Eu e o Mateus passamos um mês de férias em Lisboa.
No primeiro final de semana de regresso a São Paulo, fomos até ao Itaú Cultural para o evento "Se essa rua fosse nossa." Enquanto o observava a brincar e interagir com as outras crianças que ali estavam, pensei como o mundo das crianças é tão mais simples do que o nosso.
Em Lisboa, aproveitamos bem os dias quentes de verão para passear. Além das coisas óbvias como o jardim zoológico ou o oceanário, do que o Mateus mais gostou foi de brincar nos variados parques de lisboa. Em cada um deles, acabava por brincar com uma ou mais crianças, da idade dele ou não, menino ou menina. Brincou com portugueses e com estrangeiros, já que Lisboa está bem recheada de turistas. Entendiam-se sempre. Corriam, riam, interagiam. Em um dos dias, um menino perguntou-lhe que língua ele falava, se era inglês. Vi o ar intrigado do Mateus, correu para mim e segredou-me "mamãe, que língua eu falo?" Disse-lhe "português, filho, todos falamos português aqui, mas nós falamos com o sotaque daqui e tu falas com o sotaque do Brasil, falas português do Brasil." Ele arregalou os olhos e correu novamente para junto dos meninos. "Falo português do Brasil." Continuaram a brincar. Em outro dia, um menino perguntou-lhe "és brasileiro?" Novamente aquele olhar intrigado, como quem pensa "Boa pergunta!" Não ouvi a resposta e vi que continuaram na mesma correria e euforia de antes no escorrega do parque. Perguntei-lhe o que tinha respondido ao menino, e ele encolheu os ombros "Nada... Eu não sei", disse-me ele na maior descontração. Para ele não tem a menor importância se é português, brasileiro, sueco ou chinês. Tão pouco tem a menor importância qual a aparência ou a nacionalidade dos meninos com quem brinca. E tão menos ainda tinha importância para os outros qual a língua ou o sotaque dele.
No Itaú Cultural, o Mateus movia-se e interagia exatamente com o mesmo à vontade que em qualquer parque em Portugal. A mesma alegria, a mesma empolgação, a mesma excitação de estar num lugar que gosta, à procura da melhor forma de se divertir. O melhor de tudo é que percebi que a forma dele estar no mundo e a forma com que o vê melhora a minha: tanto me faz que seja em Lisboa ou em São Paulo...a alegria do Mateus é a minha, vê-lo feliz faz-me sorrir esteja eu em que ponto do globo estiver.
Simples, não?
Além de mais simples que o nosso, o mundo das crianças é também, muitas vezes, mais bonito. O menino com quem o Mateus mais brincou no Itaú, do nada, chegou ao pé dele e abraçou-o "´Tá brincando sozinho? Quer brincar comigo?" E assim começou uma tarde de diversão. No final da tarde, o menino chorava no colo da mãe "mas eu não quero ir embora ainda!" O Mateus, sabiamente disse-lhe, "Não fica assim não. O que importa é que a gente se divertiu." E seguimos para casa, à procura da próxima brincadeira.
O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Pérolas da língua portuguesa
Em Portugal também as temos e em larga escala. Note-se, por exemplo, o incorreto emprego do "s" nos tempos verbais da segunda pessoa do singular: "Oh Manel, fizestes o que te pedi? Comprastes as coisas no mercado?"
Dói nos ouvidos...
Ora aqui em São Paulo, também é comum ouvirmos pérolas por aí. A minha preferida é o "nimim". E perguntam-se vocês o que é esse tal de "nimim"? Aqui vai um exemplo:
"O cara derrubou a cerveja nimim!"
De difícil escrutínio, de início, esta variação de "em mim" permeia muitas das falas de quem é usuário de transportes públicos.
Parente desta pérola, encontramos uma outra, mais clássica ainda: a eterna dúvida "eu ou mim?"
"Me dá isso para mim fazer!"
"Para mim chegar lá vai ser difícil!"
Quando éramos crianças e alguém cometia este tipo de erro, havia sempre algum engraçadinho que dizia "Mim Tarzan, tu Jane."
Outra dificuldade que se encontra muito por aí é a conjugação dos verbos na primeira pessoa do plural. É comum ouvir-se "nós vai fazer assim..." ou "nós quer justiça!"
Em Portugal, é comum o erro inverso: "a gente vamos fazer..."
À parte as idiossincrasias da Língua Portuguesa nos dois lados do mundo, o importante é que a gente se entende e, mais do que nunca, como dizia o grande Pessoa: a minha pátria é a Língua Portuguesa - sempre que possível, a correta.
Dói nos ouvidos...
Ora aqui em São Paulo, também é comum ouvirmos pérolas por aí. A minha preferida é o "nimim". E perguntam-se vocês o que é esse tal de "nimim"? Aqui vai um exemplo:
"O cara derrubou a cerveja nimim!"
De difícil escrutínio, de início, esta variação de "em mim" permeia muitas das falas de quem é usuário de transportes públicos.
Parente desta pérola, encontramos uma outra, mais clássica ainda: a eterna dúvida "eu ou mim?"
"Me dá isso para mim fazer!"
"Para mim chegar lá vai ser difícil!"
Quando éramos crianças e alguém cometia este tipo de erro, havia sempre algum engraçadinho que dizia "Mim Tarzan, tu Jane."
Outra dificuldade que se encontra muito por aí é a conjugação dos verbos na primeira pessoa do plural. É comum ouvir-se "nós vai fazer assim..." ou "nós quer justiça!"
Em Portugal, é comum o erro inverso: "a gente vamos fazer..."
À parte as idiossincrasias da Língua Portuguesa nos dois lados do mundo, o importante é que a gente se entende e, mais do que nunca, como dizia o grande Pessoa: a minha pátria é a Língua Portuguesa - sempre que possível, a correta.
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