segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Eu e ouvir rádio

Sempre gostei de ouvir rádio. Recebi a minha primeira aparelhagem de presente quando tinha 11 ou 12 anos de idade. À noite, habituei-me a programar o "sleep" através do controle remoto- o que, aos poucos, fui aprendendo a fazer, totalmente às escuras, apenas seguindo o tacto- e deixava-me embalar repetidamente por alguma música de qualquer CD ou então pela sucessão aleatória de músicas de uma estação de rádio. De vez em quando, nas minhas insónias, ouvia aqueles programas de rádio em que as pessoas ligam para a estação para opinar sobre qualquer tema ou partilhar alguma história de vida. Numa dessas noites, descobri um programa que passei a acompanhar por algum tempo. Cada noite tinha um tema que era discutido. Eram lidas cartas e os ouvintes telefonavam para falar em direto. Era um programa feito para "malta jovem", polémico, fazia-nos refletir, e eu sempre gostei disso.
Depois da aparelhagem veio o walkman. Talvez alguns de vocês, neste momento, se interroguem o que raio é o walkman. Bom, era um dispositivo móvel, que ouvíamos com fones. Uma espécie de pré-história do mp3, Ipod e afins. Possibilitava-nos ouvir rádio ou cassetes. E aqueles que se interrogaram sobre o que seria um walkman, pensam agora "o que será cassete?", e outros dizem "ah, sei o que é! O meu pai/irmã mais velha já me mostrou as que ele tinha", e outros, ainda, próximos da minha geração, pensam "iiiiihhhhh, as cassetes!!!.." No walkman, procurávamos as estações de rádio através de uma rodinha que, milímetro a milímetro, com toda a perícia, paciência e, às vezes, persistência, íamos rodando até encontrar alguma estação que pudéssemos ouvir sem aquele ruído chuvoso presente em tantas delas. Uma vez encontrada, lá ficávamos. Não era fácil saltar de estação em estação - ao contrário da aparelhagem, em que podíamos memorizar as nossas estações preferidas e ir saltando de uma em uma com facilidade.
Sempre ouvi muita música também no carro. No meu primeiro carro, tinha um daqueles auto-rádios bem antigos, que nem os assaltantes quiseram levar quando me entraram no carro e me roubaram as raquetes de ténis!.. Tal como no walkman, só ouvia rádio ou cassetes. Foi nesse aparelho que ouvi, para além de muita música, muitos "homem que mordeu o cão". Depois desse programa, habituei-me a ouvir alguns programas da manhã ou outras rubricas diárias. Boa disposição garantida logo no começo do dia! E música, sempre música. Muita música, de todos os géneros, tipos, nacionalidades.
Hoje, graças ao meu telemóvel munido de fones, os meus trajetos de ida e volta do trabalho são iluminados por mais notas musicais. Lá vou eu, a pular de estação em estação - no telemóvel também é fácil realizar esta operação- a ouvir ora Beethoven ou Prokofiev, ora os grandes êxitos do momento no mundo pop/rock, ora os grandes clássicos de sempre ou os grandes êxitos que já se tornaram clássicos ou algum eterno e incontornável da MPB ou do jazz. Na semana passada ouvi, em direto, um pouco dos Proms 2013. No mesmo dia, já tinha ouvido uma versão parecida com esta para a música, já clássica, dos Smashing Pumpkins "Tonight, tonight". Está certo que lhe falta aquele momento especial do início da música, mas eu sou uma inveterada fã de (boas) versões acústicas. Gosto de algumas músicas novas que passam várias vezes nas diferentes estações, como esta do Jack Johnson. Tem uma leveza e um calor que é bem-vindo nos trajetos atribulados (e, agora, frios) no trânsito de São Paulo. A música erudita fica por conta dos 103,3.
Gosto de ouvir as músicas que aprendi a adorar na adolescência. Eram a novidade. Agora são clássicos. Foi a época do grunge, da explosão de bandas como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, ou mesmo os Radiohead, num registo bem diferente do que é o seu atual. Há dias atrás, quando começou esta dos Oasis, sorri ao lembrar-me das dezenas e dezenas de vezes que a cantávamos no recreio da escola, a plenos pulmões. Entre tantas que tenho ouvido e que me remetem a este ou aquele momento, esta da Whitney Houston foi a que me levou à lembrança que revivi com mais carinho. Eu, a Joana e a Vanessa no carro, a caminho de Santa Comba Dão. Começa a música, aquela mesmo, no rádio. Sem ensaio prévio, iniciamos uma performance inesquecível! Uma cantoria desenfreada - só lá faltava o nosso amigo Franças!- acompanhada de uma coreografia que eu, ali sozinha no autocarro, recriei mentalmente. Consigo ver a expressão das minhas amigas, os gestos que improvisávamos ao som das batidas fortes que lançam o refrão, os olhares teatrais e, no final, as gargalhadas em que tudo acabou. Passados estes anos, cada uma de nós vive num país diferente, mas os laços de amizade que nos unem permanecem fortes, inalterados. Não podemos estar juntas sempre que queremos. Na verdade, mal me lembro quando foi a última vez que estivemos as três juntas. Na distância que nos separa, nem sequer falamos tanto quanto gostaríamos. Sabemos menos umas das outras do que sempre nos habituámos a saber. Mas foi nesta distância que aprendemos que, às vezes, basta saber que a(s) outra(s) existe(m). Não só lá, seja em que país for, mas aqui, no nosso coração. E às vezes basta recordar momentos como aquele no carro, ou uma simples palavra como "atitude", para nos sentirmos mais próximos até de nós mesmos. Como dizia a Vanessa, em conversa sobre este assunto e em que ela recordou outro grande dia nosso (o dia em que vimos, na sala da casa dos pais da Joana "O diário de Bridget Jones"): "às vezes preciso disso, sabes? brings us to the ground...", ou diria eu "traz-nos de volta".
E então surge a outra grande lição: fiquemos atentos, sempre e a qualquer hora, porque qualquer momento, todos os momentos são potencialmente eternizáveis.

2 comentários:

  1. Muahahahahahaah o Diário de Bridget Jones! oq ue a gente se riu nesse dia... opah eu ia ficando sem ar de tanto me rir quando a mulher desce por aquele "poste" de bombeiro e fica com o rabo ENORME em cima da câmara LOLLL.

    E sim, tb silto imensa falta das cantorias - mais berradas que outra coisa, dos tempos de adolescência. Eu era sempre aquele que queria SEMPRE cantar mais mais ninguém queria...tipo NUNCA. lol

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    1. Sim: o rabo do tamanho do...Brasil! Cena memorável! Dia inesquecível :)

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