domingo, 31 de julho de 2022

Nós e a Sala São Paulo

 Entramos na sala com passos lentos e contemplativos. Conferimos fileiras e cadeiras e acomodamo-nos. Novamente contemplamos: o palco repleto de cadeiras e estantes, as imponentes colunas de um lado e de outro da sala, os elegantes camarotes, a estrutura de madeira no teto do palco. A sala, só por si, já é uma obra de arte que enche os olhos. Aos poucos, vai ficando preenchida. Pessoas de todas as idades. Últimos avisos, algum burburinho ressoa na sala e, ao som de aplausos, os músicos começam a entrar com os instrumentos na mão. Afinam os instrumentos e aguardam o maestro. Ele entra com passos decididos e confiantes, cumprimenta o público e a orquestra com um largo sorriso e, ao elevar a batuta no ar, instala o silêncio na sala. Soam, então, as primeiras notas de Villa-Lobos que nos levam até à Floresta Amazônica. Sons que nos remetem aos animais e pintam as cores da Amazônia. O ritmo e sonoridade inconfundíveis da música de Villa-Lobos entusiasmam, emocionam e acabam em apoteose.

O concerto para violoncelo e orquestra de Elgar é arrebatador! Arrepia logo na apresentação do tema, com a entrada intensa do violoncelo, que culmina na entrada do tutti da orquestra. Sentimos as vibrações dos instrumentos nos pés, a emoção causa arrepios na espinha, os olhos enchem-se de lágrimas. Com passagens mais líricas em alguns momentos, com ritmo contagiante em outras, retoma, no final, a mesma intensidade com o primeiro tema do concerto. Após os aplausos, o violoncelista presenteou-nos com um Bach maravilhoso. Após a última nota, pianíssimo, delicada, o silêncio ecoou, magica e profundamente por alguns instantes na sala.
Os "pinheiros de Roma"  de Ottorino Respighi foi a grata surpresa da tarde. Que experiência sonora! A massa sonora, os efeitos sonoros, a grande variedade de instrumentos utilizada, as harmonias, o lirismo. Em alguns momentos, quando os instrumentos soavam de camarotes ou outros lugares "escondidos" do palco, recuei no tempo várias décadas, quando integrei o coro de crianças no War Requiem de Britten em que durante todo o concerto cantávamos nos bastidores do palco, longe dos olhos do público. Os "pinheiros de Roma" encantou-nos com os vários ambientes sonoros e as paisagens desenhadas nos sons e, no final, verdadeiramente apoteótico e emocionante, o público explodiu em aplausos, bravos e gritos efusivos. Quanto a mim, é sem o menor pudor que admito que não contive as lágrimas. De alma cheia e mente vazia. Pura emoção.

Obrigada Sala São Paulo, Orquestra do Festival Campos do Jordão 2022, maestro Marcelo Lehninger e violoncelista Leonardo Elschenbroich. Proporcionaram-nos uma tarde muito especial que eu jamais esquecerei.


Podem assistir ao concerto aqui:

https://youtu.be/B6sSlECDi-o