terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Eu e a feira

 Sexta feira. Chegam carrinhas, camiões, camionetas. Descarregam tudo bem cedo e, metade da rua, ganha uma nova configuração até ao começo da tarde. Barracas umas a seguir às outras, rua acima, até à rua transversal. Cheiros, cores, sons. Tudo é diferente nesse dia. É dia de feira.
Saio de manhã com o pequeno e vamos às barracas do costume, comprar as coisas de sempre. Já nos conhecem. Somos bem atendidos - aquela malta sabe vender! O pequeno recebe sempre um cacho de uvas extra, cortesia da casa. É frequente ouvirmos o "pra você faço X reais, moça." É preciso manter a freguesia. No começo, reparavam no meu sotaque. Uns arriscavam apenas " você não é daqui..." Outros afirmavam sem pingo de dúvida na voz "você é portuguesa." É frequente partilharem que são filhos ou netos de portugueses. Perguntam de que cidade sou e dizem de onde são os familiares. Perguntam se o pequeno é português ou brasileiro . "Os dois. Nasceu lá, mas também tem cidadania aqui." Quando me perguntam se é do Corinthians, respondo com um sorriso "é do Benfica", mas não resisto a acrescentar "com certeza aqui vai ser do São Paulo." Na verdade, vai ser do que ele quiser, mas cada um puxa a brasa à sua sardinha... e espera que ele não escolha Corinthians ou Porto!
Ele gosta de ir comigo à feira. Ajuda a puxar o carrinho e a escolher as batatas e os tomates. Sabe qual é a ordem pela qual vamos às barracas. Todos sabem o nome dele e ele sabe o de alguns. Tudo se tornou num ritual. Passeamos pela longa rua ao som dos gritos dos vendedores. Passamos pelas barracas dos deliciosos pastéis de feira e do caldo de cana. Depois vem a do senhor que vende de tudo um pouco, desde abre-latas a brinquedos "ching-ling" que o pequeno sempre observa como quem pede. Depois vêm as cebolas, limão e alho no senhor que também vende o coco ralado que ele mesmo vai ralando toda a manhã e sempre me pergunta se "não quer levar hoje?" Bancas das bananas. Várias, com todos os tipos possíveis e imaginários de banana que, até chegar aqui, eu nem sabia da existência. Na barraca dos temperos fico impressionada com a multiplicidade de cores e aromas. Há as bancas do peixe e da carne, de todos os tipos de legumes e, claro, das frutas. Exóticas, menos exóticas. A pêra portuguesa (entenda-se pêra rocha) não falta em nenhuma!..O pequeno gosta das uvas. Melancia e pêssego completam as preferências. Eu descobri que o diospiro é caqui e que adoro abacate.
Voltamos para casa de mãos vazias...o carrinho chega cheio, pouco depois, pelas mãos do rapaz que faz o favor de nos levar as coisas a casa.
Arrumamos tudo com que nos vamos deliciar durante a semana e guardamos o carrinho vazio...até à sexta seguinte.



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