Na segunda chuvada da semana, corri o mais que pude até à paragem do autocarro - leia-se aqui "ponto do ônibus" -, já que apenas chuviscava. Pensei que se fosse rápida e tivesse sorte, entrava no autocarro antes de o dilúvio começar. Engano meu. Foi parar ao lado de todos os outros que aguardavam o transporte para a tempestade começar. A sério. Foi uma questão de um minuto. Todos enterrados o mais que podíamos nos nossos chapéus, procurávamos o melhor ângulo para evitar a chuva que nos atacava por todos os lados, mercê do forte vento que se fazia sentir, e rezávamos para o número certo aparecer na placa do autocarro. E nada. Todos menos o que interessava. Por ali, nenhum café, nenhum fosse o que fosse que nos pudesse servir de abrigo. E a chuva só piorava. Até que enfim chega um número que serve!.. Eu e meia dúzia precipitamo-nos para a porta. Raios, temos de fechar os chapéus para poder entrar! Tentamos executar essa tarefa de entrar e fechar o chapéu ao mesmo da forma mais eficaz possível. Malditos segundos que nos separam da porta. Já dentro do autocarro, sorrimos. Estamos encharcados, mas finalmente a salvo de ficar ainda pior. O autocarro está vazio. Escolho um lugar para me sentar. Diabos me levem: até dentro do autocarro chove! Um senhor certifica-se que o teto de abrir está bem fechado. Está. É defeito de vedação, diz ele. Mudo para o lugar próximo da janela. Também escorre água. Mudo de lugar e, finalmente, livro-me da chuva. O trânsito, claro, está caótico. Tudo bem, o pior já passou. Quando chegar ao destino, a chuva já vai ter passado e vou até casa sem mais sobressaltos. Fico apenas a observá-la pela janela. As gotas de água embatem com violência no vidro e, como numa dança, serpenteiam até desaparecer da nossa visão. Algumas demoram-se um pouco até começar a descida. Outras seguem apressadas num slalom desenfreado por entre as gotas que, preguiçosamente, se vão deixando ficar. No chão, caem em ritmo acelerado e bem coordenado, como se obedecessem às indicações de um maestro. A completar a sinfonia, surgem descompassados, imprevisíveis e sonoros, os raios e trovões - não há chuva que se preze em São Paulo que não tenha o seu acompanhamento. E essa é a melhor parte. Fora os sustos do estrondo, o espetáculo visual é fascinante. E assim é o bailado da chuva de verão de São Paulo.
O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
domingo, 3 de março de 2013
Eu e a chuva de (Verão de) São Paulo
Na segunda chuvada da semana, corri o mais que pude até à paragem do autocarro - leia-se aqui "ponto do ônibus" -, já que apenas chuviscava. Pensei que se fosse rápida e tivesse sorte, entrava no autocarro antes de o dilúvio começar. Engano meu. Foi parar ao lado de todos os outros que aguardavam o transporte para a tempestade começar. A sério. Foi uma questão de um minuto. Todos enterrados o mais que podíamos nos nossos chapéus, procurávamos o melhor ângulo para evitar a chuva que nos atacava por todos os lados, mercê do forte vento que se fazia sentir, e rezávamos para o número certo aparecer na placa do autocarro. E nada. Todos menos o que interessava. Por ali, nenhum café, nenhum fosse o que fosse que nos pudesse servir de abrigo. E a chuva só piorava. Até que enfim chega um número que serve!.. Eu e meia dúzia precipitamo-nos para a porta. Raios, temos de fechar os chapéus para poder entrar! Tentamos executar essa tarefa de entrar e fechar o chapéu ao mesmo da forma mais eficaz possível. Malditos segundos que nos separam da porta. Já dentro do autocarro, sorrimos. Estamos encharcados, mas finalmente a salvo de ficar ainda pior. O autocarro está vazio. Escolho um lugar para me sentar. Diabos me levem: até dentro do autocarro chove! Um senhor certifica-se que o teto de abrir está bem fechado. Está. É defeito de vedação, diz ele. Mudo para o lugar próximo da janela. Também escorre água. Mudo de lugar e, finalmente, livro-me da chuva. O trânsito, claro, está caótico. Tudo bem, o pior já passou. Quando chegar ao destino, a chuva já vai ter passado e vou até casa sem mais sobressaltos. Fico apenas a observá-la pela janela. As gotas de água embatem com violência no vidro e, como numa dança, serpenteiam até desaparecer da nossa visão. Algumas demoram-se um pouco até começar a descida. Outras seguem apressadas num slalom desenfreado por entre as gotas que, preguiçosamente, se vão deixando ficar. No chão, caem em ritmo acelerado e bem coordenado, como se obedecessem às indicações de um maestro. A completar a sinfonia, surgem descompassados, imprevisíveis e sonoros, os raios e trovões - não há chuva que se preze em São Paulo que não tenha o seu acompanhamento. E essa é a melhor parte. Fora os sustos do estrondo, o espetáculo visual é fascinante. E assim é o bailado da chuva de verão de São Paulo.
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