sábado, 10 de dezembro de 2016

Eu e a São Paulo menos óbvia




Já o devo ter dito aqui: o meu pássaro preferido em São Paulo é o sabiá. Não que, esteticamente, seja o mais bonito. O Bem-te-vi, por exemplo, é bem mais bonito: a cabeça branca e preta que parece exibir um penteado ousado, e o peito num amarelo vivo, alegre e chamativo. Já o seu canto...é, no mínimo, entediante. O sabiá, por outro lado, exibe cores mais discretas, mas um canto lindíssimo, ímpar. Apesar de já viver aqui há alguns anos, a melodia singela e harmoniosa do sabiá continua a surpreender-me. Dou por mim a parar em ruas típicas de São Paulo, cheias de prédios, só para ouvir esse canto inesperado e inesperadamente belo. Este é um dos lados menos óbvios de São Paulo que eu mais gosto: os sabiás e bem-te-vis que cantam nas ruas mais cosmopolitas e as orquídeas que teimam em renascer enroladas nas árvores da cidade.
Há umas semanas atrás, cheguei a casa de uns alunos meus e eles estavam animados com a visita de dois hóspedes: uma sabiá-mãe e um sabiá-bebé. A sabiá-mãe tentava incentivar o pequeno a voar. Ele ensaiava, mas não conseguia. Ficaram por ali um bom tempo: o bebé procurando a mãe, a mãe esvoaçando para lá e para cá, sempre perto do filhote. Até que, após muitas tentativas...lá foram. O sabiá-bebé abriu asas e voou para longe com a mãe. Embora um pouco tristes pela partida dos dois, todos comemorámos essa pequena grande vitória do bebé: abriu asas e foi conhecer o mundo! (Eu, pessoalmente, para além da conquista do pequeno, comemorei o facto de termos mais um sabiá para nos surpreender e encantar pelas ruas de São Paulo.)

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