domingo, 7 de março de 2021

Eu e as linhas que nos tecem

"Toda matéria se origina e existe apenas em virtude de uma força. [...] Devemos supor que por trás dessa força exista uma Mente consciente e inteligente. Essa Mente é a matriz de toda a matéria." — Max Planck, 1944


Hoje sabemos que o mundo não é apenas aquilo que conseguimos absorver com os nossos sentidos. Estamos constantemente rodeados por micro-organismos, por exemplo. Também sabemos - e isso é Ciência, não crença - que tudo é energia, desde o mais sólido pedaço de aço à mais delicada pétala de flor. O próprio Einstein, na sua mais famosa equação, equivale massa a energia. 

Somos todos energia e estamos todos conectados. Com as pessoas que nos são mais próximas é fácil sentir essa ligação. Quantas vezes, a quilómetros de distância de um ente querido, sentimos que alguma coisa aconteceu? Ou pensamos, subitamente, em alguém que não vemos há algum tempo e, inesperadamente, essa pessoa nos liga ou temos notícias dela por outra pessoa? Ou entramos numa sala ou conhecemos alguém e sentimos que a energia não "bateu" com a nossa? Coincidência? Ou são pequenas evidências dessas teias que nos tecem? 

Para mim, a grande magia da música - e da Arte, como um todo - passa por essa ligação invisível que nos une. Reparem como os momentos que, certamente, mais nos marcam em qualquer evento são aqueles em que todas as individualidades se dissolvem. Quando uma sala inteira canta, por exemplo, o refrão de uma música, canta, literalmente, a uma só voz. É como se essas teias que nos unem, fossem finíssimos fios, inertes e apagados e, nesses momentos, ganhassem vida e se acendessem todos, ligando-nos numa enorme teia iluminada. A energia gerada é incrível! Podemos senti-la no arrepio na espinha, no pulsar do coração, nos pêlos dos braços arrepiados, na lágrima que escorre. E, como tudo é energia, podemos senti-la a ver o pôr-do-sol, a observar uma árvore... Se estivermos receptivos a isso, podemos sentir essa ligação que temos com tudo e essa é a busca máxima do ser humano: transcender a limitada noção de "eu" e, ao perdermos a nossa individualidade, encontrarmo-nos, enfim. Nas palavras de Sadhguru:

O desejo humano de transcender as limitações físicas é natural. Viajando da limitação - baseado do corpo individual para a fonte ilimitada da criação - esta é a base de qualquer processo espiritual.(...) Se você é liberado das forças físicas da existência, a graça irrompe em sua vida.(...) É só que você tem que se tornar receptivo a isso.


Ousemos ir além dos sentidos. Os momentos mais mágicos da vida são aqueles em que nos esquecemos de nós mesmos e nos diluimos em algo maior do que nós. Deixemos as "teias que nos unem" brilhar.