sexta-feira, 15 de março de 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

Coisas que me fizeram parar

Rua Groenlândia - Escola Panamericana


Passo todas as semanas por este edifício. Sempre reparei nele. Sempre gostei. Na semana passada, parou-me, principalmente, o reflexo das nuvens e dos ramos das árvores. Beleza pura.

Pensamentos soltos

Começo.
Um ato de amor.
E no princípio foi assim: aguardar. Nove meses. Mais coisa menos coisa. E de novo aguardar. A ansiosa espera para ver o rosto do bebé. As horas, os intermináveis minutos  que antecedem a notícia da chegada ao Mundo. As preces para que tudo corra bem, para que o bebé venha com saúde e serenidade. Nesse momento, o do começo, nasce também o amor. Outro. Novo. Arrebatador. Eterno. No começo, é inundado de amor que se espera e que se chega.

Meio.
Uma vida de amor. Porque, no final das contas, é isso que nos move. Amor filial, maternal, paternal, fraternal. Amor-amizade, amor-paixão, amor de alma, amor à profissão ou a qualquer causa. Amor. O que mais nos torna humanos. Planta-se uma semente de amor aqui, outra ali, outra acolá e, com sorte, colhem-se os frutos. Quanto mais se planta, mais hipótese de se ter boas colheitas.

Fim.
Quando o ciclo se fecha sem ser repentina e inesperadamente, é como no começo: aguardar. A longa, angustiante e dolorosa espera. Como no começo: a fragilidade do corpo. Como no começo, as preces para que tudo seja pelo melhor. No fim, é inundado de amor que se espera e que se vai.

Novo(s) começo(s). E o amor - sempre ele- perdura.





São Paulo, 18 de Fevereiro de 2013

Hoje o dia foi assim


De manhã, azul...






À tarde cinzento...



domingo, 3 de março de 2013

Eu e a chuva de (Verão de) São Paulo



Durante anos conheci dias de chuva frios em que tudo o que mais apetecia era ficar em casa, a estudar horas de piano e depois ficar enrolada numa manta quentinha na sala, com o aquecimento ligado, a ver qualquer baboseira na televisão ou a ouvir boa música acompanhada de um bom livro. De manhã custava a sair debaixo do peso dos cobertores e enfrentar a chuva e o frio. Friso o "e". Para mim, uma coisa sempre esteve associada à outra. Era raro o dia de chuva sem frio. Pelo contrário, era possível dias de um tremendo frio e sol aberto, dia bonito. No último ano os meus conceitos mudaram. Convivo, agora, com as chuvas de verão. Época do ano que sempre associei a calor. Ponto final. Apenas calor, e mais calor. Sol durante o dia e noites agradáveis ou mesmo insuportavelmente quentes. Agora o verão é temperado por chuvas quase diárias. O calor é uma incógnita: em alguns dias roça o desagradável, enquanto noutros nem vê-lo. Chegam a parecer dias de outono - verdade seja dita que, no inverno, alguns dias parecem verão. É uma roleta russa, em que a sorte muda com o passar das horas de um só dia. A chuva, essa, é uma fiel companheira. Pode falhar um dia ou outro, mas logo reaparece, logo se faz presente. E quando digo chuva, meus amigos, não é a chuva que conheci durante anos. Até ao ano passado, eu não sabia o que era "chover muito." Nenhum lisboeta nascido e criado pode afirmar que viu "chover muito". Só aqui em São Paulo eu presenciei uma chuva realmente digna dessa expressão. Aliás, eu aqui entendi o que os gauleses queriam dizer com o famoso "medo que o céu lhes caísse na cabeça." Sim, aqui há dias em que parece que o céu simplesmente vai desabar. A chuva cai vertical, grossa e poderosa como se de uma parede se tratasse. Não foi à toa que, em dada ocasião, após darmos meia dúzia de passos à chuva, o meu filho disse, com alguma aflição na voz, "estou cheio de chuva!" Escassos segundos são o suficiente para se ficar totalmente encharcado. Mesmo. De pingar, escorrer e torcer roupa. Foi assim nos últimos dias. Felizmente tem sido a típica chuva de verão: a que cai no final do dia. Uma pancada forte que, assim como chega, vai. Bem melhor do que aquela chuva chata que persiste, dia após dia, e deixa a estação estival totalmente impraticável para seja o que for. Normalmente o vento anuncia a chuva. Até o meu filho já aprendeu a dizer "é vento de chuva. o vento vai empurrar as nuvens e elas vão fazer chuva." Em poucos minutos o céu fica encoberto e o dia fica cinzento. E lá vem ela! Apanhou-me duas vezes na última semana. Na primeira não sabia se ria se chorava. Caminhava já na rua onde vivo, e a chuva começou a ficar muito forte. Mas muito forte mesmo. O meu chapéu de chuva pareceu-me, subitamente, minúsculo. A chuva vinha de encontro às minhas pernas sem dó nem piedade. Se tentava protege-las um pouco melhor, os braços tornavam-se um alvo fácil. Não tardou a que a água escorresse pela rua qual rio de correnteza forte, e pequenas piscinas começaram a formar-se aqui e ali. Apesar de ter optado, nesse momento, por seguir pela estrada, os meus pés ficaram encharcados. Perdida por cem, perdida por mil. O trajeto tornou-se mais fácil: já que os pés já não tinham salvação, podia seguir mais indiscriminadamente pelas poças da rua. Caminhava tão rápido quanto conseguia. Foi então que, no final do meu atribulado percurso, me deparo com um rapaz adolescente ou pré-adolescente. Na sua bicicleta, totalmente encharcado da  cabeça aos pés, lá ia ele exibindo toda a sua coragem e masculinidade. Os amigos, abrigados à porta de um prédio, riam e iam gritando frases que eu não entendia. Provavelmente a desafiá-lo. Ele respondia à altura - não sei se do desafio ou da parvoíce dos outros. Desenhava um percurso oval que passava à frente dos amigos. Queixo erguido, peito para fora. Orgulhoso do seu acto. Sorri. Eu numa tentativa desesperada para me abrigar, e o rapaz na maior exposição que conseguia. São os cerca de 20 anos que nos separam.
Na segunda chuvada da semana, corri o mais que pude até à paragem do autocarro - leia-se aqui "ponto do ônibus" -, já que apenas chuviscava. Pensei que se fosse rápida e tivesse sorte, entrava no autocarro antes de o dilúvio começar. Engano meu. Foi parar ao lado de todos os outros que aguardavam o transporte para a tempestade começar. A sério. Foi uma questão de um minuto. Todos enterrados o mais que podíamos nos nossos chapéus, procurávamos o melhor ângulo para evitar a chuva que nos atacava por todos os lados, mercê do forte vento que se fazia sentir, e rezávamos para o número certo aparecer na placa do autocarro. E nada. Todos menos o que interessava. Por ali, nenhum café, nenhum fosse o que fosse que nos pudesse servir de abrigo. E a chuva só piorava. Até que enfim chega um número que serve!.. Eu e meia dúzia precipitamo-nos para a porta. Raios, temos de fechar os chapéus para poder entrar! Tentamos executar essa tarefa de entrar e fechar o chapéu ao mesmo da forma mais eficaz possível. Malditos segundos que nos separam da porta. Já dentro do autocarro, sorrimos. Estamos encharcados, mas finalmente a salvo de ficar ainda pior. O autocarro está vazio. Escolho um lugar para me sentar. Diabos me levem: até dentro do autocarro chove! Um senhor certifica-se que o teto de abrir está bem fechado. Está. É defeito de vedação, diz ele. Mudo para o lugar próximo da janela. Também escorre água. Mudo de lugar e, finalmente, livro-me da chuva. O trânsito, claro, está caótico. Tudo bem, o pior já passou. Quando chegar ao destino, a chuva já vai ter passado e vou até casa sem mais sobressaltos. Fico apenas a observá-la pela janela. As gotas de água embatem com violência no vidro e, como numa dança, serpenteiam até desaparecer da nossa visão. Algumas demoram-se um pouco até começar a descida. Outras seguem apressadas num slalom desenfreado por entre as gotas que, preguiçosamente, se vão deixando ficar. No chão, caem em ritmo acelerado e bem coordenado, como se obedecessem às indicações de um maestro. A completar a sinfonia, surgem descompassados, imprevisíveis e sonoros, os raios e trovões - não há chuva que se preze em São Paulo que não tenha o seu acompanhamento. E essa é a melhor parte. Fora os sustos do estrondo, o espetáculo visual é fascinante. E assim é o bailado da chuva de verão de São Paulo.