O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
sexta-feira, 18 de agosto de 2023
160-365
Uma aluna minha está a estudar uma música que conhece muito bem de ouvido. Algumas partes já estão fluentes e no andamento certo. Ainda assim, ela diz não conseguir reconhecer a música quando a toca. Eu, a ouvir de fora, reconheço claramente. Essa é uma das dificuldades de tocar um instrumento: somos, ao mesmo tempo, quem faz e quem observa, quem executa e quem escuta. O mesmo acontece na prática de yoga: somos aquele que pratica e aquele que percebe as sensações que a prática gera. Essa tarefa nem sempre é fácil. No caso da minha aluna, embora ela esteja a tocar tudo corretamente, ainda está muito compenetrada na técnica, em cada movimento, cada nota que tem que tocar. A mente dela está absolutamente focada na mecânica do processo. Isso faz com que ela não tenha, ainda, criado o espaço necessário para se ouvir. É preciso criar uma certa distância entre a técnica do que estamos a fazer e a sensação que nos causa observar o que é feito. Se essa distância não existe, ficamos totalmente embrenhados no "fazer" e não nos permitimos "perceber". E isso é uma belíssima metáfora para a nossa mente: é preciso criar uma certa distância entre nós e os nossos pensamentos para que, realmente, nos possamos ver e perceber a nós mesmos. É preciso criar uma certa distância entre nós e os nossos problemas para conseguirmos ver novas possibilidades de solução. Muitas vezes estamos tão ocupados com tantos afazeres e preocupações e ruminações e dúvidas, tão identificados com tudo isso, que não criamos essa abertura para nos observarmos, para nos conhecermos. É preciso espaço para nos ouvirmos.
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