terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Coisas que me fizeram parar



Vi esta frase na casa da R., uma das minhas melhores amigas, e não pude deixar de o mostrar aqui. Porque esta é talvez a maior lição que eu tenha de aprender aqui em São Paulo: dançar à chuva. Já tenho ensaiado alguns passos embora, por vezes, continue a fugir a sete pés para algum canto e, enrolada na bolinha mais perfeita que o meu corpo permita, una as mãos a pedir por tudo o que é mais sagrado que a tempestade passe. Mas uma coisa posso dizer: como é tão mais fácil abraçar este desafio com uma grande amiga por perto!.. Porque se há coisa que melhora a vida de uma pessoa é viver na mesma cidade que uma das melhores amigas. Mesmo que nos vejamos uma vez por mês, mesmo que falemos uma ou duas vezes por semana ao telefone. O simples facto de a saber por perto, à distância de um trajeto de táxi ou de ônibus é reconfortante e apaziguador. Eu sei que ela está lá, e ela sabe que eu estou aqui e, acreditem ou não, isso faz toda a diferença para a nossa alma. (Ou não fosse a R. minha irmã de alma!..)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Eu e a verdade

Esta semana eu e meu pequeno fomos de ônibus ao parque. No caminho, o ônibus parou num semáforo e a janela em que estávamos ficou bem em frente a uma calçada onde um morador de rua dormia enrolado em cobertores velhos, com um cartaz alusivo a Jesus à sua frente. Ele nem se apercebeu que paramos ali. O meu pequeno, por outro lado, apercebeu-se de que ele estava ali parado e, num ônibus quase vazio em que todos, querendo ou não, ouviam o que ele dizia, ergueu a voz, intrigado e indignado: "mamãe, está ali um senhor a dormir no chão!" Eu não dei muita conversa, esperando não ter de entrar em maiores explicações que, à partida, me pareceram difíceis para a compreensão de um pequeno ser de 3 anos e picos. Mas ele, como sempre faz, insistiu: "Mamãe, porque é que ele está a dormir no chão?" Eu tentei explicar, sem detalhes, que ele dormia ali por não ter outro lugar para dormir. Ele continuou, num tom de voz ainda mais forte: "Mas pessoas não dormem no chão! Pessoas dormem nas camas!" O meu olhar cruzou-se com o de uma jovem senhora que estava algumas filas mais atrás. Ela sorriu-me, como quem diz "e agora?..", e sorriu a olhar para ele, intuo que admirando a sua bonita ingenuidade. "Filho, algumas pessoas não têm cama, não têm casa e, por isso, muitas vezes têm de dormir no chão." Ele não entendeu, e continuou a questionar-me "Mas porque é que ele não dorme numa cama?" Eu, sem muitos argumentos, reiterei "algumas pessoas não têm casa, filho, infelizmente...Precisam de dormir na rua porque não têm casa." Ele, surpreendentemente, terminou o assunto, em paz e positivismo, dando-lhe o fim que melhor coube no seu entendimento e que mais lhe agradou à sensibilidade: "ah, já entendi!.. A casa dele é muuuuito longe, por isso que ele deitou ali no chão a descansar um pouco." Eu sorri e, rendida, concordei com ele "É isso, meu amor, a casa dele ainda está longe mas, um dia, ele vai chegar lá." Como disse Ferreira Gullar uma vez "verdade sobre a existência, sobre a vida? ninguém sabe o que é isso, então, se a gente não sabe nada do sentido de tudo, mais vale inventar pro bem!"