Enquanto descia as escadas do metro vi o segurança a andar de um lado para o outro. Olhou para mim e para o meu filho. Olhou para mim outra vez. Eu também o reconheci. É o mesmo segurança de há anos atrás, do tempo em que eu vivia na casa da minha mãe e andava de metro todos os dias para ir para a Faculdade. Disse-me "boa tarde" e respondi. Trocámos as mesmas palavras que trocávamos há anos atrás. Os anos não passaram por ele, continua com a mesma aparência.
Ao sairmos do metro e voltarmos para casa da minha mãe reparo num arrumador de carros. Em um ano em São Paulo nunca vi um arrumador. Talvez por isso tenha reparado. Olhei, mas desviei o olhar. Reconheci-o também. Não imediatamente: a diferença é notória. Bem mais magro, barbudo, envelhecido. Bem mais magro. Desviei o olhar. É o mesmo de há anos atrás. Muitos anos. Anos que passaram por ele. Anos pelos quais ele, provavelmente, passou. Simplesmente passou. Perdendo quilos e saúde.
O senhor da farmácia é o mesmo. As senhoras também. O senhor do café que me conhece desde miúda e a senhora também. A vizinha. Todos têm fisionomias idênticas à de anos atrás. Digo-lhes isso e parecem ficar felizes. Toda a gente gosta de ouvir dizer "está na mesma." Como se todos aqueles minutos de vida tivessem sido menos ou tivessem ficado congelados e lhes restassem, por isso, agora, muitos mais. É como se não tivessem envelhecido. Como se não tivessem passado pelo que passaram.
O senhor da farmácia é o mesmo. As senhoras também. O senhor do café que me conhece desde miúda e a senhora também. A vizinha. Todos têm fisionomias idênticas à de anos atrás. Digo-lhes isso e parecem ficar felizes. Toda a gente gosta de ouvir dizer "está na mesma." Como se todos aqueles minutos de vida tivessem sido menos ou tivessem ficado congelados e lhes restassem, por isso, agora, muitos mais. É como se não tivessem envelhecido. Como se não tivessem passado pelo que passaram.
Mas passámos. E envelhecemos. E mudamos. Todos os dias mais um bocadinho.
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