quinta-feira, 30 de março de 2023

89-365

 


Hoje faz 4 anos que o Mateus adoptou o Théo. 4 anos que este peludinho entrou para a nossa família. Posso afirmar, sem qualquer dúvida, que foi uma das nossas melhores decisões. Este filho-de-quatro-patas, encheu-nos a vida de alegria, brincadeira e, acima de tudo, muito amor e muito mimo. Não há como um cachorro para nos ensinar sobre entrega e amor incondicional. Ele é meu companheiro no yoga e meditação, no estudo de piano, enquanto cozinho, enquanto limpo a casa. Recebe-me com pulos de alegria e beijinhos quando chego a casa. Dorme com a cabeça apoiada na minha barriga. Não há como não se apaixonar! Tem lá o seu mau feitio: não gosta de ser abraçado, apertado, nem muito menos que lhe peguem ao colo. Ladra sempre que ouve a campainha da porta, e ladra para o seu próprio reflexo na televisão desligada. Morre de medo de passear na rua. Adora comer. Acho que é a sua coisa favorita. Isso e a bola azul. Muitas vezes, parece sorrir. Sim, ele sorri mesmo. E a nós, nestes quatro anos, encheu-nos de sorrisos também. Que venham os próximos quatro! 

quarta-feira, 29 de março de 2023

87-365

Há dias atrás, estava à espera para subir no elevador para dar uma aula. Um funcionário da portaria/manutenção aproximou-se com uma embalagem de aplicativo de entrega de comida na mão e ficou também a aguardar. Quando o elevador chegou onde estávamos, eu entrei, e ele não se moveu. Perguntei "Não vai subir?" Constrangido, gaguejou "Hmm...sim...vou." Percebendo que me confundiu com moradora/visitante, acrescentei "Pode subir, ppr favor, não tem problema." Ele agradeceu e entrou.

Esta é uma realidade à qual não me habituei aqui em São Paulo. A separação abissal entre elevador social e elevador de serviço. A separação entre quem pode estar com quem no elevador. Não raras vezes fui indicada pelos funcionários do prédio a subir pelo elevador de serviço e, chegando ao apartamento, percebo o constrangimento do morador "Ah, pode vir pelo social, por favor." Esta segregação premente, persistente, enraizada, é uma coisa que entristece na sociedade brasileira. Uma sociedade tão rica, tão bela pela sua diversidade. E há um abismo entre o mundo em que uns (se movem e) vivem e os outros. 

88-365

 


Somando teclas brancas e portas, obtemos 88 teclas no piano. Como hoje é o 88° dia do ano, comemora-se o Dia Mundial do Piano.
O piano faz parte da minha vida diariamente há vários anos. Quando não estou a estudar, estou a ensinar. (E sou uma eterna ouvinte.)
Não escolhi o piano por nenhuma inclinação especial, ou qualquer convicção. Escolhi-o porque era o instrumento que já tinha em casa e onde, de vez em quando, brincava. Pareceu-me o mais lógico. Mas sinto que, a dado momento da minha vida, fui escolhida por ele. Numa altura da minha vida em que sentia necessidade de me expressar, de extravasar emoções, o piano acenou-me, a música apresentou-se-me como uma linguagem única na qual me sentia segura para me exprimir. Mais do que isso, encontrei na música uma forma de aceder a partes de mim mesma, a aspectos da realidade aos quais não chegava de outra forma. Na música, senti-me transbordar. Fico feliz que a minha mãe me tenha obrigado a continuar contra a minha vontade, e que a minha professora tenha tido a sensibilidade para me cativar. A presença do piano hoje, e todos os dias, na minha vida, tem valido a pena.
Feliz Dia do Piano.

terça-feira, 28 de março de 2023

86-365

 


O que está a acontecer no mundo? Discussões no trânsito que acabam em tiros. Discussões por pedidos de pizza errados que acabam em agressão. Discussões sobre política que acabam em facada ou tiro. Aluno que mata professores e fere alunos e professores à facada. Discussões em posto de gasolina que acabam com a pessoa a ser incendiada. É inacreditável o que vemos acontecer no mundo. Dois anos após a pandemia, parece que as pessoas não conseguiram voltar ao equilíbrio - se é que algumas o tiveram, um dia. Pelo contrário, parecem ter perdido o domínio da razão. Qualquer coisa é motivo de discussão e, pior, de agressão ou mesmo assassinato! Parece que perdemos alguma coisa daquilo que nos torna humanos. As reações acontecem de forma impensada, exacerbada, desproporcional, quase animalesca, podemos afirmar. Quantas pessoas têm sofrido agressões ou perderam a vida por razões totalmente banais, por coisas que seriam tão facilmente resolvidas de forma civilizada? Onde foi parar a nossa capacidade de diálogo? Onde foi parar a empatia, a capacidade de gerir os conflitos? Onde foi parar a capacidade que temos para lidar com a adversidade sem partir para a ignorância? O pedido veio errado, o produto tem defeito, a pessoa não foi educada, a condução do outro foi imprudente? Temos que saber lidar com os problemas. Algumas coisas são tão insignificantes que, na verdade, nem merecem o investimento da nossa energia - e o risco de ter pela frente uma dessas pessoas que desaprendeu a conviver com os outros ou a lidar com a crítica. Mais vale seguir com a vida sem lhes prestar atenção. Nas mais relevantes, podemos exigir os nossos direitos, mas de forma educada, cordial. Vivemos tempos tão doidos que o que nos espanta são atitudes gentis, o que nos surpreende é a cordialidade, a compreensão. Gostaria de dizer que melhores tempo virão, mas não sei se posso afirmá-lo. O que podemos fazer é apenas a nossa parte. E esperar que cada vez mais pessoas tenham vontade de fazer a sua. (Se ao menos as pessoas percebessem que tudo é bem mais fácil quando há gentileza, empatia e entre-ajuda.)

85-365

 


O assunto que mais me tem fascinado ultimamente é a respiração. As primeiras pessoas que ouvi falar sobre esse tema foram Juan Pablo Barahona e Wim Hof. Mais recentemente, tenho acompanhado também o trabalho de Cadu Cassaú, Julian Vondueffel (facilitador do método Wim Hof), Juliano Dal Corso e Michaël Bijker.
Respirar é a primeira coisa que fazemos quando nascemos, e a última coisa que fazemos antes de morrer. Entre um momento e outro, respiramos (espera-se!) incessantemente, algumas vezes por minuto. E em quantas dessas incontáveis vezes o fazemos de forma consciente? O quanto sabemos sobre a importância dessa função vital? De como ela funciona? O quanto a percebemos no corpo? O quanto sabemos direcioná-la para obtermos melhor desempenho, mais calma, mais espaço interior? Ou mesmo para gerar frio e calor no corpo? A respiração é muito mais do que uma troca gasosa do nosso organismo com o ambiente. É um portal para nós mesmos. Pare alguns momentos do dia e perceba como está a sua respiração. Observe-a. Esse mero gesto pode contribuir para que ganhe mais consciência sobre si mesmo, e dessa consciência, pode resultar um maior poder sobre o seu estado interior. A respiração é o nosso super-poder: que outra coisa pode conduzir-nos, em poucos minutos, de um estado ansioso para um estado tranquilo de forma tão eficaz?

sábado, 25 de março de 2023

84-365

 


Valorizo muito o tempo de qualidade que tenho a oportunidade de passar com o meu filho. Os anos passam a correr, e o tempo que temos com ele criança, para brincar juntos, diminui a cada dia que passa. Outros tempos virão, de outras convivências e experiências mas esta, de espalhar legos pelo chão do quarto, vê-lo a jogar os jogos no computador e deixá-lo ensinar-me acerca deles, jogar à bola, ou brincar com água no quintal, não vai durar para sempre. Por isso, aproveito esses momentos como eles são: únicos e preciosos. Quando a oportunidade surge, esteja cansada ou ocupada, crio o espaço necessário para isso. Sem o menor peso na consciência pelo que deixo de fazer, ou mesmo pelo tempo de estudo que isso lhe rouba. Não creio que algum dia vá guardar na memória as horas que passou a estudar para as provas do 8° ano, mas acredito que, um dia, os momentos em que nos divertimos juntos, serão recordados com carinho (assim como eu os guardo). 

sexta-feira, 24 de março de 2023

83-365

 


Uma das coisas mais importantes que aprendi na última década é que quem sustenta a nossa felicidade somos nós. Não são as coisas, nem as pessoas na nossa vida. Da mesma forma, também não somos responsáveis pela felicidade de ninguém. Podemos e devemos ser amorosos com os outros, entregar o melhor de nós sempre, mas sabendo que isso não vai, necessariamente, resultar na felicidade do outro. Porque a felicidade do outro, está dentro dele, é domínio dele. Não depende de nós. Por isso, não devemos sentir-nos culpados pela infelicidade do outro. Da mesma forma, também não podemos culpar o outro pela nossa infelicidade. É nosso domínio. A felicidade é, acima de tudo, um trabalho interno. Por mais que, por vezes, seja difícil lidar com as circunstâncias, com os outros, com as dificuldades e desafios, só nós podemos fazê-lo. É em nós que sentimos as dores e angústias e é em nós que podemos encontrar as respostas para lidar com elas da melhor forma. "A única saída é para dentro." (Sadhguru) Se a nossa felicidade depende de fatores externos, somos vítimas, ao sabor da sorte, das vontades e atitudes alheias. Se a felicidade depende de nós, somos livres para a construir. A única felicidade que se sustenta é a auto-sustentada.

quinta-feira, 23 de março de 2023

82-365

 




Hoje faz 13 anos que o meu filho nasceu. Só quem tem filhos pode ter a real noção de como a nossa percepção da passagem do tempo se altera com a chegada de um filho. Os anos passam a correr, as mudanças acontecem rapidamente, quase sem nos dar tempo para nos adaptarmos a elas. Num momento está ao nosso colo, e no momento seguinte é um adolescente, cada vez mais independente. Eu tenho celebrado cada um desses momentos, desde os primeiros pontapés dentro da minha barriga. Ser mãe do Mateus tem sido um absoluto privilégio! Vê-lo crescer, ver o mundo através dos seus lindos olhos (que passeiam entre o verde e o azul), transformou o meu mundo. E hoje, no seu aniversário, eu desejo que tenha saúde, mas também que aprenda a cultivar saúde no seu corpo e mente. Desejo que seja amado mas, antes de tudo, que aprenda a amar-se a si mesmo e derramar amor no outro. Desejo que conheça pessoas incríveis e construa lindas amizades mas, antes disso, que se conheça a si mesmo e aprenda a ser melhor amigo de si mesmo. Desejo que viva experiências incríveis, mas também que aprenda a estar em silêncio. Desejo que tenha muitas alegrias, mas também que aprenda a ser sereno nas tristezas ou desilusões. Desejo que tenha muitas vitórias e realizações mas também que aprenda com as derrotas e não desista quando elas surgirem. Desejo que sonhe muito, sonhe alto mas que tenha a coragem de agir. Desejo que acredite no possível e também no impossível, e que nunca deixe que alguém o convença que algo não pode ser feito. Desejo que acreditem e apostem no seu potencial mas, acima de tudo, que nunca, em momento algum, deixe de acreditar em si mesmo. Desejo que saiba valorizar e exponenciar as suas qualidades mas também que saiba aceitar os seus defeitos e, com humildade, trabalhar neles. Desejo que tenha muita prosperidade mas, acima de tudo, que tenha paz de espírito. Desejo que encontre um lugar seu no mundo mas, acima disso, que aprenda a abrir e trilhar o seu próprio caminho. Desejo que a vida lhe sorria mas, acima disso, que aprenda a sorrir para a vida. Desejo que aprenda a agradecer e a acreditar que o Universo conspira a seu favor, principalmente quando os desafios surgirem. Desejo que saiba que sempre, sempre estaremos com ele, por ele, para ele, mesmo quando as suas asas o levarem para vôos distantes. 
Acima de tudo, desejo que construa a sua melhor versão, a cada dia, a cada momento.
Tenho muito orgulho em ser tua mãe.
Feliz aniversário, Mateus.

quarta-feira, 22 de março de 2023

81-365

 

Parque do Ibirapuera, São Paulo 



Dia mundial da água.
Eu adoro o mar, adoro água. E essa é, sem dúvida, uma das coisas de que mais sinto falta aqui em São Paulo. Não por acaso, um dos meus lugares preferidos aqui é o parque do Ibirapuera, com os seus belos lagos. Contemplar o mar, um rio, um lago,  uma cachoeira, é uma coisa que sempre me inspirou paz e harmonia.
Também gosto das lições que a água nos transmite: persistência ("água mole em pedra dura, tanto bate até que fura"), capacidade de adaptação (contorna qualquer obstáculo que se lhe oponha),  importância do movimento (água parada, apodrece) e da mudança ( "Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio...pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!" - Heráclito)
A água é um dos nossos principais recursos. Sem água, não há vida. É importante que, cada vez mais, tenhamos consciência da importância de se gerir a água da forma mais eficiente possível, para que as gerações futuras não sofram com a falta deste recurso.

terça-feira, 21 de março de 2023

80-365

 



Dia mundial da poesia. Eu acho que uma das coisas mais bonitas da vida é a poesia. Não só a dos poemas, rimas, dos grandes poetas, mas aquela que vislumbramos na Natureza, na arte, no sorriso de quem se ama. Eu acho que todos nós deveríamos aprender isso: a perceber que a vida, tudo o que nos rodeia, é um vasto e cativante poema. A gota de orvalho, a onda do mar que beija a areia, a nuvem que se desenha no céu, o canto do pássaro, as folhas que dançam com o vento, a gargalhada de uma criança, o beijo de quem se ama, o abrigo de um abraço, a fruta doce, a concha na areia, os pés na relva, as cores do pôr-do-sol, a luz da manhã, o quadro, a música, a fotografia, o filme, a lua cheia, o céu estrelado, o perfume da flor, mergulhar no olhar de quem se ama, o arco-íris, a borboleta, o beija-flor, a gaivota, o banho de mar e tantas, tantas, tantas outras coisas.
Que poemas apreciou hoje?

segunda-feira, 20 de março de 2023

79-365

 


(Diz que hoje é Dia da Felicidade...)
A felicidade é feita de pequenas coisas.

Noite de sono tranquila. Panqueca de banana com canela e aveia. Café quente. Prática de yoga e meditação. Aulas correram bem. Céu azul. Ouvir os pássaros cantar. Começou o outono. Choveu a cântaros quando já mal aguentava o calor. Mais aulas tranquilas. Cheguei a horas a todas as aulas. Encontrei, no mercado, a bolacha que o Mateus gosta. Com uma bela corrida apanhei logo o autocarro para casa. Não choveu na volta para casa. O calor deu uma trégua. Uma bela pizza no jantar. Relaxar depois de jantar. Acariciar o pelo macio das orelhas do Theo. Deitar a cabeça na almofada em paz de espírito.


Não procure "A" felicidade, mas sim coleccionar pequenas coisas que, momento a momento, o façam feliz. "Felicidade se acha é em horinhas de descuido." (Guimarães Rosa)

domingo, 19 de março de 2023

78-365

 



Fui, a convite de uma aluna querida, ver o espetáculo do Ludovico Einaudi. As músicas dele levam-nos para outra esfera. Celestial. Em alguns momentos, só ele e o piano no palco, uma luz a incidir sobre eles e fumaça que dançava, ao som da música, na direção da luz. Um espetáculo envolvente, emocionante. Quando o violinista, violoncelista e percussionista se juntam a Einaudi, a música cresce em ondas, com pontos culminantes absolutamente arrebatadores. O público explode em aplausos e gritos efusivos.
Um espetáculo muito bem construído, que intercala momentos mais intimistas com o piano solo, com outros mais intensos com o conjunto de câmara. Não há grandes efeitos de luzes, pirotecnia, apenas a fumaça que dança na luz, mas os efeitos da música valem por si só. Milhares de pessoas envolvidas naquela mesma atmosfera, abraçadas pelos sons, acolhidas no silêncio. Uma experiência inesquecível.

sábado, 18 de março de 2023

77-365

 


Em 2019 vi, pela primeira vez, uma entrevista de Sadhguru. Comecei a acompanhar o trabalho dele e li, da sua autoria, "Engenharia Interior".
Há um conceito fulcral defendido por Sadhguru que eu acho profundamente transformador: responsabilidade. Não temos escolha em relação às coisas que nos acontecem na vida, mas temos escolha na forma como respondemos. A nossa capacidade de responder é a nossa responsabilidade. Isto é um conceito revolucionário porque nos devolve poder: não somos meras vítimas das circunstâncias. Quando dizemos "Ah, mas o meu trabalho/marido/filho/pai, etc", "mas a economia/política/trânsito etc", ficamos numa situação vulnerável: os outros ou as situações têm poder sobre o nosso estado de espírito. O que é exterior a nós dita a forma como nos sentimos internamente. E mais ainda: reagimos de forma automática (inconsciente) a esses estímulos exteriores sob a justificação de que "a culpa é dos outros". Gritamos, enervamo-nos, reagimos de forma exagerada mas apenas porque " Fulano faz-me perder as estribeiras!", "sicrano deixa-me com os nervos à flor da pele", "beltrano sabe como me irritar!", "este trânsito dá cabo de mim", " o trabalho é stressante." A culpa é dos outros. E enquanto acharmos que somos assim e reagimos assim porque os outros nos colocam nesse lugar, somos reféns dele(s). Todos concordamos que há pessoas e situações muito desafiadoras. Não se trata de minimizar esse facto, mas de assumir a nossa responsabilidade - capacidade de responder - perante ele. "Como os outros são, é escolha deles. Como eu sou é escolha minha. Não importa o que os outros façam, ninguém pode deixar-me zangado, feliz ou infeliz. Mantenho esses privilégios para mim mesmo." (Sadhguru) Buda também dizia algo como "se lhe atirarem uma tocha em fogo [palavras, ações], seja como a água que a apaga." Quando assumimos que a resposta que damos às situações está na nossa mão, recuperamos o nosso poder criativo. Não somos vítimas da vida, mas (co-)autores dela. 

76-365

 


Somos a única espécie que tem a capacidade de se auto-regular. Podemos, por exemplo, manipular a nossa respiração para modificar o nosso estado mental - respirações profundas e ritmadas ajudam, por exemplo, a lidar com situações de stress e ansiedade. Também podemos escolher que pensamentos permitimos que corram na nossa mente: substituir pensamentos negativos e autodestrutivos por outros positivos e que nos elevam, é outra excelente ferramenta para auto-regular o nosso estado mental e emocional.
Claro que estas ferramentas são fáceis de entender mas exigem treino para ser colocadas em prática. Mas o que não exige treino? Qualquer nova habilidade o exige: aprender a nadar (ou outro desporto novo), aprender a cozinhar, uma língua nova, um instrumento musical. Tudo exige prática. E, assim como na aprendizagem de um desporto ou outra habilidade, há dias em que o progresso é visível enquanto noutros, a estagnação - ou, até a regressão! - acontece. Dizer "ah, meditar não é para mim, porque sou demasiado agitado" depois de ter tentado apenas uns dias ou semanas é o mesmo que dizer "ah, nadar não é para mim" depois de meia dúzia de aulas. As coisas levam tempo, e exigem a nossa dedicação. Persistência. Paciência. E há dias em que, realmente, tudo é mais difícil, por causa das circunstâncias e revezes do dia-a-dia. Há dias em que nem apetece. Dá preguiça, desânimo. (É mais fácil deixar-se seguir na espiral do negativismo do que procurar auto-regular-se, por exemplo). E é precisamente nesses dias que mais vamos beneficiar das práticas. Assim como vencer a preguiça e o desânimo e entrar na água para nadar ou calçar os ténis para correr nos vão dar um ganho de autoconfiança, por exemplo. A cada dia que conseguimos contornar um estado de espírito e, conscientemente, gerar outro, também ganhamos confiança na nossa capacidade de o conseguir fazer. Sempre que ultrapassamos uma limitação nossa, é uma vitória. 

quinta-feira, 16 de março de 2023

75-365

 


Tenho para mim que Fernando Pessoa foi o homem que melhor definiu, sem pretensão ou intenção disso, uma parte do que nós, mulheres, sentimos durante a TPM. É um cansaço profundo que se apodera de nós, vindo não se sabe de onde nem como nem porquê. Sabem aquele clássico "Bate leve levemente, como quem chama por mim"? Começa assim e, quando damos por ela, estamos afundadas num turbilhão emocional que, por vezes, torna difícil gerir a rotina. Os nervos ficam à flor da pele, a sensibilidade exacerbada, ora dá vontade de matar alguém, ora dá vontade de morrer. Tudo parece muito e, ao mesmo tempo, tudo parece pouco. E o cansaço, aquele cansaço...Um cansaço físico, pernas pesadas, corpo inchado, letárgico e um cansaço mental, porque a nossa voz interior fica arrasadora! Verdadeiramente implacável. Nem todas as mulheres passam por isso e, felizmente, as que passam não o sentem com essa intensidade todos os meses. Há meses em que tudo isso passa longe de mim. Em outros, tenho que lutar para não me deixar enredar! É preciso recorrer a todas as ferramentas (meditação, yoga, exercício físico, doce, mimos, desabafo, exercícios de respiração, uma boa leitura ou filme/série). O bom de tudo isto? Uma excelente oportunidade para colocar as ferramentas em prática e levar mais adiante a capacidade de gerir esta máquina incrível que temos: a nossa mente. E (graças a Deus!), assim como veio, o turbilhão deixa-nos! 

74-365

Nos teus 60 e tal - eu sei quantos são, mas não vamos revelar aqui - anos de vida, passámos por dias de aniversário teus em que eu poderia estar mais presente e não estive. Hoje, gostaria de estar presente e não é possível. Já dizia Vinicius de Moraes "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro." Mas a ironia é que, a milhares de quilómetros de distância, temos uma relação mais próxima hoje do que quando vivíamos a 10 minutos um do outro. Então, da forma que é possível, abraço-te, hoje, com estas palavras. Que o teu dia tenha café quente (sem açúcar, claro!) e muitos mimos - incluindo os felinos. Que o trabalho demore só o tempo que tiver de demorar e nem pareça trabalho. Que o sol brilhe neste dia, mas sem calor, porque sei que não gostas. Que o almoço seja farto e delicioso - e o jantar também. Que o céu esteja azul, naquelas cores e luzes que só Lisboa tem. Que sejas surpreendido por "parabéns" e "feliz aniversário" carinhosos, sinceros e alegres. Que a melancolia não te visite. Que te sintas em paz com os anos que ficaram para trás e entusiasmado com os que estão pela frente. Que os sonhos se renovem. Que a saúde seja plena. Que a prosperidade te acompanhe. Que o riso seja uma constante. Que visites novos lugares e vivas novas experiências. Que a vida te sorria, e que saibas sempre sorrir-lhe de volta, e dançar com a música que ela te tocar. Que a tua força e coragem sejam sempre maiores que os teus desafios. Que o amor seja o teu combustível, e a fé o teu abrigo. Que tenhas serenidade e felicidade.

Que as distâncias se encurtem, os encontros se proporcionem e os abraços se multipliquem.

Feliz aniversário, pai.

terça-feira, 14 de março de 2023

73-365

 


Quando tocamos piano, há uma dualidade que nem sempre é fácil de gerir: um envolvimento e entrega absoluta a cada nota que se toca e, simultaneamente, uma certa distância e abstração do resultado daquilo que se está a fazer. Ou seja, o nosso estado de presença é imperativo, e é por isso que, num aparente paradoxo, precisamos da tal abstração: não podemos nem celebrar a nota que foi extremamente bem tocada e nem lamentar a nota que errámos. Em qualquer um dos casos, perdemos a concentração (presença), e arriscamos errar em seguida. Além disso, a nota que acabámos de tocar já não é passível de ser modificada. O nosso foco tem de ser sempre a nota seguinte, que é a única em que podemos agir.
No Bhagavad-gita, uma das escrituras sagradas do yoga - e um livro que, além de repleto de sabedoria, e um dos mais bonitos que já li - lê-se "Mas quem permanece sereno e imperturbável no meio do prazer e do sofrimento, somente esse é que atinge a imortalidade." O grande objetivo do yoga é, de facto, serenar as flutuações da mente - o que é alcançado pelo autoconhecimento (olhando para o mundo interior, aprendemos como funcionar melhor no mundo exterior). Isso significa que um dos grandes objetivos do yoga é o que se chama equanimidade da mente: uma mente equilibrada seja em que circunstância for (positiva ou negativa). Este é, precisamente, o distanciamento que temos de ter ao executar uma peça no piano: mantermo-nos estáveis independentemente de acertar ou errar, de alcançar a nossa melhor performance ou não. O nosso envolvimento e entrega não se afetam no momento da execução: a cada nota tocada, a nossa presença está ali, com ela, não no resultado que obtivemos dela. E é nesta dialética entre entrega e desapego que a música (e a vida) acontece(m). 

segunda-feira, 13 de março de 2023

72-365

 


Hoje estava a estudar uma música no piano que já não tocava há um tempo. Esbarrei numa passagem rápida em que, nas primeiras tentativas, senti uma hesitação na dedilhação (que dedo toca em qual tecla). Toquei uma, duas vezes, naquela mesma velocidade rápida. Embora a passagem fluísse, literalmente, tocada em piloto automático, eu sentia uma insegurança. Então, resolvi tocá-la bem lenta. Todas as dúvidas e inseguranças vieram à tona. Na velocidade lenta, já não sabia o que vinha depois do quê! Olhei calmamente para a partitura, tirei todas as dúvidas em andamento lento, tentando perceber qual a origem de cada uma e, depois, na velocidade rápida, ganhei confiança novamente.
Isso fez-me refletir: quantas vezes na vida também seria essencial sair do "piloto automático", parar, desacelerar e, dessa forma, tentar entender como e porquê fazemos esse caminho automático? Quando desaceleramos, cada gesto se torna evidente, cada dúvida oculta se faz manifesta, cada intenção se revela. Então, desacelere. Permita-se um tempo para se observar, em andamento lento, para ganhar confiança na rapidez frenética e automática dia-a-dia.

domingo, 12 de março de 2023

71-365

 


Este mês é o aniversário do meu filho. 13 anos. Inevitável pensarmos "como o tempo passa rápido!" Poucas coisas na vida nos fazem sentir tão claramente o quanto a vida passa rápido! Sim, porque é a vida que passa rápido, não o tempo. O tempo, em última análise, nem existe. É uma criação nossa, humana, para organizar a vida, mensurar as coisas. Desde os nossos ancestrais, sentimos essa necessidade. Eles faziam-no através do sol, das constelações, das estações do ano. Nós, através de segundos, minutos, horas, dias, meses, anos. E mesmo o tempo que mensuramos de forma cada vez mais precisa, é sentido de forma muito diferente. Vejamos estes 13 anos do Mateus: para nós, pais, voaram. Para ele  provavelmente, demoraram a passar. Eu lembro-me que, em criança, os anos arrastavam-se! Das férias do verão até às seguintes parecia uma eternidade! Agora, cada ano parece um piscar de olhos. Enquanto escrevo a palavra "tempo" este momento transformou-se em passado. Deixou de existir. As palavras que escreverei daqui a alguns segundos, não existem ainda. Quanto muito, existem aqui, agora, apenas na minha cabeça. Então, o único momento em que tudo existe é este: agora. Quando pensamos sobre o passado ou o futuro, é agora. Tudo acontece agora. Tudo é agora. Este instante em que escrevo é agora. Daqui a uns minutos, horas ou dias vocês vão ler estas palavras e, para vocês, é agora. O tempo em que vivemos é sempre o Presente. E é a cada momento Presente que a vida passa tão rápido. E é cada momento efémero que tem, em si, o potencial de se eternizar em nós. Agora.

* Recomendo, sobre este assunto, o documentário "quanto tempo o tempo tem" que está no catálogo do Netflix.

sábado, 11 de março de 2023

70-365

 


A minha avó materna adorava contar histórias. Passei horas deitada na cama dela a ouvir as mesmas histórias, contadas e ouvidas com o mesmo entusiasmo. Sempre que passava uma tarde ou um dia com ela, uma parte do tempo era passada com ela a contar-me alguma coisa que tinha visto na televisão e tinha adorado: um filme, um episódio da telenovela, série, reportagem. "Ontem vi um filme tão bom!", dizia ela toda feliz. E, com riqueza de detalhes e um fascínio evidente, contava a história. A minha avó ficava genuinamente feliz por partilhar com alguém alguma coisa que ela tinha achado interessante, divertida ou inspiradora. Eu acho que herdei isso dela. Aqui em casa, cada vez que eu começo, "Esse filme é maravilhoso! É sobre...", eles queixam-se "Vai contar o filme inteiro..." Eu adoro partilhar dicas de filmes, documentários, livros, músicas, palestras porque gosto de acreditar que podem suscitar nos outros o mesmo impacto que tiveram em mim. Eu, como a minha avó, fico feliz ao partilhar alguma coisa que aprendi. Fico feliz se alguma coisa que partilhei ajudou alguém de alguma forma. A minha avó também sempre me contou muitas histórias sobre a vida dela. Algumas histórias eram caricatas, engraçadas, outras eram carregadas de lições. Ela sempre quis, através do seu exemplo, evitar-nos erros e sofrimentos desnecessários. Esta, na verdade, é uma forma muito eficaz de nos relacionarmos com os nossos filhos, como sugerido pelo psiquiatra Augusto Cury. É importante que os nossos filhos nos vejam como somos: pessoas que também tiveram (e têm) dúvidas, também erraram (e erram), não têm todas as respostas e continuam a aprender. E aprender é, sem dúvida, uma coisa que me move, e também me movimenta internamente. Ao ponto de transbordar na vontade de ensinar. Eu sempre tive muitas dúvidas na vida, nunca soube bem que caminho profissional seguir, mas se há coisa que eu sempre gostei de fazer foi passar adiante o que aprendo. Afinal, em bom e velho português de Portugal "somos uns para os outros."

sexta-feira, 10 de março de 2023

69-365




No yoga fala-se muito da importância do desapego. Um dos sentidos em que esse conceito surge é na tomada de consciência de que o resultado das nossas ações está totalmente fora do nosso controle. Nós, enquanto seres humanos, temos uma constante necessidade de sentir que controlamos a nossa vida ou, pelo menos, uma boa parte dela. Mas a verdade é que a única coisa que controlamos é a nossa ação. Podemos, por exemplo, escolher jogar na loteria, mas se ganhamos ou não, não depende de nós. Podemos escolher tratar bem os outros, com respeito e gentileza, mas se somos ou não tratados da mesma forma pelos outros, não depende de nós. Podemos decidir sair de casa mais cedo, mas se chegamos a tempo ao compromisso depende de inúmeras premissas que não estão sob a nossa alçada. Podemos escolher prepararmo-nos o melhor possível para a apresentação/ a prova/ o julgamento, mas não é garantido que a nossa performance seja a melhor possível. O que está, sim, totalmente sob o nosso controle é a nossa ação, o que escolhemos fazer. Este conceito é profundamente libertador. Retira-nos das teias das expectativas e cobranças. As coisas são como são. Isto não significa que não podemos querer mais e melhor. Podemos e devemos dar passos nesse sentido, mas sabendo que o desfecho é imprevisível. O desapego é partícularmente importante quando tentamos ajudar alguém. Podemos dar o nosso melhor, dedicarmo-nos, mas se a outra pessoa melhora ou não, depende bem mais dela do que de qualquer coisa que possamos fazer. E é preciso desapego para aceitar que tudo o que fazemos pode não dar em nada. É preciso desapego para aceitar que, o que quer que seja que se concretize, será para o nosso melhor. É preciso desapego para não nos deixarmos enredar pelas histórias do passado e pelas ansiedades do futuro: o desapego apega-nos ao presente. E é exclusivamente aí que está o nosso controlo: nas nossas escolhas e ações, momento a momento.


O que Jesus faria (14)

Jesus poderia ter percorrido o seu caminho sozinho, a ensinar o máximo de pessoas possível. Mas ele elegeu doze apóstolos para o acompanhar. Mais do que isso: partilhou com eles os seus conhecimentos e instruiu-os a, posteriormente, dar continuidade ao seu trabalho. "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado." Para que conseguissem executar essa tarefa, Jesus muniu-os das ferramentas necessárias. A principal forma de ensinar foi pelo exemplo: Jesus viveu todas as lições que ensinou. "Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também." Mas Jesus também criou laços de afeto com os seus discípulos, e reconheceu a importância dessa conexão. "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." As nossas conexões com os outros são, de facto, essenciais. Como tão bem escreveu John Donne "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti." O ser humano tem a necessidade intrínseca de se sentir conectado com os outros. Jesus também sentiu esse ímpeto. Pregou amor, viveu-o, declarou-o (em palavras) e demonstrou-o (em gestos e ações). Sigamos o seu exemplo.

quinta-feira, 9 de março de 2023

68-365

 


Ontem tivemos uma tempestade imensa aqui em São Paulo. Ruas alagadas, trânsito infernal, quedas de árvores, acidentes.
Na volta para casa, já totalmente encharcada, dentro do autocarro (ônibus), dei por mim a apreciar a beleza da água da chuva a descer pelos vidros, como se fosse uma forte cascata. O efeito da água a cair, ritmado, criava belas formas. Entrei no autocarro quando ainda havia lugares para sentar, o que foi ótimo porque a volta, devido ao trânsito, foi bem mais demorada que o normal. Por estar com a roupa e cabelo encharcados (sim, eu tinha guarda-chuva mas, com a intensidade da chuva e do vento, de pouco serviu), o ar condicionado do autocarro (normalmente uma benção no calor de São Paulo) começou a fazer-me sentir frio. Aproveitei para pôr em prática técnicas de respiração do yoga que têm como efeito trazer calor ao corpo. Aos poucos, fui ficando confortável dentro do desconforto da roupa molhada e do frio, a ponto de sorrir. Ao chegar a casa entrei num banho quente e vesti roupas secas. Apesar de ter perdido aulas, ter apanhado muita chuva, atravessado ruas com água pelos joelhos, e ter demorado uma eternidade para fazer o percurso da volta para casa, também presenciei um espetáculo da natureza, tive lugar sentada no autocarro, consegui aplicar na prática técnicas que me trouxeram conforto e, no final de tudo, senti-me genuinamente grata e feliz de ter chegado sã e salva a casa, com a minha família, e também pelo privilégio de poder tomar um maravilhoso banho quente, vestir roupas secas e confortáveis e ter um teto sobre a cabeça. A felicidade mora nas coisas simples e também na forma como enfrentamos as mais complicadas.

O que Jesus faria (13)

Eu sempre interpretei os milagres de Jesus descritos na Bíblia como metáforas ou outra figura de estilo. Não me parecia que fosse para ser interpretado de forma literal. Como assim, multiplicar pães, transformar água em vinho, curar enfermidades só com um simples toque, ressuscitar pessoas da morte, andar sobre as águas? Mas quando lemos livros de Joe Dispenza, Gregg Braden, Wim Hof, Yogananda, lemos relatos e relatos do que pode ser, igualmente, designado "milagre". Na bibliografia do yoga, por exemplo, há inúmeros relatos de "milagres". Os milagres de Jesus não são os únicos documentados na história da humanidade. Poderão argumentar: "Ah, mas quem garante que tudo isso aconteceu?" Ninguém. Há vários documentários, livros que contém relatos de pessoas que, por exemplo, se curaram de doenças, supostamente, incuráveis. Histórias semelhantes, métodos idênticos. Será mera coincidência? Podemos perguntar: quem garante que não é mentira? E eu pergunto: quem garante que não é verdade? Jesus, em várias ocasiões, ao curar os outros, afirmava "a tua fé te curou". Não se vangloriava do seu feito. Disse "aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai." Jesus incentivou-nos a acreditar em nós mesmos, no nosso incrível, imenso, incalculável potencial. Então, o que Jesus faria? Exatamente o que fez: curaria todos os que tivessem fé e incentivaria todos os que têm fé a curar-se.

quarta-feira, 8 de março de 2023

67-365

 


Estava a estudar piano e dei comigo a pensar: antes de começar a tocar qualquer música, todos nos concentramos alguns segundos. Cada um terá as suas estratégias: podemos ouvir ou cantar interiormente o começo da música, respirar fundo, pensar em algum aspecto específico que exija a nossa atenção naquela obra ou, particularmente, no começo dela. Mas a minha reflexão foi ao que acontece após esses breves momentos: como e de onde surge a decisão de começar a tocar? Talvez pareça descabido, mas reparem. Claro que sou eu que decido colocar as mãos no piano e começar a tocar. Mas por quê naquele exato segundo? O que me impele a isso? Por quê nesse segundo e não no anterior ou no seguinte? Que parte de mim, qual a força interior que me diz "é agora!" (Não que eu pense literalmente essas palavras, mas executo-as, de facto.) E, então  lembrei-me de um documentário fantástico que vi há tempos atrás. "Genius", com o Stephen Hawking. Em um dos episódios, falou-se da questão do livre-arbítrio, e foi realizada uma experiência (idealizada, anos antes, pelo psicólogo Benjamin Libet). Os participantes tinham a sua atividade elétrica cerebral acompanhada enquanto tinham uma tarefa simples para cumprir: apertar um botão quando quisessem enquanto olhavam para um relógio projetado na torre que estava à frente deles. O ponteiro do relógio girava, girava e, quando lhes apetecia, carregavam no botão e surgiam fogos de artifício. No final da experiência, observando a atividade cerebral, concluiu-se que a atividade elétrica começa a subir em direção ao pico (o momento em que o botão é apertado) cerca de 2 segundos antes. Isso significa que, meio segundo antes de realmente iniciar a atividade motora de mexer o dedo (pico), o cérebro já está envolvido na decisão propriamente dita. Ou seja, há uma parte do nosso inconsciente que, um segundo antes, inicia a atividade cerebral que precede e determina a escolha consciente. Comecei a pensar como era quando fazia ginástica artística: em qual momento eu decidia que ia correr para o salto de cavalo, ou começar nas paralelas ou, mais delicado ainda, realizar algum movimento na trave? Há os momentos de concentração imprescindíveis (tal como antes de tocar piano), mas há, indubitavelmente, uma espécie de força interna que nos move na direção daquele desafio num momento específico. Alguma coisa em nós já sabe quando é a hora certa. E essa certeza antecede qualquer pensamento que seja. Então, quanto das nossas decisões conscientes é determinado pelo nosso inconsciente? A este respeito, diga-se que temos, por dia cerca de 70000 pensamentos, e desses milhares de pensamentos, cerca de 90% são idênticos aos do dia anterior, correm de forma automática, ou seja, inconsciente. Isto significa que, em cerca de 90% do nosso dia, estamos a operar de forma inconsciente. E, nesta dança de consciente e inconsciente, vamos equilibrando e exercendo a nossa Vontade.

terça-feira, 7 de março de 2023

66-365

 


Hoje é o aniversário (71 anos) da morte de Paramahansa Yogananda. Um iogue que nasceu na Índia e foi um dos primeiros a levar os ensinamentos do yoga ao Ocidente (Estados Unidos da América).
Há cerca de 10 anos atrás, uma amiga indicou-me a leitura de "Autobiografia de um iogue". Não passei das primeiras páginas. Era demasiado para eu conseguir absorver. Tentei novamente mais uma, duas vezes. Não passei dos primeiros capítulos. Não era o tipo de informação que eu tivesse capacidade para digerir naquela altura. Em 2018, comecei a interessar-me por autoconhecimento, a ler vários livros, conhecer vários autores, e o nome de Yogananda ia aparecendo repetidamente. Dei uma nova oportunidade ao livro e, dessa vez, foi uma leitura absolutamente transformadora. Tanto que o releio todos os anos desde então. (Mais tarde, descobri que era o único livro que Steve Jobs tinha no seu Ipad e que quem foi ao seu funeral ganhou um de presente.)  Ao ler o livro, percebi o quanto de influência grandes êxitos como Matrix e Star Wars, por exemplo, tiveram da sabedoria do yoga. Inequivocamente. O quanto a linguagem da ciência mais moderna (física quântica) está a aproximar-se do que essa sabedoria já defendia há milhares de anos. Tudo isso, foi criando pontes para que eu caminhasse em direção ao yoga. Aquilo que eu questionava, aquilo em que eu já acreditava, encaixou-se perfeitamente na linguagem do yoga.
Yogananda escreveu inúmeros livros, além da sua Autobiografia, todos eles cativantes, repletos de ensinamentos. A devoção de Yogananda a Deus e Jesus Cristo é inspiradora. É um sábio, na verdadeira acepção da palavra. Um sábio cujo propósito de vida, além da sua comunhão com Deus, foi conduzir os outros a esse mesmo conhecimento. A sua missão foi levar o yoga ao mundo. O seu sonho era ver um mundo de entendimento entre todos, independentemente de nacionalidade ou religião. As suas palavras continuam a inspirar pessoas pelo mundo inteiro até hoje. (E continuarão por muitos e muitos anos.)

O que Jesus faria (12)

"Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?" Jesus disse-lhes: "Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente." Nesta afirmação, chama-me a atenção Jesus distinguir "coração", "alma" e "mente". Na sabedoria antiga do yoga, já se falava de várias "camadas" do nosso Ser. Em traços muito genéricos, distingue--se o nosso corpo físico, denso (associado às sensações), a nossa energia vital (associada às emoções), a mente e intelecto (associadas a raciocínio, valores morais, intenções, decisões) e a nossa alma (a nossa essência pura, eterna). Ao distinguir coração, alma e mente, Jesus parece querer chamar a atenção, precisamente, para esses diferentes componentes do nosso Ser: emoções, valores e intenções, raciocínio e tomada de decisões. Em outras palavras: o nosso amor a Deus deve estar nos nossos pensamentos, emoções e acções. Aquilo que pensamos, sentimos e fazemos tem de estar alinhado. E, se amarmos assim a Deus, sentiremos que somos parte de um Todo e, como parte do Todo, agiremos com respeito e afeto com todas as formas de Vida, porque todas são, igualmente, parte de Deus.

Não por acaso, Jesus critica, em alguns momentos, quem frequenta o templo e paga os tributos, mas não age com compaixão e humildade. Não adianta dizer que se ama a Deus se as acções não o refletem. Não adianta frequentar o templo mas maltratar e julgar o seu irmão. Pensamentos, emoções e acções. Este é o desafio. (Também, curiosamente, abraçado no yoga.) E esta é a resposta para se ter paz de espírito - que é o primeiro passo para a felicidade. 

segunda-feira, 6 de março de 2023

65-365


Procrastinação. Um termo que muito se ouve e fala por aí hoje em dia. Segundo o dicionário é
ato ou efeito de procrastinar; adiamento, demora, delonga. Em bom português (de Portugal) é "empurrar com a barriga". Quem nunca? Adiamos aquela roupa para passar, aquela arrumação na casa, ficamos na cama mais 5 minutos depois do despertador tocar. Este tipo de coisas, é fácil de entender por que adiamos. Não as queremos fazer porque preferimos ocupar o nosso tempo com coisas mais agradáveis. Mas também adiamos enviar aquele currículo, embora queiramos muito aquele emprego, adiamos fazer aquela pergunta, embora queiramos saber a resposta, adiamos começar aquele projeto, embora ele não saia da nossa cabeça. Às vezes, adiamos por sentir que a tarefa é demasiado complicada, desafiadora. Nesse caso, como sugere Jim Kwik, a melhor estratégia é decompor a tarefa em tarefas menores que, a cada vez que são concluídas, nos dão um ganho de confiança. Porque a maior questão da procrastinação é o medo. Queremos enviar o currículo, mas morremos de medo de não conseguir o emprego. Queremos saber a resposta,  mas morremos de medo de ser rejeitados. Queremos começar aquele projeto, mas morremos de medo de não ser bons o suficiente para o concretizar. Então adiamos. Adiamos ao ponto de não fazer. De não chegar a saber se seríamos escolhidos, se seríamos capazes. E se a nossa coragem for maior que o nosso medo? Se ao invés de arranjarmos desculpas para não fazer e ficarmos paralisados pelo medo que temos de não conseguir, nos entregarmos à acção em direção aos nossos objetivos? Temos mais a ganhar do que a perder: não agindo, garantidamente não saímos do mesmo lugar, agindo, podemos (ou não) alcançar o que tanto sonhamos. Até porque um "não" no meio do caminho, não é definitivo. "Harry Potter", por exemplo, foi recusado por inúmeras editoras antes de ser publicado. Imagine o que teríamos perdido se J.K.Rowling se tivesse deixado enredar na procrastinação pelo medo. Felizmente para os fãs de Harry Potter, ela agiu, repetidamente, até obter o seu "sim". Todos os dias eu enfrento os meus medos e procuro dar pequenos passos que me façam sentir que não me entreguei. Por menores que sejam, esses passos movimentam-me. E isso, só por isso, já vale o esforço.

O que Jesus faria (11)

Ontem escrevi sobre a Regra de Ouro "faz aos outros o que gostarias que te fizessem." Muito relacionado com esta Lei, está uma outra afirmação de Jesus "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." Desejamos o melhor a quem amamos, queremos ser a nossa melhor versão para quem amamos. Embora, claro, nem sempre seja possível - pelo caminho, inadvertidamente, cometemos erros -, queremos fazer o bem a quem amamos. Mas Jesus coloca uma condição muito interessante aqui: ame aos outros como se ama a si mesmo. Isto significa que é primordial que tenhamos amor-próprio. Há tempos atrás vi um vídeo de Jay Shetty muito elucidativo sobre isto. Nesse vídeo, era pedido a algumas jovens que escrevessem numa folha frases que, normalmente, dizem a si mesmas quando a auto-estima falha. Escreveram frases como "tu não és boa o suficiente", "tu és a irmã feia", "tu não és suficientemente inteligente para entrar naquela faculdade". Depois, as irmãs juntavam-se às jovens, e elas deveriam ler as frases que tinham acabado de escrever sobre si mesmas às irmãs, como se tivessem sido escritas direcionado a elas. Ninguém conseguiu fazê-lo, justificando que eram frases muito duras, muito pesadas para se dizer a alguém. No entanto, qual de nós não tem uma vozinha interior que, de vez em quando, martela absurdos nas nossas mentes? Qual de nós teria coragem de direcionar alguma dessas frases que, constantemente, repetimos a nós mesmos a uma pessoa que ama? E, ainda olhando por outro prisma: alguém que não tenha auto-estima, que alimente pensamentos destrutivos em relação a si mesmo, que se maltrate e rebaixe em pensamentos, que energia terá para ser gentil e amoroso com o outro? Se não nos amamos a nós mesmos, como podemos amar o outro ou, muito menos, esperar que nos ame? Então, podemos dizer que a Regra de Ouro também tem que aplicar-se a nós mesmos: faça a si mesmo o que gostaria que lhe fizessem. Seja gentil, respeitoso, incentive-se e celebre-se a si mesmo. Nutra-se de amor-próprio e, dessa forma, cria espaço para amar os outros como a si mesmo.



Assista o vídeo do Jay Shetty aqui:
https://fb.watch/j5SZdTZvdA/

domingo, 5 de março de 2023

64-365

 


Hoje fomos dar uma volta até à Avenida Paulista. Para quem não sabe, a Avenida Paulista é uma das principais de São Paulo. Numa região central, tem vários quilómetros, totalmente plana, e tem desde centros culturais, a centros e galerias comerciais, a museus, lojas e mais lojas, artesanato de rua, instituições financeiras. É um lugar incrível, cheio de diversidade, movimento e vida.
Aos domingos, a Avenida é fechada ao trânsito e transforma-se, potencialmente, em um dos lugares mais democráticos de São Paulo. Vê-se todo o tipo de pessoas, de todas as idades, géneros, classe social, estilo. Vê-se pessoas a andar de bicicleta, skate, patins, trotinete, a passear com os cães, a passear em família, casais hetero e homossexuais. A cada metro que se anda, encontramos uma banda a tocar, alguém a cantar ou a tocar um instrumento. Ouvimos de heavy metal, a música nordestina, passando por bossa nova e pop rock. Há mágicos, malabaristas, grupos de dança de todos os estilos, gente com todo o tipo de cartazes - hoje, por exemplo, um casal exibia o cartaz "tire uma fotografia Polaroid e ajude-nos a casar". Enquanto passeávamos por ali, comentávamos que energia tem aquele lugar! Uma alegria, uma vida! Impossível não sorrir com algumas pessoas que vemos pelo caminho. Há inúmeras barracas a vender comida e bebida, e feiras de artesanato que vendem todo o tipo de coisas, algumas de uma imensa e admirável criatividade. Hoje, o que mais nos rendeu sorrisos foi um mágico. Quando parámos para assistir um pouco, não estava ali tanta gente, mas o carisma do senhor era tal que, a dada altura, estava ali uma pequena multidão a interagir com ele. Outras pessoas, cantavam ou tocavam apenas para quem passava por ali.
A Paulista aos domingos tornou-se um imenso e democrático palco. Qualquer um que tenha meios e coragem pode apresentar-se ali. E nós, público, agradecemos.

O que Jesus faria (10)

Todos os mandamentos e ensinamentos poderiam ser reduzidos à máxima: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Esta chamada Regra de Ouro não é original de Jesus, embora seja basilar nos seus ensinamentos. Na tradição védica, encontramos no Mahabharata "Esta é a suma do dever: não faças aos outros aquilo que se a ti for feito, te causará dor." Nas palavras de Confúcio "O que não queiras que os outros façam a ti, não o faças aos outros." É interessante que, na abordagem de Jesus, a formulação é feita pela positiva: o que queremos que nos façam, façamos também. Se queremos amor, damos amor. Se queremos paz, damos paz. Se queremos respeito, damos respeito. Se queremos verdade, cultivamos verdade. Se queremos perdão aos nossos erros e falhas, damos perdão. Se queremos compreensão e acolhimento quando nos sentimos desorientados, acolhemos os outros também. E a grande questão aqui é que a nossa atitude deve ser totalmente independente da atitude dos outros. O que os outros escolhem ser e fazer, é opção deles. O que cada um de nós escolhe ser, é uma decisão nossa. Não é uma resposta à atitude do outro, não é uma reacção, não é uma espécie de troca, é uma acção consciente. "Pois, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? (...) E, se saudais unicamente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário?"  "Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente." 

Em momentos de dúvida, pense: o que Jesus faria? Ele foi um excelente professor, que viveu as lições que ensinou. Um Mestre. Sem quaisquer cobranças ou expectativas, Jesus sempre foi para os outros o que gostaria que fossem para si. Sejamos nós também, e o mundo, certamente, será um lugar melhor para se viver.

sábado, 4 de março de 2023

63-365

 


Tento fazer os meus alongamentos todos os dias. Em relação à flexibilidade, o nosso corpo responde de forma lenta. Avançamos um pouco a cada dia, de forma imperceptível aos nossos olhos. A mudança é lenta, gradual, até que, um dia, percebemos o caminho que já percorremos, o espaço que conquistámos no nosso corpo. Ao longo do caminho, vamos sentindo o corpo esticar, expandir-se. Alguns dias sentimos o corpo ligeiramente dolorido. Como se alguns músculos e tendões nos dissessem que existem, que estão ali. Apercebemo-nos deles. E, por mais preguiça ou desconforto que dê, continuamos, com cuidado, a trabalhá-los, até que não mais ficam doloridos. Cedem. Isso fez-me pensar: a nossa mente também funciona assim. Muitas vezes, quando queremos trabalhar certas emoções em nós ou questões mal resolvidas, (res)surgem dores. Tal como os tendões e músculos que percebemos quando trabalhamos a flexibilidade, essas dores manifestam-se, mostram-nos que existem, que estão ali. E, tal como os músculos doloridos nos dão vontade de não continuar o trabalho, essas dores também nos dão vontade de as evitar, de as deixar ali onde estão, quietas. Mas Einstein afirmou "a mente que se expande jamais voltará ao seu estado original." Cada vez que tentamos ir um pouco mais fundo em nós mesmos, que superamos o desconforto de nos olharmos, de enfrentarmos os nossos medos e dores, é um pouco mais de espaço que conquistamos. Espaço para construir algo novo. Espaço para crescer. Quando se sentir dolorido, não desista: do outro lado da dor, está a sua expansão. (Talvez a sua cura.)

O que Jesus faria (9)

 


Um tema fulcral nos ensinamentos de Jesus é o perdão. Talvez por Jesus saber que perdão é um assunto delicado para nós, (como é difícil, por vezes, perdoar!) e essencial não só para as nossas relações mas também para a nossa própria saúde emocional e mental.
Estudos científicos têm vindo a comprovar os benefícios do perdão para a nossa saúde. O acto de perdoar reduz o risco de ataque cardíaco, melhora os níveis de colesterol e a qualidade do sono, reduz dor, pressão arterial e níveis de ansiedade, depressão e stress (Universidade de Harvard). Um estudo realizado pela psicanalista Suzana Avezum apontou uma relação entre a dificuldade de perdoar e a ocorrência de enfarte agudo do miocárdio.
"A ruminação da mágoa e a revivescência do evento mantêm o stress e o corpo fica exposto a essas respostas fisiológicas, o que pode produzir patologias. Quando se trabalha o perdão, há o relaxamento das defesas do organismo, cura da mágoa e do corpo". A Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins (Baltimore) partilha da mesma conclusão "A raiva é uma forma de stress e, por isso, quando nos apegamos à raiva é como se estivéssemos a ativar a resposta ao stress no nosso corpo, ou resposta de luta ou fuga, de forma crónica. Sabemos que a ativação crónica dessa resposta leva a um desgaste no corpo. Não será surpreendente que, ao envolvermo-nos num acto de perdão, a resposta de stress comece a cessar e as mudanças psicológicas acompanhem essa mudança."
Uma das dificuldades no perdão, é que achamos que o que ocorreu é demasiado grave, que a falta do outro não merece perdão ou, talvez até, que seremos fracos ou tontos se perdoarmos, mas a questão é que o perdão não é um merecimento do outro: é uma dádiva nossa e, em última análise, para nós mesmos. Nas palavras de Everett Worthington, professor de Psicologia na Universidade Virginia Commonwealth, "Para podermos curar os nossos corações, o perdão é essencial. Perceba que o perdão é para nós, não para eles. É lamentável que alguém nos tenha causado mal, mas apegarmo-nos aos sentimentos negativos em relação a essa pessoa só nos magoa a nós mesmos. O perdão exige prática e nem sempre é uma decisão de um momento único. Por vezes, é necessário perdoar algumas ofensas todos os dias até começarmos a lembrar-nos menos e menos delas."
"Então, Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete." Jesus, há mais de 2000 anos atrás, já nos ensinou a importância de perdoar, não apenas por uma questão de convivência, mas porque sabia que o perdão é uma ferramenta essencial na construção da nossa saúde e felicidade. "Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido." "(...) vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta [no altar]." Sem perdão, não há paz de espírito. E assim como disse "amai-vos uns aos outros", orientou que "lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou: Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco amou."
Amor e perdão andam de mãos dadas. E não temos de amar quem nos ofendeu ou magoou, mas é essencial que nos amemos a nós próprios e nos demos, de presente para nós mesmos, o perdão, não para benefício do outro, mas para nossa cura. Isso inclui a difícil tarefa de nos perdoarmos a nós mesmos. É preciso relembrarmo-nos que, por mais que tenhamos feito escolhas equivocadas, foram as melhores que poderíamos ter feito com a informação de que dispunhamos e sendo a pessoa que éramos naquele tempo.
Quando se encontrar numa situação difícil, dolorosa - ou se tem ainda alguma pendente do passado - invista a sua energia em perdoar, seja outra pessoa ou a si mesmo. A outra pessoa nem tem de saber. O perdão não tem de ser exteriorizado para o outro, tem de ser vivido em nós mesmos, para nós mesmos, por nós mesmos. Nesta temática, a resposta à pergunta "o que Jesus faria" é inequívoca: Jesus perdoaria (tal como perdoou a todos os que o ofenderam e maltrataram). 

sexta-feira, 3 de março de 2023

62-365

 


Esta semana, uma aluna perguntou-me que religião sigo. Respondi que não sigo nenhuma em particular. Ela não ficou satisfeita com a resposta, e insistiu "Mas você é de qual?" "Nenhuma..." Ela não desistiu "A sua mãe é de qual religião?" "Católica." "E o seu pai?" "Católica também." Ela abriu um sorriso e disse, com aquele ar de quem descobriu a pólvora, "Pronto! Então você é católica também!" Correndo o risco de a desapontar, respondi "Bom, não é porque os meus pais são que eu sou... Cada um pode seguir a religião com que mais se identificar." "Sim...", continuou ela "Mas se a sua família é uma coisa, é normal que você também seja..." Achei curioso esse conceito de "herdamos" a religião da nossa família. Parece-me que religião e espiritualidade, são coisas que buscamos de forma muito particular e individualizada. Quaisquer crenças impostas por família ou sociedade podem ser bastante limitantes, podem bloquear a nossa busca.
Não querendo decepcioná-la totalmente, respondi "Bom, eu sou baptizada e fiz a Primeira Comunhão..." "Viu?", respondeu ela "Você é católica!" E concluí "Eu não frequento a igreja, e nem concordo com muitos dos dogmas da Igreja. Mas eu sou, sim, uma profunda admiradora dos ensinamentos e do exemplo de vida de Jesus Cristo." E voltámos à música.
Não, contrariamente ao que a minha aluna concluiu, eu não sigo uma religião. Interesso-me pelos ensinamentos de várias, principalmente porque admiro muito os exemplos de Jesus, Buda, Krishna. Acredito que todas têm muito mais pontos em comum do que diferenças. Acredito que podemos aprender com todas. Acredito que todas, na sua essência, nos ensinam como ser melhores seres humanos. Todas nos ensinam sobre buscar a nossa essência. Todas nos falam de Amor. Eu não sigo nenhuma religião, eu não me prendo a um dogma, eu sigo o meu coração. 

O que Jesus faria (8)

 


Quem já participou de uma missa, ouviu que, a dada altura o padre diz "O Senhor esteja convosco" e a congregação responde "Ele está no meio de nós." Eu sempre interpretei essa frase como Deus estando ali, nos espaços entre nós. "No meio de nós" seria equivalente a "entre (todos) nós, nessa minha interpretação. Mas na Bíblia, em várias passagens, encontramos a mesma expressão, como em Deuteronómio: "Não te espantes diante deles, porque o Senhor, teu Deus, está no meio de ti" E Jesus afirmou: "Ninguém vai dizer: “Vejam! Está aqui” ou “Está ali”. Porque o Reino de Deus está dentro de vós."
Deus não está sentado num trono algures lá no céu. Deus habita em nós, a cada pulsar do nosso coração, a cada inspiração e expiração. É absolutamente miraculoso que, de entre todas as milhares, milhões, biliões de combinações possíveis no centésimo de segundo da nossa concepção, tenhamos sido cada um de nós a existir! O coração é o primeiro órgão a formar-se quando estamos no útero materno. Então, é credível que aí, no coração, more a nossa essência. Chame-lhe espírito, alma. Assim como os raios de sol ainda são o sol, nós somos um espectro da Luz Divina que nos deu Vida. Somos uma centelha de Deus. Independentemente da nomenclatura que escolher, é aí, no coração que essa Luz que somos brilha (e reflete a Luz Divina).  Deus está no meio de nós: no centro do nosso peito, no nosso coração. É por isso que é tão importante saber ouvir o nosso coração. Aprender a aquietar a mente para que o coração ganhe espaço para se fazer ouvir, "porque da abundância do seu coração fala a boca." Aquilo que está no nosso coração, é o que manifestamos, por isso, "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida."
Esta semana ouvi uma história muito bonita sobre este assunto. Um dia, Deus quis brincar às escondidas com os homens. Consultou vários sábios para saber qual seria o melhor esconderijo. Após ouvir as sugestões de vários, escutou o mais sábio dos sábios que lhe disse "No coração do homem. Esconda-se lá. Ele nunca vai lembrar-se de o procurar aí."
(Mas Jesus ensinou-nos que é aí que devemos procurar.)

quinta-feira, 2 de março de 2023

61-365

Ontem encontrámos na rua um vizinho de mais idade que é muito simpático. Viúvo, vive sozinho e gosta de conversar. Enquanto caminhávamos, conversámos um pouco. A dada altura, comentou que foi casado cerca de 40 anos, que sente falta da esposa. Mas que "é a vida". E acrescentou a frase que mais guardei "o ruim não é a gente ficar velho, o ruim é tudo o que a gente vai perdendo pelo caminho." Aquela frase fez-me pensar...Envelhecer implica perdas, sim. Perda de saúde, de vigor, perda de pessoas e coisas amadas. Sem dúvida, ao envelhecer, temos de aprender a lidar com perdas. Mas envelhecer também nos acrescenta: experiências, maturidade, sabedoria.  Se soubermos usar as nossas experiências a nosso favor, a idade traz-nos novas formas de encarar as coisas, melhora a nossa capacidade de gerir os conflitos e as dificuldades, e pode trazer-nos algo inestimável: a coragem de sermos nós mesmos e a felicidade de nos sentirmos confortáveis e realizados nesse lugar. Envelhecer pode proporcionar-nos a mais valiosa das qualidades: paz de espírito. E, com ela, tudo fica mais fácil de encarar e superar.


O que Jesus faria (7)

A lei da atracção ficou amplamente conhecida depois do documentário "O Segredo". Muito se falou e continua a falar-se sobre manifestação, sobre como criar a vida que se deseja. Sobre esse assunto, eu adoro alguns autores como Gregg Braden, Joe Dispenza, Vishen Lahkiani, Michael Beckwith ou Marisa Peer. O que muitas pessoas não sabem ou não se apercebem é que Jesus também nos falou da Lei da Atracção, há mais de 2000 anos atrás! "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre." O que é isto se não a Lei da Atracção? Mas Jesus fala-nos da nossa responsabilidade sobre a nossa vida. Diz-nos que a iniciativa é nossa: peça, busque, bata! Reclame o que deseja e, então, o alcançará! Noutra passagem, no Evangelho de São Marcos, encontramos palavras semelhantes: "Tende fé em Deus, porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Vale referir que, no Evangelho de São Tomé, que pertence aos achados da biblioteca de Nagg Hammadi, há uma passagem que trata do mesmo assunto trazendo uma nuance importante: "Em verdade eu vos digo, todas as coisas que você pedir diretamente e imediatamente de dentro do meu nome, lhe serão dadas. Até agora você não fez isso. Peça sem motivo oculto e seja cercado pela sua resposta. Seja envolvido pelo que você deseja e sua alegria seja plena. "Este detalhe que faz toda a diferença: "seja cercado pela sua resposta", "Seja envolvido pelo que você deseja". Tal como é falado na moderna e em voga Lei da Atracção, não é apenas o pensamento que nos ajuda a manifestar o que queremos, mas sim o criar um sentimento positivo e vívido a respeito da nossa intenção. Não só acreditar mas sentir como se já se tivesse realizado o que se deseja. Ainda nesse Evangelho lê-se "Jesus disse que se dois fizerem as pazes um com o outro nesta casa, eles dirão ao monte 'se afaste ' e então o monte se afastará." Ou seja, quando pensamento e sentimento estiverem em concordância, a nossa vontade torna-se tão inabalável que até o monte se afastará perante ela!

Em momentos de dúvida, pense: o que Jesus faria? Ele foi um excelente professor, que viveu as lições que ensinou. Um Mestre. Seguiu os seus próprios ensinamentos para realizar todos os milagres. E ele mesmo nos disse: "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que Eu faço e outras maiores fará, pois eu vou para o meu Pai."