sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Eu e os votos para 2023


 No Ano Novo, é comum discorrermos uma lista infindável de votos: alegria, paz, prosperidade, amor, realizações. Cada primeiro dia do ano parece conter em si a promessa de que tudo de mal que tinha para acontecer ficou no ano que passou, porque daqui para a frente são só coisas boas!

Mas sabemos que isso não é possível. Todos os anos têm coisas boas e menos boas. A vida é feita de uma dualidade constante e inevitável. A vida é, eternamente, mutável. Já diz o ditado popular "não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe".

Por isso, este ano, numa perspetiva mais realista do que vão ser os próximos 365 dias, eu quero desejar muita alegria e prosperidade, mas também muita resiliência para enfrentarmos os dias mais difíceis. Quero desejar amor e amizade, mas também que aprendamos a curtir a nossa própria companhia e a ser felizes nela. Quero desejar mais vitórias do que derrotas, muitas realizações, mas também coragem para nos reerguermos nas derrotas, que façamos delas degraus para chegar onde queremos. Quero desejar paz, mas também sabedoria e tolerância para gerir os conflitos. Quero desejar viagens e experiências, mas também que nos aventuremos a viajar para dentro de nós mesmos. Quero desejar muitos sorrisos e gargalhadas, mas também que não tenhamos vergonha de chorar as nossas lágrimas e que tenhamos quem nos ajude a secá-las. Quero desejar que encontremos o que procuramos, mas também que descubramos coisas novas que nos movam, e que estejamos abertos para que a vida nos surpreenda. Quero desejar que possamos construir coisas novas, mas também que tenhamos persistência para manter e recuperar as antigas. Quero desejar saúde, mas também que curemos as nossas feridas. Quero desejar sorte, mas também que os reveses não nos derrubem, que nada nos tire do nosso centro. Quero desejar um ano tranquilo, mas também que as dores que possam surgir não se transformem em sofrimento mas sim em crescimento e aprendizagem. Quero desejar festas, fogos de artifício, mas também que saibamos ouvir e usufruir do Silêncio. Quero desejar que o ano seja tudo o que sonhamos, mas também que tenhamos a força e a maturidade para lidar com o que não previmos. Quero desejar que tenhamos as coisas que desejamos, mas também que saibamos aceitar aquilo que não vier até nós - afinal, há males que vêm por bem. Quero desejar que, daqui a um ano, possamos sentir-nos gratos por tudo o que foi, por tudo o que deixou de ser, e por tudo o que não chegou a ser, pois tudo terá feito de nós a pessoa que seremos daqui a um ano. Quero desejar que tenhamos esperança e Fé, que saibamos deixar-nos guiar por uma Força Maior, mas também que tenhamos ação, que nunca nos faltem forças para lutar, para fazer o trabalho duro de cada dia. Quero desejar que conquistemos as nossas metas, mas também que possamos usufruir do caminho até lá chegar. Que sejamos felizes mesmo quando nos faltarem razões para isso, e sejamos serenos mesmo no meio de um furacão. Que as nossas perdas não nos quebrem, mas nos abram a novas possibilidades. Que não nos falte nada, e sejamos tudo. Sim, acima de tudo, quero desejar que, neste ano, sejamos tudo aquilo que podemos Ser, que sejamos a melhor versão de nós mesmos, com todas as nossas qualidades e defeitos, que sejamos realmente quem nascemos para ser neste Mundo!
Que 2023 seja um ano memorável: o ano em que fizemos mais e fomos melhores (do que nós mesmos em qualquer ano até aqui).
Um 2023 pleno.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Eu e a postura invertida sobre os antebraços

 


Nos últimos meses, pratiquei, com regularidade, a postura Pincha Mayurasana (invertida sobre os antebraços). Passados estes meses, senti, finalmente, progressos: consigo montar a postura e sentir-me estável e confortável. A definição de āsana dada por Pantanjali no texto clássico do Yoga "Yogasūtras" é, precisamente, "sthira sukham asanam”, isto é, “a postura deve ser firme e confortável”.

No caminho que percorri com este āsana, além da aprendizagem da postura em si, ficam outras lições que partilho aqui:

1) Não desista de um desafio só porque, no primeiro momento, lhe parece impossível.

No primeiro dia em que tentei montar a postura, senti que era totalmente impossível para o meu corpo chegar àquela posição. Não tinha força nos braços, muito menos no abdomen, por isso, nem de perto, nem de longe, conseguia sequer elevar as pernas, quanto mais permanecer lá em cima. Literalmente pensei "Im-pos-sí-vel!" Mas fui trabalhando, a pouco e pouco, naquilo que me era possível: exercícios preparatórios e, lenta e gradualmente, fui fazendo progressos.

2) Um desafio que nos parece impossível pode ser dividido em pequenas tarefas possíveis.

Por vezes, o desafio que temos pela frente é, realmente, impossível de ser alcançado num primeiro momento. Mas, seja qual for o desafio, podemos dividi-lo em pequenas etapas para o atingir. Ninguém nasce pronto para correr uma maratona, por exemplo. Mas todos podemos começar a correr poucos metros por dia, melhorar a condição física e, quem sabe, atingir as tais dezenas de quilómetros de corrida por dia passado algum tempo e prática. Analise o seu desafio e veja que passos são possíveis HOJE: escrever a primeira linha, fazer os primeiros abdominais, ler as primeiras páginas, cortar um alimento da dieta, juntar uma pequena quantia de dinheiro por dia... Seja o que for: comece pelo que é possível. Há sempre algum passo possível. Dê o primeiro passo.

3) Para conquistar o desafio, conquiste as tarefas possíveis, que podem, na prática, ter poucas semelhanças com o resultado final.

As minhas tarefas possíveis eram exercícios preparatórios e exercícios de fortalecimento. Pouco ou nada se pareciam com a postura e, embora possíveis, nem todas eram fáceis ou mesmo agradáveis...A verdade é que, sem vencer essas etapas, não se conquista o desafio. Ele é construído em cima dessas tarefas não só possíveis mas necessárias, por mais desinteressantes que possam parecer. Apenas conquistamos o desafio se estivermos dispostos a trabalhar, dia a dia, nessas pequenas ações que podem ser exigentes e menos atrativas (como repetir escalas, arpejos e outros exercícios técnicos diariamente no instrumento musical, por exemplo).

4) Para progredir, é preciso ter uma ação persistente e regular.

Não adianta ter um plano, saber tudo sobre a teoria, ver todos os tutoriais e não agir. Qualquer desafio exige de nós uma ação persistente e constante. O progresso não se constrói investindo muito tempo e energia um dia de vez em quando, mas sim, investindo o tempo possível com a máxima regularidade.

5) Sem perder de vista o objetivo final, celebre as pequenas vitórias.

Vencer as tarefas possíveis não só vai estruturando o desafio, dando-lhe forma, materializando-o, mas é também aquilo de que precisamos para ganhar confiança para seguir em frente. Cada tarefa possível, é um passo na direção do nosso objetivo e deve ser celebrado.

6) Todos os desafios envolvem vencer medos.

Sim, pelo meio do caminho há sempre medos a vencer. Também há momentos de desconfiança se, realmente, vamos ser capazes. Só atingimos um desafio se formos capazes de superar cada hesitação no caminho. No caso do meu desafio, é óbvio que eu tinha medo de cair. Se esse medo me paralisasse, eu não teria continuado. Também tive as minhas dúvidas se estaria ao meu alcance conseguir fazer a postura. Ao invés de desistir, eu aceitei que poderia cair algumas vezes, minimizei os riscos fortalecendo-me e praticando no lugar mais seguro possível, e acreditei que, mais cedo ou mais tarde, iria conseguir progressos.

7) Cair e errar são etapas necessárias no caminho.

Sim, caí algumas vezes. Não, nunca me magoei. Mas as quedas que tive, mostraram-me fragilidades, mostraram-me caminhos que tinha de percorrer ainda, mostraram-me erros e ajustes que tinha de corrigir. Os meus erros foram parte do processo para que eu percebesse como acertar. Algumas vezes, faltou-me impulso para chegar à posição de equilíbrio. Outras vezes, tive impulso a mais e não fui capaz de sustentar a postura. Excesso de força, tira-nos do equilíbrio, falta de força não nos tira do mesmo lugar. Entre um e outro erro, encontrei o meu acerto.

8) Conseguir uma vez, não significa ter vencido: os desafios renovam-se.

A sensação de ter conseguido, finalmente, montar a postura, foi muito boa. Uma coisa que me era totalmente impossível no primeiro momento, tornou-se, pelo meu esforço e disciplina, possível. Isso deu-me um sentido de satisfação de ter ultrapassado os meus limites iniciais, de não me ter conformado com eles. O meu corpo respondeu ao desafio, adaptou-se, instruiu-se naquela aprendizagem. Mas depois de conseguir uma vez, demorou um pouco a conseguir uma segunda vez. O desafio continuava: conseguir mais vezes do que aquelas em que errava. E depois de conseguir mais vezes do que as que errava, comecei a conseguir manter-me, finalmente, por mais tempo estável na postura. Então, sim, estável e confortável na postura de equilíbrio, considerei que estava a vencer o desafio. Continuo a desafiar-me: manter-me o maior tempo possível confortável na postura, conseguir montar e desmontar a postura com menos esforço, conseguir transitar dessa postura para outra, ou chegar a ela vinda de uma primeira.

9) A postura é a porta de entrada para o Agora

A coisa que mais me atrai no yoga (e também na música, na ginástica, em todas as atividades que realmente me movem ou moveram na vida) é, além da sua beleza e do facto de eu gostar de conhecer e ultrapassar os limites do meu corpo e mente, o facto de que essas atividades exigem de mim foco total, e isso é a porta de entrada para o Agora, para este único, mágico e irrepetível momento que vivemos a cada segundo. Não há forma de me manter em equilíbrio na postura se o meu foco não estiver totalmente no meu corpo, se a minha mente não estiver totalmente entregue ao que o meu corpo está a fazer. Se os pensamentos se dispersam, se a respiração sai do controle, o corpo desmobiliza-se. E que prazer manter o equilíbrio ali, segura, com observação na respiração e a mente alinhada! Que prazer não sentir qualquer tipo de estímulo exterior ou dispersão interior. Só a respiração, só o Aqui e o Agora. Isso...é yoga.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Eu e "On Yoga: Arquitetura da Paz"


 Não sei precisar em que ano vi, pela primeira vez, o documentário " On Yoga: Arquitetura da Paz", mas sei que, desde que o vi pela primeira vez, não passo um ano sem o rever, pelo menos, uma vez.

Neste documentário, Michael O'Neill, fotógrafo renomado, fala da sua trajetória no yoga e do trabalho que desenvolveu, durante vários anos, a fotografar grandes mestres do yoga.
Tudo neste documentário é absolutamente fascinante: as fotografias de Michael O'Neill, as entrevistas e a temática abordada, a música e a forma coreografada como os movimentos do yoga se combinam com ela. Tudo harmonioso, equilibrado, fluido, belo, profundamente belo. Emocionante, envolvente. Cada vez que revejo o documentário, encanto-me novamente com as imagens, inspiro-me pelas palavras, descubro novos detalhes, novos significados, entendo um pouco mais. O documentário não nos mostra apenas a beleza das posturas físicas do Yoga, mas introduz-nos em conceitos do Yoga como filosofia de vida, espiritualidade, com os seus valores básicos e, acima de tudo, como uma resposta ao problema fundamental do ser humano: como se sentir feliz e completo? Ou, mais fundamental ainda: quem sou eu? Ao responder a essa pergunta basilar, todas as outras se encaixam como um puzzle. Yoga trata dessa busca por si mesmo, em si mesmo. "On Yoga: Arquitetura da Paz" além de um espetáculo visual de uma beleza ímpar, é um convite à pausa e à reflexão, um convite a uma desconstrução da forma como olhamos para o mundo que abre caminho a uma construção na forma como olhamos para nós. E, então, de dentro para fora, surge a arquitetura da paz (interior).

Eu e a Arte

 Quantas vezes ouvimos artistas ou desportistas dizer "nasci para fazer isto, é parte de quem eu sou"?

Eu mesma, na infância, sempre senti que a ginástica artística era parte de mim. Até...desistir da ginástica. E, então, ficou um vazio. Depois a música ocupou todos os vazios, todos os espaços. E, então, fiquei sem piano em casa por alguns anos, e senti-me perdida. Quem era eu sem aquele instrumento? Quem era eu sem a música? Como encontrar uma expressão de mim mesma que não fosse através da música? Mais ainda: como aceder a essa parte de mim que se expressa através da música? O facto de me ter afastado por algum tempo de estudar piano, revelou-se uma oportunidade para perceber que eu não sou mais nem menos com a música. Quem eu sou, em essência, não é dependente de nenhuma coisa, circunstância ou pessoa. Quem somos, em essência, não é uma colcha de retalhos, ou uma receita em que juntamos um pouco de estado civil, com um tanto de profissão, outro quê de gostos e aversões, uma pitada de género e ainda qualidades e defeitos a gosto e um pouco de status social e tantas coisas mais a que, habitualmente, recorremos para nos definir. Esses aspectos, sim, são voláteis, mutáveis, podem ou não estar na nossa vida em determinado momento. Quando nos definimos através deles, a ausência deles cria a sensação de falta, vazio, até dor. Enquanto me identificava com a música a ponto de sentir que era parte de mim, a sua ausência era como uma ferida que se abria. Mas como disse Rumi " a ferida é o lugar por onde a luz entra". Na ausência daquilo que, normalmente, usamos para nos definir, surge a oportunidade de ir mais fundo na questão: quem sou eu? Quem somos nós por trás e além daquilo com que funcionamos e nos apresentamos no mundo? Quem somos nós sem rótulo algum? Quem somos nós quando não estamos preocupados com o que somos ou deveríamos ser? E, então, percebi: a arte não "tapa os nossos buracos" - não nos dá uma identidade, não substitui algo que achamos que nos falta - ela permite-nos aceder ao Ser completo que já somos. Como aquele espelho mágico da Bela e o Monstro: mostra-nos uma outra realidade de nós mesmos, aquela que é, na verdade, a nossa realidade última, imutável, eterna, Una. A Arte, o Amor, o Yoga, qualquer atividade que fazemos de forma inteira, com absoluta entrega, devoção, funciona como uma ponte para nós mesmos. A Arte não é parte de nós. A Arte é uma forma de chegar até nós. Ao fazer arte, ao contemplar arte (ou a arte da Natureza), em qualquer atividade em que se envolva, confie nas sensações que ela lhe suscita, confie nas rachaduras que vão aparecendo e adentre nelas, pois é aquilo que de mais essencial há em si a manifestar-se. A Arte não é parte de nós. A Arte expressa o que de mais essencial existe em nós. Não é a sua fonte de origem, apenas o espelho que a reflete. Com ou sem espelho, o que existe, sempre existirá. A Arte mostra-nos tudo o que já estava aqui dentro. A Arte não é parte de nós: nós somos inteiros na Arte. É essa a magia: num mundo fraturado, numa existência tão fragmentada, de tantos estímulos, dualidades, na Arte, encontramo-nos inteiros, completos.

Confie no que a Arte lhe mostrar, as luzes e sombras, o êxtase e a dor, abrace-os: nós somos tudo isso e, principalmente, o que está além disso. Navegue, com confiança, por entre todas as sensações e pode ser que, por vislumbres que sejam, ouse mergulhar fundo em si mesmo e, por mais despedaçado que se sinta, é aí, nesse lugar único, nessa imensa sala de espelhos, que pode, finalmente, encontrar-se, uno, como sempre foi e será. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Eu e as comodidades do século XXI

 Desde pequena que gosto de ouvir música. Em criança/adolescente, todas as noites programava a minha aparelhagem para se desligar em 20/30m e adormecia a ouvir música. A minha aparelhagem dava para ouvir rádio, cassete e CD, o que, na época, já era uma grande evolução - os meus pais, por exemplo, ouviam música em vinil. Mais tarde, tive um walkman, que me permitia ouvir rádio e cassete em qualquer lugar. Era o nosso sonho de consumo nos anos 90. Naquela época, a melhor hipótese de ter uma música que queríamos sempre disponível para ouvir sem comprar o CD, era deixar uma cassete pronta para gravar e ficar atento à transmissão de rádio. No momento em que a música era anunciada, ou em que começava aleatoriamente a tocar, era só apertar rapidamente o botão REC e lá ficaria a música guardada, sempre com resquícios de falas de locutores ou vinhetas de estação de rádio. Eu tinha algumas cassetes gravadas assim que eram verdadeiras relíquias para mim! Nessas cassetes, também gravava do CD para a cassete e construía o que se chamaria hoje de playlists. Sabia de cor o alinhamento das músicas. Até sabia que música do lado A correspondia a que música do lado B, o que me permitia trocar o lado da cassete em momentos oportunos. Mais tarde, no carro, eu e o meu irmão fazíamos a festa com essas cassetes cheias de êxitos que adoravamos!

Quando recebíamos um CD novo, na melhor das hipóteses, conhecíamos 2 ou 3 músicas do CD. (Poderíamos ter o azar de gastar dinheiro precioso num CD que, afinal, só tinha mesmo 2 ou 3 músicas boas...) O resto do CD era descoberto ali, na primeira audição. Eu costumava ouvir os primeiros 30 segundos de cada música. Imediatamente criava maior empatia com alguma/s música/s. Depois ouvia todo o CD com mais calma e confirmava se aquelas eram realmente as minhas favoritas. E, então, ouvia-as em loop. Ao abrir o livrinho que vinha no CD - que fazíamos logo em seguida de apertar o play -, tínhamos sempre a mesma expectativa: será que vinha com as letras das músicas? Não, não tínhamos Internet para escrever "letra de...." Quando o CD não tinha a letra, aprendíamos na base da repetição e da adivinhação - quantas vezes andámos a cantar letras erradas porque parecia A e afinal era B? Cd's não eram a coisa mais barata do mundo, por isso, não era fácil coleccionar todos os queríamos. Normalmente ganhava os meus de presente de aniversário ou Natal. Lembro-me perfeitamente de ganhar no Natal Mellon Collie and the Infinite Sadness dos Smashing Pumpkins. Fiquei apaixonada pelo CD! Ouvi-o sem parar, por dias seguidos. Ou os Cds dos Radiohead, o mítico Jagged Little Pill da Alanis Morisette, os álbuns dos Nirvana. Então, quando encontrei todos esses CDs e muito, muito, muito mais, tudo com a letra a passar em rodapé no Spotify, à distância de poucos clicks e a menos por mês do que seria o preço de um CD, fiquei maravilhada. Como somos privilegiados hoje em dia! À distância de poucos clicks e uma mensalidade acessível, temos disponíveis todas, mas todas, todas mesmo as músicas que quisermos! Com letra e tudo! E ainda episódios de podcasts sobre todo o tipo de assunto. O mesmo serve para filmes e séries. Quando eu o meu irmão acompanhamos Lost ou Alias na televisão, era na base do ritual: dia tal, hora tal, pára tudo que é a nossa hora de ver televisão! Se perdêssemos um episódio, era perdido para sempre. Não tínhamos qualquer oportunidade de o rever - a não ser que gravássemos em cassete. Hoje em dia, temos à nossa disposição inúmeros serviços de streaming, e é possível maratonar as dezenas ou centenas de episódios de uma série em um dia só! Sim, nós ouvimos os nossos pais dizer "ah, no meu tempo não era assim!" Coisas simples como ter televisão a cores ou um controle remoto para mudar de canal não estiveram ao alcance deles. Agora nós olhamos para os nossos filhos e dizemos "Ah, no meu tempo não era assim!" Eles, com certeza, um dia estarão no nosso lugar. As tecnologias não param de evoluir. Como disse Camões: " mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". A única certeza que temos é que a mudança é constante e inevitável. Enquanto esse tempo não chega, eu ouço gravações históricas das sonatas para piano de Beethoven, a discografia de Radiohead, os êxitos dos anos 90, as novas músicas de 2022 e tudo o mais que me der na telha! E melhor: em qualquer lugar, a qualquer hora. (Ah, enquanto vos escrevo ouço as músicas de Max Richter e Jóhann Jóhannsson para piano). 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Eu e " A Chegada"

 


Há filmes que nos divertem, filmes que nos inspiram, filmes que nos distraem, filmes que nos emocionam, e há filmes, como "A Chegada", que nos levam à reflexão e são verdadeiras obras de arte. Tudo neste filme é absolutamente cativante. A forma delicada como as cenas são filmadas, com momentos que evoluem num vagar harmonioso, perfeitamente coreografado ao som de uma música incrivelmente bela e envolvente, a fotografia, as incríveis paisagens, os atores - que atuação verdadeiramente extraordinária de Amy Adams! - e, não menos importante, a mensagem do filme.
O facto de se tratar de um filme sobre extraterrestres que chegam à Terra, pode deixar algumas pessoas com reservas a assisti-lo. Eu mesma, inicialmente, não me senti motivada para o ver. Mas o filme e a sua temática vão tão, tão além desse assunto e dessa categorização de ficção científica!.. "A Chegada" é, na verdade, um filme sobre entendimento, sobre Amor e sobre o Tempo.

A memória é uma coisa estranha. Não funciona como eu imaginava. Estamos tão presos pelo tempo. Pela sua ordem.

Esta frase que abre o filme contém, em si, a semente de tudo o que o filme representa mas, só no final do filme, ela faz realmente sentido para nós. Isso, só por si, faz parte da genialidade deste filme: explora o tema do Tempo, incorporando aquilo que pretende demonstrar. O Tempo é relativo e, até certo ponto da história, incompreensível. Quando o filme acaba, percebemos a conexão de tudo e o sentido de cada coisa. É um filme para ver, rever, refletir, repensar.

A história começa com a chegada de 12 naves extraterrestres em pontos diferentes do planeta. Louise Banks, uma professora universitária, especialista em Linguística, é chamada pelo exército para, em conjunto com outros especialistas em diversas áreas, descobrir uma forma de se comunicar com os seres da nave e saber as suas intenções. Louise começa, então, a trabalhar de perto com Ian, especialista em Física e Matemática e, aos poucos, os dois vão progredindo no entendimento com os seres extraterrestres. Não será por acaso que Louise e os seres se comunicam por caracteres, na sua maioria com formatos circulares, numa alusão ao círculo como forma infinita, sem começo nem fim, como o Tempo. Simultaneamente, vão surgindo, como flashbacks, cenas de Louise com sua filha.
Louise estabelece com os seres uma relação de confiança: deseja entendê-los, aprender com eles, construir pontes. No clímax do filme, é essa postura que sustenta a fé que a move nas suas escolhas e ações. É essa postura que a leva a entender a diferença essencial entre duas palavras para definir a mesma coisa. A nossa linguagem determina (a forma como vemos) o nosso mundo. No final do filme, percebemos que Louise escolhe o amor. Apesar de todos os pesares, escolhe sempre o Amor.

"Se você pudesse ver toda a sua vida do início ao fim... mudaria alguma coisa?"

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Eu e a experiência

 "A experiência é algo que (nos) acontece e que às vezes treme, ou vibra, algo que nos faz pensar, algo que nos faz sofrer ou gozar, algo que luta pela expressão (...)"

" A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca(...) e ao nos passar nos forma e nos transforma."
                                                                                                         Jorge Larrosa

De quantas experiências podemos lembrar-nos? Momentos que nos marcam, que deixam uma impressão entranhada em nós. O que esses momentos têm em comum?
Antes de mais, a nossa absoluta entrega a esse momento. Se a mente vagueia por antes ou depois, a experiência não acontece. A experiência só pode acontecer Agora, Aqui, quando o tempo e o espaço se dissolvem. Mas não acontece por nossa decisão. Não escolhemos o que nos acontece. Somos escolhidos por ela. Podemos decidir ouvir a música, contemplar o pôr-do-sol, a obra de arte, meditar, olhar fundo nos olhos de quem amamos, beijar, mergulhar no mar, ver o filme. Podemos focar a nossa atenção nesse momento. Não podemos escolher a forma como esse momento nos vai afetar. Não podemos decidir "agora vou viver uma experiência". A experiência é sempre inesperada. Toma-nos no arrepio, na emoção, na vibração ou formigamento pelo corpo de formas imprevisíveis ou no simples suspiro.
A quantos concertos já foi na vida? Consegue lembrar-se de todos? De quais se lembra? Quantas vezes viu o sol nascer? Ou esconder-se na linha do horizonte? De quantas se lembra?
Eu lembro-me de muitos concertos a que assisti, de muitas vezes que toquei ou cantei em público, mas lembro-me exatamente daqueles momentos que foram uma Experiência para mim. Foram aqueles em que me esqueci de mim mesma, em que, simultaneamente, me dissolvi no momento e me integrei em algo maior do que eu. Aqueles em que alguma transcendência aconteceu. E nessa transcendência, paradoxalmente, o encontro, nesse "sair" de mim, um "chegar" a mim: a experiência é o catalisador que nos permite aceder àquela fagulha que nos dá vida, que nos anima. A energia que a experiência produz, revolve, em turbilhão, a nossa energia interna, e é nessa identificação de uma com a outra que percebemos a nossa unidade com tudo. Ao mergulhar fundo naquele momento, algo dele permanece em nós e trazemo-lo conosco até à eternidade. A experiência transforma-nos, enriquece-nos, como um espelho, mostra-nos partes de nós que desconhecíamos.
Há pouco mais de uma semana atrás. Sala São Paulo. Concerto para violoncelo de Elgar. Uma obra incrível, intensa, uma das minhas preferidas. Emocionei-me, claro. Arrepiei-me. Fiquei absorvida na escuta, entregue ao momento. Foi especial, mas a experiência aconteceu onde eu não antecipei. "Pinheiros de Roma" de Respighi. Desconhecia esta obra, e desde as primeiras notas senti-me totalmente cativada, encantada. A obra, eclética, leva-nos por diferentes sonoridades, paisagens, sensações. No final, verdadeiramente apoteótico, não contive a emoção. Como uma corrente elétrica, percorreu o meu corpo inteiro. Tansbordou. Reverberou. Avassaladora. Indescritível. Essa é outra característica da experiência: não cabe em palavras, conceitos, descrições. É vivenciada. Única. Inesquecível. Irrepetível. Em nenhuma outra ocasião em que eu tenha a oportunidade de ouvir esta obra novamente, eu poderei repetir a experiência que vivi agora. Se tiver sorte, e souber render-me ao momento, poderei viver uma diferente. E guardá-la no mesmo cantinho especial em que esta ficou.
Abra-se à possibilidade de experenciar. Deixe que a sua atenção abra a fresta por onde a beleza pode entrar, em qualquer das suas formas, e tocá-lo, no âmago do seu ser. E, nesse momento, poderá dizer, sem eufemismo, "Que experiência!.."


P.S. Obrigada, @marcusrojo pela indicação da leitura do J. Larrosa e pelas reflexões em torno deste tema da experiência. Obrigada, igualmente, @stefaniesamara pelas reflexões sobre este tema.

Eu e " O gambito da rainha"

 


Finalmente maratonei a premiada série "Gambito da rainha" da Netflix!
A série desenrola-se durante os anos da Guerra Fria. A pequena Beth Harmon fica órfã após a mãe falecer em um acidente de carro do qual ela própria sai ilesa. No orfanato, conhece Jolene, uma menina mais velha que Beth. No início, têm uma relação conflituosa mas, aos poucos, Jolene vai mostrando a Beth como as coisas funcionam no orfanato e as duas vão criando laços de amizade que, com o tempo, se estreitam. Também é no orfanato que Beth conhece o senhor Shaibel, zelador do orfanato, com quem Beth aprende a jogar xadrez. Shaibel rapidamente percebe a aptidão natural da menina para jogar e incentiva o seu desenvolvimento no xadrez. A menina, tal como todas as outras no orfanato, toma remédios calmantes e começa a perceber que, quando os toma à noite, consegue visualizar o tabuleiro de xadrez acima da cabeça e recriar, velozmente, todas as jogadas. Rapidamente fica viciada nos remédios. Já adolescente, é adotada por um casal. Com muita dificuldade para se integrar na escola encontra, novamente, no xadrez, o seu lugar. Sendo a única menina nas competições e extremamente talentosa, logo ganha destaque. Por se tratar de uma mulher num mundo de homens, ao longo da série, o papel de Beth também assume uma importância na questão feminista. Quando Beth começa a ganhar dinheiro nos torneios, a mãe adotiva começa a apoiá-la e acompanhá-la. As duas têm em comum a compulsão por bebida e medicamentos - o que, em parte da série assume um tema central - e um profundo anseio por liberdade, independência. Beth sonha com o título mundial de xadrez e, pelo caminho, conhece vários personagens, também jogadores de xadrez, que vão ajudá-la nesse percurso. À medida que a história se desenvolve, em flashback, vamos também conhecendo mais a vida de Beth antes do orfanato, o que nos leva a entender a origem de alguns dos seus  comportamentos.
Mais do que uma série sobre xadrez, "gambito da rainha" é uma história sobre como nos libertar de amarras e padrões do passado, de como se pode, sempre, reescrever a própria história e da importância dos afetos e da amizade para que isso possa acontecer. 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Eu e Terças com Morrie

 



Hoje em dia, quando queremos ver um filme ou uma série, temos várias opções de plataformas que nos permitem alugar ou comprar esses títulos. Inclusivamente, na maioria das vezes, os episódios da série que queremos ver, ficam integralmente disponíveis para ser maratonados de uma ponta à outra, se assim quisermos.
Há décadas atrás, não tínhamos estas comodidades. Se queríamos ver alguma coisa que ia dar na televisão, tinha que ser naquele horário e dia, impreterivelmente, porque não existia repetição noutro canal, noutro dia, a box não gravava e, na melhor das hipóteses, poderíamos encontrar o que queríamos numa Blockbuster ou loja similar, o que significava sair de casa, ir até à loja, procurar o filme, alugar, voltar para casa, ver o filme e percorrer o mesmo caminho de volta para o devolver no dia certo, se não queríamos pagar multa. Eu e o meu irmão fizemos muitas vezes esse caminho. Também nos programamos muitas vezes para poder estar livres e nos sentarmos juntos no sofá em frente à televisão naquele dia naquela hora em que dava o Lost ou a Vingadora.
Nessa época, quando eu queria ver alguma coisa que ia dar muito tarde na televisão, deixava uma cassete no vídeo e, antes de ir dormir, apertava o REC. Claro que gravava o que tinha planeado e também tudo o mais que estivesse na programação até a cassete acabar. Foi numa dessas noites que, acidentalmente, gravei o filme "Terças com Morrie". Que bom que, naquela noite, eu tinha deixado a cassete a gravar! Que pérola de filme, com uma interpretação notável de Jack Lemmon. Quando percebi que o filme era baseado num livro autobiográfico, quis lê-lo. A minha mãe, carinhosamente antecipou-se, e deu-mo de presente de Natal.
"Terças com Morrie" é da autoria de Mitch Albom, um jornalista desportivo que, na faculdade, foi aluno de Morrie Schwartz. Após a conclusão do curso, perde o contacto com o professor. Vários anos mais tarde, vê uma entrevista de Morrie na televisão e descobre que ele tem uma doença incurável (doença de Lou Ghering). Resolve, então, procurá-lo. "Terças com Morrie" descreve os encontros entre o aluno e o professor, todas as terças, abordando os temas mais diversos e essenciais do ser humano, como amor e amizade, vida e morte, a beleza e o valor das coisas simples. "Um curso sobre a vida", como diz o próprio Morrie. O livro e o filme são emocionantes e profundamente inspiradores. Morrie mostra-nos, com a sua enorme sensibilidade, como é fácil ser feliz. De uma forma encantadora, ensina-nos que não precisamos de condições ideais para ser feliz. Mesmo na situação adversa que vive, com dor crónica e totalmente dependente dos outros para tudo, sem poder dançar (uma das suas coisas preferidas) ou saborear as comidas que mais gosta (outra das suas coisas preferidas), encontra sempre formas de sorrir e celebrar a vida.
"Terças com Morrie" é aquele tipo de livro que nos enche de lágrimas mas também de esperança e fé na vida, no amor, nas pessoas. Inesquecível e um livro a que voltamos várias vezes na vida, nem que seja para reencontrar esse ser humano especial: Morrie Schwartz.


Aqui podem ter o prazer de ouvir um pouco dos seus ensinamentos:

https://youtu.be/RtYyT6Hl3ms


domingo, 31 de julho de 2022

Nós e a Sala São Paulo

 Entramos na sala com passos lentos e contemplativos. Conferimos fileiras e cadeiras e acomodamo-nos. Novamente contemplamos: o palco repleto de cadeiras e estantes, as imponentes colunas de um lado e de outro da sala, os elegantes camarotes, a estrutura de madeira no teto do palco. A sala, só por si, já é uma obra de arte que enche os olhos. Aos poucos, vai ficando preenchida. Pessoas de todas as idades. Últimos avisos, algum burburinho ressoa na sala e, ao som de aplausos, os músicos começam a entrar com os instrumentos na mão. Afinam os instrumentos e aguardam o maestro. Ele entra com passos decididos e confiantes, cumprimenta o público e a orquestra com um largo sorriso e, ao elevar a batuta no ar, instala o silêncio na sala. Soam, então, as primeiras notas de Villa-Lobos que nos levam até à Floresta Amazônica. Sons que nos remetem aos animais e pintam as cores da Amazônia. O ritmo e sonoridade inconfundíveis da música de Villa-Lobos entusiasmam, emocionam e acabam em apoteose.

O concerto para violoncelo e orquestra de Elgar é arrebatador! Arrepia logo na apresentação do tema, com a entrada intensa do violoncelo, que culmina na entrada do tutti da orquestra. Sentimos as vibrações dos instrumentos nos pés, a emoção causa arrepios na espinha, os olhos enchem-se de lágrimas. Com passagens mais líricas em alguns momentos, com ritmo contagiante em outras, retoma, no final, a mesma intensidade com o primeiro tema do concerto. Após os aplausos, o violoncelista presenteou-nos com um Bach maravilhoso. Após a última nota, pianíssimo, delicada, o silêncio ecoou, magica e profundamente por alguns instantes na sala.
Os "pinheiros de Roma"  de Ottorino Respighi foi a grata surpresa da tarde. Que experiência sonora! A massa sonora, os efeitos sonoros, a grande variedade de instrumentos utilizada, as harmonias, o lirismo. Em alguns momentos, quando os instrumentos soavam de camarotes ou outros lugares "escondidos" do palco, recuei no tempo várias décadas, quando integrei o coro de crianças no War Requiem de Britten em que durante todo o concerto cantávamos nos bastidores do palco, longe dos olhos do público. Os "pinheiros de Roma" encantou-nos com os vários ambientes sonoros e as paisagens desenhadas nos sons e, no final, verdadeiramente apoteótico e emocionante, o público explodiu em aplausos, bravos e gritos efusivos. Quanto a mim, é sem o menor pudor que admito que não contive as lágrimas. De alma cheia e mente vazia. Pura emoção.

Obrigada Sala São Paulo, Orquestra do Festival Campos do Jordão 2022, maestro Marcelo Lehninger e violoncelista Leonardo Elschenbroich. Proporcionaram-nos uma tarde muito especial que eu jamais esquecerei.


Podem assistir ao concerto aqui:

https://youtu.be/B6sSlECDi-o





quinta-feira, 7 de abril de 2022

Eu e as percepções da realidade

 Sempre que estou na cozinha a preparar alguma refeição, tenho um fiel companheiro ao meu lado que, paciente e persistentemente, espera (torcendo!) que alguma coisa caia no chão. Qualquer coisa que caia, o meu cachorro quer comer, mesmo que seja um mera casca de cebola! 

Por estes dias, reparei num detalhe do seu comportamento. Ele percebe, pela minha movimentação ou pelo barulho ou não sei por qual meio de percepção seu, quando eu deixo alguma coisa cair, mesmo quando caiu das minhas mãos na bancada ou na mesa e não no chão. Mas a sua reação é sempre olhar para o chão e procurar o que caiu. Inclusivamente, olha para cima, observando o exato lugar onde deixei cair na bancada, depois para o chão,  depois novamente para a bancada, intrigado sem perceber a razão do objeto não estar no chão. Poderíamos apenas dizer que o cão é um idiota por não perceber que as coisas não passam através da bancada até ao chão. Na verdade, o cachorro julga o mundo, os acontecimentos,  de acordo com a sua capacidade de percepção. Não é melhor nem pior do que a nossa. Apenas diferente. E isso fez-me refletir: quantas percepções do mundo nós temos, quantas certezas cultivamos, que não passam de meras expectativas erróneas? Quantas vezes acreditamos que "as coisas vão cair no chão", sem perceber que a nossa visão do mundo é limitada? E quantas vezes ficamos a encarar a "bancada", continuamente à espera que algo caia, sem procurar outra solução, sem questionar? Quantas "leis" regem o nosso mundo que nós simplesmente desconhecemos? Quanto da realidade foge à nossa capacidade de percepção? Impossível não fazer uma analogia com o Matrix. Quando Neo realmente se apercebe do seu poder, começa a ver o Matrix como realmente é: uma teia de códigos e leis que podemos manipular e não um mundo ao qual só podemos reagir ou acomodarmo-nos. O que distingue o meu cachorro de mim na situação da bancada é a ignorância. E a ignorância é o que nos amarra às nossas crenças e limitações. Como sair disso? Ainda citando Matrix, " É a pergunta que nos impulsiona."