O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
terça-feira, 16 de abril de 2013
Eu e o céu
É oficial: o outono é a minha estação preferida. Seja em que continente ou hemisfério for. Claro que continuo a achar que o meu outono, o nosso, lá de Lisboa tem uma beleza incomparável. O que não quer dizer, necessariamente, que a tenha. Como dizia uma querida professora minha "gostos não se discutem: lamentam-se." Mas a verdade é que eu sou apaixonada por aqueles tons de laranja, amarelo e vermelho, pelo tapete de folhas coloridas que cobre o chão das ruas, pela luz própria da estação, que nenhuma outra iguala. E foi precisamente uma luz própria que descobri aqui também este ano. No ano passado, estava demasiado ocupada a sentir saudades do meu outono lisboeta, a lamentar o verde deste outono daqui e a ausência das cores que eu tanto gosto, a sofrer com a distância para me aperceber que, apesar deste outono não ser o meu, também tem a sua beleza. E ela está no céu. Não me canso de olhar para cima nas últimas semanas! Lá vou eu na rua, e pronto, os meus olhos detém-se na cor do céu, na dança suave e ondulante das nuvens e nas formas que vão deixando para trás, nos raios de sol que ora escapam por entre as nuvens ora se escondem atrás delas pintando tudo ao seu redor de bonitas cores impossíveis de nomear. Eu sinto como se eles me atravessassem a alma, deixando um rastro de...plenitude. O meu peito abre-se para que todas essas sensações caibam lá dentro e, num longo e vagaroso suspiro repousa, encontra-se, sossega. É uma espécie de euforia serena. Eu tenho o privilégio de estar debaixo daquele céu e aquelas cores inacreditavelmente belas ficam impressas, estampadas em algum recanto do meu ser. É uma sensação de "pertencer". Eu sou daquele céu, e aquele céu é meu e, mais ainda, os dois somos indivisivelmente parte de alguma coisa maior, pelo que, à medida que os meus olhos se perdem lá no alto, a frase cá em baixo vai-se transformando em "eu sou aquele céu e aquele céu sou eu." Não consigo evitar que um sorriso tome conta dos meus lábios. Tal como não evitava perante as cores outonais de Lisboa. Ou nas cores do pôr do sol. Aqui, só no outono vi - quando os dias não são de chuva - um pôr do sol realmente deslumbrante. Nuvens que parecem algodão doce cor de rosa, tons laranja, rosa e avermelhados, tudo espalhado pelo céu numa desordem que só a Natureza sabe ordenar: na mais pura beleza. Inimitável por qualquer pintura do mais talentoso artista.
Neste outono continuo a sentir falta do meu, mas ao invés de fechar os olhos e me enredar na saudade e melancolia, permiti-me olhar para cima e percebi que a paz de espírito de cada um pode encontrar-se nos mais diversos lugares. O que é que eu posso dizer? A mim, (por vezes,) basta-me o céu.
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Eu e os contrastes de São Paulo
Se há coisa que me chama a atenção na cidade de São Paulo são os contrastes. Quando se pensa em São Paulo, creio que a grande maioria das pessoas vai ter imediatamente a imagem dos arranha-céus, da modernidade de uma jovem grande metrópole. Mas São Paulo é realmente muito grande. Tão grande que cabe toda a espécie de pequenos mundos lá dentro. Há, realmente, todo esse enorme conjunto de arranha-céus, modernos, sofisticados. Mas também há as casas antigas ou as moradias de luxo. Há toda a espécie de serviços que o século XXI demanda numa grande metrópole - supermercados, farmácias e academias de ginástica abertos 24 horas por dia, por exemplo - mas, por incrível que pareça, também se vêem coisas que eu nunca imaginaria encontrar em São Paulo. O senhor sentado atrás de uma mesa improvisada no ponto do ônibus [leia-se paragem de autocarro] a vender toda a espécie de produtos, desde bolo caseiro a pastilha elástica, passando por batata frita ou qualquer outro salgado. Há ainda a versão "loja-chinesa-ambulante": a mesma mesa improvisada repleta de produtos espalhados, pendurados que vão desde isqueiros a biscoitos,
passando por fones e todo o tipo de doces. O senhor que empurra o carrinho dos sorvetes [gelados]. O senhor que empurra o carrinho onde frita as batatas e faz as pipocas. O senhor que empurra o carrinho do algodão doce. O senhor que pára perto dos bares com o seu carrinho de churrasco improvisado, onde grelha as carnes e as vende num espeto. A senhora que empurra o carrinho da pamonha. A senhora que empurra o carrinho do cachorro quente. O senhor que puxa uma espécie de carroça em que vai colectando todo o tipo de papel, cartão e papelão. O rapaz que entrega a carne, o pão, a comida chinesa ou qualquer outro género alimentar numa bicicleta com um enorme cesta onde coloca os produtos. Os senhores que abrem todos os lados da carrinha e a transformam numa banca de fruta e legumes ambulante. O carro dos ovos que se passeia pelas ruas do bairro anunciado ao som do microfone "é o carro dos ovos passando na sua rua. Aproveite a oportunidade. O carro dos ovos." É o carro das laranjas, dos morangos ou dos produtos de limpeza.
Há também o contraste, sobre o qual já escrevi aqui, das pessoas. Desde a mais bonita à mais feia, da mais simples à mais sofisticada, da mais vulgar à mais elegante, de toda e qualquer etnia.
O meu contraste preferido? Nesta cidade imensa chamada de selva de pedra, observar o vôo encantador de um beija flor ou ouvir o belo canto do sabiá. Pura poesia na densidade prosaica desta cidade.
passando por fones e todo o tipo de doces. O senhor que empurra o carrinho dos sorvetes [gelados]. O senhor que empurra o carrinho onde frita as batatas e faz as pipocas. O senhor que empurra o carrinho do algodão doce. O senhor que pára perto dos bares com o seu carrinho de churrasco improvisado, onde grelha as carnes e as vende num espeto. A senhora que empurra o carrinho da pamonha. A senhora que empurra o carrinho do cachorro quente. O senhor que puxa uma espécie de carroça em que vai colectando todo o tipo de papel, cartão e papelão. O rapaz que entrega a carne, o pão, a comida chinesa ou qualquer outro género alimentar numa bicicleta com um enorme cesta onde coloca os produtos. Os senhores que abrem todos os lados da carrinha e a transformam numa banca de fruta e legumes ambulante. O carro dos ovos que se passeia pelas ruas do bairro anunciado ao som do microfone "é o carro dos ovos passando na sua rua. Aproveite a oportunidade. O carro dos ovos." É o carro das laranjas, dos morangos ou dos produtos de limpeza.
Há também o contraste, sobre o qual já escrevi aqui, das pessoas. Desde a mais bonita à mais feia, da mais simples à mais sofisticada, da mais vulgar à mais elegante, de toda e qualquer etnia.
O meu contraste preferido? Nesta cidade imensa chamada de selva de pedra, observar o vôo encantador de um beija flor ou ouvir o belo canto do sabiá. Pura poesia na densidade prosaica desta cidade.
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Coisas que me fizeram parar
Som de helicóptero. Cada vez mais próximo, cada vez mais forte. Olhei para cima e vi-o a ficar cada vez maior à medida que se aproximava. E, no topo de um arranha-céus da Faria Lima, pousou.
Não se vê disto em Lisboa.
Não se vê disto em Lisboa.
terça-feira, 2 de abril de 2013
Nós e o Parque da Água Branca
Várias pessoas nos diziam que devíamos levar o pequenote ao Parque da Água Branca. O meu marido e cunhada, inclusivamente, têm boas recordações de infância lá passada. Este fim de semana, finalmente, concretizámos esse plano.
Muito agradável. Um belo passeio por um parque bem arborizado, com muita sombra - o que, num dia quente, é ótimo. As galinhas, galos e pintinhos passeiam por todo o parque, proporcionando encontros engraçados com o nosso pequenote, que dizia com ar autoritário "vai pra lá, galo!" Há um lago com patos e outro com carpas bem grandes. Há ainda um outro com ambos. Pelo caminho vimos também um pavão e alguns gatos. Vimos a exposição do aquário - 2 reais a entrada. O pequenote adorou. Tem várias espécies de peixe, de vários tamanhos, cores e feitios. Diria que não vale exatamente os 2 reais, mas valeu os sorrisos do pequeno.
Há um picadeiro, e conseguimos ver quatro cavalos perto dos estábulos. Um deles ainda se deixou acariciar um pouco, o que para o pequeno foi um dos momentos altos da manhã.
Há uma feira de produtos orgânicos e vê-se todo o género de pessoas a puxar carrinhos de feira pelo parque. Também há duas barracas - à falta de nome melhor - que vendem café tipo rústico e bolos feitos em forno de lenha. Delicioso! E nada caro, o que é um achado em São Paulo.
O que mais deixa a desejar são os playgrounds. Há dois, mas em nenhum se vê um escorrega que seja! Os brinquedos são adequados a miúdos mais velhos, está desarranjado, mal cuidado. Uma pena... Em compensação, há um espaço de leitura e uma estrutura ao ar livre que acolhe pequenos eventos para crianças. Tivemos a sorte de assistir a um concerto dado por duas simpáticas senhoras: voz e violão, temperado com pequenas e animadas coreografias com fantoches. Um mar de crianças acompanhadas de um oceano de adultos presenciaram e participaram da festa. Muito divertido, leve. Foi uma bela forma de acabar o nosso passeio.
Muito agradável. Um belo passeio por um parque bem arborizado, com muita sombra - o que, num dia quente, é ótimo. As galinhas, galos e pintinhos passeiam por todo o parque, proporcionando encontros engraçados com o nosso pequenote, que dizia com ar autoritário "vai pra lá, galo!" Há um lago com patos e outro com carpas bem grandes. Há ainda um outro com ambos. Pelo caminho vimos também um pavão e alguns gatos. Vimos a exposição do aquário - 2 reais a entrada. O pequenote adorou. Tem várias espécies de peixe, de vários tamanhos, cores e feitios. Diria que não vale exatamente os 2 reais, mas valeu os sorrisos do pequeno.
Há um picadeiro, e conseguimos ver quatro cavalos perto dos estábulos. Um deles ainda se deixou acariciar um pouco, o que para o pequeno foi um dos momentos altos da manhã.
Há uma feira de produtos orgânicos e vê-se todo o género de pessoas a puxar carrinhos de feira pelo parque. Também há duas barracas - à falta de nome melhor - que vendem café tipo rústico e bolos feitos em forno de lenha. Delicioso! E nada caro, o que é um achado em São Paulo.
O que mais deixa a desejar são os playgrounds. Há dois, mas em nenhum se vê um escorrega que seja! Os brinquedos são adequados a miúdos mais velhos, está desarranjado, mal cuidado. Uma pena... Em compensação, há um espaço de leitura e uma estrutura ao ar livre que acolhe pequenos eventos para crianças. Tivemos a sorte de assistir a um concerto dado por duas simpáticas senhoras: voz e violão, temperado com pequenas e animadas coreografias com fantoches. Um mar de crianças acompanhadas de um oceano de adultos presenciaram e participaram da festa. Muito divertido, leve. Foi uma bela forma de acabar o nosso passeio.
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