terça-feira, 13 de outubro de 2015

Eu e o depois



Os portugueses têm o hábito de dizer "depois". E depois da eventualidade do "depois" vem a possibilidade do "a ver".

Depois a ver se vou lá.
Depois a ver se lhe ligo.
Depois a ver se faço isso.
Depois a ver se escrevo aquele texto.

Estive um mês de férias em Lisboa. Posso afirmar que tudo o que eu deixei para ver se fazia depois, não fiz. O "depois" tem esse impasse: se não o chamamos para "agora", ele existe eternamente, sem nunca deixar a ideia nele contida existir de facto. E quantas vezes ficamos a pensar no "e depois" e perdemos o que está a acontecer agora? Quantas coisas poderíamos estar a fazer agora? Enviar aquele e-mail, ler aquele livro, telefonar para aquela pessoa, arrumar aquela papelada, informar-se sobre aquele curso, dizer coisas que têm de ser ditas. Quantas coisas gostaríamos de fazer agora que deixamos para uma oportunidade melhor, para uma outra ocasião? Que outra ocasião pode ser melhor do que este momento, que é o único que temos por certo? É lugar-comum mas é uma verdade inequívoca e, até certo ponto, esmagadora: o que é realmente nosso é este momento. Este em que vos escrevo, em que o meu filho brinca aqui ao meu lado. O meu filho, no auge dos seus 5 anos e meio, tem muito para ensinar à maioria dos adultos nesse ponto de vista: ele vive agora, aproveita cada minuto das suas brincadeiras, não quer desprender-se delas, não perde tempo a pensar no que vai ser daqui a uma semana, um mês ou um ano. As datas mais longínquas em que pensa são o seu aniversário e o Natal, por motivações óbvias. Ainda assim, não sofre com isso. Tudo o que ele quer fazer, faz agora. O que o deixa triste, é agora. Não revive uma tristeza de ontem. A sua felicidade é agora. É genuinamente feliz nas coisas simples de todos os dias. Agora está a chamar-me para brincar com ele. Desculpem, por mais que vos queira falar de como acho que é importante não deixarmos as coisas para depois, tenho que ir. Agora vou brincar com o meu filho e os super-heróis dele. Depois? Depois vem outro agora e como bem diz a propaganda da Claro:





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