separou de Deus, o verdadeiro significado da Palavra se perdeu. As vozes dos antigos mestres foram engolidas pela ladainha caótica daqueles que se autoproclamam escolhidos e gritam serem os únicos a compreender a Palavra...que está escrita na sua língua e em nenhuma outra. 'Não sabeis que sois deuses?' "
(...)
- Buda disse 'Você mesmo é Deus.' Jesus ensinou que 'O reino de Deus está entre vós' e chegou até a nos prometer que 'Quem crê em mim fará as obras que eu faço e fará até maiores do que elas.' Até mesmo o primeiro antipapa, Hipólito de Roma, citou a mesma mensagem, dita pela primeira vez pelo erudito gnóstico Monoimus: 'Abandone a busca por Deus...em vez disso, procure por ele tomando a si mesmo como ponto de partida.' "
Langdon se lembrou da Casa do Templo, onde a cadeira do Cobridor da loja trazia, em seu espaldar, a inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO.
- Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se esqueceu de que é divino." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"Com delicadeza, ela ergueu a mão e tocou a têmpora de Langdon.
- Existe um motivo para temple, em inglês, significar tanto 'têmpora' quanto 'templo', Robert.
Enquanto Lagdon tentava processar o que Katherine acabara de dizer, lembrou-se inesperadamente do Evangelho gnóstico segundo Maria: Onde a mente está, lá está o tesouro." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"- Talvez você tenha ouvido falar nos exames de ressonância magnética feitos em iogues meditando. Quando em estado avançado de concentração, o cérebro humano produz, por meio da glândula pineal, uma substância parecida com cera. Essa secreção cerebral não se parece com nenhuma outra substância do corpo. Ela tem um efeito incrivelmente curativo, é capaz de regenerar células e talvez seja um dos motivos por trás da longevidade dos iogues. Isso é ciência, Robert. Essa substância tem propriedades inconcebíveis e pode ser criada por uma mente em estado de profunda concentração. 
O mais incrível de tudo é que, assim que nós, humanos, começarmos a dominar nosso verdadeiro poder, teremos enorme controle sobre o mundo. Seremos capazes de projetar a realidade em vez de simplesmente reagir a ela. Se os pensamentos afetam o mundo, então precisamos tomar muito cuidado com a maneira como pensamos. Pensamentos destrutivos também têm influência, e todos sabemos que é muito mais fácil destruir do que criar." (O Símbolo Perdido- Dan Brown).


Segui para o livro seguinte que encontrei, por acaso, perdido aqui por casa. Até já tinha visto partes do filme baseado em "comer, orar e amar", mas não me recordava bem e resolvi começar pelo princípio e ler o livro. Este, sim, mexeu muito comigo. Li todo o livro e, posteriormente, reli a parte de "orar" algumas vezes. Para minha surpresa, estava a ler, por outras palavras, algumas coisas idênticas às que tinha encontrado em "o símbolo perdido".



"Os iogues, no entanto, dizem que o descontentamento humano é um simples caso de identidade equivocada. Nós somos infelizes porque achamos que somos meros indivíduos, sozinhos com nossos medos e falhas, com nosso ressentimento e nossa mortalidade. Acreditamos equivocadamente que nossos pequenos e limitados egos constituem toda a nossa natureza. Não conseguimos reconhecer nossa natureza divina mais profunda. Não percebemos que, em algum lugar dentro de todos nós, existe um Eu supremo que está eternamente em paz. Esse Eu supremo é a nossa verdadeira identidade, universal e divina. Se você não perceber essa verdade, dizem os iogues, estará sempre desesperado, ideia expressa de forma inteligente na seguinte frase irritada do filósofo estóico grego Epíteto: "Você leva Deus dentro de si, seu pobre desgraçado, e não sabe disso." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"Mas ioga também pode significar tentar encontrar Deus por meio da meditação, por meio do estudo erudito, por meio da prática do silêncio, por meio do serviço da devoção, ou por meio de um mantra - a repetição de palavras sagradas em sânscrito. Embora algumas dessas práticas pareçam ter uma derivação bastante hinduísta, ioga não é sinónimo de hinduísmo, nem todos os hindus são iogues. O verdadeiro ioga não compete com nenhuma religião, nem a exclui. Você pode usar seu ioga - as suas práticas disciplinadas de união sagrada- para se aproximar de Krishna, Jesus, Maomé, Buda ou Javé. (...) 'Nosso propósito nesta vida, portanto', escreveu Santo Agostinho, ele próprio um pouco iogue, 'é recuperar a saúde do olho do coração através do qual se pode ver Deus.'" ("Comer, Orar e Amar"- Elizabeth Gilbert)

"Existe um motivo pelo qual Deus é chamado de presença - porque Deus está bem aqui, agora. O presente é o único lugar onde se pode encontrá-lo, e o agora é o único momento. No entanto, permanecer no presente exige que a pessoa se concentre inteiramente em um só ponto. Diferentes técnicas de meditação ensinam a concentração de diferentes formas. (...) Dizem que os grandes mantras em sânscrito possuem poderes inimagináveis e, se você conseguir se ater a um deles, eles têm a capacidade de conduzi-lo até as margens da divindade." ("Comer, Orar e Amar", Elizabeth Gilbert)

"Deus vive dentro de você, como você."
COMO você.
Se existe uma única verdade nesse ioga, essa frase a resume. Deus vive dentro de você como você mesmo, exatamente da maneira que você é. (...) Para conhecer Deus, você só precisa renunciar a uma coisa - à noção de que é algo distinto de Deus. Fora isso, simplesmente permaneça como foi criado, dentro do seu caráter natural." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"E o santo disse: "Não existe nada que você ame?" A mulher admitiu que amava seu pequeno sobrinho mais do que qualquer outra coisa na vida. O santo disse: "Então, pronto. Ele é seu Krishna, o seu bem-amado. Quando você serve ao seu sobrinho, está servindo a Deus." (Comer, Orar e Amar- Elizabeth Gilbert)



"Nós buscamos a felicidade por toda a parte, mas somos como o mendigo da fábula de Tolstoi, que passou a vida sentado em cima de um pote de dinheiro, mendigando centavos de todos os passantes, sem saber que sua fortuna estava bem debaixo dele o tempo todo. O seu tesouro- a sua perfeição- já está dentro de você. Porém, para acessá-lo, você precisa deixar para trás o frenesim da mente e abandonar os desejos do ego e adentrar o silêncio do coração." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"O eixo da calma fica no seu coração. É aí que Deus reside dentro de você. Então, pare de procurar respostas no mundo. Simplesmente retorne sempre a esse centro, e sempre vai encontrar a paz." (Comer, Orar e Rezar- Elizabeth Gilbert)



" - Você precisa aprender a escolher seus pensamentos do mesmo jeito que escolhe as roupas que vai usar a cada dia. Isso é uma capacidade que você pode aprimorar. Se você quiser tanto assim controlar as coisas da sua vida, controle a sua mente. Ela é a única coisa que você deveria estar tentando controlar. Largue todo o resto, menos isso. Porque, se você não conseguir dominar seu pensamento, vai ter muitos problemas para sempre.
À primeira vista, isso parece uma tarefa quase impossível. Controlar seus pensamentos? Em vez de o contrário? Mas imaginem: e se fosse possível?" ("Comer, Orar e Amar", Elizabeth Gilbert)


No final de tudo isto, reli "Maturidade" de Osho. E lá estavam, os mesmos princípios, as mesmas temáticas, as mesmas...crenças.



"Todo o meu esforço vai no sentido de o tornar consciente de que nada é preciso, nada mais é precioso. Você já o possui aí, existe dentro  de si. Mas você terá de fazer tentativas, abrir portas, encontrar maneiras de o descobrir. Tem de escavar para o encontrar; o tesouro está lá." ("Maturidade", Osho)



"Partindo do coração, vocês encontram-se subitamente no vosso ser, exatamente no centro." ("Maturidade", Osho)



"Maturidade é saber que há algo dentro de si que é imortal, é saber que há algo dentro de si que transcenderá a morte - isso é meditação. A mente conhece o mundo; a meditação conhece Deus. A mente é uma maneira de compreender o objeto; a meditação é uma maneira de conhecer o sujeito. A mente preocupa-se com o conteúdo, e a meditação preocupa-se com o recipiente, a consciência." ("Maturidade", Osho)



"Meu amigo, eu procurava-me e buscava-me a mim próprio. Em vez de me encontrar a mim mesmo, encontrei o mundo inteiro, o universo inteiro. A gota de orvalho não desapareceu dentro do oceano, o oceano é que desapareceu dentro da gota de orvalho." ( "Maturidade", Osho)



Esta passagem fez-me lembrar uma outra que, há muitos anos atrás, vi no filme "terças com morrie". Uma ondinha ia a passear, alegremente, pelo oceano. Quando começou a avistar a costa reparou, assustada, que as ondinhas lá rebentavam, e disse apavorada para outra "vamos morrer na praia!" A outra sorriu e disse "não percebeste ainda? Tu não és uma onda, tu és parte do oceano."

E, umas quantas páginas à frente, no mesmo livro, encontro:



"Uma gota de orvalho deslizando da folha-de-lótus para dentro do oceano...Poderão pensar que a pobre gota se perdeu, que perdeu a sua identidade. Mas vejam isso de outra perspetiva: a gota tornou-se o oceano. Não perdeu coisa nenhuma, tornou-se imensa. Tornou-se oceânica." ("Maturidade", Osho).



Para terminar, nas últimas semanas, esbarrei, igualmente por acaso, neste e neste artigo.



"A fé é a crença naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de facto conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso acto de humanidade; seria apenas...uma prudente apólice de seguros.
Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser céptica, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Tudo o que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sanguínea da mesma forma que a luz se diverte sobre a água." (Comer, Orar e Amar- Elizabeth Gilbert)




Posto isto, é oficial: estou à procura de Deus. E tenho fé que estou perto de o encontrar.



"Há um ditado que diz que o primeiro passo é praticamente a jornada inteira." ("Maturidade", Osho)








Para leituras complementares:


http://www.eckharttolle.com/

http://www.osho.com/

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Coisas que nos fizeram parar




"Mateus, mamã, venham ver que estrela mais bonita!.." Corremos lá para fora.
"Que linda!..", disse o pequenote com os olhinhos a brilhar quase tanto como a lua e a estrelinha.  Ficámos tão maravilhados que tentámos registar o momento. Infelizmente, a fotografia não faz jus à beleza do momento.  Pelo menos, fica guardado na nossa memória: o dia em que, totalmente por acaso, presenciamos um fenómeno de rara beleza. Afinal não era uma estrelinha, mas um planeta. Vénus e a lua numa dança na imensidão do céu. Nós, aqui num cantinho da Terra, curvamo-nos e agradecemos por tamanha perfeição. (E, já agora, por estarmos juntos nesse momento.)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Eu e ouvir rádio

Sempre gostei de ouvir rádio. Recebi a minha primeira aparelhagem de presente quando tinha 11 ou 12 anos de idade. À noite, habituei-me a programar o "sleep" através do controle remoto- o que, aos poucos, fui aprendendo a fazer, totalmente às escuras, apenas seguindo o tacto- e deixava-me embalar repetidamente por alguma música de qualquer CD ou então pela sucessão aleatória de músicas de uma estação de rádio. De vez em quando, nas minhas insónias, ouvia aqueles programas de rádio em que as pessoas ligam para a estação para opinar sobre qualquer tema ou partilhar alguma história de vida. Numa dessas noites, descobri um programa que passei a acompanhar por algum tempo. Cada noite tinha um tema que era discutido. Eram lidas cartas e os ouvintes telefonavam para falar em direto. Era um programa feito para "malta jovem", polémico, fazia-nos refletir, e eu sempre gostei disso.
Depois da aparelhagem veio o walkman. Talvez alguns de vocês, neste momento, se interroguem o que raio é o walkman. Bom, era um dispositivo móvel, que ouvíamos com fones. Uma espécie de pré-história do mp3, Ipod e afins. Possibilitava-nos ouvir rádio ou cassetes. E aqueles que se interrogaram sobre o que seria um walkman, pensam agora "o que será cassete?", e outros dizem "ah, sei o que é! O meu pai/irmã mais velha já me mostrou as que ele tinha", e outros, ainda, próximos da minha geração, pensam "iiiiihhhhh, as cassetes!!!.." No walkman, procurávamos as estações de rádio através de uma rodinha que, milímetro a milímetro, com toda a perícia, paciência e, às vezes, persistência, íamos rodando até encontrar alguma estação que pudéssemos ouvir sem aquele ruído chuvoso presente em tantas delas. Uma vez encontrada, lá ficávamos. Não era fácil saltar de estação em estação - ao contrário da aparelhagem, em que podíamos memorizar as nossas estações preferidas e ir saltando de uma em uma com facilidade.
Sempre ouvi muita música também no carro. No meu primeiro carro, tinha um daqueles auto-rádios bem antigos, que nem os assaltantes quiseram levar quando me entraram no carro e me roubaram as raquetes de ténis!.. Tal como no walkman, só ouvia rádio ou cassetes. Foi nesse aparelho que ouvi, para além de muita música, muitos "homem que mordeu o cão". Depois desse programa, habituei-me a ouvir alguns programas da manhã ou outras rubricas diárias. Boa disposição garantida logo no começo do dia! E música, sempre música. Muita música, de todos os géneros, tipos, nacionalidades.
Hoje, graças ao meu telemóvel munido de fones, os meus trajetos de ida e volta do trabalho são iluminados por mais notas musicais. Lá vou eu, a pular de estação em estação - no telemóvel também é fácil realizar esta operação- a ouvir ora Beethoven ou Prokofiev, ora os grandes êxitos do momento no mundo pop/rock, ora os grandes clássicos de sempre ou os grandes êxitos que já se tornaram clássicos ou algum eterno e incontornável da MPB ou do jazz. Na semana passada ouvi, em direto, um pouco dos Proms 2013. No mesmo dia, já tinha ouvido uma versão parecida com esta para a música, já clássica, dos Smashing Pumpkins "Tonight, tonight". Está certo que lhe falta aquele momento especial do início da música, mas eu sou uma inveterada fã de (boas) versões acústicas. Gosto de algumas músicas novas que passam várias vezes nas diferentes estações, como esta do Jack Johnson. Tem uma leveza e um calor que é bem-vindo nos trajetos atribulados (e, agora, frios) no trânsito de São Paulo. A música erudita fica por conta dos 103,3.
Gosto de ouvir as músicas que aprendi a adorar na adolescência. Eram a novidade. Agora são clássicos. Foi a época do grunge, da explosão de bandas como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, ou mesmo os Radiohead, num registo bem diferente do que é o seu atual. Há dias atrás, quando começou esta dos Oasis, sorri ao lembrar-me das dezenas e dezenas de vezes que a cantávamos no recreio da escola, a plenos pulmões. Entre tantas que tenho ouvido e que me remetem a este ou aquele momento, esta da Whitney Houston foi a que me levou à lembrança que revivi com mais carinho. Eu, a Joana e a Vanessa no carro, a caminho de Santa Comba Dão. Começa a música, aquela mesmo, no rádio. Sem ensaio prévio, iniciamos uma performance inesquecível! Uma cantoria desenfreada - só lá faltava o nosso amigo Franças!- acompanhada de uma coreografia que eu, ali sozinha no autocarro, recriei mentalmente. Consigo ver a expressão das minhas amigas, os gestos que improvisávamos ao som das batidas fortes que lançam o refrão, os olhares teatrais e, no final, as gargalhadas em que tudo acabou. Passados estes anos, cada uma de nós vive num país diferente, mas os laços de amizade que nos unem permanecem fortes, inalterados. Não podemos estar juntas sempre que queremos. Na verdade, mal me lembro quando foi a última vez que estivemos as três juntas. Na distância que nos separa, nem sequer falamos tanto quanto gostaríamos. Sabemos menos umas das outras do que sempre nos habituámos a saber. Mas foi nesta distância que aprendemos que, às vezes, basta saber que a(s) outra(s) existe(m). Não só lá, seja em que país for, mas aqui, no nosso coração. E às vezes basta recordar momentos como aquele no carro, ou uma simples palavra como "atitude", para nos sentirmos mais próximos até de nós mesmos. Como dizia a Vanessa, em conversa sobre este assunto e em que ela recordou outro grande dia nosso (o dia em que vimos, na sala da casa dos pais da Joana "O diário de Bridget Jones"): "às vezes preciso disso, sabes? brings us to the ground...", ou diria eu "traz-nos de volta".
E então surge a outra grande lição: fiquemos atentos, sempre e a qualquer hora, porque qualquer momento, todos os momentos são potencialmente eternizáveis.