O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
quinta-feira, 29 de junho de 2023
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* Vídeo da experiência com a placa de som: https://www.instagram.com/p/Ci0zJsTobpm/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng==
sexta-feira, 23 de junho de 2023
130-365
Lembro-me de, após uma audição de piano, ter recebido uma lembrança e um cartão da minha professora de piano que dizia "Que encontres tudo o que procuras na vida." Não me lembro exatamente que idade tinha, mas creio que por volta de 12 anos e, naquele momento - e durante muito tempo - aquela frase foi um baque para mim. Como poderia encontrar alguma coisa se eu nem fazia a menor ideia do que estava à procura? O que é suposto procurarmos na vida? Genericamente, pareceu-me que seria felicidade. Mas o que seria isso? Onde se encontra? Onde está? Hoje, ao completar 42 anos nesta aventura de andar pelo espaço a dar voltas ao sol, abraço a frase de Espinoza:
Ser quem somos
E tornarmo-nos quem somos capazes
De nos tornar
É o único propósito da vida.
Baruch Spinoza
Hoje eu sei exatamente do que estou à procura e onde o encontrar. Estou à procura de "despir-me do que aprendi, esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu" (Alberto Caeiro), nada mais nem nada menos do que isso: exatamente quem eu nasci para ser. Sadhguru diz que se não fazemos o que não temos capacidade para fazer na vida, tudo bem, mas se não fazemos o que somos capazes de fazer, a nossa vida é uma tragédia. Então, é essa a minha busca: ser exatamente quem eu sou, construir-me na minha melhor versão possível e transbordar isso no mundo, criando exatamente aquilo que nasci para criar. "A única saída é para dentro." (Sadhguru) Quanto mais mergulho dentro de mim, mais o mundo inteiro entra no meu peito! E talvez seja isso o que mais tenho vontade de partilhar com o mundo. Eu não construí posses, riqueza nem coisas materiais, mas sinto-me rodeada de verdadeiros tesouros, todos os dias. Aprendi que não é aquilo que vemos que mais importa, mas a forma como olhamos para as coisas. "Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre." Clara e inequivocamente eu escolhi - sim, é uma escolha ao alcance de todos - viver da segunda forma. Eu gostava que todos pudessem ver o azul do céu, a flor, o carinho de quem se ama, o sol que nos aquece, a chuva que dança ao cair, a música que nos trespassa, o pôr-do-sol que encanta, o ar que entra incessantemente nos nossos pulmões, a lua, o mar, o vento no rosto, a energia que corre no nosso corpo, a raíz da árvore que rompe a calçada, as folhas e flores que formam tapetes no chão, o milagre da vida que acontece todos, todos os dias, a cada segundo, a cada momento, agora, aqui, em mim, aí em ti, em toda a nossa volta! Nós somos parte do milagre! Nós somos o milagre! "Somos miniaturas do universo. Em nós há todo o mapa da existência."(Osho) Somos todos uma Parte (única e inigualável) do Todo. Não tenha medo de olhar para dentro, de se deixar envolver pelo silêncio. É nesse lugar que o Divino nos toca e o coração se abre e, então, ao abrir os olhos, vai encontrar um mundo novo, cheio de milagres!
Hoje, agradeço pela Vida que me anima há 42 anos, pelo absoluto privilégio que é estar aqui. Nem sempre é fácil, nem sempre há ânimo ou motivação mas, enquanto aqui estiver, sei que sempre vou encontrar o caminho de volta, porque agora já sei do que estou à procura. E, a cada dia, vou(-me) encontrando um pouco mais.
quinta-feira, 22 de junho de 2023
129-365
Pôr-do-sol. Nascer do sol. Luz oblíqua da manhã. Barulho das ondas do mar. Mergulhar nas ondas do mar. Nadar. Orquídeas. Sentir o vento no rosto. Nuvens brancas num céu azul. Céu azul do final da tarde/começo da noite. Lua cheia. (Lua em qualquer fase!) Cheiro de pão e bolo acabado de fazer. Comer bolo quentinho e pão acabado de fazer com manteiga. Pizza. Melancia. Lichia. Cerejas. Caqui. Frutos secos. Dormir em lençóis lavados. Dormir de pijama quentinho e cheia de cobertas. Dormir de meias. Dormir sem ter hora para acordar. Ficar acordada sem ter hora para dormir. Pipoca doce. Um bom filme. Um bom livro. Uma boa música. Um bom concerto. Ouvir uma plateia a cantar em uníssono. Tocar piano. Aprender, aprender, aprender. Ensinar e transbordar o que aprendo. Vestir calças de ganga, tshirt/sweatshirt e ténis (All Star). Jogar futebol. Ver um bom jogo de futebol. Benfica. Portugal. O céu de Lisboa. Sardinhas assadas. Açorda de camarão. O bacalhau com natas da minha mãe. As filhós da minha (avó e da minha) mãe. Ameijoas à bulhão pato da minha mãe. Farofa com azeitona. Mandioca. Ipês floridos, principalmente o branco. Andar de bicicleta no parque do Ibirapuera. Ginástica artística. Yoga. Breathwork. Surpreender-me e inspirar-me por coisas novas. Expandir horizontes. Escrever. A minha família de sangue e a que escolhi. As minhas amigas do coração. Vitrais. Gelado. Rir com uma amiga - principalmente dos revezes! Chorar a rir. Sorrir com lágrimas nos olhos. Abraçar quem amo. Olhar nos olhos do Mateus. Quando o Sérgio "penteia" o meu cabelo com as suas mãos. Campo de girassóis. Poesia. Canto do sabiá. Céu estrelado. Passeio em museu. Banho quente. O Théo a dormir com a cabeça na minha barriga. Ter a companhia do Théo enquanto estudo piano ou medito. Arco-íris. Andar com o Mateus pela rua enquanto conversamos sobre tudo e nada. Sentir o sol acariciar-me o rosto. Pisar na areia morna na praia. Silêncio. Estar comigo mesma e mergulhar fundo em quem sou (e em quem quero ser). Sentir que pertenço a algo maior. Sentir em cada célula um sussurro do Divino. Sentir-me grata por estar aqui, neste perfeito milagre de habitar este corpo, dotada desta mente, a girar incessantemente num enorme pedregulho que percorre quilómetros e quilómetros no espaço "vazio" à volta de uma bola de fogo! Construir com as coisas simples a complexa equação da felicidade - e compreender que ela estava sempre ali, nos detalhes. Perceber a beleza de todas as coisas. Ver o Divino em mim e tudo (e todos) à minha volta.
128-365
Estes dias, tem feito mais frio em São Paulo. Hoje, estava a tentar apertar o casaco e o fecho (ziper) prendeu. Tentei puxar uma vez, nada. Com mais força, nada. Com mais força ainda, e nada. Então, resolvi a estratégia inversa: abri-lo. Puxei com cuidado para baixo, e ele cedeu. E, então, como num passe de mágica, aquilo que o bloqueava desapareceu e consegui, finalmente, fechar o casaco. E refleti: quantas vezes ficamos bloqueados a tentar, sem parar, com toda a nossa energia, forçar alguma coisa, sempre da mesma forma, quando a resposta está em dar um passo atrás? Às vezes, a melhor forma de avançar é recuar um pouco. Afastarmo-nos um pouco do problema que queremos resolver, dá-nos perspetiva, novas ideias, novas estratégias, formas diferentes de lidar ou encarar. Dar um passo atrás e concedermo-nos um merecido descanso, também nos dá a energia necessária para seguir adiante. Para avançar, é preciso saber quando recuar.
quarta-feira, 21 de junho de 2023
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O círculo das minhas "fronteiras imaginárias" |
Todos os dias faço os mesmos caminhos para dar as aulas e, muitas vezes, dou por mim a pensar nas fronteiras imaginárias que criei para mim em relação a São Paulo. Sei, em todos os sentidos da cidade, quais são os pontos mais longe aos quais vou. Para mim, São Paulo acaba ali, naqueles exatos lugares. Naquela subidinha, antes daquela ponte, perto daquele parque, no meio daquelas avenidas, no começo daquela rua. Isso representa, na imensidão de São Paulo, um minúsculo círculo. A minha percepção de São Paulo é totalmente limitada ao que vivencio da cidade. Para mim, São Paulo é isto, esta meia dúzia de bairros - que, ainda assim, como lisboeta que sou, para mim, corresponde a uma área considerável. Dei por mim a pensar que a nossa percepção da realidade também é assim, limitada ao que vivenciamos, limitada ao que os nossos sentidos abarcam, ao que as nossas crenças permitem. Estamos sempre dentro de "fronteiras imaginárias", e a realidade é sempre tão mais vasta do que nos permitimos ver e percepcionar! Não vemos a realidade como ela é, mas como somos no momento em que a olhamos. Observe as fronteiras em que se move. Em quais delas quer realmente manter-se? O que não está a permitir-se (vi)ver?
quinta-feira, 15 de junho de 2023
125-365
Começou uma das minhas épocas preferidas em São Paulo: a florada dos ipês! A cada dia somos surpreendidos por um novo ipê total e inesperadamente coberto de flores. Quem abre a temporada é o ipê-roxo que, vá-se lá entender, fica coberto de flores, aos meus olhos, cor-de-rosa. Um dia passamos na rua, a árvore está repleta de grandes folhas verdes. Uns dias depois, como por milagre, a mesma árvore aparece decorada de rosa, com aquelas flores de ipê que, quando observadas de longe, sugerem um formato arredondado. Passem os anos que passarem, os ipês floridos continuam a aquecer o meu coração e a provocar-me sorrisos. Não me canso de os admirar, de os contemplar. As flores não ficam muito tempo nas árvores. Passado algumas semanas ou poucos dias, no caso do ipê-branco, proporcionam-nos uma nova moldura para admirar: tapetes de flores no chão. E eis que a árvore fica despida, novamente. Por vários meses ou até um ano.
Os ipês relembram-nos os ciclos da vida. As flores nascem e morrem. Seguem o seu ciclo. Passam-se meses e meses em que parece impossível que aquela árvore se vá transformar novamente naquele espetáculo da natureza. Durante a maioria do ano, o ipê passa totalmente despercebido, como qualquer árvore comum. Espera, pacientemente para, no tempo certo, e durante um curto período, despontar numa beleza única e marcante. Também a nossa vida é feita de ciclos, fases. Assim como as coisas nascem, morrem. Há tempo de esperar, tempo de florir, murchar e tempo de renovar. Por mais que pareça que, em algumas fases, nada aconteça, nada floresça, é certo que, um dia, quando menos esperamos, a vida se renova, se reinventa, renasce. Confie no fluxo da vida. Assim como no ipê, as flores podem tardar, mas fazem valer a pena a espera.
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Que venham as festas juninas (ou os Santos Populares)!
domingo, 11 de junho de 2023
A caminho dos 42...(2)
Talvez a minha memória mais antiga seja relacionada à ginástica. Sentada no chão da sala enquanto a minha mãe passava a roupa a ferro em frente à televisão e eu, vidrada na televisão, a ver as competições de ginástica artística com ela. Eu sempre fui uma criança irrequieta, cheia de energia, não parava um minuto mas, em frente à televisão para ver ginástica, ficava hipnotizada e, dizem os meus pais, apontava para lá e dizia que queria fazer aquilo. Tinha 2, 3 anos de idade. Só quando tinha de 5 para 6 anos é que os meus pais me levaram ao Benfica para fazer testes para entrar na equipa. Naquele ginásio do qual me recordo bem - com os espaldares ao fundo, as paralelas e a cama elástica à direita, quase a travar a entrada para os balneários, a trave e solo no centro - começou um percurso de cerca de 7 anos de ginástica de competição. Depois de cerca de um ano no Benfica, ingressei no meu clube gímnico do coração, o Lisboa Ginásio Clube, ainda no edifício antigo, velhinho, mas que era, carinhosamente, a nossa segunda casa. Foram anos de muita paixão. Era, sem qualquer dúvida, a minha coisa favorita no universo! Eu vivia, respirava e sonhava ginástica. Lembro-me perfeitamente de torcer pela russa Yelena Shushunova nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988 numa final eletrizante com a romena Daniela Silivas. Eu tinha 7 anos. Vi e revi a prova inúmeras vezes. Assim como as outras cassetes com campeonatos do mundo e da Europa que os meus pais e treinadora gravavam para mim. Sabia o filme sobre a vida da Nadia Comaneci praticamente de cor.
Foram anos de muita entrega e dedicação. De vitórias e derrotas, de dor, sacrifício e recompensa. De crescimento, de erros e aprendizagem. Aqueles anos na ginástica influenciaram muito a minha vida e o meu percurso. Talvez uma das coisas que mais contribuiu para a formação da minha personalidade. Foi ali que aprendi que para alcançar os nossos objetivos, é preciso tempo e muita disciplina. Aprendi que é preciso abdicar de certas coisas - por exemplo, viver anos em uma alimentação muito regrada - para alcançar outras - uma boa forma física e melhores resultados. Aprendi a procurar e perseguir a perfeição, mesmo sabendo que alcancá-la é uma utopia. Aprendi que para evoluir, é preciso perceber a forma mais eficiente de fazer as coisas e entender onde estão os erros - por exemplo, se caio para a frente, houve energia a mais, se caio para trás, faltou movimento. (Repetições "cegas", mecânicas, imponderadas, não são eficazes.) Aprendi que o nosso percurso é feito de fases boas e fases más, vitórias e derrotas, que cair faz parte, que dores são inevitáveis. Aprendi a conviver e lidar com o medo. Aprendi a apreciar a beleza e harmonia dos movimentos. Aprendi com os erros que cometi. Aprendi a não desistir. Sou grata por tudo o que vivi na ginástica. Guardo comigo a sensação de me equilibrar em prancha na trave, fazer gigantes nas paralelas, mortais e piruetas no solo. Se fechar os olhos, ainda sei exatamente que movimentos fazer, ainda sinto aquela liberdade de voar. Eu saí da ginástica aos 13, 14 anos, mas a ginástica jamais saiu de mim.
A caminho dos 42...(1)
Nasci cerca de duas semanas antes do previsto. Esse facto, por si só, não tem nada de invulgar. Muitos bebés nascem um pouco antes do tempo. O único problema é que já estava marcada uma cesariana devido à minha posição: girei meia volta a mais na barriga da minha mãe e fiquei com os pés perfeitamente apontados para baixo. A minha mãe brinca sempre que, já na barriga, eu gostava de fazer cambalhotas e acrobacias, que a minha paixão pela ginástica já vinha desde o útero. Acho que deve ser verdade. Essa vontade inata de transcender o corpo, de o usar como uma ferramenta para chegar mais além, já devia estar comigo desde a barriga da minha mãe. Não será por acaso que eu sempre adorei tudo o que era acrobacia. Ainda hoje me fascina e, atualmente, através do yoga e outras atividades, continuo a tentar conhecer o meu corpo e aprender a usá-lo como ele é: um veículo, uma ferramenta de autoconhecimento.
O meu parto foi tão rápido e inesperado que o meu pai não chegou a tempo de me ver nascer. Também não deu tempo de fazer a tal cesariana, e nasci assim mesmo como estava: com os pés. Não imagino o pânico do obstetra que, daquele dia em diante, dizia sempre à minha mãe, com um certo alívio na voz, "o meu primeiro parto pélvico..." Naquele dia, não mudei apenas a vida dos meus pais, mas marquei o percurso profissional do dr Moniz. Daqui a duas semanas, faz 42 anos sobre aquele dia. Era véspera de São João, por isso, os meus pais escolheram o nome Joana. Até àquele dia, achavam que ia nascer um menino, e só tinham decidido nome de menino. Talvez não seja por acaso a minha paixão por futebol, e o facto de ter sido sempre maria-rapaz...Vá-se lá saber...Há coisas que parece que já estavam connosco desde o princípio. Não sei se já chutava muito na barriga, mas girar sobre mim mesma, rodar, dar cambalhotas, isso, sem dúvida, foi desde muito tenra idade. Como diria a minha avó "o que tem de ser, tem muita força".123-365
1 - "o que eu amo fazer" (ou o que me entusiasma, e não me canso de aprender e me aprimorar);
2 - "no que eu sou boa" (ou o que normalmente sou elogiada ou reconhecida quando faço);
3 - "do que o mundo precisa" (ou como posso servir à minha comunidade, contribuir com algo que é necessário aos outros)
4 - "como posso ser paga por isso" (ou como posso sentir-me recompensada pelo que faço)
A filosofia do Ikigai tem, ao que se sabe, origem na região de Okinawa, região conhecida por ter alta concentração de centenários nos seus habitantes. Uma das explicações para essa longevidade é, precisamente, o senso de propósito na vida dessas pessoas. Ter uma razão para acordar de manhã, sentir-se recompensado a fazer algo que se gosta e em que se é bom a fazer e que, de alguma forma, é um serviço à comunidade, uma contribuição.
A nossa sociedade não favorece a busca do nosso Ikigai. Somos levados a escolher um caminho académico demasiado cedo, quando a maioria de nós ainda mal sabe quem é. Pensamos em coisas como "saídas profissionais", "possibilidades de carreira", ou seja, unicamente a questão "como posso ser paga". Ou atiramo-nos de cabeça em "algo que amo fazer" sem, muitas vezes, perceber como podemos ser pagos por isso e obter o mínimo de estabilidade. Outras vezes, podemos fazer "algo em que somos bons", ser muito bem remunerados por isso, mas sentir um vazio por não ser algo que amamos fazer ou que sentimos que estamos a contribuir de forma enriquecedora com os outros. Apesar da boa remuneração, não nos sentimos recompensados. Sadhguru costuma dizer que deseja que os nossos sonhos não se realizem, porque a nossa perspetiva e noção daquilo que podemos realizar e alcançar na vida é totalmente limitada por aquilo que conhecemos e consideramos possível. Mas a vida é tão mais vasta e tão mais criativa do que nós!..
O Ikigai é um convite a olhar para dentro, para mergulhar no conhecimento de si mesmo, de forma não só a explorar os nossos pontos fortes, e o que em nós quer manifestar-se no mundo mas também a esquecer essas barreiras invisíveis que nos rodeiam e constringem. "Dentro de cada um de nós existe um talento especial à espera de se manifestar. A questão é descobri-lo." (Billy Elliot)
Para quem tiver vontade e curiosidade de mergulhar no universo Ikigai, sugiro este webinar do Cadu Cassaú:
sábado, 10 de junho de 2023
122-365
Somos um país pequeno, é certo. Minúsculo quando comparado com países como o Brasil ou os Estados Unidos da América. "À beira-mar plantado" como costumamos dizer. Pacato, tranquilo, de muita beleza natural. Uma das minhas coisas preferidas em Portugal é a cor e a luz do céu de Lisboa. Magnetizante. Indescritível. Principalmente o azul metálico do final de tarde/começo da noite. E o que dizer do pôr-do-sol no mar? Guardo as cores de Portugal em mim. Hoje, no seu dia, celebro as suas cores, perfumes e sabores, a sua poesia tão bem descrita por tantos poetas admiráveis. Este país, "cantinho da Espanha, com todos os seus problemas e defeitos, mora no meu coração.
sexta-feira, 9 de junho de 2023
121-365
Hoje fomos passear ao parque. Um dos meus lugares favoritos aqui em São Paulo. Adoro sentir o vento no rosto, contemplar as árvores, variadas, frondosas, as flores coloridas, o lago e, nesta época, as folhas de outono que vão balançando e caindo com o vento, confundindo o nosso olhar quando dançam em torno do voo das borboletas.
Hoje, parei diante de uma árvore enorme. Pensei há quantos anos estaria ali. Certamente bem mais que a minha idade e, acredito que continuará ali, bem firme depois de eu já te virado pó. Encostei a minha mão ao seu tronco. Então, observei que a minha mão e o tronco partilham uma rugosidade semelhante. Pequenos sulcos percorrem a minha mão em todas as direções, linhas que se estendem e cruzam pela minha mão formam um enorme emaranhado de pequenas, minúsculas formas. Rugas subtis vão aparecendo com o passar dos anos. Não as temo nem lamento: ajudam a contar e escrever a minha história. Também o tronco exibe sulcos que formam um enorme emaranhado semelhante ao da minha mão, como um puzzle de milhares e milhares de peças encaixadas umas nas outras. E também o tronco ajuda a contar a história da árvore. A Natureza é cheia de formas que se mimetizam. A copa das árvores é semelhante ao formato do nosso pulmão. Se observarmos uma cenoura cortada, percebemos a semelhança com o nosso olho. O formato da noz lembra o do cérebro. Imagens do espaço, da imensa rede cósmica, são idênticas às da nossa rede neural. Não será por acaso. Somos todos feitos da mesma matéria, somos todos parte de uma mesma coisa, entrelaçada nas linhas da minha mão, nos sulcos do tronco da árvore. Somos incontáveis peças minúsculas que se encaixam para formar esta enorme teia a que chamamos Vida.
quarta-feira, 7 de junho de 2023
120-365
Nunca sabemos qual frase ou conversa vai ficar connosco pra sempre. Algumas conversas que tive com o meu professor de piano na Faculdade, por exemplo, permanecem comigo. Em uma delas, ele falava-me sobre a intrínseca, inata e imutável necessidade que o ser humano tem de conexão. Fomos feitos para criar laços. Deu-me o exemplo dos moradores de rua. Excluídos de um convívio social, solitários, a grande maioria tem um fiel companheiro, a quem se dedica carinhosamente: um cão. Vejo isso diariamente. Moradores de rua que aconchegam o seu cão no seu colchão ou barraca, com quem dividem o cobertor e a pouca água e comida que têm, com quem brincam. A quem, visivelmente, entregam o seu amor e por quem se sentem amados.
Criar laços, dar e receber amor são, inequivocamente, necessidades básicas do ser humano. Não por acaso, nas chamadas zonas azuis - regiões em que há uma invulgar percentagem de pessoas centenárias - concluiu-se, em estudos, que um dos fatores que explica a longevidade dos seus habitantes é, precisamente, o senso de comunidade, o senso de pertencimento. Nas zonas azuis, além de as pessoas cultivarem hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, exercício físico, boa rotina de sono, o grande diferencial é a comunidade: as pessoas estabelecem relações profundas de amizade entre si. Sentem-se amparadas e acolhidas. Têm com quem chorar e com quem rir. A vida é partilhada e ganha um novo sentido nessa partilha. Além disso, nessas comunidades, todos contribuem de alguma forma, todos se sentem parte de uma coisa maior. Isso também é essencial porque o ser humano encontra propósito. E o nosso propósito maior é servir. Pense bem: quando é que se sente mais realizado? Quando sente que, de alguma forma, contribuiu. E não é preciso ser uma contribuição extraordinária como descobrir a cura de uma doença, fazer voluntariado em um país mais desfavorecido ou doar uma enorme quantia de dinheiro para alguma instituição de caridade. Pode ser em gestos simples: preparou, carinhosamente, a refeição da família. Separou o lixo para a reciclagem. Partilhou um vídeo, um livro, um filme que vai ajudar ou inspirar outra pessoa. Foi gentil com alguém. Doou o seu tempo a alguém. Realizou o seu trabalho da melhor forma possível. Procura aprimorar-se, evoluir, ser "a mudança que quer ver no mundo" (Gandhi) e educar os seus filhos de forma a inspirá-los a fazer o mesmo. Pequenos gestos, por vezes, são uma enorme contribuição para quem nos rodeia. Nunca sabemos a diferença que uma simples palavra ou conversa pode fazer na vida de outra pessoa. O quanto vai reverberar no futuro. Ou um singelo sorriso - pode mudar o rumo de um dia! Numa sociedade aparentemente cada vez mais capitalista em que impera o egoísmo, ganância, egocentrismo, e o "cada um por si", ainda há muita, muita gente que, felizmente, cultiva outros valores. De acordo com a bonita filosofia Ubuntu "eu sou porque nós somos". Neste imenso mecanismo que é a Humanidade, somos todos pequenas engrenagens. Não há real separação entre nós, por isso, as ações de uns, refletem-se nos noutros. E o que mais nos torna humanos é as conexões que fazemos. O que mais nos preenche é a realização de servir aos outros. O que mais nos fortalece é seguir juntos. "Se quer ir rápido, vá sozinho; se quer ir longe, vá acompanhado." (Provérbio africano). (Talvez por isso, os habitantes das zonas azuis, cheguem "tão longe").
119-365
sábado, 3 de junho de 2023
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Quando estamos a atravessar uma fase complicada seja por que razão for (saúde, trabalho, relacionamentos, dinheiro), é fácil deixar a mente escapar para pensamentos derrotistas, negativos. Esse tipo de pensamentos gera em nós emoções de baixa vibração como medo, ansiedade, raiva, tristeza. Quanto mais vibramos nessas emoções, mais o nosso corpo responde com a produção de hormónios (cortisol, adrenalina) que reforçam a nossa sensação de stress, ansiedade ou mesmo depressão, e menos produz hormónios que nos causam sensação de bem-estar (dopamina, serotonina, ocitocina). Pensamentos geram emoções que geram sensações que perpetuam os pensamentos que geram as emoções. É comum dizer-se (e ouvir-se) nessas fases "pensa positivo!" Sim, essa é uma das saídas. Gerar novos pensamentos, mais elevados, positivos, gera, por sua vez, novas emoções. A questão é que de todos - pensamento, emoção e sensação - o pensamento é o mais subtil. Então, outra saída é começar pelo corpo, que é o mais denso e, por isso, mais fácil de perceber, aceder e manipular. O corpo, na verdade, reflete todas as nossas emoções. Pense em momentos em que sentiu medo. Como estava o seu corpo? Encolhido, recolhido, ombros para baixo, encurvados. Em momentos em que se sente confiante, feliz, o peito fica aberto, o queixo para o alto. Quando estamos tristes, choramos, quando estamos felizes sorrimos. Quando não está receptivo ao que lhe estão a dizer, cruza os braços. Quando está nervoso, sentado, mexe involuntariamente as pernas ou os dedos das mãos. Quando ouve música, o corpo reage. Quando se sente ansioso, nervoso, sente "borboletas no estômago". Quando está realmente nervoso pode até ficar com um desarranjo intestinal. Em certas situações, não é à toa que dizemos "foi como um soco no estômago." As nossas emoções não são meras vivências mentais: permeiam todo o corpo e todo o corpo armazena as suas memórias. As nossas memórias não ficam apenas guardadas em algum canto do cérebro mas, através do sistema nervoso que percorre o corpo inteiro, ficam em cada célula do corpo. Tensões no corpo, refletem, muitas vezes, tensões emocionais. Por isso, começando por desatar alguns "nós" do corpo, podemos começar a aceder à mente e emoções. Movimente-se, faça yoga, tai chi, Qigong, corrida, musculação, surf, escalada, nade, dance, pule, abane o corpo! Faça uma caminhada, sinta o vento no rosto, os cheiros, observe a Natureza, ative os seus sentidos, a sua percepção. Tudo o que colocar a energia do seu corpo em movimento é válido. Faça exercícios de respiração. A respiração é uma das formas mais imediatas e eficazes para nos conectarmos com o corpo, com as sensações. Feche os olhos, coloque as mãos sobre o peito e respire. Tente reproduzir algum momento marcante pelo qual seja muito grato. Não pense apenas, mas sinta, sinta no corpo a sensação de gratidão. Procure as sensações no peito, na barriga, nas extremidades. Elas estão aí, nas células do seu corpo. Sinta-as e coloque tudo em movimento: sensações, emoções e pensamentos. Quando se aperceber, estará a pensar de outra forma, a nutrir outras emoções e sensações. Não desista! O seu corpo sabe as respostas. Aprenda a fazer as perguntas.
sexta-feira, 2 de junho de 2023
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Uma coisa que tenho aprendido nos últimos anos com o yoga e outras práticas como meditação e breathwork, é o quanto a nossa mente e corpo têm uma forte conexão. Um permeia o outro, reflete o estado do outro, são totalmente interligados, entrelaçados. Intelectualmente, talvez isto não seja novidade para ninguém. Talvez pareça ser uma coisa óbvia. O problema é que cada vez estamos mais desconectados do nosso corpo. E cada vez mais queremos entreter a nossa mente em todas as horas do dia. Então, embora esta ligação exista, não paramos, durante o nosso dia, para a perceber, para a conhecer, para lhe dar atenção, para a explorar a nosso favor. Quantas vezes no dia percebe a sua respiração? Sim, estava a respirar até agora e só agora que leu isto é que percebeu o ar a entrar e a sair das narinas, talvez os movimentos da barriga ou do peito. Fique à vontade, pode parar uns segundos para ver como está a sua respiração. Curta? Mais alongada? Tem pequenas pausas entre a inspiração e a expiração? E agora que parou estes momentos para sentir a respiração, será que se apercebeu de alguma tensão no corpo? Como está o seu pescoço, os seus ombros, os músculos da face, testa, maxilar? Talvez tenha sentido alguma espécie de formigamento nas mãos ou nos pés. Ou talvez alguma outra região do corpo tenha chamado a sua atenção. Agora que prestou atenção à sua respiração, ao seu corpo, o que aconteceu com a sua mente? Talvez aquela preocupação que estava na sua cabeça tenha dado uma trégua? Talvez aqueles pensamentos que andavam aí em loop tenham perdido, por momentos, a força. Ou talvez nem tenha conseguido prestar atenção ao seu corpo porque a mente se intrometeu.
A respiração é uma coisa fascinante. Já na Bíblia encontramos "E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente." É a primeira coisa que fazemos quando nascemos e a última coisa que faremos na vida. A vida começa com uma inspiração e acaba com uma exalação. Entre uma e outra, acontece incontáveis e incessantes vezes na nossa vida. Através dela, as nossas células obtém a energia necessária para funcionar e se reproduzir. Através dela, descartamos o CO2 de que não precisamos. (E através desse CO2, as plantas conseguem fazer a sua fotossíntese! Então a nossa respiração não apenas está ligada ao nosso corpo mas ao de outros seres vivos.) Acontece involuntariamente. E adapta-se involuntariamente: em esforço físico, precisamos de mais oxigénio, então respiramos mais vezes e de forma mais curta. Em repouso, fica mais alongada. Quando estamos stressados, assustados, angustiados também fica mais curta, irregular. Em certos momentos, suspiramos. Mas a respiração também pode acontecer conscientemente: podemos respirar fundo, respirar de forma ofegante, inspirar e expirar na velocidade que decidirmos, até suster a respiração por alguns segundos ou minutos. A respiração consciente permite-nos prestar atenção ao nosso corpo, às nossas sensações e, dessa forma, retirar a nossa atenção da mente. Não é possível contar inspirações e expirações, colocar o foco no que está a acontecer no corpo, onde estão as tensões, onde formiga, etc, e, ao mesmo tempo, estar a pensar no trabalho que tem para fazer ou na conta para pagar ou na louça para lavar. Então, a respiração consciente, concede-nos uma pausa do burburinho interno. Ao mesmo tempo, pelo facto de mexermos no ritmo na respiração, vamos produzir efeitos químicos no nosso corpo que podem conduzir a nossa mente a um estado mais relaxado, por exemplo. Quando respiramos fundo, o nosso corpo deixa de produzir tantos hormónios "do stress" (cortisol, adrenalina) o que envia um sinal ao cérebro de que está tudo bem, não estamos em perigo. A mente pode sossegar. Comece a usar a respiração a seu favor, o corpo a seu favor. Perceba as tensões que ele carrega, respire fundo nelas, use a exalação como forma de "deitar fora" o que não lhe serve. Inspire vida, energia, amor, expire mágoas, cansaços, preocupações. Conduza a sua respiração para que ela o leve a lugares melhores.
quinta-feira, 1 de junho de 2023
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Por vezes não temos noção do quanto as nossas crenças nos condicionam. Às vezes, a diferença entre conseguir ou não conseguir está no nosso "mindset". É famosa a história do recorde mundial da milha: até Roger Bannister bater o recorde de correr a milha em menos de 4 minutos, achava-se que o corpo humano não poderia aguentar esse esforço. Médicos e cientistas acreditavam que, se alguém tentasse, morreria. No mês seguinte a Bannister bater o recorde, o recorde foi novamente batido por outro corredor e, nos 3 anos seguintes, caiu mais 15 vezes! O que mudou? A crença. Quando se percebeu que era possível, quando se passou a acreditar que se podia, aconteceu sucessivas vezes. Moscas podem voar a alturas elevadas. Mas, quando as prendemos em um recipiente fechado por um tempo e as libertamos depois, não mais voam acima da altura em que ficaram condicionadas a voar. O que mudou? A crença daquilo que são capazes de fazer, a crença do que é possível. Quantas pessoas tiveram remissões ou curas consideradas milagrosas pelos médicos e pela ciência? Apenas porque escolheram acreditar que a cura era possível, escolheram descartar a crença de que não havia mais nada a fazer.
Acredite no poder de acreditar. A sua crença pode ser o seu único obstáculo, a única coisa que o impede de atingir o seu objetivo. Escolha as suas crenças cuidadosa e criteriosamente. Mantenha apenas as que o elevam. Analise quais correspondem, verdadeiramente, a uma escolha sua e descarte todas as outras que, ao invés, resultam de influências externas - o que os pais/avós acreditam, a opinião dos professores, o que os amigos disseram, o que a comunicações social dissemina. As crenças são demasiado poderosas e determinantes para que concedemos esse poder a alguém mais que nós mesmos. Exerça a sua escolha.