terça-feira, 10 de setembro de 2013

Eu e Deus

Nunca me preocupei com religião ou espiritualidade. São assuntos que nem me aqueciam nem arrefeciam. Se Deus existe, eu (ainda) não tive o prazer de o conhecer e, também, diga-se, não era coisa que me afetasse minimamente. Ao mesmo tempo, sempre senti, isso sim, uma energia especial fluir em mim em virtude de uma série de coisas, como o pôr-do-sol, o azul do céu, a música, a beleza de uma flor, o canto de um pássaro, ou o conforto do abraço do meu filho. A minha alma "descansa" nesses momentos. Aquela mítica sensação de "um" com tudo...já a toquei em diversos desses momentos.
E eis que nos meses que passaram li (ou reli) alguns livros que, aparentemente, não tinham qualquer coisa que fosse em comum: "O símbolo perdido" de Dan Brown, "Comer, orar e amar" de Elizabeth Gilbert e "Maturidade" de Osho, e todos eles, de alguma forma, me apontaram um mesmo caminho e mexeram irremediavelmente com o meu coração.
O primeiro que li desta sequência foi o de Dan Brown. Boa leitura, como todos os outros que li dele. Empolgante e cheio de curiosidades históricas. Algumas passagens do livro, no entanto, chamaram particularmente a minha atenção e levaram-me à reflexão.



"Na verdade, a mais antiga busca espiritual do homem era para perceber seu próprio entrelaçamento, sentir sua interconexão com todas as coisas. O homem sempre quis se tornar "um" com o Universo...alcançar o estado de união." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"- Peter, a Bíblia e os Antigos Mistérios são opostos completos. Os mistérios falam do deus dentro de nós...do homem como deus. A Bíblia fala do Deus acima de nós...e nela o homem é um pecador impotente.
- Isso! Exatamente! Você tocou no xis da questão! No instante em que a humanidade se separou de Deus, o verdadeiro significado da Palavra se perdeu. As vozes dos antigos mestres foram engolidas pela ladainha caótica daqueles que se autoproclamam escolhidos e gritam serem os únicos a compreender a Palavra...que está escrita na sua língua e em nenhuma outra. 'Não sabeis que sois deuses?' "
(...)
- Buda disse 'Você mesmo é Deus.' Jesus ensinou que 'O reino de Deus está entre vós' e chegou até a nos prometer que 'Quem crê em mim fará as obras que eu faço e fará até maiores do que elas.' Até mesmo o primeiro antipapa, Hipólito de Roma, citou a mesma mensagem, dita pela primeira vez pelo erudito gnóstico Monoimus: 'Abandone a busca por Deus...em vez disso, procure por ele tomando a si mesmo como ponto de partida.' "
Langdon se lembrou da Casa do Templo, onde a cadeira do Cobridor da loja trazia, em seu espaldar, a inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO.
- Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se esqueceu de que é divino." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"Com delicadeza, ela ergueu a mão e tocou a têmpora de Langdon.
- Existe um motivo para temple, em inglês, significar tanto 'têmpora' quanto 'templo', Robert.
Enquanto Lagdon tentava processar o que Katherine acabara de dizer, lembrou-se inesperadamente do Evangelho gnóstico segundo Maria: Onde a mente está, lá está o tesouro." (O Símbolo Perdido- Dan Brown)



"- Talvez você tenha ouvido falar nos exames de ressonância magnética feitos em iogues meditando. Quando em estado avançado de concentração, o cérebro humano produz, por meio da glândula pineal, uma substância parecida com cera. Essa secreção cerebral não se parece com nenhuma outra substância do corpo. Ela tem um efeito incrivelmente curativo, é capaz de regenerar células e talvez seja um dos motivos por trás da longevidade dos iogues. Isso é ciência, Robert. Essa substância tem propriedades inconcebíveis e pode ser criada por uma mente em estado de profunda concentração. 
O mais incrível de tudo é que, assim que nós, humanos, começarmos a dominar nosso verdadeiro poder, teremos enorme controle sobre o mundo. Seremos capazes de projetar a realidade em vez de simplesmente reagir a ela. Se os pensamentos afetam o mundo, então precisamos tomar muito cuidado com a maneira como pensamos. Pensamentos destrutivos também têm influência, e todos sabemos que é muito mais fácil destruir do que criar." (O Símbolo Perdido- Dan Brown).


Segui para o livro seguinte que encontrei, por acaso, perdido aqui por casa. Até já tinha visto partes do filme baseado em "comer, orar e amar", mas não me recordava bem e resolvi começar pelo princípio e ler o livro. Este, sim, mexeu muito comigo. Li todo o livro e, posteriormente, reli a parte de "orar" algumas vezes. Para minha surpresa, estava a ler, por outras palavras, algumas coisas idênticas às que tinha encontrado em "o símbolo perdido".



"Os iogues, no entanto, dizem que o descontentamento humano é um simples caso de identidade equivocada. Nós somos infelizes porque achamos que somos meros indivíduos, sozinhos com nossos medos e falhas, com nosso ressentimento e nossa mortalidade. Acreditamos equivocadamente que nossos pequenos e limitados egos constituem toda a nossa natureza. Não conseguimos reconhecer nossa natureza divina mais profunda. Não percebemos que, em algum lugar dentro de todos nós, existe um Eu supremo que está eternamente em paz. Esse Eu supremo é a nossa verdadeira identidade, universal e divina. Se você não perceber essa verdade, dizem os iogues, estará sempre desesperado, ideia expressa de forma inteligente na seguinte frase irritada do filósofo estóico grego Epíteto: "Você leva Deus dentro de si, seu pobre desgraçado, e não sabe disso." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"Mas ioga também pode significar tentar encontrar Deus por meio da meditação, por meio do estudo erudito, por meio da prática do silêncio, por meio do serviço da devoção, ou por meio de um mantra - a repetição de palavras sagradas em sânscrito. Embora algumas dessas práticas pareçam ter uma derivação bastante hinduísta, ioga não é sinónimo de hinduísmo, nem todos os hindus são iogues. O verdadeiro ioga não compete com nenhuma religião, nem a exclui. Você pode usar seu ioga - as suas práticas disciplinadas de união sagrada- para se aproximar de Krishna, Jesus, Maomé, Buda ou Javé. (...) 'Nosso propósito nesta vida, portanto', escreveu Santo Agostinho, ele próprio um pouco iogue, 'é recuperar a saúde do olho do coração através do qual se pode ver Deus.'" ("Comer, Orar e Amar"- Elizabeth Gilbert)

"Existe um motivo pelo qual Deus é chamado de presença - porque Deus está bem aqui, agora. O presente é o único lugar onde se pode encontrá-lo, e o agora é o único momento. No entanto, permanecer no presente exige que a pessoa se concentre inteiramente em um só ponto. Diferentes técnicas de meditação ensinam a concentração de diferentes formas. (...) Dizem que os grandes mantras em sânscrito possuem poderes inimagináveis e, se você conseguir se ater a um deles, eles têm a capacidade de conduzi-lo até as margens da divindade." ("Comer, Orar e Amar", Elizabeth Gilbert)

"Deus vive dentro de você, como você."
COMO você.
Se existe uma única verdade nesse ioga, essa frase a resume. Deus vive dentro de você como você mesmo, exatamente da maneira que você é. (...) Para conhecer Deus, você só precisa renunciar a uma coisa - à noção de que é algo distinto de Deus. Fora isso, simplesmente permaneça como foi criado, dentro do seu caráter natural." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"E o santo disse: "Não existe nada que você ame?" A mulher admitiu que amava seu pequeno sobrinho mais do que qualquer outra coisa na vida. O santo disse: "Então, pronto. Ele é seu Krishna, o seu bem-amado. Quando você serve ao seu sobrinho, está servindo a Deus." (Comer, Orar e Amar- Elizabeth Gilbert)



"Nós buscamos a felicidade por toda a parte, mas somos como o mendigo da fábula de Tolstoi, que passou a vida sentado em cima de um pote de dinheiro, mendigando centavos de todos os passantes, sem saber que sua fortuna estava bem debaixo dele o tempo todo. O seu tesouro- a sua perfeição- já está dentro de você. Porém, para acessá-lo, você precisa deixar para trás o frenesim da mente e abandonar os desejos do ego e adentrar o silêncio do coração." (Comer, Orar e Amar - Elizabeth Gilbert)



"O eixo da calma fica no seu coração. É aí que Deus reside dentro de você. Então, pare de procurar respostas no mundo. Simplesmente retorne sempre a esse centro, e sempre vai encontrar a paz." (Comer, Orar e Rezar- Elizabeth Gilbert)



" - Você precisa aprender a escolher seus pensamentos do mesmo jeito que escolhe as roupas que vai usar a cada dia. Isso é uma capacidade que você pode aprimorar. Se você quiser tanto assim controlar as coisas da sua vida, controle a sua mente. Ela é a única coisa que você deveria estar tentando controlar. Largue todo o resto, menos isso. Porque, se você não conseguir dominar seu pensamento, vai ter muitos problemas para sempre.
À primeira vista, isso parece uma tarefa quase impossível. Controlar seus pensamentos? Em vez de o contrário? Mas imaginem: e se fosse possível?" ("Comer, Orar e Amar", Elizabeth Gilbert)


No final de tudo isto, reli "Maturidade" de Osho. E lá estavam, os mesmos princípios, as mesmas temáticas, as mesmas...crenças.



"Todo o meu esforço vai no sentido de o tornar consciente de que nada é preciso, nada mais é precioso. Você já o possui aí, existe dentro  de si. Mas você terá de fazer tentativas, abrir portas, encontrar maneiras de o descobrir. Tem de escavar para o encontrar; o tesouro está lá." ("Maturidade", Osho)



"Partindo do coração, vocês encontram-se subitamente no vosso ser, exatamente no centro." ("Maturidade", Osho)



"Maturidade é saber que há algo dentro de si que é imortal, é saber que há algo dentro de si que transcenderá a morte - isso é meditação. A mente conhece o mundo; a meditação conhece Deus. A mente é uma maneira de compreender o objeto; a meditação é uma maneira de conhecer o sujeito. A mente preocupa-se com o conteúdo, e a meditação preocupa-se com o recipiente, a consciência." ("Maturidade", Osho)



"Meu amigo, eu procurava-me e buscava-me a mim próprio. Em vez de me encontrar a mim mesmo, encontrei o mundo inteiro, o universo inteiro. A gota de orvalho não desapareceu dentro do oceano, o oceano é que desapareceu dentro da gota de orvalho." ( "Maturidade", Osho)



Esta passagem fez-me lembrar uma outra que, há muitos anos atrás, vi no filme "terças com morrie". Uma ondinha ia a passear, alegremente, pelo oceano. Quando começou a avistar a costa reparou, assustada, que as ondinhas lá rebentavam, e disse apavorada para outra "vamos morrer na praia!" A outra sorriu e disse "não percebeste ainda? Tu não és uma onda, tu és parte do oceano."

E, umas quantas páginas à frente, no mesmo livro, encontro:



"Uma gota de orvalho deslizando da folha-de-lótus para dentro do oceano...Poderão pensar que a pobre gota se perdeu, que perdeu a sua identidade. Mas vejam isso de outra perspetiva: a gota tornou-se o oceano. Não perdeu coisa nenhuma, tornou-se imensa. Tornou-se oceânica." ("Maturidade", Osho).



Para terminar, nas últimas semanas, esbarrei, igualmente por acaso, neste e neste artigo.



"A fé é a crença naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de facto conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso acto de humanidade; seria apenas...uma prudente apólice de seguros.
Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser céptica, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Tudo o que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sanguínea da mesma forma que a luz se diverte sobre a água." (Comer, Orar e Amar- Elizabeth Gilbert)




Posto isto, é oficial: estou à procura de Deus. E tenho fé que estou perto de o encontrar.



"Há um ditado que diz que o primeiro passo é praticamente a jornada inteira." ("Maturidade", Osho)








Para leituras complementares:


http://www.eckharttolle.com/

http://www.osho.com/

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