quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Eu e a Fada do Dente

Quando temos um filho, as coisas mais banais tornam-se extraordinárias. Ficar de gatas? Balbuciar sílabas? Dizer umas palavras? Dar uns passos?  Aprender a ler e escrever? Perder um dente de leite? Coisas triviais pelas quais todos passamos. E, ainda assim, que momentos especiais quando os vivemos enquanto mães/pais! Se há coisa que aprendemos com a maternidade é que cada momento é uma oportunidade: a coisa mais simples tem, em si, a semente da eternidade. A maternidade ensina-nos que não há nada mais importante que viver no momento presente, que aproveitar cada coisa do dia-a-dia. Através dos olhos de uma criança, tudo isso se torna evidente.
Ontem, o Mateus teve a visita da Fada do Dente pela primeira vez. Vi quando ela entrou sorrateiramente no quarto dele. Bem de leve, aproximou-se da cama dele. Observou-o a dormir, tranquilo. Muito cuidadosamente, levantou um pouco a almofada dele e procurou o dentinho de leite. Guardou-o numa caixinha, e deixou uma nota e uma moeda em troca. Sorriu e afastou-se. Esta manhã, o Mateus acordou-nos com um grito "Mããããe, paiiiiiiii, venham aqui!" Ai, Jesus, o que será que aconteceu? (De manhã cedo, o raciocínio é mais devagar...) Viu um bicho? Deixou escapar o xixi na cama? Quando chegamos ao pé dele tinha numa mão uma nota, na outra uma moeda, no rosto um sorrisão e nos olhos um brilho especial "Olha só o que a Fada dos Dentes me deixou!" "Que bom, filhote. Valeu a pena ter sido corajoso, não?" "Sim, eu já agradeci muito, muito à Fada!" "Parabéns, filho, temos de agradecer mesmo, todas as coisas boas que temos na vida."
No passado, um aluno meu disse-me muito triste e decepcionado "Joana, eu já sei que o Pai Natal não existe. São os nossos pais que nos compram os presentes de Natal." Disse-me isso com tristeza mas também lhe percebi uma esperança no olhar que eu fosse contrariá-lo, dizer-lhe que sim, que podia continuar a acreditar porque era verdade, sim! "Sabe", continuou ele "eu estou triste porque isso quer dizer que magia não existe. Não existem duendes nem Pai Natal, não existe magia..." "Não digas isso! Existe magia, sim. A vida está cheia de coisas mágicas!" "Ah, mas não é magia de verdade...", respondeu ele desapontado. "É, sim. É a magia das coisas que moram no nosso coração! Magia acontece, mesmo que não seja com pós de prilimpimpim. Só o facto de estarmos aqui, não é já magia? O amor não é magia?"
Eu sei que hoje de manhã houve magia aqui em casa.

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