sexta-feira, 28 de junho de 2013

Pensamentos soltos

Não deixa de ser, no mínimo, curioso que, após a onda de protestos pelo país (e até mundo afora), tanta coisa esteja a ser aprovada, formulada ou abandonada.
Felizmente que os protestos surtiram algum efeito...Mas fica a questão: porque é que essas medidas não foram tomadas antes? Se em menos de uma semana foi possível evitar subidas de tarifas - e fica outra dúvida: se era possível evitar, porque subiu?-, aprovar novas leis e pôr em cima da mesa novas ideias, porque tudo isso não foi feito antes?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Coisas que me fizeram parar





O outono está cheio destas árvores decoradas de pequenas flores cor de rosa. Conforme caem, formam um manto ora denso, ora disperso, mas, seja como for, bonito de se ver.

Conversas paralelas

Dentro do ônibus é impossível não se ouvir algumas conversas entre passageiros. Há dias, presenciei um diálogo muito interessante entre uma senhora idosa e um senhor sensivelmente na mesma faixa etária que ela.

- Vou sair no ponto próximo ao Hospital...que é o lugar de gente da nossa idade neste país. - disse ele a rir.

- É...esse país não vai bem - respondeu ela, e acrescentou logo em seguida- E essa nossa juventude, hein? Saindo às ruas, se expressando...Eu bato palmas!.. Tem mais é que gritar mesmo! Eu é que já não posso, que minhas pernas não permitem, senão também eu estaria lá no meio deles gritando e muito!

- É uma vergonha, tanta corrupção, esses políticos inúteis- concordou ele.

- E viu que a Dilma ainda foi falar com o Lula? O que é que esse aí ainda tem que ver com a história? Não saiu já? Não tem porquê falar com ele sobre o que fazer - respondeu indignada. - E o outro lá que só fica contra os gay. Eu não sou contra nada disso, não. O corpo é de cada um, e cada um faz o que entende com ele. Eu só não concordo com a violência. Isso não pode! Aquele gente que vai de rosto tapado, a gente vê logo que não é gente séria. Gente do bem vai de cara limpa. Naqueles vândalos a polícia tem mais é que bater mesmo!

- Onde será que vai para isso aí, hein? - questionou ele.

- Eu não sei, mas eu espero que essa juventude consiga levar o nosso Brasil pra melhor. O nosso país é muito rico, muito rico. Tem tudo pra dar certo.

- É verdade. E essa juventude merece um país melhor. - concordou ele - Meu ponto. Tudo de bom para a senhora.

- Tudo de bom para o senhor também.

E ela sorriu para mim. Acho que pensou que eu era uma jovem brasileira que sai para a rua para protestar. Como eu disse um destes dias quando me perguntaram se estou a ir para a rua lutar pelo Brasil "bom, para a rua eu não vou, mas eu estou na torcida!"

domingo, 23 de junho de 2013

Eu

Eu sou eu,
Tu, ela, nós
E eles também.

Eu sou filha,
Sou mãe,
Irmã, amiga
E mulher.

Eu sou nenhum,
Sou todos
Ou até alguém.

Eu sou amor.
Sou esperança e desânimo,
Fé e descrença.
Eu sou dor.

Eu sou pôr-do-sol
E aurora,
Lua cheia e lua nova,
Raio de sol
Que trespassa a nuvem
E nuvem que pinta o céu.

Eu sou mar.
(Imenso mar
Que aproxima e distancia!)
Sou lago, montanha,
Folha de outono
E flor de primavera.

Eu sou música,
Consonância e dissonância,
Maior e menor,
Preto e branco.

Eu sou sonho.
Sou passado,
Presente
E futuro (talvez).

Eu sou as escolhas
Que fiz
E as que deixei de fazer.

Eu sou tudo (isto)
E nada (disto).
Sou o que as palavras
Não dizem
E o que o silêncio
Não cala.

Tudo quero
E nada espero.
Sou espera ansiosa
E pressa paciente.
Sou a paz
E a loucura dormente.

Eu sou o que sou
O que fui
E o que sonho ser.
(Eu sou.)
Eu.

sábado, 22 de junho de 2013

Coisas que me fizeram parar




De todas as manifestações das últimas semanas, esta foi das que me arrepiou mais. Talvez porque a música me corre nas veias, e ouvir uma multidão a cantar a cappella atinge em cheio o meu centro de emoções.

É bonito o que o povo brasileiro está a fazer: erguer a voz por um futuro melhor. Um presente melhor.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Coisas que me fizeram parar








As orquídeas. Fazem-me parar quase todos os dias.
Pelo que tenho entendido, este é um costume da cidade de São Paulo ( pelo menos em alguns bairros) : as orquídeas nas árvores. Vejo-as por todo o lado. E gosto! Muito. São pequenos, inesperados e especiais toques de beleza. Como se de verdadeira poesia tratasse.

Os brasileiros e as manifestações

Tem sido uma semana intensa.  Aqui, acolá e acoli pelo Brasil inteiro - e até fora do Brasil - há manifestações contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. Como moramos próximo à Avenida Paulista, que tem sido o palco principal das manifestações em São Paulo, temos convivido diariamente com o som incessante dos helicópteros que captam as imagens dos protestos. Eu diria que esse aumento da tarifa dos transportes foi apenas a motivação, a gota de água que fez transbordar a paciência dos brasileiros e os fez sair do descontentamento inerte para a demonstração ativa dos seus pontos de vista. As manifestações, todos os protestos, vão muito além da questão da tarifa dos transportes. É um protesto contra tudo o que vai ficando entalando na garganta do povo, esganada por tanta indignação e por um custo de vida quase insustentável para a grande maioria das pessoas. Num país em que falta quase tudo - educação e saúde pública de qualidade, segurança, infraestruturas que possibilitem um maior e melhor crescimento- e em que sobra corrupção, a organização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos choca muita gente. É bom para o país? Certamente terá o seu lucro. Mas o povo não precisa de estádios. Ainda para mais de estádios que, após esses eventos, pouca ou nenhuma utilidade vão ter. (Veja-se o exemplo do que aconteceu com o Estádio de Aveiro em Portugal, ou mesmo do Estádio do Algarve.) Do que se precisa é de escolas, hospitais, um transporte público mais eficaz, de não ter medo de andar na rua, de ter empregos com salários compatíveis com o custo de vida deste país, ou então de um custo de vida compatível com a realidade da grande maioria dos salários deste país. O preço das coisas aumenta a cada dia. Dou um pequeno exemplo: há três semanas comprei uma embalagem de papa para o meu filho por R$7,99. Esta semana deparei-me com uma alteração no preço: R$9,25. Diga-se que, só de si, R$7,99 por uma embalagem de papa é caro! O que dizer, então, do aumento? E já nem falo dos produtos na feira, no supermercado, ou ainda de roupa ou tudo o que seja artigos para criança. Não é à toa que quem tem a possibilidade de viajar para a Europa ou Estados Unidos, volta com as malas cheias de todo o tipo de coisas compradas lá. E note-se que quem tem a possibilidade de fazer essas viagens são pessoas de boa ou muito boa condição económica. Ainda assim, não hesitam em poupar (e bem!) na hora de comprar fora do país- e notem como é contraproducente: quem tem poder de compra, opta por comprar fora do país. Isto são apenas exemplos triviais do que aqui se passa (e fico-me por estas coisas mais simples: nem vou entrar no assunto da creche.) Do que se passa na realidade de quem vive aqui todos os dias, e não do que se passa na realidade dos relatórios de crescimento económico ou  quaisquer outras ferramentas políticas. A ideia que se vendia aos brasileiros e ao estrangeiro já não cola. Isto não é o mar de oportunidades que se pinta nos noticiários. Com certeza está bem melhor que a Europa e que muitos países mundo afora. Ninguém põe isso em causa. Só não está é tão bom quanto se tenta fazer crer. Mas ao que parece, o povo já não crê que vai ver: quer ver para crer. Está de olhos bem abertos, e saiu às ruas para mostrar que já não quer só ouvir conversa fiada. Quer concretizações visíveis, palpáveis, que façam a diferença no rumo deste país, destas pessoas. Um país que tem beleza natural, um povo acolhedor, recursos naturais riquíssimos, que tem tanto por fazer, tem a obrigação de fazer muito mais,de ser muito mais! É só seguir a direção certa.
Tal como Portugal, o Brasil não tem uma classe política que honre o seu país. É uma classe política que coloca o país a servi-la, a desmando dos seus interesses pessoais, e não, como deveria ser, que se coloca ao serviço do país. Mas, tal como em Portugal, as pessoas comuns estão a mostrar-se mais atentas, mais reivindicativas. Pena que, no meio de toda a multidão que simplesmente quer exercer os seus direitos democráticos, haja umas poucas dezenas que recorrem à violência, depredação e até saque. Notável o que aconteceu ontem em Brasília, e hoje na Avenida Paulista em São Paulo: tudo de forma absolutamente pacífica e ordeira. Só a força da massa humana, a energia eletrizante de dezenas de milhares de vozes a cantar o hino brasileiro. Assim os argumentos são ouvidos. Assim só dos argumentos se pode falar. E é isso que move todos os que caminham por aquelas ruas que, no dia a dia, são de trânsito intenso e nesta semana se transformaram em enormes passadeiras repletas de gente. Até onde vão caminhar? Qual o objetivo que as motiva neste momento?
Os próximos dias o dirão.
Uma coisa é certa: o que esperam alcançar no final do caminho é um futuro melhor. E uma coisa ninguém lhes tira: a esperança nesse futuro. É por acreditarem nele que continuam a dar cada passo. E enquanto caminham, com o vento da mudança a bater-lhes no rosto, o futuro aproxima-se, a pouco e pouco.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Coincidências do arco da velha

Toca o telemóvel. Atendo. "Joana? É a Magda." Corro mentalmente o mais rápido que me é possível o nome de todas as mães e até babás dos meus alunos. Nenhuma Magda. Entretanto a senhora vai falando, que eu fiquei de confirmar alguma coisa, que estava a aguardar. Eu vou respondendo "sim" e "pois" enquanto continuo a tentar situar-me. Sem entender coisa alguma, confesso "desculpe, com quem eu falo?" O telefonema termina sem eu perceber bem como e sem ter a menor ideia do que acabou de acontecer. Só depois me apercebo que tenho duas chamadas perdidas do mesmo número e um recado novo. "Joana, é a Magda. Por favor entre em contacto." Não, não conheço nenhuma Magda. Ainda assim, por descargo de consciência, ligo de volta. Atende uma senhora de mais idade. Pede desculpa. Que foi engano.
A senhora conseguiu errar o número para que queria ligar e ir parar ao número de uma homónima da sua destinatária!..
Como dizia o outro "E esta, hein?"

Eu e o ônibus

O meu meio de transporte aqui em São Paulo é o ônibus (em português de Portugal: autocarro). Para ser mais exata, ônibus combinado com umas boas caminhadas. Numa semana em que tanto se fala de ônibus por aqui, é um assunto que vem a calhar.
Normalmente não tenho de esperar muito para que chegue o certo para mim, o que é uma coisa muito boa. No trajeto de ida, está sempre mais vazio e vou sentada. No trajeto de volta, é mais comum estar cheio ou para lá caminhar e venho em pé.
Os trajetos que percorro são quase sempre pela Av. Brigadeiro Luis Antonio. Todos os dias, ouço várias vezes as duas frases mais proferidas nos ônibus que fazem esse trajeto: "vai a Brigadeiro inteira?" ou "cruza a Paulista?" Se eu que ando para lá e para cá, no máximo, uma vez por dia ouço essa frase uma meia dúzia de vezes, imagino quantas e quantas e quantas vezes os motoristas as devem ouvir. Ainda assim, respondem, na grande maioria das vezes, com educação. Os motoristas e cobradores tendem a ser simpáticos, embora aqui e ali haja aqueles mais carrancudos e sem a menor intenção de ajudar os que estão mais desorientados.
Uma coisa que acontece de quando em vez e deixa toda a gente perplexa dentro do ônibus é quando o motorista decide parar junto a algum café, bar ou lanchonete para que o cobrador saia do ônibus e vá comprar alguma coisa que lhes faz falta, seja água, comida ou ambos. Nós, passageiros, entreolhamo-nos, encolhemos os ombros, e de vez em quando há alguém que ergue a voz para dizer "olha a falta de respeito..."
Gosto quando me calham os ônibus novos: com televisão que vai passando as principais notícias do dia, o tempo, previsão astrológica, alguns questionários de cultura geral ou atualidade ou inutilidade. Coisas simples que nos distraem na viagem. Na verdade, distraem uma parcela bem pequena das pessoas que vão no ônibus, porque a grande maioria vai de fones nos ouvidos, agarrado ao celular, tablet ou qualquer outro tipo de dispositivo móvel com acesso à internet ou qualquer outra diversão. Marca registada dos tempos que correm: sempre conectados, sempre em com um tweet ou um post na ponta dos dedos, seja a que hora ou local for. A única coisa que incomoda são aquelas pessoas que vão alegres e contentes entretidas com os joguinhos nos seus aparelhos móveis...com o som ligado! E é cada som mais irritante!.. Principalmente pela insistente, persistente, e às vezes desesperante repetição com que se sucedem.
Há uma dúvida que me assola em quase todos os trajetos de ônibus em que tenho a felicidade de ir sentada: ceder ou não ceder o lugar, eis a questão. E passo a explicar: se se trata de uma grávida, cedo sem hesitar; se se trata de um senhor, só se tiver visivelmente muita idade ou alguma dificuldade de locomoção; o problema é quando se trata de uma senhora. Se cedo o lugar, pode sentir-se ofendida por a considerar uma pessoa de idade. Se não cedo o lugar, passo por má cidadã. Por vida das dúvidas, acabo sempre por ceder, e muitas vezes recusam a oferta.
Como alguns trajetos são bem demorados - embora as distâncias percorridas não sejam grandes, mas o trânsito de São Paulo tem dessas coisas - há quem aproveite para dormir um pouco.
E assim se vai de ônibus em São Paulo.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Eu e o pôr-do-sol



Se há coisa que me deixa absolutamente deslumbrada é o pôr-do-sol. Fico extasiada, mergulhada no silêncio das cores que pintam o dia antes de, gentilmente, ceder o lugar à noite. Confesso que um belo céu estrelado ou a visão da lua, seja cheia, nova ou em qualquer fase intermédia, também me enchem as medidas, mas não tanto quanto a imensidão de um belo pôr-do-sol. Não sei desde quando ou onde surgiu este encantamento. Sei que recordo claramente alguns momentos desses que já presenciei. Na minha primeira viagem ao Brasil, no vôo de volta, fomos presentados com um belo pôr-do-sol. Mais bonito do que qualquer um que eu já tinha visto com os pés assentes no chão. O meu lugar no avião não era na janela, mas o simpático casal brasileiro que estava na janela mais próxima ao meu lugar, apercebendo-se do meu encanto, prontificou-se a deixar-me aproximar da janela e tirar fotografias. Numa outra viagem, ao Vimeiro, no final de uma tarde em que tentámos acertar na bola algumas vezes a jogar ténis, subíamos as escadas de volta ao hotel quando estagnámos a olhar para o mar enquanto o sol, lentamente, se deitava atrás dele. Eu, o meu irmão, um grande amigo nosso e a filha mais velha dele. Ficámos em silêncio. Parámos sem combinar, sem dizer uma palavra. Passaram-se alguns minutos, olhámos uns para os outros, suspirámos com um sorriso no rosto, e retomámos a subida. Só uns dias depois comentámos que momentos daqueles chegam para dar um sentido à vida, e como era especial aquele nível de cumplicidade que nos permitiu viver aquele momento juntos. E era mesmo. Noutra ocasião, fui acampar com amigas. A muito custo - mas muito mesmo- montámos a tenda, próximo a uma falésia. No final do dia, juntava-se um considerável aglomerado de gente ali para presenciar aquele momento único no dia: o espetáculo do pôr-do-sol. No Verão do nosso casamento, os finais de tarde à beira da praia de São Julião também eram especiais. Eu e o meu namorado - atual marido- sentados no café com vista para o mar, de mão dada e com o azul do mar e os tons do pôr-do-sol a colorir o nosso amor. No começo deste ano, de visita a Lisboa, recordei como é bonito o pôr-do-sol na minha cidade, num miradouro da Graça, com o Tejo como cenário. E quantos eu vi na minha cidade, não só nesta viagem - mais uma vez, a praia de São Julião-, mas ao longo da vida!.. Nós, lisboetas, nem sempre nos apercebemos ou valorizamos a beleza que a nossa cidade nos dá. Há umas semanas atrás, vi o meu primeiro pôr-do-sol deslumbrante em São Paulo. Na varanda da casa da minha cunhada. Fiquei imóvel, a contemplar, e a minha alma agradeceu. Bebeu cada cor, saboreou cada sombra, respirou cada tela pintada no céu. O meu filho viu comigo, com o olhar dele, de criança de 3 anos. Na verdade, mais entusiasmado com o meu próprio entusiasmo do que pelo que os seus olhos viam. Quem sabe daqui a 30 anos ele ficará tão deslumbrado quanto eu perante esses momentos.