terça-feira, 16 de abril de 2013

Eu e o céu



É oficial: o outono é a minha estação preferida. Seja em que continente ou hemisfério for. Claro que continuo a achar que o meu outono, o nosso, lá de Lisboa tem uma beleza incomparável. O que não quer dizer, necessariamente, que a tenha. Como dizia uma querida professora minha "gostos não se discutem: lamentam-se." Mas a verdade é que eu sou apaixonada por aqueles tons de laranja, amarelo e vermelho, pelo tapete de folhas coloridas que cobre o chão das ruas, pela luz própria da estação, que nenhuma outra iguala. E foi precisamente uma luz própria que descobri aqui também este ano. No ano passado, estava demasiado ocupada a sentir saudades do meu outono lisboeta, a lamentar o verde deste outono daqui e a ausência das cores que eu tanto gosto, a sofrer com a distância para me aperceber que, apesar deste outono não ser o meu, também tem a sua beleza. E ela está no céu. Não me canso de olhar para cima nas últimas semanas! Lá vou eu na rua, e pronto, os meus olhos detém-se na cor do céu, na dança suave e ondulante das nuvens e nas formas que vão deixando para trás, nos raios de sol que ora escapam por entre as nuvens ora se escondem atrás delas pintando tudo ao seu redor de bonitas cores impossíveis de nomear. Eu sinto como se eles me atravessassem a alma, deixando um rastro de...plenitude. O meu peito abre-se para que todas essas sensações caibam lá dentro e, num longo e vagaroso suspiro repousa, encontra-se, sossega.  É uma espécie de euforia serena. Eu tenho o privilégio de estar debaixo daquele céu e aquelas cores inacreditavelmente belas ficam impressas, estampadas em algum recanto do meu ser. É uma sensação de "pertencer". Eu sou daquele céu, e aquele céu é meu e, mais ainda, os dois somos indivisivelmente parte de alguma coisa maior, pelo que, à medida que os meus olhos se perdem lá no alto, a frase cá em baixo vai-se transformando em "eu sou aquele céu e aquele céu sou eu." Não consigo evitar que um sorriso tome conta dos meus lábios. Tal como não evitava perante as cores outonais de Lisboa. Ou nas cores do pôr do sol. Aqui, só no outono vi - quando os dias não são de chuva - um pôr do sol realmente deslumbrante. Nuvens que parecem algodão doce cor de rosa, tons laranja, rosa e avermelhados, tudo espalhado pelo céu numa desordem que só a Natureza sabe ordenar: na mais pura beleza. Inimitável por qualquer pintura do mais talentoso artista.
Neste outono continuo a sentir falta do meu, mas ao invés de fechar os olhos e me enredar na saudade e melancolia, permiti-me olhar para cima e percebi que a paz de espírito de cada um pode encontrar-se nos mais diversos lugares. O que é que eu posso dizer? A mim, (por vezes,) basta-me o céu.


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