terça-feira, 31 de janeiro de 2023

31-365

 


Noite atípica. Um apagão generalizado no bairro. Como, ao mesmo tempo, chovia, caminhei até casa pelas ruas apenas iluminadas pelas luzes dos carros que passavam e dos relâmpagos que rasgavam o céu de tempos em tempos.
Em casa, velas acesas em vários cantos. Entro no quarto para trocar de roupa e, inconscientemente, aperto o interruptor. Eu sei que não há luz. Já sabia que não havia luz quando entrei no quarto com o auxílio da lanterna do telemóvel! Mas a minha mente insiste em ordenar o meu dedo a fazer o gesto habitual quando se encontra perante a escuridão (e ele, por sua vez, obedece sem titubear): acender a luz. E eis a reflexão: quantos gestos na nossa vida, quantas ações e, principalmente, reações fazemos sem sequer ponderar por que o estamos a fazer? Quantos "pilotos-automáticos" nos levam a lugares inúteis (como tentar ligar a luz quando não há energia) ou a lugares indesejáveis (como ter a mesma discussão, com as mesmas argumentações, pela centésima vez)? E é tudo uma questão de atenção: só tentei acender a luz na primeira vez. Nas seguintes, a minha mente já estava focada, já tinha entendido que era hora de sair do piloto-automático. A nossa mente não é nossa inimiga: se soubermos dar-lhe a atenção devida, é nossa aliada na mudança. A questão é saber o quanto estamos dispostos a investir da nossa energia nessa mudança. É mais simples seguir automatismos do que estar atento, mas automatismos... nem sempre acendem luzes. Atenção leva-nos onde queremos, automatismos não nos tiram do mesmo lugar.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

30-365

 


Hoje, ao voltar para casa, ouvi grilos a cantar. Em um ápice senti-me na beira da piscina em Monte Gordo, numa noite de verão. Nas férias de verão, era uma das minhas coisas preferidas: ouvir o canto dos grilos ecoar no silêncio das noites quentes. Em Vila Nova de Milfontes também. O canto do grilos ficou, para mim associado a noites de verão na praia e, ao ouvi-lo, sinto como se me transportasse para outro lugar. É impressionante como certos cheiros, sabores e sons nos levam de volta no tempo e no espaço! Sentimos aquele cheiro de bolo ou de tempero e estamos na casa da mãe ou da avó, comemos alguma coisa e voltamos no tempo - ainda esta semana comi uma abóbora grelhada que, não sei porquê (porque a minha avó, que me recorde, nunca cozinhou nada parecido!) me fez lembrar alguma coisa que a minha avó fazia e senti um gostinho de infância que nem soube bem explicar porquê - sentimos um perfume e lembramo-nos de alguém ou de algum lugar. E as músicas... há músicas que nos levam de volta a um concerto, a uma festa, a um evento em particular e outras, levam-nos de volta exatamente ao que sentíamos e pensávamos na época em que as ouvíamos em loop. A memória é tão curiosa quanto imprevisível. Nunca sabemos qual momento estamos a viver e que vai ficar gravado na nossa memória. Mesmo quando são coisas absolutamente marcantes e previsivelmente eternas, nunca sabemos de que forma vão ficar gravadas em nós. Às vezes, só percebemos que essas coisas vivem em nós quando, de repente, um cheiro, um sabor ou um som nos devolvem algum momento que parecia ter ficado perdido. Dizem que "recordar é viver" mas acho que o mais acertado seria "recordar é re-viver", pois viver...só se vive uma vez. Aproveite-a bem! E talvez tenha a felicidade de poder revivê-la.

domingo, 29 de janeiro de 2023

29-365


Sabem a máxima de "vemos o mundo pelas nossas lentes e não como ele é"? Ontem estava a brincar de "guerra de água" com o meu filho. No final da brincadeira, já totalmente encharcados, o Mateus encheu um dos balões e disse "vamos desenhar no muro: water drawing." Apontou o balão para o muro, e foi deixando esguichar água do balão. A água ia formando uma mancha mais escura no muro. Ele perguntou-me o que eu via naquela forma. Ainda estava a descrutinar alguma coisa quando ele exclamou "Já sei! É um Among Us!" Verdade, assemelhava-se ao formato do personagem do popular jogo Among Us. Foi aí que parei para pensar: as "formas" que vemos por aí são reflexo daquilo que já conhecemos. Esguichou mais água noutra parte do muro e, desta vez, fui eu que vi com clareza "um jogador a dar um pontapé de bicicleta". O Mateus discordou "para mim parece só uma pessoa deformada..." Eu adoro futebol e o Mateus não gosta. Parei para pensar outra vez: as "formas" que vemos por aí refletem os nossos gostos e aversões.
O mundo que percebemos, depende das "lentes" que usamos para o observar. As nossas lentes têm o colorido das nossas experiências, do que já conhecemos, do que gostamos e não gostamos, das nossas crenças, dos nossos medos. Ninguém vê um mundo objetivo, cada um de nós vê o seu próprio mundo. (Por exemplo, para algumas pessoas o mundo é um lugar perigoso, cheio de ameaças, para outras o mundo é um lugar bonito e cheio de oportunidades.) Se a visão que temos do mundo depende das lentes que usamos, então, isso significa que não estamos fadados a ver o mundo da forma que sempre vimos. Podemos mudar as nossas lentes e, com isso, perceber um mundo diferente! Escolher lentes mais bonitas, que nos façam ver um mundo melhor, mais colorido, talvez com mais esperança e alegria. Se podemos mudar as lentes que usamos, a questão mais importante é: que mundo escolhemos ver? Comece hoje, agora: escolha, cuidadosamente, em que mundo deseja viver. Ele já existe aí. É só aprender a observá-lo através das lentes certas. 

sábado, 28 de janeiro de 2023

28-365

 


No Ocidente, temos muito receio de falar na morte. Até de pensar na morte. Vivemos como se não soubéssemos que, um dia, vamos morrer. Vivemos como se esse dia fosse daqui a muito, muito, muito tempo, como se talvez, até lá, a tecnologia e a medicina pudesse evoluir tanto que já seja possível viver para sempre e, afinal, esse dia nem tenha de chegar. Fazemos planos para daqui a 1 ano, 5 anos, 10 anos quando, na verdade, esse dia pode ser hoje. Pode ser amanhã.
Ter consciência da nossa mortalidade traz-nos para o Agora, e Agora é a única coisa que sempre tivemos e sempre teremos. A vida é uma incessante sucessão de Agora. Daqui a pouco não existe. Há bocado já deixou de existir. Enquanto escrevo, cada palavra me leva a um novo Agora. Cada respiração profunda me transporta de um Agora até outro. Vivemos sempre Agora. A nossa mente pode vaguear entre passado, presente e futuro, mas a Vida acontece sempre Agora e, quando tiver de nos deixar, também será Agora.
Por estes dias, refletia eu sobre o quão imprevisível e inexplicável é a morte. Assim como não sabemos de onde vem esta centelha que nos dá Vida, também não sabemos por que ela nos deixa. Sim, o corpo deixa de funcionar, ou por doença, ou por acidente, seja lá que razão for, o nosso corpo não reage mais da forma que deveria, mas... eu refiro-me ao momento exato em que se morre. Num momento, há algo no corpo que lhe dá Vida e, no momento seguinte, a Vida deixa aquele corpo. O que a segurava ali? Pensem naquelas mortes súbitas, em que a pessoa estava, aparentemente, saudável e, de um minuto para o outro, cai inerte. Por quê naquele exato segundo, o que animava aquele corpo deixa de o fazer? Eu não temo a morte, nunca temi, na verdade. O que dói é a ausência dos outros em mim ou a minha ausência nos outros. A Morte, em si, é uma coisa que aceito tão naturalmente como a Vida. Acho tão inexplicável eu estar aqui agora quanto, um dia, deixar de estar. Como a vida é cheia de sincronicidades, entre uma linha e outra que escrevia aqui, assisti a um episódio (o sexto) de Sandman. Esse episódio começa com Sandman a conversar com a sua irmã, Morte, e a acompanhá-la em um dia de trabalho dela. Bonita, calma e simpática, a Morte vai passeando pela cidade, visitando as pessoas que tem de visitar nesse dia. Entre uma corrida, umas braçadas na água, e uma música no violino, nenhuma delas percebe que morre, até que a Morte lhes sorri e as leva pela mão. Nenhuma delas sofre. Deixam-se levar por Ela, envoltos no seu sorriso, na compaixão do seu olhar. Assistir este episódio neste exato momento, foi como se o Cosmos me respondesse: sim, a Morte é apenas uma moça bonita que, no momento que tiver de ser, nos sorri e nos leva pela mão. Até lá, aproveito a dádiva que me foi concedida: viver. Agora.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

27-365

 



Se há assunto que eu acho fascinante é o livre-arbítrio. Quando eu tinha os meus 16, 17 anos, e começou aquela pressão para decidir que curso seguir, comecei a fazer essa reflexão: até onde vai o nosso livre-arbítrio? Porque eu, claramente, não tinha a menor propensão que fosse para, por exemplo, seguir Medicina. O menor interesse, vocação, capacidade (de lidar com sangue, etc) que fosse. E comecei a questionar-me: nós podemos mesmo ser tudo o que quisermos? Ou nós apenas queremos aquilo que podemos Ser?
No ano passado, ao estudar mais yoga, deparei-me com o conceito de samskara. (Desculpem-me alguma imprecisão, pois não sou entendida no assunto, mas vou aventurar-me aqui.) Samskara pode ser interpretado como uma impressão, uma marca ou uma "cicatriz". Digamos que, quando nascemos, não temos folhas em branco para preencher, mas folhas que já vêm com algumas linhas impressas, algumas marcas. Desde que nascemos, as nossas ações também vão imprimindo letras a lápis nessas folhas. Tornam-se impressões (samskara) na nossa folha. Primeiro escritas de leve, mais fáceis de ser apagadas mas, à medida que reiteramos ações e reações delas decorrentes, essas linhas vão ficando escritas de forma mais forte, até que podem ficar marcadas a caneta, o que dificulta a sua edição. Imagine que, em criança, cada vez que ficava triste, ganhava um doce para se alegrar. Na primeira vez, o doce foi uma boa surpresa. Na segunda vez, ainda uma boa surpresa. Na terceira vez, já foi um antecipado conforto. A cada vez que isso acontecia, na sua folha, começava a ser escrito em letras cada vez mais fortes "quando eu estou triste, preciso de um doce para me alegrar". Em breve, essa ação-reação torna-se uma impressão, uma atitude totalmente inconsciente e automática. Voltando à questão do livre-arbítrio: parece-me plausível que já cheguemos aqui, a este mundo, com certas "impressões" que nos guiam. (De que outra forma explicar a paixão que tive, desde que me entendo por gente, pela ginástica artística, por exemplo?) Também me parece essencial que olhemos atentamente para as nossas "folhas em branco" e comecemos a ponderar o que está ali impresso. (Eu preciso mesmo desse doce para me confortar ou alegrar, ou será que eu posso escolher traçar um novo caminho aqui?) Nós temos, sim, livre-arbítrio de escolher o que fazer com o que nos é dado. E temos, aliás, o dever, connosco mesmos, de refletir sobre as nossas ações e reações. Quanto mais conseguirmos livrar-nos de linhas que não precisam estar impressas nas nossas folhas, mais espaço em branco temos para nos reinventarmos e, com ações conscientes - livres! - reescrevermos a nossa história. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

26-365

 


É difícil dizer quando uma amizade começou. Foi quando nos conhecemos? Quando conversámos pela primeira vez?Qual foi o momento das nossas vidas em que podemos dizer "a nossa amizade começou aqui"?
Algumas pessoas parece que sempre fizeram parte da minha vida. Não faço a mais pequena ideia quando as vi pela primeira vez, nem quando nos aproximámos.
Lembro-me de estarmos as duas no coro da escola. Talvez seja a memória mais antiga da nossa amizade embora, nessa época, não fôssemos ainda amigas. Depois começámos a ser colegas no piano. Adiantamos um pouco na história - porque, lá está, é tudo uma grande nebulosa - e lá estávamos nós, o nosso grupo do piano, a incentivarmo-nos uns aos outros, a rir dos nossos medos, a partilhar as nossas dúvidas. As nossas horas de pré-audição eram épicas! Nunca competimos, sempre torcemos genuinamente uns pelos outros.
Ali, foi realmente o começo da nossa amizade, embora seja impossível precisar o momento exato em que isso aconteceu.
Desde aqueles tempos, foi crescendo, entre nós as duas, um afeto, carinho e confiança que fez com que a nossa amizade florescesse e sobrevivesse a tempos e distâncias. Houve momentos de maior afastamento mas, sempre que voltávamos a falar, era como se tivéssemos estado juntas no dia anterior! A nossa cumplicidade tornou-se inabalável. Estivemos juntas em momentos bons - quantos ataques de riso já tivemos juntas? - e maus. Por vezes, fomos, uma para a outra bússola e tábua de salvação. O mais curioso de tudo é que, foi no período em que cada uma de nós estava emigrada em outro país, a milhares de quilómetros uma da outra, que a nossa amizade mais se fortaleceu. E, hoje, quero celebrar essa amizade que é, para mim, um verdadeiro porto-seguro, de valor incomensurável. Celebro a tua presença, o tempo precioso do teu dia que tiras para me perguntar se está tudo bem. Celebro o espaço de abertura e respeito mútuo que cultivámos e que nos permite, com total segurança, sermos quem somos, sem julgamentos, sem cobranças. Celebro o teu incentivo, as dicas, as críticas feitas de forma tão cuidada. Celebro os livros, filmes e todas as demais descobertas que partilhamos e comentamos. Celebro, e tenho muito orgulho, no teu percurso, nas tuas realizações, nos teus sonhos, no teu talento. Celebro as tuas qualidades humanas, a tua empatia, a tua força, a capacidade admirável que sempre tiveste de pensar pela tua própria cabeça.
Celebro o facto de te saber aí. De nos sabermos aqui. Contigo, acima de tudo contigo, aprendi que "não há longe nem distância" entre verdadeiros amigos. Sou grata por os 8000 km que nos separam atualmente não te terem afastado ou desanimado. Sabes que podes sempre, sempre contar comigo. (Eu sei que conto contigo também.) Espero que este ano seja maravilhoso para ti! Que possas viver Hoje de forma incrível, e cada Hoje que lhe suceder. Mereces muito! E eu sei que vais ser muito, muito feliz. Estarei lá para o celebrar. Feliz aniversário, senhora dona!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Feliz aniversário, São Paulo!


Hoje, São Paulo comemora 469 anos. Há 11 anos que eu vejo a cidade crescer e transformar-se (e eu, junto com ela). Sou grata a São Paulo por me ter dado novas lentes para olhar o Mundo. A beleza de São Paulo não é gratuita, não se oferece ao deleite do olhar: ela é descoberta, em cada cantinho da cidade. Aparentemente metrópole, gigantesca, fria, dura, concreta, São Paulo convida-nos a conhecê-la, aos poucos, nos seus detalhes encantadores (o canto do pássaro, a diversidade, a árvore de frutas, as cores do céu, os edifícios, o relâmpago no céu, a arte...) Nessa busca da beleza de São Paulo, eu mesma fui-me encontrando e, por isso,  São Paulo sempre terá um lugar especial no meu coração.

Hoje, a cidade é a aniversariante mas foi ela que nos presenteou, com um dia quente e um lindo céu azul pintado de nuvens brancas. Obrigada, São Paulo. Feliz aniversário, São Paulo.

25-365

 


Uma das minhas coisas preferidas em São Paulo é a quantidade de borboletas lindas que vemos por aqui. Grandes, pequenas, médias, coloridas, pretas e brancas, amarelas. Não sei explicar porquê, mas quando vejo uma borboleta a voar perto de mim, não consigo evitar sorrir. É espontâneo, imediato. Vejo-as bater asas por aí, a espalhar beleza pela cidade, e penso nas palavras de Fernando Pessoa "Às vezes ouço passar o vento, e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." Cada borboleta que eu vejo por aí exerce esse efeito em mim: relembra-me o privilégio que é estar neste mundo. Os breves segundos em que elas me rodeiam, parecem-me como acenos da Natureza: elas cumprimentam-me, eu sorrio-lhes, elas presenteiam-me com mais alguns momentos de contemplação e seguem o seu caminho deixando o meu mais leve. De vez em quando, consigo registrar o nosso breve encontro. Este, foi especial. Depois de voar ao pé de mim por alguns segundos, pousou. Por uns segundos as asas ainda oscilavam lentamente. Até que parou com as asas bem abertas. Sei que não foi para mim, claro, mas aproveitei para tirar uma foto e, eis que, de asas bem abertas fui surpreendida: não sei vocês, mas eu vejo desenhados, em cada asa dela, um coração perfeito, cor de laranja. Sim, é por estas e por outras que vale a pena ter nascido.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

24-365

 


Ontem conversava com o meu filho - que já está a caminho dos 13 anos! - sobre a tendência que o ser humano tem para perpetuar padrões. A conversa surgiu a propósito de um comentário dele: "acho curioso que "fulano" fica todo chateado quando lhe dizem "A" e lhe fazem tal coisa mas, na primeira oportunidade, ele faz e diz exatamente a mesma coisa a outra pessoa. Se ele não gostou que lhe fizessem isso, por que ele faz também?"
É uma questão muito interessante. Nós, seres humanos, tendemos a repetir padrões. Disse ao meu filho "Sabias que muitas pessoas que sofreram violência e abusos em crianças, tornam-se adultos que replicam essa violência e abusos nos outros?" Ele ficou surpreso. Mas pensem bem: qual de nós não deu por si, em algum momento, a dizer e fazer coisas que pensa "meu Deus, eu sou o meu pai/mãe a falar!" Mesmo quando são coisas que, um dia, pensámos que jamais iríamos dizer ou fazer. Olhe ao seu redor, e veja quantos padrões da sua infância estão replicados na sua vida? Observe com atenção. É outro contexto, outra "roupagem", mas o mesmo padrão, a mesma carga emocional resultante dele. Continuei a dizer ao meu filho "quantas vezes nos irritamos na rua, na escola, no trabalho, alguém nos trata mal e, ao chegar a casa, não conseguimos evitar descontar em quem nos é mais próximo? Já reparaste que, quando fazemos isso, estamos a perpetuar um padrão negativo? Foram antipáticos comigo, eu fiquei chateada, nervosa, sem paciência e, lá na frente, acabo por ser antipática com outra pessoa que não tinha nada a ver com a história."
A verdade é que a própria Natureza é feita de padrões: as folhas das árvores, as sementes das frutas, as conchas do mar, as pétalas das flores. Da mesma forma, vamos sempre ter padrões na nossa vida. A primeira questão é: percebermos os padrões, termos a capacidade de os identificar. Esta talvez seja a tarefa mais difícil. Estamos rodeados de "espelhos", mas nem sempre estamos preparados para olhar para eles ou para enfrentar o que eles nos mostram. A segunda, tão ou mais importante, é decidir se esse padrão que identificámos deve permanecer. Eu sugeri ao meu filho o que vou sugerir aqui: por que não investir mais em dar continuidade a padrões positivos e em criá-los? Se alguém foi gentil consigo, passe essa gentileza adiante. E pratique atos de generosidade, gratuitos, desinteressados - quem sabe esse ato reverba em outras pessoas e se estende numa cadeia mais vasta? (Eu acho que a máxima sugerida há mais de 2000 anos por Jesus Cristo, continua a ser a mais sábia: faça aos outros aquilo que gostaria que lhe fizessem.) Acima de tudo, descarte tudo aquilo que não lhe serve mais. Não importa o que lhe fizeram, não importa em qual padrão foi emaranhado: o que importa é o que escolhe fazer com isso. Coisas que nos trazem emoções negativas, que nos amarram, nos impedem de evoluir, não devem ser mantidas. Pode estar há 20 anos sob esse padrão! Não tem importância: basta um dia para decidir libertar-se dele! Solte as amarras e arrisque novos rumos! 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

23-365

 


Imagine encontrar um extraterrestre e tentar explicar-lhe como é dormir, qual o sabor do morango, o que é amar alguém, como é dar um mergulho no mar, qual é a sensação de ver nascer um filho, como é ouvir a sua música preferida, como é beijar alguém que se ama, como é perder alguém que se ama, o que é sentir dor. Por mais vocabulário de que disponha, por maior que seja o seu talento para descrever as coisas, nunca, nunca o seu ouvinte poderá saber o que são realmente essas coisas. Nada disso cabe em palavras. Para algumas dessas coisas, não há sequer palavras que lhes façam justiça! O ser humano tem uma tendência natural para querer investigar os porquês de tudo. Ao longo da história, olhamos para as estrelas, para o universo, com tecnologia cada vez mais avançada, pisámos na Lua, aprendemos sobre galáxias distantes. Mas nada que investiguemos com a razão e a lógica poderá dizer-nos o que sentimos ao olhar para uma lua cheia num céu estrelado, ou sequer nos poderá explicar de onde surgiu a primeira molécula de energia e como ou por que razão se expandiu dando origem a todo o Universo.
Prescrutámos no interior do corpo humano, cortámos, observámos, aprendemos cada vez mais sobre o seu funcionamento. Mas nenhuma razão ou lógica explica o que é ou de onde vem essa centelha de Vida que anima o nosso corpo, nem sequer como ele foi criado com as milhares, milhões de estruturas que o compõe, como é possível que seja essa máquina complexa e absolutamente perfeita que funciona incessantemente sem que tenhamos de o ordenar. Tudo o que nos torna humanos,  está muito para além das palavras, da lógica ou razão. Pensemos no amor: podemos ler todos os poemas sobre amor, conhecer todos os grandes romances da história, imaginá-lo, antecipá-lo, conhecer as reações químicas que ocorrem no nosso corpo mas, quando ele nos toca, quando nos atravessa, não há palavras que possam descrevê-lo. Só podemos senti-lo, vivê-lo.
A busca de sentido faz parte da nossa natureza. Mas o nosso equívoco talvez seja pensar que esse sentido pode estar descrito num livro de algum sábio, explicado com equações matemáticas e postulados lógicos. Talvez a nossa busca não seja de um sentido, mas de um sentir. É o sentir que nos percorre por dentro, que penetra em cada célula nossa e nos dá aquela sensação inquestionável de "é isto!" Isto o quê? Não saberia dizer. Mas, por vezes, sinto-o e sigo, de coração aberto e sem qualquer receio, na busca desse sentir.
"Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz." (Alberto Caeiro)

domingo, 22 de janeiro de 2023

22-365

 


Quando era adolescente, sempre me questionei "De onde vim? Para onde vou? Por que estou aqui? Quem sou eu?" Divagava e filosofava com um ou outro amigo que partilhava os mesmos questionamentos. Percebia em músicas e filmes que não estava sozinha nessas dúvidas mas, ainda assim, muitas vezes, sentia-me "um peixe fora d'água". Nem melhor nem pior que ninguém, apenas diferente. Parecia-me que a maioria dos que me rodeavam, aceitava bem a condição de andar por aqui sem saber como nem porquê ou para quê. Eu nunca me acomodei. Talvez por isso eu tenha procurado (e me encontrado) na Arte.
Hoje sei que não estou nem nunca estive sozinha: há milhares de anos que o ser humano busca essas respostas. Podemos ler textos que remontam a séculos antes de Cristo (Lao Zi,  filósofos gregos, Bhagavad Gita, só para citar alguns) e estarão lá, os mesmos anseios, as mesmas angústias e, mais ainda, as mesmas respostas. Cada um com a sua construção, as suas palavras próprias mas, se olharmos a fundo, a essência é a mesma. Parece-me fascinante que tantas correntes de pensamento, tantas pessoas no mundo, de tantas áreas diferentes, de épocas totalmente distintas, façam perguntas idênticas e arrisquem respostas semelhantes. Já leram a origem do universo sob a perspectiva de várias religiões e mitologias? E o Big Bang, descrito aos olhos da Física Quântica? Ficariam surpresos como tudo se assemelha. Não pode ser por acaso. O que eu sei é que somos, por natureza, buscadores. Cá dentro, todos nos questionamos, todos temos angústias, todos queremos respostas. Todos temos medos, todos sofremos. Só não ouvimos falar disso, e podemos cair no erro de achar que estamos sozinhos. (Ainda para mais neste mundo em que vivemos, em em que as redes sociais são vitrines de vidas, aparentemente, perfeitas.) Então, hoje, queria apenas dizer aqui: não está sozinho. Não está. Nunca estamos. Leia, procure, pergunte, leia mais, rejeite, busque. Em algum lugar vai encontrar alguém a dizer aquilo que precisa ouvir, alguém que "fala a sua língua", que coloca as mesmas questões e que as respostas reverberam em si, de uma forma que o seu corpo lhe diz que sim, é por ali. Não procure entender intelectualmente: sinta. Um arrepio, um súbito relaxamento, uma entrega, ou um entusiasmo que o percorre como ondas. Continue à procura, não desanime com as dúvidas, com a ausência de respostas. Não tenha medo de não saber, medo de se sentir perdido,  porque "É a pergunta que nos impulsiona" ( The Matrix). 

Eu e King Richard

Que filme inspirador! A sinopse é simples: a infância das irmãs Serena e Venus Williams e como, desde tenra idade, o pai e a mãe as prepararam para ser as melhores tenistas do mundo.

A temática vai além disso: o filme mostra a importância de se lutar, com unhas e dentes, por aquilo em que se acredita. Manter a fé inabalável, não importa quantos "não" se ouça. Cultivar a certeza de que o "sim" virá. Ser fiel aos seus valores, independentemente do que esteja em jogo. Acreditar, acreditar, acreditar! O que esta família construiu, a forma como criaram as meninas para acreditarem em si mesmas e no futuro que planearam é absolutamente admirável. O filme, com uma interpretação magnífica de Will Smith, é emocionante e motivacional. Dá vontade de arregaçar as mangas e começar a planear os próximos passos da nossa vida, porque eles são "gente como a gente". E se eles conseguiram, por que não nós? 

sábado, 21 de janeiro de 2023

21-365


Imagine uma televisão sintonizada em um canal que passa notícias e informações 24 horas por dia, 365 dias por ano. Imagine que essa televisão só funciona bem, com som e imagem claras quando, pacientemente, ajusta a sua antena.
A televisão são as nossas sensações: 24h por dia a passar-nos informações de todo o tipo. A percepção é a antena: o que nos permite, por alguns momentos, descodificar as informações constantemente recebidas e prestar-lhes atenção.
As sensações são as informações, a percepção é o quanto estamos sintonizados para receber e descodificar as informações.
Quanto mais apuramos a nossa percepção, mais poderemos aperceber-nos das nossas sensações e tentar entendê-las, e esse é um dos caminhos para nos conhecermos melhor. Por que certas coisas me causam certas sensações? Que sensações são essas? Qual a sua origem? Por que reajo de certa forma a determinadas sensações? Por que não consigo reagir quando algumas sensações surgem? Por que nos colocamos, repetidamente, em situações diferentes, que geram sensações idênticas? Se não apuramos a nossa percepção, as nossas sensações vão acontecer sem que as questionemos, o que será como ter uma imensa amálgama de dados não processados. Imagine que a sua casa tem pilhas e pilhas de dados espalhadas por todo o lado. Já se habituou a vê-las ali, naqueles lugares específicos e nem repara que estão lá. Por isso, move-se pela sua casa em piloto automático, sempre pelos mesmos caminhos, e nem questiona que possa existir outra forma de se movimentar, outros caminhos possíveis. Na verdade, esse traçado que percorre repetidamente de forma automática, torna-se cada vez mais vincado. A dada altura, aceita-o como inevitável. A sua (falta de) percepção não lhe permite notar que está rodeado de dados que podem ser observados, catalogados, organizados e, dessa forma, criar espaços novos por onde se mover.
Estar ciente das sensações, investigá-las, prescrutá-las, é um passo desafiador mas necessário se quisermos evoluir para formas mais conscientes de existir: conhecer o caminho, como foi construído, e decidir se é por ali que quer continuar a seguir ou se vai, conscientemente, construir um novo que lhe sirva melhor.
Olhar para dentro é trabalhoso e nem sempre é um lugar confortável, mas... crescer nunca é.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

20-365

 



 
Um dos livros cuja leitura foi mais impactante para mim nos últimos anos foi "conversas com Deus" de Neale Donald Walsch. No primeiro volume, ele apresenta um conceito muito interessante: seja a fonte daquilo que gostaria de receber. Quer amor na sua vida? Dê amor. Quer respeito? Dê respeito. Quer perdão? Perdoe. Quer abundância? Doe. E entra mais a fundo: se eu quero, desejo abundância, é porque não tenho. Se não tenho, como posso dar? Eu quero, não tenho, continuo a sentir que não tenho, e continuo a querer, e a não ter. Mas... quando damos - e, sempre, sempre, temos algo para dar - sentimos que temos. Porque ninguém dá o que não tem. Eu passo todos os dias por um grupo de moradores de rua. Vejo como eles interagem, como partilham as coisas uns com os outros. Se um morador de rua tem algo para dar ao vizinho, que dirá de nós? Qual é a nossa desculpa? Além do mais, abundância não é só dinheiro. Quer sentir abundância? No seu duche, celebre a água abundante na sua casa. A qualquer momento, respire fundo e perceba a abundância de oxigénio à sua volta. No almoço, agradeça a abundância de comida que tem todos os dias. Doe atenção, tempo, conhecimento. Há outra questão muito importante (e com comprovação científica): quando doamos, isso libera em nós exatamente a mesma química da felicidade (como endorfina ou serotonina) do que a pessoa que recebe. Realmente dar é recompensador. Faz-nos felizes. Fisiologicamente. Por isso é tão fácil sentirmo-nos gratos quando doamos, tanto quanto quando recebemos. Dar abre, de facto, em nós o caminho de receber. Ao dar, abre-se espaço em nós. Talvez até por fazer-nos sentir que somos meritórios de receber, como uma argila, moldamo-nos para conseguir acolher o que vier.
Sim, em dias difíceis em que tudo corre mal e o dinheiro não chega para pagar as contas, é difícil pensar que temos abundância. Mas exercite. Vá criando espaços. Não espere que as coisas venham para gerar as emoções: crie as emoções para que as coisas venham. Se olharmos bem, há sempre alguma coisa abundante de bom na nossa vida. Nem que seja a fé e a coragem. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

19-365


Hoje fiquei a assistir ao treino do meu filho. Outra mãe estava lá com a filha mais nova - talvez uns 4 anos. A menina, irrequieta, saudavelmente ativa e alegre, pulava, dava cambalhotas, tentava imitar os exercicios que os meninos faziam, fazia uma elegante quase-ponte, explorava novas acrobacias, demonstrava uma enorme flexibilidade. Sentia-se claramente confortável em posições impossíveis para a maioria de nós. Divertia-se com elas, sem que qualquer medo aparentasse manifestar-se. Quando percebeu que a observava, abriu-me um sorriso e começou a partilhar comigo os seus feitos "Olha só o que eu sei fazer!" Toda feliz mostrava uma e outra acrobacia. Sorria e conversava comigo como se já me conhecesse há um bom tempo. Lembrei-me de quando era criança e eu mesma passava os dias a desafiar o meu corpo a realizar coisas cada vez mais complexas. Lembro-me da felicidade e da liberdade que sentia. Lembro-me de aceitar cada desafio de mente aberta, sem medos ou hesitações: cada dia que eu entrava no ginásio eu só queria aprender, aprender, aprender. Lembro-me como éramos esponjas, sempre prontas para novos vôos. O nosso corpo respondia com flexibilidade e maleabilidade.

Com o tempo, não só o corpo tende a enrijecer, mas a nossa mente também: temos dificuldade em aceitar desafios, em acreditar que podemos mudar, em confiar nos outros, vivemos confinados em limitações que nós mesmos criámos. Mas aquele sede de liberdade, de nos superarmos, continua viva em nós. Muitas vezes, só temos medo de a ouvir, ou expressamo-la de formas torpes - por exemplo, em vícios que parecem libertar--nos mas, na verdade, escravizam-nos. O nosso corpo não está condenado a ser como está. Com disciplina e trabalho, ele pode soltar-se cada vez mais e abrir novas amplitudes em nós. E a nossa mente, por mais rígida e inflexível que possa parecer, também é passível de ser modificada. Ninguém está condenado a ser preguiçoso, medroso, ansioso, arrogante, o que quer que seja, pelo resto da vida. Se pudesse mudar alguma coisa em si mesmo, o que seria? Pois comece hoje, com um passinho de cada vez. Comece hoje com a decisão e a certeza de não estar limitado seja ao que for. A essência de tudo na vida é mudança. Por que seria diferente connosco que somos parte integrante de tudo o que nos rodeia? A rigidez não é uma sentença.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

18-365

 


Tenha calma, mantenha a fé, e seja persistente nos seus esforços. Não há cedo nem tarde, estamos no momento certo, no lugar certo. Milhares, milhões de eventos encadeados trouxeram-nos até aqui! Não há acasos. Não há enganos. Não esmoreça e, se fraquejar, não desista! Quando lhe parecer que está estagnado no mesmo lugar, não desanime: lembre-se que a Terra gira ininterruptamente sem que nos seja perceptível, a semente germina na terra sem que vejamos. Há movimentos imperceptíveis a acontecer a cada momento. Siga os seus objetivos, mantenha-se ativo numa disciplina paciente: é impossível saber quando ou de que forma os efeitos das nossas ações vão acontecer. Não se apresse. Não se impaciente. Certifique-se de garantir a única coisa que está sob o seu controle: a sua ação e entrega a ela. E confie: não há cedo nem tarde, estamos no momento certo, no lugar certo. Aqui e Agora.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

17-365

 



Respiramos, inconscientemente, as 24 horas do dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Um processo fisiológico, essencial para manter o corpo, em que trocas gasosas ocorrem a uma velocidade inacreditável. Não nos apercebemos, na grande maioria das vezes, o quanto a nossa respiração se altera consoante o nosso estado de espírito. Em momentos de grande stress, preocupação, nervoso, como fica a nossa respiração? Ofegante, curta, acelerada. Em momentos de relaxamento, tranquilidade, amorosidade, como fica a nossa respiração? Mais profunda, coerente, estável. Se a nossa respiração se altera consoante as nossas emoções, parece lógico que o inverso também aconteça: podemos, através de uma respiração consciente, alterar o nosso estado de espírito. Isto porque, como algum sábio disse, "a respiração é a conexão entre o seu corpo e o seu espírito" - e, na Bíblia, lê-se "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente."
Repare como os jogadores de futebol respiram antes de marcar um penalti ou um livre direto, ou como os jogadores de basquete respiram antes de um lance livre. De alguma forma, intuitivamente, já sabemos que a respiração nos ajuda a entrar no nosso eixo. Com as técnicas adequadas, podemos fazê-lo conscientemente, a qualquer momento.
Técnicas de respiração são utilizadas na tradição do yoga há milhares de anos, para os mais variados fins. Qi Gong também é composto de exercícios de respiração consciente. Hoje em dia, há inúmeros especialistas em breathwork e estudos que comprovam a sua eficácia para lidar com problemas como tensão alta, insónia, ansiedade e até liberação de traumas. Se é uma pessoa céptica, pare para pensar que a respiração é e provoca reações químicas no nosso organismo: por exemplo, a forma como respiramos, define a quantidade de oxigénio que chega às nossas células o que, por sua vez, altera a forma como as nossas células produzem a sua energia. Nós somos uma imensa cadeia de reações químicas. Até as nossas emoções correspondem à liberação de diferentes químicos! Não é incrível pensar que uma coisa tão simples como a nossa respiração pode ser responsável por nos levar a produzir, conscientemente, reações químicas no nosso organismo? Os efeitos podem ser surpreendentes. Especiais. Então, respire. Faça as suas experiências químicas. Respire.

(Para aprofundar o assunto, citando apenas alguns, visite as páginas de Wim Hof, Juan Pablo Barahona - JuanPa - e Cadu Cassaú.)


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

16-365

 


O ódio move massas. O amor também. Mas o ódio movimenta em direção à separação, à exclusão, à imposição de uma coisa sobre outra. O amor movimenta para a união, a inclusão, a igualdade.
Quantas vezes, na história da Humanidade, vimos atrocidades serem cometidas por ódio?
Mas o Amor... o Amor eleva, porque já não se trata de nós mesmos, do "nosso grupo", mas do todo. O Amor dá-nos um senso do Todo, faz-nos querer abraçar o Mundo, cuidar, contribuir, acrescentar, doar! O Amor é olhar para dentro, perceber a Vida que corre em nós e, como um rio que desagua no mar, vê-la transbordar para a Vida à nossa volta. Não por acaso, quem viveu experiência de quase-morte ou experiência de estados de consciência alterada relata que o que sentiu foi, primordialmente, um Amor puro e incondicional, que todos somos parte de algo maior, feitos da mesma matéria. O Amor é a resposta: nós somos Amor.

"Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida."

Khalil Gibran, "O Profeta"

domingo, 15 de janeiro de 2023

15-365

 


Hoje de manhã aproveitamos que o sol finalmente resolveu brilhar forte para dar banho de mangueira ao Théo, o nosso cachorro. Banho tomado, como qualquer cachorro no mundo, o Théo fez o que o instinto lhe ordenou: sacudiu-se, vigorosamente. A água jorrava do seu corpo em todas as direções! Na segunda vez em que ele se sacudiu, o Mateus apontou para ele, entusiasmado "Olha, o arco-irís! Quando ele se chacoalha, dá para ver o arco-irís!" Esperámos, com os olhos postos no Théo, que se abanasse outra vez e, quando a água jorrou do corpo dele, lá estava, à sua volta, desenhado: um lindo (e efémero) arco-irís. Então, ficamos atentos a cada vez que ele se abanava. Cada chacoalho tornou-se um acontecimento festejado por nós: um mini-arco-irís privado com que a Natureza nos presenteou através do Théo. O que seria uma coisa absolutamente trivial no nosso dia, acabou com um momento único que o Mateus resumiu numa linda constatação, "Théo: o fazedor de arco-irís".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

13-365

 



Nos momentos mais especiais da sua vida, naqueles em que sentiu uma felicidade pura, genuína, naqueles em que nem percebeu o tempo a passar e o coração mal cabia no peito: que pensamentos estavam presentes? Em que estava a pensar? É possível que não saiba responder, porque desses momentos, lembramo-nos, essencialmente, da experiência em si e do que sentimos, não do que pensávamos - se é que algum pensamento estava presente. Os pensamentos surgiram, provavelmente, após a experiência. (Pensamentos de gratidão, de felicidade, êxtase, amor.) Quando nos sentimos mais vivos, é em momentos em que estamos tão entregues ao momento presente que os pensamentos dão uma trégua. E é nessa pausa, longe do barulho dos pensamentos, que a existência se manifesta, que sentimos a potência da Vida em nós. É nessa pausa que "eu existo" é percebido. Mais ainda: "eu sou parte da Existência".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

12-365

 


Se há coisa que todos nós temos em comum é que, em algum momento, todos nos sentimos insuficientes. Em algum momento, experiências que passamos, criaram em nós um senso de carência, de nos faltar alguma coisa. Não somos bonitos o suficiente, não somos magros o suficiente, não somos inteligentes o suficiente, não somos corajosos o suficiente, não somos o suficiente. E quando alguma coisa nos falta, o que fazemos? Vamos à procura dela, ou esperamos que ela nos seja dada por alguém: procuramos nos bens materiais, na anestesia das distrações, na aprovação ou afeto dos outros. Talvez se tivermos mais dinheiro possamos sentir-nos autoconfiantes. Talvez se alguém nos amar, possamos ter amor-próprio. Talvez se tivermos muitos amigos ou seguidores, possamos ter autoestima. A questão é que, nas próprias palavras já temos a resposta: autoestima, autoconfiança, amor-próprio, não têm origem no outro, mas em nós. Amor algum preencherá a lacuna de amor-próprio, porque amor-próprio é de si para si mesmo. Seria como tentar matar a sede com comida, ou a fome com água. Os nossos "buracos emocionais" não são preenchidos por nada exterior a nós. Ninguém pode fechá-los por nós. É em nós que residem todas as respostas (curas) e apenas nós somos responsáveis por encontrá-las. Tudo o que vem de fora apenas gera uma realização temporária, ilusória. "A única saída é para dentro" (Sadhguru). Porque é dentro que, finalmente, nos descobrimos inteiros, completos, (auto)suficientes. 
E, então, sim, podemos amar e ser amados de forma plena. Porque se eu não me amo, como posso compreender que alguém me ame? Se queremos ter amor na nossa vida, temos que começar por nós mesmos. Quando sentimos Amor em nós e por nós, tudo à nossa volta será Amor também, porque aconteça o que acontecer, nós somos Amor.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

11-365

 


Na minha infância e adolescência, eu apenas conhecia o Deus que a catequese e a sociedade, em geral, me mostravam. Eu não o entendia. Muito menos me identificava com Ele. Eu não aceitava como um Deus que me diziam ser só Amor poderia tratar os seus filhos de forma tão diferente: uns tão ricos, outros tão pobres, uns saudáveis, outros a sofrer com doenças. Por que Deus não faz nada? Por que não intervém? Como um Deus que é só Amor pode ameaçar-nos com Inferno? Como um Deus benevolente pode querer que a nossa vida seja vivida apenas de acordo com as Suas vontades e preceitos ou sofreremos punições? Quem não ouviu a frase "Deus castiga..." ?.. Por outro lado, sempre senti que nada poderia ser por acaso: a Natureza ser tão perfeita, com uma indiscutível inteligência própria, o nosso corpo, essa máquina complexa e igualmente perfeita, a Terra estar à exata distância do Sol que possibilita a existência de vida no planeta. Não pode ser por acaso! De alguma forma, sempre senti que alguma energia ou força maior regia tudo, que tudo, todos, estamos ligados, conectados por essa energia. Relutava em chamar essa força de Deus. Porque o Deus que eu conhecia era aquele, contraditório na minha forma de entender. Quanto mais li sobre outras crenças, outras tradições que não a predominante ocidental, sobre espiritualidade em geral, mais me abri a novas construções e, quanto mais abri a mente, mais percebi que não é com a mente que se entende Deus. O nosso intelecto é incapaz de compreender todos os porquês do Universo e da Vida. Sabemos que as leis da Física existem e nos regem, mas há mais para além dos nossos sentidos. Para mim, faz sentido que a Lei do Karma, por exemplo, também nos condicione, e de formas que, mais uma vez, extrapolam a nossa compreensão. Seria maravilhoso que todos nascêssemos ricos, saudáveis e tivéssemos vidas longas e constantemente felizes. Mas não é sob essas regras que parece que este mundo em que vivemos está construído. Há forças e movimentos que nos colocam a todos em situações distintas e, mais ainda, que fazem de nós seres absolutamente únicos. Somos como peças de um puzzle, cada um com o seu formato e desenho únicos, com o seu encaixe perfeito numa moldura bem maior. Pequenas partes de um Todo. Gosto de acreditar que viemos aqui para sermos humanos, com tudo o que isso abarca. Não viemos aqui para viver no Paraíso, mas para aprender a construir o nosso próprio Paraíso, com a dádiva do livre-arbítrio. Melhor ainda, viemos para perceber que o Paraíso sempre esteve, está e estará dentro de nós. Deus não se entende com a mente: Ele sente-se com o coração. Não, eu não ouvi Deus falar-me ao ouvido, não o vi, envolto em luz, em nenhuma aparição, mas eu sinto-o no meu coração cada vez que vejo um pôr-do-sol, as ondas do mar, os ipês coloridos. Quando entrei na Sagrada Família, quando ouço uma bela sinfonia ou o canto do sabiá, quando me sento ao piano. Quando o meu filho me abraça, quando olho para quem amo, quando o meu cachorro deita a cabeça no meu colo. Quando vejo a chuva cair, a beleza de uma flor ou de uma obra de arte. Quando, em momentos difíceis, me sinto amparada numa confiança de que tudo passa, tudo se encaixa, tudo flui pelo nosso melhor, quando ouço aquela vozinha interior que me diz que sim ou que não, quando uma força interior me impele a reerguer. Quando respiro fundo, quando sinto o meu coração bater, e a Vida a correr em mim. Sinto Deus quando me sinto conectada. Porque Deus é essa malha na qual todo o Universo se tece. Deus é o que nos dá vida e a sustenta, seja o nosso corpo, o de um animal, de uma planta ou de uma estrela. Deus é essa força que existe em tudo, que manifestou tudo. Porque o mesmo milagre que criou esse pôr-do-sol, criou-me. A mesma beleza única que existe nesse pôr-do-sol, existe no mais profundo e intocável da minha alma. Quando contemplamos, quando nos permitimos sentir e envolver, percebemos que, no nosso objeto de contemplação, há uma energia pulsante. Como uma onda, ela vem na nossa direção, muitas vezes de forma arrebatadora, e percebemos que a energia que se tornou perceptível para nós lá, também flui em nós, aqui. O contrário também acontece: sentimos a energia em nós e, ao contemplar algo, percebemos que a energia também existe lá. O que eu percebo fora, existe dentro, e vice-versa. Porque tudo são espelhos, tudo é feito da mesma matéria, tudo faz parte da mesma malha em que somos pontos de uma teia, constantemente interligados pela energia que flui incessantemente. A malha é a energia e é a malha que, nos seus fios, possibilita a interação entre todos os seus pontos. E essa energia é amorosa. Deus é, realmente, Amor. E Amor, já todos sabemos, "tem razões que a razão desconhece". Amor não se entende, não se explica, teoriza ou conceptualiza: apenas se sente. Apenas É. Deus É. E porque Ele É, todos viemos a Ser.

(Se lhe custar, como a mim há 10 anos atrás, utilizar a palavra Deus, experimente escolher outra que o sirva melhor: Cosmos, Natureza, Universo ou, simplesmente, Energia.)

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

10-365



Quantas coisas deixou de fazer por medo? Quanta vida lhe escapou por entre os dedos enquanto se agarrava ao medo? Quantas experiências vivenciou ao vencer os seus medos? Quanto cresceu quando a sua coragem foi maior que o seu medo? O que tem a ganhar deixando o medo vencer? O que tem a perder se ousar enfrentar os seus medos? Os medos não desaparecem sozinhos. A nossa inércia e resistência só os fortalecem: a cada dia que damos uma desculpa para não fazer o que sabemos que queremos (e temos de) fazer, a cada dia que nos mantemos na zona de conforto, é mais um dia que deixamos o medo enraizar-se mais profundamente em nós. Quanto mais se focar nas suas desculpas, nas razões para não fazer, nos obstáculos e dificuldades, mais eles se tornam visíveis, mais o peso deles o finca no mesmo lugar. Por que não focar-se no caminho, nos meios, nas possibilidades? A cada passo que dá, novos passos se desenham, porque é isso que a coragem faz: tira-nos do lugar, leva-nos mais adiante. Faz-nos viver.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

9-365

 


 


Esta semana fomos a uma exposição sobre ilusões de óptica. Chamou-me a atenção uma das montagens: à primeira vista e mantendo alguma distância, era um mero quadro que representava os Beatles, com uma leve sensação de 3D. Bonito, colorido, alegre. Mas era apenas um quadro.


 Ao aproximarmo-nos para tentar entender o porquê de estar ali, naquela exposição de ilusões de óptica, percebemos que não se tratava de um quadro. Era um espelho! O que era real era o que estava a 45° dele: um desenho com detalhes em alto relevo que retratava os Beatles. 

Lembrei-me imediatamente de Platão, Maya (definição presente no hinduísmo e nas escrituras clássicas de yoga) e Matrix. O que os três têm em comum? Platão falava da alegoria da caverna: vivemos em uma caverna na qual apenas vemos o reflexo da realidade na parede à qual estamos acorrentados. Tomamos como reais os reflexos, ecos e sons difusos que nos chegam, mas as coisas reais, com toda a sua luz e exuberância, estão fora da caverna. Maya define também o que poderíamos chamar de ilusão da realidade: o véu que cobre a realidade e nos mantém neste mundo dual (vida/morte, quente/frio, bom/mau) quando a realidade tem uma natureza Una e Eterna, a realidade é o Ser e dele derivam todas as coisas, inclusivé cada um de nós. Matrix, a triologia de enorme sucesso dos anos 90 que ganhou um novo capítulo recentemente, mostra-nos um mundo em que o nosso corpo está aprisionado e a nossa mente projetada num mundo criado pelas máquinas (uma espécie de jogo de realidade virtual). Inconscientes da sua verdadeira natureza, as pessoas vivem nesse mundo desconhecendo que estão a viver uma ilusão mas, quando escolhem tomar a pílula vermelha, acordam para a vida real, fora de Matrix.
Acho fascinante que sabedorias milenares da Antiguidade Clássica e da tradição do yoga e uma saga da cultura pop descrevam, por palavras diferentes, coisas tão idênticas do que é a Realidade.
Tal como a obra de arte que vimos: olhávamos a imagem no espelho, crentes de que era um quadro, quando o quadro real estava construído em baixo, cheio de pormenores, nuances, realces que nos escapavam ao olhá-lo através do espelho.
A beleza da arte é que ela nos convida a olhar para o espelho, mas também através dele, buscando a Realidade que ele reflete, de nós e em nós. 

domingo, 8 de janeiro de 2023

Eu e a poesia


N
ão sei quando comecei a apreciar poesia. Provavelmente na adolescência. (Fernando Pessoa sempre foi dos meus favoritos!)

Na poesia, encontro não só beleza no que é dito, mas também no que fica por dizer. A beleza da poesia está nas suas palavras mas também nos silêncios que ficam suspensos entre elas, está naquilo que é, subtilmente, sugerido e que nós, leitores, preenchemos com a nossa sensibilidade, imaginação, experiência. A poesia fala-nos ao coração mais do que ao intelecto. Não se interpreta uma poesia com raciocínio lógico. Ela toca a nossa sensibilidade, e dá-nos um sentimento de pertencimento: encontramos algo que é tal e qual o que queríamos dizer mas nem sabíamos ou não tínhamos encontrado uma forma de o fazer. Quantas vezes lemos um poema e pensamos "É isto mesmo que eu sinto! Poderia ter sido eu a escrever isto!" A poesia é um encontro: algo de nós se identifica com algo do poeta, algo que vivemos foi vivido também pelo poeta, algo que sonhamos é sonho de poeta, alguma dor nossa, foi dor no poeta. Por isso a poesia é tão bela: ela mostra-nos que não estamos sozinhos. E a poesia não está só nas palavras dos poemas: está no pôr-do-sol, nas ondas do mar, no voo da borboleta colorida, no sorriso, no olhar, na música, na dança, na pintura, no arco-irís, na gota de chuva na folha. (Aprendi a apreciar essa poesia tanto quanto aquela que encontro nos poemas.) E todas essas coisas, dão-nos aquele mesmo sentimento de pertencimento: de que somos parte de algo maior. O poeta tem o olhar sensível à poesia que o rodeia e a admirável capacidade de a traduzir em palavras.

Por isso a personagem de Jodie Foster no filme Contacto diz, extasiada, numa das cenas mais bonitas do filme, "Deviam ter mandado um poeta! Não sei como descrever a beleza do que vejo! Deviam ter mandado um poeta..." O que ela via era poesia.
Que possamos tornar o nosso olhar cada vez mais sensível à poesia, porque "a poesia genuína pode comunicar-se antes de ser entendida" (T.S.Eliot). Contemple-a. Escute-a. O seu coração agradece.

8-365


Patanjali define yoga como a "supressão das flutuações da mente". Então, podemos dizer que, não só os asanas e a meditação nos conduzem a esse estado. Desportistas, músicos, chefs, bailarinos, escritores, quando entram no que se chama estado de "flow", têm a mente totalmente focada no que estão a fazer. Não há flutuações, hesitações, distrações, dispersão, confusão mental. Há foco, há momento presente, há entrega, há energia a fluir no seu máximo potencial e, mais importante, há uma porta que se abre a uma outra dimensão de si mesmo. Isso é yoga.

sábado, 7 de janeiro de 2023

7-365

 




O amor assume muitas formas. Podemos vivenciá-lo em inúmeros contextos. Mas poucos de nós saberemos de uma forma tão plena o que é amor incondicional do que aqueles que o vivenciaram com um cão. (*) É um amor puro que não se alimenta de palavras, mas de olhares e carinho, de presença. É um amor que se faz presente, por inteiro. Quando estamos com o nosso cachorro, ele está realmente ali, a usufruir da nossa companhia, e não disperso noutra coisa qualquer e, mesmo se estiver a dormir, entrega-se totalmente ao sono porque está seguro, feliz, perto de nós. É entrega e dedicação completamente desinteressada. É dar mas receber em dobro, em triplo, em formas que não dá para mensurar ou descrever, e querer retribuir nessa mesma forma única. Eles dão-nos tudo o que são, e eles são Amor em forma de cão, que transborda em nós e nos torna mais humanos, melhores. Eles querem fazer-nos felizes, e fazem, só de olhar para eles, só de olharem para nós. É uma conexão inabalável, em que não há cobranças ou mágoas, apenas Amor e Amor, entrega, compreensão, gratidão. É um afeto que se mantém além do tempo que nos é dado com eles: eles são, para sempre, parte de nós.


(*) Desculpem-me os amantes de gatos, mas nunca tive nenhum, não posso opinar se é idêntico.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

6-365

 


Seria tão bom se a vida fosse feita, apenas, de coisas boas, momentos felizes!.. Mas a natureza da vida é dual: não há luz sem escuridão, quente sem frio, rápido sem lento, doce sem amargo. E reparem como, para experienciar uma das coisas, temos de experienciar o seu oposto. Neste mundo dual, conhecemos uma coisa conhecendo também o que ela não é. 

Quando amamos alguém ou alguma coisa, isso desencadeia em nós uma série de reações químicas que nos dão sensações de prazer. Mas o prazer sempre traz, na sua sombra, o seu oposto, a dor. Nunca conseguimos abraçar um dos pólos sem abraçar o outro. Porque quando um nos falha, o outro aparece. Não se negue a viver um por medo do outro. O amor vale sempre a pena. E como diz José Luís Peixoto: "o tempo transforma tudo em tempo". 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

4-365



 

Muitas vezes dissemos ou ouvimos dizer "eu sou assim!" Ou "eu conheço-me, já sei que..." Mas quantos de nós realmente paramos o tempo suficiente para nos conhecermos? Quantos de nós confundimos a nossa personalidade, os nossos traumas, as nossas crenças, os nossos hábitos com quem nós somos de facto? Quantos de nós olhamos para dentro e, quebrando a casca do que é mais superficial em nós, mergulhamos mais fundo para descobrir a nossa essência? Quantos de nós sequer percebemos a casca que nos envolve? Aperceba-se dela. Sinta-a. Conheça-a. E depois...questione-a. Essa é a forma de ela se quebrar.

(4-365)

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

3-365

 



Não há, na história da Humanidade, alguém que tenha falado tanto e tão bem de Amor como Jesus Cristo. (Leiam e releiam o sermão da montanha, por exemplo). E é de Jesus uma das frases mais bonitas de sempre: "Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem." Quem ama, perdoa. Quem se dispõe a perdoar, ama. E isso aplica-se também a amor-próprio e perdoar-se a si mesmo. Aproveite o começo do ano e perdoe-se por não ter sabido o que fazia: essa é uma bonita forma de demonstrar amor por si mesmo.

(3 de 365)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

2-365

 


As quedas são inevitáveis. Os obstáculos no caminho também. Dias com neblina. Tempestades. Não podemos desejar que a vida não os tenha, porque isso, infelizmente, não é possível, mas podemos, sim, desejar que nós tenhamos a sabedoria para nos orientarmos mesmo nas situações mais adversas, e a força para nos reerguermos cada vez que formos derrubados. Quanto melhor nos conhecermos, quanto mais nos construirmos nesse sentido, mais fácil é encontrar o caminho de volta (a nós mesmos).
Hoje é o dia 2 de 365.