sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu e os reencontros

O pequenote acabou de se sair com esta, enquanto explicava, pacientemente, a um boneco: "A gente está aqui em Portugal, que é a terra da mamã e a que eu nasci. Estamos aqui a visitar toda a gente."
Sim, esta é a minha terra. E a terra em que nasceste e que, seja qual for o teu futuro, será sempre parte das tuas raízes também.

E é tão bom voltar à terra! Nestas semanas em Lisboa tive vários reencontros. O primeiro foi com a cidade. Bolas, a nossa cidade é mesmo bonita! Não sei se vocês, que continuam a viver aqui todos os dias, têm a noção do quão bonita é. Digo isto porque eu, enquanto aqui vivi, deixei de reparar em muitas coisas. Nestas semanas, eu fui uma turista em Lisboa. Uma turista na minha própria cidade. Continua a ser a minha cidade, mas já não é. Aqui, sinto-me quase uma turista, e em São Paulo, sinto-me muitas vezes quase uma extraterrestre. O que me deixa, percebi, uma cidadã sem cidade no mundo. Mas se há cidade no mundo em que me sinto em casa, é nesta, Lisboa. Foi aqui que nasci e vivi 30 anos. Dos meus pés saem raízes profundas bem fincadas aqui. Nestas semanas vi-a com outros olhos. Com aqueles olhos de quem nunca viu. Reparei em edifícios que nunca tinha reparado - aqueles com painéis de azulejos que se vêem aqui e ali mas nos passam totalmente despercebidos na correria do dia a dia. Passei em estações de metro que nunca tinha passado e detive-me a ler cada frase, a reparar em cada detalhe. Comi pastéis de Belém, queijadas de Sintra e pastéis de Santa Clara. Faltou o travesseiro de Sintra. Dei por mim a contar histórias ao meu filho que, claro, no auge dos seus 2 anos e quase 10 meses não entende. Ainda assim, ficava atento a ouvir-me dizer "a mamã andava muito neste metro, saía nesta estação para ir à Faculdade." E ele, na fase papagaio em que está, repetia "a mamã saía aqui." Sei que, um dia, hei-de contar-lhe essas e tantas outras coisas e ele vai responder-me "já me contaste essa história várias vezes, mamã" ou "você já me contou isso várias vezes, mamãe".
Para além da sua beleza, da imensidão do céu e do rio Tejo, Lisboa tem o que de melhor se pode ter nesta vida: as pessoas. Não há nada melhor que reencontrar alguém que se ama. Rever a mãe, o pai, o irmão, as grandes amigas. Eles coloriram a nossa estadia aqui. À distância, mantemos o contacto que nos é possível. O amor e a amizade não se detém com detalhes como os quilómetros que separam quem está unido nesses laços. Mas é tão bom ficar perto, mesmo que de vez em quando! Abraçar, beijar, passear, olhar nos olhos sem depender de uma câmara. Foi ótimo partilhar estes dias com vocês. É tão bom reencontrar aquelas pessoas que, mesmo não vendo há um ano ou mais, quando vemos, nada mudou. É como se tivéssemos estado juntos no dia anterior. É isso que sinto quando reencontro a minha família. Foi com vocês que primeiro conheci o significado da palavra amor. Um amor que está sempre comigo, esteja eu onde estiver. Um amor que é parte de mim, de quem sou. E depois há os amigos. Sim, vou dizer nomes. É isso que sinto também quando vos reencontro, Joana, Tânia e Inês. É por vocês e pela Raquel que sei e tenho entranhado na pele o significado da palavra Amizade, assim mesmo, com um A bem grande e gordo. Não há constrangimentos, não há falta de assunto. Há um enorme carinho e afeição. Há um espaço invisível, que conhecemos de cor, em que nos sentimos seguros para sermos nós mesmos, inteiros, sem receio de qualquer espécie de julgamento. Porque eu sei quem elas são, e elas sabem quem eu sou. Como costuma dizer a minha querida amiga Laura - curiosamente, uma lisboeta que conheci apenas em São Paulo - "quem tem um amigo nesta vida, tem tudo", e cada vez mais partilho essa certeza: do quão preciosas são as nossas amizades mais especiais. Rever a minha prima e a minha tia, que é também a minha madrinha- a minha Mami - foi das melhores coisas destas semanas. Teve o cheiro, a cor, o som das gargalhadas daqueles Natais em que nos juntávamos. Quase me pareceu que a minha avó estava na cozinha e ia entrar a qualquer momento para dizer uma das dela também e todos nos rirmos outra vez. As histórias que nos unem são...nossas. Fomos nós que as vivemos, juntos, e mais ninguém pode entendê-las e rir-se delas como nós ou sentir a mesma ternura por elas. Como quando recordámos o meu brinquedo favorito na casa da minha Mami. Ou os desenhos animados que via sentada no sofá com o candeeiro enorme que se erguia do chão e se estendia até quase por cima das nossas cabeças. Aquece o coração relembrar todas aquelas histórias. As histórias que fizeram a nossa infância e fazem parte de nós para sempre.

Reencontrei, por completo acaso, duas famílias de que tanto gosto. Ex-alunos. Uma enquanto procurava uns ténis para o Mateus, e a outra enquanto fazíamos compras no supermercado. Às duas (mães da família) pensei que queria e devia ligar, que gostava de as rever e aos miúdos, mas andava sempre na correria para lá e para cá. O destino ou o que seja, conspirou a nosso favor, e pudemos conversar 10 minutos e dar um abraço. Encontros fugazes mas tão agradáveis. E outros tantos, também agradáveis, pois é sempre bom rever ex-colegas, ex-treinadores, pessoas com quem, melhor ou pior, partilhámos uma parte dos nossos dias, em determinado momento da vida.

Vem, então, a parte má. A de ir embora. Ontem ensaiei um adeus com uma das minhas melhores amigas. Hoje não vou fazê-lo com mais ninguém. Dizer adeus é uma merda. O meu filho que me desculpe quando ler isto. Que me desculpem todos os demais. Mas é a palavra que melhor define. É uma merda. Custa. Custa pra...diabo - para não dizer outra palavra que definiria melhor. Até está tudo bem, dá-se um abraço apertado, deseja-se tudo de bom. Até que sentimos uma espécie de soco no estômago, sentimo-nos trespassados por uma onda de energia que nos percorre o corpo inteiro e nos empurra para baixo. Faltam-nos as forças, os braços congelam naquela posição, não queremos sair daquele abraço porque sabemos que só o vamos ter outra vez daqui a um tempo que não gostaríamos de ter de passar. O corpo não aguenta e rebenta em lágrimas. Queremos guardá-lo o maior tempo possível, como se assim o pudéssemos levar connosco. E levamos. Fica connosco durante todo o tempo em que não o podemos ter de verdade.

Dizer adeus é uma merda. Por isso, vou dizer só até amanhã, porque embora o sol nasça a horas diferentes para vocês e para mim, eu continuo aqui para vocês, e sei que vos tenho aí. Sempre.
Até um novo abraço. De verdade.

1 comentário:

  1. Lindo!!!
    Adorei!!!
    Consegues escrever aquilo que eu senti...E tu também, fico muito contente!
    Aquele abraço ficou no meu coração...
    Ficou aquela sensação que não sou só eu que estou sempre a lembrar-me da avó...
    Beijinhos
    Mami

    ResponderEliminar