O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
quinta-feira, 30 de março de 2023
89-365
quarta-feira, 29 de março de 2023
87-365
Há dias atrás, estava à espera para subir no elevador para dar uma aula. Um funcionário da portaria/manutenção aproximou-se com uma embalagem de aplicativo de entrega de comida na mão e ficou também a aguardar. Quando o elevador chegou onde estávamos, eu entrei, e ele não se moveu. Perguntei "Não vai subir?" Constrangido, gaguejou "Hmm...sim...vou." Percebendo que me confundiu com moradora/visitante, acrescentei "Pode subir, ppr favor, não tem problema." Ele agradeceu e entrou.
Esta é uma realidade à qual não me habituei aqui em São Paulo. A separação abissal entre elevador social e elevador de serviço. A separação entre quem pode estar com quem no elevador. Não raras vezes fui indicada pelos funcionários do prédio a subir pelo elevador de serviço e, chegando ao apartamento, percebo o constrangimento do morador "Ah, pode vir pelo social, por favor." Esta segregação premente, persistente, enraizada, é uma coisa que entristece na sociedade brasileira. Uma sociedade tão rica, tão bela pela sua diversidade. E há um abismo entre o mundo em que uns (se movem e) vivem e os outros.
88-365
O piano faz parte da minha vida diariamente há vários anos. Quando não estou a estudar, estou a ensinar. (E sou uma eterna ouvinte.)
Não escolhi o piano por nenhuma inclinação especial, ou qualquer convicção. Escolhi-o porque era o instrumento que já tinha em casa e onde, de vez em quando, brincava. Pareceu-me o mais lógico. Mas sinto que, a dado momento da minha vida, fui escolhida por ele. Numa altura da minha vida em que sentia necessidade de me expressar, de extravasar emoções, o piano acenou-me, a música apresentou-se-me como uma linguagem única na qual me sentia segura para me exprimir. Mais do que isso, encontrei na música uma forma de aceder a partes de mim mesma, a aspectos da realidade aos quais não chegava de outra forma. Na música, senti-me transbordar. Fico feliz que a minha mãe me tenha obrigado a continuar contra a minha vontade, e que a minha professora tenha tido a sensibilidade para me cativar. A presença do piano hoje, e todos os dias, na minha vida, tem valido a pena.
Feliz Dia do Piano.
terça-feira, 28 de março de 2023
86-365
O que está a acontecer no mundo? Discussões no trânsito que acabam em tiros. Discussões por pedidos de pizza errados que acabam em agressão. Discussões sobre política que acabam em facada ou tiro. Aluno que mata professores e fere alunos e professores à facada. Discussões em posto de gasolina que acabam com a pessoa a ser incendiada. É inacreditável o que vemos acontecer no mundo. Dois anos após a pandemia, parece que as pessoas não conseguiram voltar ao equilíbrio - se é que algumas o tiveram, um dia. Pelo contrário, parecem ter perdido o domínio da razão. Qualquer coisa é motivo de discussão e, pior, de agressão ou mesmo assassinato! Parece que perdemos alguma coisa daquilo que nos torna humanos. As reações acontecem de forma impensada, exacerbada, desproporcional, quase animalesca, podemos afirmar. Quantas pessoas têm sofrido agressões ou perderam a vida por razões totalmente banais, por coisas que seriam tão facilmente resolvidas de forma civilizada? Onde foi parar a nossa capacidade de diálogo? Onde foi parar a empatia, a capacidade de gerir os conflitos? Onde foi parar a capacidade que temos para lidar com a adversidade sem partir para a ignorância? O pedido veio errado, o produto tem defeito, a pessoa não foi educada, a condução do outro foi imprudente? Temos que saber lidar com os problemas. Algumas coisas são tão insignificantes que, na verdade, nem merecem o investimento da nossa energia - e o risco de ter pela frente uma dessas pessoas que desaprendeu a conviver com os outros ou a lidar com a crítica. Mais vale seguir com a vida sem lhes prestar atenção. Nas mais relevantes, podemos exigir os nossos direitos, mas de forma educada, cordial. Vivemos tempos tão doidos que o que nos espanta são atitudes gentis, o que nos surpreende é a cordialidade, a compreensão. Gostaria de dizer que melhores tempo virão, mas não sei se posso afirmá-lo. O que podemos fazer é apenas a nossa parte. E esperar que cada vez mais pessoas tenham vontade de fazer a sua. (Se ao menos as pessoas percebessem que tudo é bem mais fácil quando há gentileza, empatia e entre-ajuda.)
85-365
Respirar é a primeira coisa que fazemos quando nascemos, e a última coisa que fazemos antes de morrer. Entre um momento e outro, respiramos (espera-se!) incessantemente, algumas vezes por minuto. E em quantas dessas incontáveis vezes o fazemos de forma consciente? O quanto sabemos sobre a importância dessa função vital? De como ela funciona? O quanto a percebemos no corpo? O quanto sabemos direcioná-la para obtermos melhor desempenho, mais calma, mais espaço interior? Ou mesmo para gerar frio e calor no corpo? A respiração é muito mais do que uma troca gasosa do nosso organismo com o ambiente. É um portal para nós mesmos. Pare alguns momentos do dia e perceba como está a sua respiração. Observe-a. Esse mero gesto pode contribuir para que ganhe mais consciência sobre si mesmo, e dessa consciência, pode resultar um maior poder sobre o seu estado interior. A respiração é o nosso super-poder: que outra coisa pode conduzir-nos, em poucos minutos, de um estado ansioso para um estado tranquilo de forma tão eficaz?
sábado, 25 de março de 2023
84-365
Valorizo muito o tempo de qualidade que tenho a oportunidade de passar com o meu filho. Os anos passam a correr, e o tempo que temos com ele criança, para brincar juntos, diminui a cada dia que passa. Outros tempos virão, de outras convivências e experiências mas esta, de espalhar legos pelo chão do quarto, vê-lo a jogar os jogos no computador e deixá-lo ensinar-me acerca deles, jogar à bola, ou brincar com água no quintal, não vai durar para sempre. Por isso, aproveito esses momentos como eles são: únicos e preciosos. Quando a oportunidade surge, esteja cansada ou ocupada, crio o espaço necessário para isso. Sem o menor peso na consciência pelo que deixo de fazer, ou mesmo pelo tempo de estudo que isso lhe rouba. Não creio que algum dia vá guardar na memória as horas que passou a estudar para as provas do 8° ano, mas acredito que, um dia, os momentos em que nos divertimos juntos, serão recordados com carinho (assim como eu os guardo).
sexta-feira, 24 de março de 2023
83-365
Uma das coisas mais importantes que aprendi na última década é que quem sustenta a nossa felicidade somos nós. Não são as coisas, nem as pessoas na nossa vida. Da mesma forma, também não somos responsáveis pela felicidade de ninguém. Podemos e devemos ser amorosos com os outros, entregar o melhor de nós sempre, mas sabendo que isso não vai, necessariamente, resultar na felicidade do outro. Porque a felicidade do outro, está dentro dele, é domínio dele. Não depende de nós. Por isso, não devemos sentir-nos culpados pela infelicidade do outro. Da mesma forma, também não podemos culpar o outro pela nossa infelicidade. É nosso domínio. A felicidade é, acima de tudo, um trabalho interno. Por mais que, por vezes, seja difícil lidar com as circunstâncias, com os outros, com as dificuldades e desafios, só nós podemos fazê-lo. É em nós que sentimos as dores e angústias e é em nós que podemos encontrar as respostas para lidar com elas da melhor forma. "A única saída é para dentro." (Sadhguru) Se a nossa felicidade depende de fatores externos, somos vítimas, ao sabor da sorte, das vontades e atitudes alheias. Se a felicidade depende de nós, somos livres para a construir. A única felicidade que se sustenta é a auto-sustentada.
quinta-feira, 23 de março de 2023
82-365
Tenho muito orgulho em ser tua mãe.
Feliz aniversário, Mateus.
quarta-feira, 22 de março de 2023
81-365
Parque do Ibirapuera, São Paulo |
Eu adoro o mar, adoro água. E essa é, sem dúvida, uma das coisas de que mais sinto falta aqui em São Paulo. Não por acaso, um dos meus lugares preferidos aqui é o parque do Ibirapuera, com os seus belos lagos. Contemplar o mar, um rio, um lago, uma cachoeira, é uma coisa que sempre me inspirou paz e harmonia.
Também gosto das lições que a água nos transmite: persistência ("água mole em pedra dura, tanto bate até que fura"), capacidade de adaptação (contorna qualquer obstáculo que se lhe oponha), importância do movimento (água parada, apodrece) e da mudança ( "Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio...pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem!" - Heráclito)
A água é um dos nossos principais recursos. Sem água, não há vida. É importante que, cada vez mais, tenhamos consciência da importância de se gerir a água da forma mais eficiente possível, para que as gerações futuras não sofram com a falta deste recurso.
terça-feira, 21 de março de 2023
80-365
Que poemas apreciou hoje?
segunda-feira, 20 de março de 2023
79-365
(Diz que hoje é Dia da Felicidade...)
A felicidade é feita de pequenas coisas.
Noite de sono tranquila. Panqueca de banana com canela e aveia. Café quente. Prática de yoga e meditação. Aulas correram bem. Céu azul. Ouvir os pássaros cantar. Começou o outono. Choveu a cântaros quando já mal aguentava o calor. Mais aulas tranquilas. Cheguei a horas a todas as aulas. Encontrei, no mercado, a bolacha que o Mateus gosta. Com uma bela corrida apanhei logo o autocarro para casa. Não choveu na volta para casa. O calor deu uma trégua. Uma bela pizza no jantar. Relaxar depois de jantar. Acariciar o pelo macio das orelhas do Theo. Deitar a cabeça na almofada em paz de espírito.
Não procure "A" felicidade, mas sim coleccionar pequenas coisas que, momento a momento, o façam feliz. "Felicidade se acha é em horinhas de descuido." (Guimarães Rosa)
domingo, 19 de março de 2023
78-365
Um espetáculo muito bem construído, que intercala momentos mais intimistas com o piano solo, com outros mais intensos com o conjunto de câmara. Não há grandes efeitos de luzes, pirotecnia, apenas a fumaça que dança na luz, mas os efeitos da música valem por si só. Milhares de pessoas envolvidas naquela mesma atmosfera, abraçadas pelos sons, acolhidas no silêncio. Uma experiência inesquecível.
sábado, 18 de março de 2023
77-365
Em 2019 vi, pela primeira vez, uma entrevista de Sadhguru. Comecei a acompanhar o trabalho dele e li, da sua autoria, "Engenharia Interior".
Há um conceito fulcral defendido por Sadhguru que eu acho profundamente transformador: responsabilidade. Não temos escolha em relação às coisas que nos acontecem na vida, mas temos escolha na forma como respondemos. A nossa capacidade de responder é a nossa responsabilidade. Isto é um conceito revolucionário porque nos devolve poder: não somos meras vítimas das circunstâncias. Quando dizemos "Ah, mas o meu trabalho/marido/filho/pai, etc", "mas a economia/política/trânsito etc", ficamos numa situação vulnerável: os outros ou as situações têm poder sobre o nosso estado de espírito. O que é exterior a nós dita a forma como nos sentimos internamente. E mais ainda: reagimos de forma automática (inconsciente) a esses estímulos exteriores sob a justificação de que "a culpa é dos outros". Gritamos, enervamo-nos, reagimos de forma exagerada mas apenas porque " Fulano faz-me perder as estribeiras!", "sicrano deixa-me com os nervos à flor da pele", "beltrano sabe como me irritar!", "este trânsito dá cabo de mim", " o trabalho é stressante." A culpa é dos outros. E enquanto acharmos que somos assim e reagimos assim porque os outros nos colocam nesse lugar, somos reféns dele(s). Todos concordamos que há pessoas e situações muito desafiadoras. Não se trata de minimizar esse facto, mas de assumir a nossa responsabilidade - capacidade de responder - perante ele. "Como os outros são, é escolha deles. Como eu sou é escolha minha. Não importa o que os outros façam, ninguém pode deixar-me zangado, feliz ou infeliz. Mantenho esses privilégios para mim mesmo." (Sadhguru) Buda também dizia algo como "se lhe atirarem uma tocha em fogo [palavras, ações], seja como a água que a apaga." Quando assumimos que a resposta que damos às situações está na nossa mão, recuperamos o nosso poder criativo. Não somos vítimas da vida, mas (co-)autores dela.
76-365
quinta-feira, 16 de março de 2023
75-365
Tenho para mim que Fernando Pessoa foi o homem que melhor definiu, sem pretensão ou intenção disso, uma parte do que nós, mulheres, sentimos durante a TPM. É um cansaço profundo que se apodera de nós, vindo não se sabe de onde nem como nem porquê. Sabem aquele clássico "Bate leve levemente, como quem chama por mim"? Começa assim e, quando damos por ela, estamos afundadas num turbilhão emocional que, por vezes, torna difícil gerir a rotina. Os nervos ficam à flor da pele, a sensibilidade exacerbada, ora dá vontade de matar alguém, ora dá vontade de morrer. Tudo parece muito e, ao mesmo tempo, tudo parece pouco. E o cansaço, aquele cansaço...Um cansaço físico, pernas pesadas, corpo inchado, letárgico e um cansaço mental, porque a nossa voz interior fica arrasadora! Verdadeiramente implacável. Nem todas as mulheres passam por isso e, felizmente, as que passam não o sentem com essa intensidade todos os meses. Há meses em que tudo isso passa longe de mim. Em outros, tenho que lutar para não me deixar enredar! É preciso recorrer a todas as ferramentas (meditação, yoga, exercício físico, doce, mimos, desabafo, exercícios de respiração, uma boa leitura ou filme/série). O bom de tudo isto? Uma excelente oportunidade para colocar as ferramentas em prática e levar mais adiante a capacidade de gerir esta máquina incrível que temos: a nossa mente. E (graças a Deus!), assim como veio, o turbilhão deixa-nos!
74-365
Nos teus 60 e tal - eu sei quantos são, mas não vamos revelar aqui - anos de vida, passámos por dias de aniversário teus em que eu poderia estar mais presente e não estive. Hoje, gostaria de estar presente e não é possível. Já dizia Vinicius de Moraes "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro." Mas a ironia é que, a milhares de quilómetros de distância, temos uma relação mais próxima hoje do que quando vivíamos a 10 minutos um do outro. Então, da forma que é possível, abraço-te, hoje, com estas palavras. Que o teu dia tenha café quente (sem açúcar, claro!) e muitos mimos - incluindo os felinos. Que o trabalho demore só o tempo que tiver de demorar e nem pareça trabalho. Que o sol brilhe neste dia, mas sem calor, porque sei que não gostas. Que o almoço seja farto e delicioso - e o jantar também. Que o céu esteja azul, naquelas cores e luzes que só Lisboa tem. Que sejas surpreendido por "parabéns" e "feliz aniversário" carinhosos, sinceros e alegres. Que a melancolia não te visite. Que te sintas em paz com os anos que ficaram para trás e entusiasmado com os que estão pela frente. Que os sonhos se renovem. Que a saúde seja plena. Que a prosperidade te acompanhe. Que o riso seja uma constante. Que visites novos lugares e vivas novas experiências. Que a vida te sorria, e que saibas sempre sorrir-lhe de volta, e dançar com a música que ela te tocar. Que a tua força e coragem sejam sempre maiores que os teus desafios. Que o amor seja o teu combustível, e a fé o teu abrigo. Que tenhas serenidade e felicidade.
Que as distâncias se encurtem, os encontros se proporcionem e os abraços se multipliquem.
Feliz aniversário, pai.terça-feira, 14 de março de 2023
73-365
Quando tocamos piano, há uma dualidade que nem sempre é fácil de gerir: um envolvimento e entrega absoluta a cada nota que se toca e, simultaneamente, uma certa distância e abstração do resultado daquilo que se está a fazer. Ou seja, o nosso estado de presença é imperativo, e é por isso que, num aparente paradoxo, precisamos da tal abstração: não podemos nem celebrar a nota que foi extremamente bem tocada e nem lamentar a nota que errámos. Em qualquer um dos casos, perdemos a concentração (presença), e arriscamos errar em seguida. Além disso, a nota que acabámos de tocar já não é passível de ser modificada. O nosso foco tem de ser sempre a nota seguinte, que é a única em que podemos agir.
No Bhagavad-gita, uma das escrituras sagradas do yoga - e um livro que, além de repleto de sabedoria, e um dos mais bonitos que já li - lê-se "Mas quem permanece sereno e imperturbável no meio do prazer e do sofrimento, somente esse é que atinge a imortalidade." O grande objetivo do yoga é, de facto, serenar as flutuações da mente - o que é alcançado pelo autoconhecimento (olhando para o mundo interior, aprendemos como funcionar melhor no mundo exterior). Isso significa que um dos grandes objetivos do yoga é o que se chama equanimidade da mente: uma mente equilibrada seja em que circunstância for (positiva ou negativa). Este é, precisamente, o distanciamento que temos de ter ao executar uma peça no piano: mantermo-nos estáveis independentemente de acertar ou errar, de alcançar a nossa melhor performance ou não. O nosso envolvimento e entrega não se afetam no momento da execução: a cada nota tocada, a nossa presença está ali, com ela, não no resultado que obtivemos dela. E é nesta dialética entre entrega e desapego que a música (e a vida) acontece(m).
segunda-feira, 13 de março de 2023
72-365
Hoje estava a estudar uma música no piano que já não tocava há um tempo. Esbarrei numa passagem rápida em que, nas primeiras tentativas, senti uma hesitação na dedilhação (que dedo toca em qual tecla). Toquei uma, duas vezes, naquela mesma velocidade rápida. Embora a passagem fluísse, literalmente, tocada em piloto automático, eu sentia uma insegurança. Então, resolvi tocá-la bem lenta. Todas as dúvidas e inseguranças vieram à tona. Na velocidade lenta, já não sabia o que vinha depois do quê! Olhei calmamente para a partitura, tirei todas as dúvidas em andamento lento, tentando perceber qual a origem de cada uma e, depois, na velocidade rápida, ganhei confiança novamente.
Isso fez-me refletir: quantas vezes na vida também seria essencial sair do "piloto automático", parar, desacelerar e, dessa forma, tentar entender como e porquê fazemos esse caminho automático? Quando desaceleramos, cada gesto se torna evidente, cada dúvida oculta se faz manifesta, cada intenção se revela. Então, desacelere. Permita-se um tempo para se observar, em andamento lento, para ganhar confiança na rapidez frenética e automática dia-a-dia.
domingo, 12 de março de 2023
71-365
* Recomendo, sobre este assunto, o documentário "quanto tempo o tempo tem" que está no catálogo do Netflix.
sábado, 11 de março de 2023
70-365
sexta-feira, 10 de março de 2023
69-365
No yoga fala-se muito da importância do desapego. Um dos sentidos em que esse conceito surge é na tomada de consciência de que o resultado das nossas ações está totalmente fora do nosso controle. Nós, enquanto seres humanos, temos uma constante necessidade de sentir que controlamos a nossa vida ou, pelo menos, uma boa parte dela. Mas a verdade é que a única coisa que controlamos é a nossa ação. Podemos, por exemplo, escolher jogar na loteria, mas se ganhamos ou não, não depende de nós. Podemos escolher tratar bem os outros, com respeito e gentileza, mas se somos ou não tratados da mesma forma pelos outros, não depende de nós. Podemos decidir sair de casa mais cedo, mas se chegamos a tempo ao compromisso depende de inúmeras premissas que não estão sob a nossa alçada. Podemos escolher prepararmo-nos o melhor possível para a apresentação/ a prova/ o julgamento, mas não é garantido que a nossa performance seja a melhor possível. O que está, sim, totalmente sob o nosso controle é a nossa ação, o que escolhemos fazer. Este conceito é profundamente libertador. Retira-nos das teias das expectativas e cobranças. As coisas são como são. Isto não significa que não podemos querer mais e melhor. Podemos e devemos dar passos nesse sentido, mas sabendo que o desfecho é imprevisível. O desapego é partícularmente importante quando tentamos ajudar alguém. Podemos dar o nosso melhor, dedicarmo-nos, mas se a outra pessoa melhora ou não, depende bem mais dela do que de qualquer coisa que possamos fazer. E é preciso desapego para aceitar que tudo o que fazemos pode não dar em nada. É preciso desapego para aceitar que, o que quer que seja que se concretize, será para o nosso melhor. É preciso desapego para não nos deixarmos enredar pelas histórias do passado e pelas ansiedades do futuro: o desapego apega-nos ao presente. E é exclusivamente aí que está o nosso controlo: nas nossas escolhas e ações, momento a momento.
O que Jesus faria (14)
Jesus poderia ter percorrido o seu caminho sozinho, a ensinar o máximo de pessoas possível. Mas ele elegeu doze apóstolos para o acompanhar. Mais do que isso: partilhou com eles os seus conhecimentos e instruiu-os a, posteriormente, dar continuidade ao seu trabalho. "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado." Para que conseguissem executar essa tarefa, Jesus muniu-os das ferramentas necessárias. A principal forma de ensinar foi pelo exemplo: Jesus viveu todas as lições que ensinou. "Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também." Mas Jesus também criou laços de afeto com os seus discípulos, e reconheceu a importância dessa conexão. "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." As nossas conexões com os outros são, de facto, essenciais. Como tão bem escreveu John Donne "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti." O ser humano tem a necessidade intrínseca de se sentir conectado com os outros. Jesus também sentiu esse ímpeto. Pregou amor, viveu-o, declarou-o (em palavras) e demonstrou-o (em gestos e ações). Sigamos o seu exemplo.
quinta-feira, 9 de março de 2023
68-365
O que Jesus faria (13)
Eu sempre interpretei os milagres de Jesus descritos na Bíblia como metáforas ou outra figura de estilo. Não me parecia que fosse para ser interpretado de forma literal. Como assim, multiplicar pães, transformar água em vinho, curar enfermidades só com um simples toque, ressuscitar pessoas da morte, andar sobre as águas? Mas quando lemos livros de Joe Dispenza, Gregg Braden, Wim Hof, Yogananda, lemos relatos e relatos do que pode ser, igualmente, designado "milagre". Na bibliografia do yoga, por exemplo, há inúmeros relatos de "milagres". Os milagres de Jesus não são os únicos documentados na história da humanidade. Poderão argumentar: "Ah, mas quem garante que tudo isso aconteceu?" Ninguém. Há vários documentários, livros que contém relatos de pessoas que, por exemplo, se curaram de doenças, supostamente, incuráveis. Histórias semelhantes, métodos idênticos. Será mera coincidência? Podemos perguntar: quem garante que não é mentira? E eu pergunto: quem garante que não é verdade? Jesus, em várias ocasiões, ao curar os outros, afirmava "a tua fé te curou". Não se vangloriava do seu feito. Disse "aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai." Jesus incentivou-nos a acreditar em nós mesmos, no nosso incrível, imenso, incalculável potencial. Então, o que Jesus faria? Exatamente o que fez: curaria todos os que tivessem fé e incentivaria todos os que têm fé a curar-se.
quarta-feira, 8 de março de 2023
67-365
Estava a estudar piano e dei comigo a pensar: antes de começar a tocar qualquer música, todos nos concentramos alguns segundos. Cada um terá as suas estratégias: podemos ouvir ou cantar interiormente o começo da música, respirar fundo, pensar em algum aspecto específico que exija a nossa atenção naquela obra ou, particularmente, no começo dela. Mas a minha reflexão foi ao que acontece após esses breves momentos: como e de onde surge a decisão de começar a tocar? Talvez pareça descabido, mas reparem. Claro que sou eu que decido colocar as mãos no piano e começar a tocar. Mas por quê naquele exato segundo? O que me impele a isso? Por quê nesse segundo e não no anterior ou no seguinte? Que parte de mim, qual a força interior que me diz "é agora!" (Não que eu pense literalmente essas palavras, mas executo-as, de facto.) E, então lembrei-me de um documentário fantástico que vi há tempos atrás. "Genius", com o Stephen Hawking. Em um dos episódios, falou-se da questão do livre-arbítrio, e foi realizada uma experiência (idealizada, anos antes, pelo psicólogo Benjamin Libet). Os participantes tinham a sua atividade elétrica cerebral acompanhada enquanto tinham uma tarefa simples para cumprir: apertar um botão quando quisessem enquanto olhavam para um relógio projetado na torre que estava à frente deles. O ponteiro do relógio girava, girava e, quando lhes apetecia, carregavam no botão e surgiam fogos de artifício. No final da experiência, observando a atividade cerebral, concluiu-se que a atividade elétrica começa a subir em direção ao pico (o momento em que o botão é apertado) cerca de 2 segundos antes. Isso significa que, meio segundo antes de realmente iniciar a atividade motora de mexer o dedo (pico), o cérebro já está envolvido na decisão propriamente dita. Ou seja, há uma parte do nosso inconsciente que, um segundo antes, inicia a atividade cerebral que precede e determina a escolha consciente. Comecei a pensar como era quando fazia ginástica artística: em qual momento eu decidia que ia correr para o salto de cavalo, ou começar nas paralelas ou, mais delicado ainda, realizar algum movimento na trave? Há os momentos de concentração imprescindíveis (tal como antes de tocar piano), mas há, indubitavelmente, uma espécie de força interna que nos move na direção daquele desafio num momento específico. Alguma coisa em nós já sabe quando é a hora certa. E essa certeza antecede qualquer pensamento que seja. Então, quanto das nossas decisões conscientes é determinado pelo nosso inconsciente? A este respeito, diga-se que temos, por dia cerca de 70000 pensamentos, e desses milhares de pensamentos, cerca de 90% são idênticos aos do dia anterior, correm de forma automática, ou seja, inconsciente. Isto significa que, em cerca de 90% do nosso dia, estamos a operar de forma inconsciente. E, nesta dança de consciente e inconsciente, vamos equilibrando e exercendo a nossa Vontade.
terça-feira, 7 de março de 2023
66-365
O que Jesus faria (12)
"Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?" Jesus disse-lhes: "Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente." Nesta afirmação, chama-me a atenção Jesus distinguir "coração", "alma" e "mente". Na sabedoria antiga do yoga, já se falava de várias "camadas" do nosso Ser. Em traços muito genéricos, distingue--se o nosso corpo físico, denso (associado às sensações), a nossa energia vital (associada às emoções), a mente e intelecto (associadas a raciocínio, valores morais, intenções, decisões) e a nossa alma (a nossa essência pura, eterna). Ao distinguir coração, alma e mente, Jesus parece querer chamar a atenção, precisamente, para esses diferentes componentes do nosso Ser: emoções, valores e intenções, raciocínio e tomada de decisões. Em outras palavras: o nosso amor a Deus deve estar nos nossos pensamentos, emoções e acções. Aquilo que pensamos, sentimos e fazemos tem de estar alinhado. E, se amarmos assim a Deus, sentiremos que somos parte de um Todo e, como parte do Todo, agiremos com respeito e afeto com todas as formas de Vida, porque todas são, igualmente, parte de Deus.
segunda-feira, 6 de março de 2023
65-365
O que Jesus faria (11)
Ontem escrevi sobre a Regra de Ouro "faz aos outros o que gostarias que te fizessem." Muito relacionado com esta Lei, está uma outra afirmação de Jesus "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." Desejamos o melhor a quem amamos, queremos ser a nossa melhor versão para quem amamos. Embora, claro, nem sempre seja possível - pelo caminho, inadvertidamente, cometemos erros -, queremos fazer o bem a quem amamos. Mas Jesus coloca uma condição muito interessante aqui: ame aos outros como se ama a si mesmo. Isto significa que é primordial que tenhamos amor-próprio. Há tempos atrás vi um vídeo de Jay Shetty muito elucidativo sobre isto. Nesse vídeo, era pedido a algumas jovens que escrevessem numa folha frases que, normalmente, dizem a si mesmas quando a auto-estima falha. Escreveram frases como "tu não és boa o suficiente", "tu és a irmã feia", "tu não és suficientemente inteligente para entrar naquela faculdade". Depois, as irmãs juntavam-se às jovens, e elas deveriam ler as frases que tinham acabado de escrever sobre si mesmas às irmãs, como se tivessem sido escritas direcionado a elas. Ninguém conseguiu fazê-lo, justificando que eram frases muito duras, muito pesadas para se dizer a alguém. No entanto, qual de nós não tem uma vozinha interior que, de vez em quando, martela absurdos nas nossas mentes? Qual de nós teria coragem de direcionar alguma dessas frases que, constantemente, repetimos a nós mesmos a uma pessoa que ama? E, ainda olhando por outro prisma: alguém que não tenha auto-estima, que alimente pensamentos destrutivos em relação a si mesmo, que se maltrate e rebaixe em pensamentos, que energia terá para ser gentil e amoroso com o outro? Se não nos amamos a nós mesmos, como podemos amar o outro ou, muito menos, esperar que nos ame? Então, podemos dizer que a Regra de Ouro também tem que aplicar-se a nós mesmos: faça a si mesmo o que gostaria que lhe fizessem. Seja gentil, respeitoso, incentive-se e celebre-se a si mesmo. Nutra-se de amor-próprio e, dessa forma, cria espaço para amar os outros como a si mesmo.
Assista o vídeo do Jay Shetty aqui:
https://fb.watch/j5SZdTZvdA/
domingo, 5 de março de 2023
64-365
O que Jesus faria (10)
Todos os mandamentos e ensinamentos poderiam ser reduzidos à máxima: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Esta chamada Regra de Ouro não é original de Jesus, embora seja basilar nos seus ensinamentos. Na tradição védica, encontramos no Mahabharata "Esta é a suma do dever: não faças aos outros aquilo que se a ti for feito, te causará dor." Nas palavras de Confúcio "O que não queiras que os outros façam a ti, não o faças aos outros." É interessante que, na abordagem de Jesus, a formulação é feita pela positiva: o que queremos que nos façam, façamos também. Se queremos amor, damos amor. Se queremos paz, damos paz. Se queremos respeito, damos respeito. Se queremos verdade, cultivamos verdade. Se queremos perdão aos nossos erros e falhas, damos perdão. Se queremos compreensão e acolhimento quando nos sentimos desorientados, acolhemos os outros também. E a grande questão aqui é que a nossa atitude deve ser totalmente independente da atitude dos outros. O que os outros escolhem ser e fazer, é opção deles. O que cada um de nós escolhe ser, é uma decisão nossa. Não é uma resposta à atitude do outro, não é uma reacção, não é uma espécie de troca, é uma acção consciente. "Pois, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? (...) E, se saudais unicamente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário?" "Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente."
Em momentos de dúvida, pense: o que Jesus faria? Ele foi um excelente professor, que viveu as lições que ensinou. Um Mestre. Sem quaisquer cobranças ou expectativas, Jesus sempre foi para os outros o que gostaria que fossem para si. Sejamos nós também, e o mundo, certamente, será um lugar melhor para se viver.
sábado, 4 de março de 2023
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O que Jesus faria (9)
sexta-feira, 3 de março de 2023
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O que Jesus faria (8)
quinta-feira, 2 de março de 2023
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Ontem encontrámos na rua um vizinho de mais idade que é muito simpático. Viúvo, vive sozinho e gosta de conversar. Enquanto caminhávamos, conversámos um pouco. A dada altura, comentou que foi casado cerca de 40 anos, que sente falta da esposa. Mas que "é a vida". E acrescentou a frase que mais guardei "o ruim não é a gente ficar velho, o ruim é tudo o que a gente vai perdendo pelo caminho." Aquela frase fez-me pensar...Envelhecer implica perdas, sim. Perda de saúde, de vigor, perda de pessoas e coisas amadas. Sem dúvida, ao envelhecer, temos de aprender a lidar com perdas. Mas envelhecer também nos acrescenta: experiências, maturidade, sabedoria. Se soubermos usar as nossas experiências a nosso favor, a idade traz-nos novas formas de encarar as coisas, melhora a nossa capacidade de gerir os conflitos e as dificuldades, e pode trazer-nos algo inestimável: a coragem de sermos nós mesmos e a felicidade de nos sentirmos confortáveis e realizados nesse lugar. Envelhecer pode proporcionar-nos a mais valiosa das qualidades: paz de espírito. E, com ela, tudo fica mais fácil de encarar e superar.
O que Jesus faria (7)
A lei da atracção ficou amplamente conhecida depois do documentário "O Segredo". Muito se falou e continua a falar-se sobre manifestação, sobre como criar a vida que se deseja. Sobre esse assunto, eu adoro alguns autores como Gregg Braden, Joe Dispenza, Vishen Lahkiani, Michael Beckwith ou Marisa Peer. O que muitas pessoas não sabem ou não se apercebem é que Jesus também nos falou da Lei da Atracção, há mais de 2000 anos atrás! "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre." O que é isto se não a Lei da Atracção? Mas Jesus fala-nos da nossa responsabilidade sobre a nossa vida. Diz-nos que a iniciativa é nossa: peça, busque, bata! Reclame o que deseja e, então, o alcançará! Noutra passagem, no Evangelho de São Marcos, encontramos palavras semelhantes: "Tende fé em Deus, porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito. Por isso, vos digo que tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Vale referir que, no Evangelho de São Tomé, que pertence aos achados da biblioteca de Nagg Hammadi, há uma passagem que trata do mesmo assunto trazendo uma nuance importante: "Em verdade eu vos digo, todas as coisas que você pedir diretamente e imediatamente de dentro do meu nome, lhe serão dadas. Até agora você não fez isso. Peça sem motivo oculto e seja cercado pela sua resposta. Seja envolvido pelo que você deseja e sua alegria seja plena. "Este detalhe que faz toda a diferença: "seja cercado pela sua resposta", "Seja envolvido pelo que você deseja". Tal como é falado na moderna e em voga Lei da Atracção, não é apenas o pensamento que nos ajuda a manifestar o que queremos, mas sim o criar um sentimento positivo e vívido a respeito da nossa intenção. Não só acreditar mas sentir como se já se tivesse realizado o que se deseja. Ainda nesse Evangelho lê-se "Jesus disse que se dois fizerem as pazes um com o outro nesta casa, eles dirão ao monte 'se afaste ' e então o monte se afastará." Ou seja, quando pensamento e sentimento estiverem em concordância, a nossa vontade torna-se tão inabalável que até o monte se afastará perante ela!