quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Nós e a internação no Sabará

Tal como em 2014, 2015 começou com uma internação do pequeno no Hospital Sabará por conta de uma virose intestinal. Desta vez foi o tal do adenovírus.

Tal como o ano passado, o serviço de Nutrição do hospital deixa muito a desejar: a comida não é boa (salvo raras excepções), o serviço tem falhas e ineficiências (pede-se uma coisa, vem outra; fala-se com um, com outro e outro, e nunca ninguém sabe nada do que foi dito antes) que nos desgastam ainda mais no tempo ali passado que, só por si, não é fácil. Por outro lado, também como há um ano atrás, todos os funcionários, desde as senhoras da limpeza até aos médicos, passando por enfermeiros e técnicos de enfermagem, são de uma competência, atenção e cuidado louváveis. Trataram sempre o pequeno com carinho, paciência e boa disposição. O quarto tem ótimas condições de acomodação, mas apresentava alguns problemas de manutenção, sempre resolvidos pelo pessoal da área com muita eficiência.

A novidade deste ano foi recebida por nós e, principalmente pelo pequeno, com grande satisfação! O hospital tem uma série de atividades de entretenimento para alegrar a pequenada. Tivemos várias visitas: uma linda cadela com quem o pequeno brincou atirando-lhe uma bola, encheu-a de carinho e também recebeu umas beijocas lambuzadas; duetos de violão e voz e contação de histórias. De salientar que uma boa parte desses projetos que levam sorrisos e alegria a toda a pequenada é fruto de voluntariado, o que é ainda mais admirável. Infelizmente, por ele estar em isolamento, não pôde brincar na brinquedoteca.

A todos no Sabará: o nosso agradecimento por terem tratado tão bem do nosso pequeno e por terem tido sempre tanta paciência conosco.

Apesar de tudo isso, esperamos sinceramente não ter de vos visitar o resto do ano!


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Nós, a praia e a virose

Resolvemos ter uns belos e merecidos dias na praia. Lá fomos rumo ao Guarujá. Graças a todos os deuses não enfrentamos trânsito por aí além na ida. O entusiasmo era muito, principalmente porque o Principezinho nunca tinha ido à praia - já tinha visto o mar, mas em bebé, nada que lhe tenha ficado na memória. O calor beirava o insuportável e, passado cerca de 1h30, avistamos o mar. "Muito, muuuuuito legal", dizia o pequeno a apreciar, ainda dentro do carro, o mar pela primeira vez (que se lembrasse) na vida.
Os primeiros dias foram ótimos! A areia clara e fofa, o mar morno e calmo, com ondas ideais para as brincadeiras do Principezinho - que, com a nossa ajuda, até ondas pegou com a prancha de bodyboard!
Tivemos dois dias muito especiais. O calor continuava insuportável. Praia e piscina só eram possíveis de manhã cedo ou no final do dia. Nas outras horas do dia, não fosse o ar-condicionado do hotel e teríamos cozinhado!..Os preços dos restaurantes não eram dos mais...simpáticos. Mas, regra geral, comemos muito bem. E ao terceiro dia, começou a nossa tormenta. No começo da tarde veio a minha indisposição e, no final da tarde, depois de purgar, de todas as desagradáveis formas, tudo e mais um pouco do meu organismo, já estava num hospital local a soro e medicação. Diz-me o médico que é surto de virose. Depois de entrar na sala, percebo: mais seis pacientes com sintomas idênticos. A primeira medicação não surtiu qualquer efeito, pelo que, só não vomitei a alma porque não calhou! Só depois da segunda, mais forte, tudo acalmou. Regresso ao hotel, de rastos, deito-me e caio a dormir. Acordo à 1h com o Principezinho a vomitar. E lá passamos uma noite inteira a intercalar horas de sono com minutos de...bom, alguma confusão. Depois de duas camas mudadas e o dia nascer, foi a vez do pequeno levar uma injeção no hospital. Drama e pânico na hora da picada: o pai segurou-o com todas as forças e, tal era o desespero do miúdo que nem sentiu a agulha entrar nem sair. Só quando lhe disse "já passou, filho, já acabou" é que, com um ar desnorteado, deu tréguas aos gritos e choro. Esse dia foi de repouso - ou devo dizer de total e absoluta falta de forças de qualquer um de nós - passado integralmente no quarto de hotel. À noite, nova visita ao hospital para mais soro e injeções - mais drama e horror- e, no dia seguinte, já um pouco mais refeitos regressamos à capital. O pequeno já com energia, eu mal me aguentando em pé, e o pai com um começo de tudo aquilo que nós já tínhamos tido.
Uma semana depois, estamos todos bem. E eu ainda ganhei, pelos infortúnios da vida, um empurrão na minha dieta de 2015! (Há que ver o lado bom das coisas, não?)
Pena que não pudemos aproveitar mais a praia mas, valeu pelos primeiros dias. Que saudades que eu tinha de ouvir aquele som ronronado do mar!.. De ver aquela imensidão de água a entrar-me pela alma adentro! De ver as cores do nascer e pôr-do-sol pintadas no céu.
Praia: nos aguarde. We´ll be back!

2015

Novo ano que se inicia. O quarto que começa aqui para mim. Passou rápido. (Às vezes) Passa devagar. Uma coisa é certa: foi bem mais fácil começar 2015 do que começar 2012. Foi tão mais fácil passar por 2014 do que por 2012! Quando aqui cheguei, tenho de admitir, tudo era difícil. Tudo me era penoso. O trânsito, o caos, a música à noite na rua, a gritaria das pessoas, não haver contentores de lixo e o lixo ficar pelo chão, ninguém parar nas faixas de pedestre, as chuvadas todos os dias no final de um dia de verão - oh, que saudades daquelas belas chuvadas! Quase todas essas coisas se mantém até hoje mas, hoje em dia, simplesmente convivo com elas. Pacificamente. Naquela época, eu resistia a qualquer tipo de mudança, tudo me irritava. O simples facto de eu acordar todos os dias e estar na cidade de São Paulo me irritava. Era mais feliz naqueles primeiros segundos de nem-acordada-nem-a-dormir em que me parecia estar a acordar em Lisboa. O resto do dia, era de pura negação. Estes anos em São Paulo fizeram-me mudar tantas perspetivas!.. Quando procurei coisas boas na vida, encontrei-as. Estar 24 horas por dia com o meu filho de, na época 2/3 anos foi a maior delas. Foi a atenção que ele dava a cada coisa, a alegria que ele tinha com coisas tão simples, a forma plena com que se entregava a cada coisa que o cativava, a cada tarefa que o ocupava que me fez ver que também nós, "pessoas crescidas", temos (ainda) essas capacidades. O tempo que passei com ele foi, no início absolutamente esgotante mas, depois, uma dádiva. Quantas mães têm essa possibilidade? De acompanhar o desenvolvimento, passo a passo, hora a hora, do filho. Cada dia começou a trazer-me uma boa surpresa. (Ou várias!) O sorriso e a gargalhada dele passaram a ser o meu bálsamo. Quando comecei a andar pelas ruas à procura de beleza, encontrei-a - e registei muita dela aqui, neste blog. Quando escolhi ser feliz, comecei a ser. Não 100% do tempo, claro, não me tornei uma pessoa, digamos, iluminada mas, pelo menos, tento ser aquela pessoa que escolhe ver o melhor, o que é importante e vale a pena e, no mais das vezes, resulta e sinto-me uma pessoa feliz e abençoada. Na realidade, não mudou tanta coisa assim desde o começo de 2012 para o começo de 2015. Continua a faltar-me muita coisa e muita coisa continua a fazer-me falta. Tenho quase os mesmos medos, angústias e dúvidas. (A diferença é que hoje nenhum deles me atormenta ou paralisa). São Paulo não mudou - ou, pelo menos, não mudou muito para melhor- mas aprendi a conhecê-la melhor e gostar de várias coisas que ela me dá. No fundo, o que mais mudou fui eu. Não propriamente eu, mas a minha forma de encarar tudo: o bom e o mau. Como diz o meu filho "quando a gente procura, acha." E é a mais pura verdade, saída da boca de um menino de 4 anos e meio. Resta-nos escolher do que estamos à procura. E a palavra-chave no meio de tudo isto é essa mesmo: "escolher".
Uma coisa eu sei que não vou encontrar aqui: Lisboa. Essa continua lá, à beira-mar plantada, com pessoas que eu amo, linda, solarenga, pacata e à espera do meu retorno, seja para férias, seja para ficar. Mas também aprendi que não podemos viver à espera ou em função do que vamos viver amanhã. Porque o hoje já aqui está, e não espera. Ou o agarramos ou ele nos escapa. E há sempre qualquer coisa que merece a nossa atenção, a nossa gratidão, o nosso sorriso hoje. Mesmo nos piores dias.
Eu começo 2015 com esperança no que ele me vai trazer e à minha família, e com gratidão por tudo o que já conquistamos até aqui. Obrigada 2014 por me permitires começar 2015 com esta vontade de procurar coisas boas. E...quem procura, acha.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Carta a São Pedro

Caro São Pedro,


Antes de mais, quero pedir-lhe sinceras desculpas por tantas vezes que me dirigi ao senhor com sentimentos menos amistosos cada vez que aquelas trombas de água nos atingiam nos tempos idos de Janeiro de 2012. Todo o santo dia lá vinha aquela chuvada que alagava a cidade e ensopava as pessoas. Até então, eu não tinha entendido o verdadeiro sentido de "chuvas de verão" e, pode até dizer-se que até àquele momento eu não sabia verdadeiramente o que era uma chuvada. Ora, eu estava convencida que vinha para o quentinho do verão e aquela chatice todas as tardes atrapalhava-me a rotina e desvanecia uma das poucas alegrias que sentia na época: ter saído do inverno rigoroso para entrar num verão quentinho. Na verdade, o que encontrei foi um verão morno e extremamente molhado. A cidade alagava, a luz faltava (graças a Deus essa parte melhorou bastante de lá para cá, pelo menos aqui no bairro). Pois agora, meu caro São Pedro, venho endereçar-lhe as minhas desculpas pois eu nada sabia do clima ou das necessidades da cidade e, por consequência, das nossas próprias. Posto isto, humildemente lhe rogo que mande todas as chuvas, chuvadas, tempestades que bem entender. Se não for pedir demasiado, seria bom que a maior perto delas caísse precisamente na região da Cantareira. Não que aqui na capital não sejam bem-vindas: amenizam o calor - que está bem difícil de suportar, por sinal...será que isso também pertence ao seu Departamento? Bom, mas também não quero abusar nos pedidos que lhe dirijo, não faça caso- e a poluição, o que é uma grande mais-valia mas, enquanto a chuva não cair na Cantareira, vivemos todos com a água cortada em boa parte do dia e da noite e com esta nuvem negra a pairar na cabeça - nuvem essa que mais valia fosse de chuva, mas nada mais é que a forte ameaça da seca total. O que faremos nós se a água acabar na Cantareira?

Então, meu caro São Pedro, aceite as desculpas e, por favor, apenas considere, por momentos que seja, os humildes pedidos desta simples moradora de São Paulo. Eu e mais uns tantos milhões ficaremos-lhe eternamente gratos se nos conceder a benção das chuvas. Desde já me comprometo a não mais me queixar de qualquer chuvada.


Atenciosamente,
Joana Gabriela