quinta-feira, 3 de agosto de 2023

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Há uns meses atrás, em conversa com uma querida amiga, deparei-me com um conceito muito interessante sobre o qual nunca tinha reflectido: tudo existe entre contração e expansão, tudo pulsa. Depois de uma expansão, vem sempre uma contração. O crescimento não é um caminho linear, acontece entre estes passos para a frente e para trás, entre novas formas de viver e novos questionamentos, novas descobertas e novas dúvidas. Tudo pulsa. O coração a bater, o pulmão a inflar e desinflar. Também o ciclo de vida das estrelas: a força gravitacional faz com que as moléculas gasosas se atraiam (contração); depois, a temperatura vai aumentando e liberam-se mais gases, o que expande a estrela; depois de consumido todo o combustível, a estrela resfria e diminui de tamanho (contrai-se novamente). Da morte da estrela pode surgir uma nova nebulosa e um novo nascimento de estrela. Para conseguirmos pular alto, primeiro encolhemos o corpo, e para mergulhar longe na água ou sair a correr explosivamente, primeiro agachamo-nos. As aves abrem e fecham as asas para voar. O útero quando dá à luz: contração e expansão, contração e expansão. Os próprios ciclos da História: Impérios que se expandem até ao seu colapso. O Universo surgiu de uma incomensurável energia condensada (contraída) que, após uma explosão, está em expansão contínua até hoje e, um dia, poderá voltar à sua contração inicial. E assim é com a nossa vida: muitas vezes sentimos que estamos a evoluir em algum aspecto - por exemplo, na forma de lidar com alguma situação ou "gatilho" - mas, em algum momento, sentimo-nos cair nas mesmas "armadilhas". Nesses momentos, podemos sentir desânimo ou mesmo culpa. "Como assim? Pensei que já tinha aprendido a lidar com isto..." Mas essa constante dança cósmica entre contração e expansão é inevitável e, por outro lado, (um conceito que ouvi do Cadu Cassaú) em momentos de expansão, a vida vai-nos confrontar com desafios. Nesses desafios, reside a nossa possibilidade real de expansão. Eu estava a mais de meio do meu curso de Direito, quando decidi largá-lo e tentar entrar na Escola Superior de Música para seguir Piano. Pouco tempo antes da prova de acesso, tive um lesão no pulso que me impossibilitou de praticar por cerca de duas semanas - o que equivaleria a um atleta não poder treinar por duas semanas às portas da Olimpíada. Foi uma fase complicada para mim, animicamente. Fez-me desanimar, questionar. Será que não era para eu ir por ali? Mas eu sentia, cá dentro, que sim. Eu e a minha mãe corremos atrás de tudo o que foi tratamento, aos poucos voltei a estudar, "arregacei as mangas" e fui admitida no curso. Aquela fase de contração, marcou uma enorme expansão na minha vida, até pelas dificuldades que encontrei e que foram momentos de aprendizagem e crescimento para mim. Aquele desafio fez-me ter inequívoca certeza do caminho que estava a escolher. Não tema a contração: ela precede a sua expansão. 

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