O título não pretende ser um plágio mas uma vénia a esse grande livro desse grande escritor/cronista: As minhas aventuras na República Portuguesa (Miguel Esteves Cardoso). Neste humilde endereço, apenas um pouco de tudo, um pouco de nada, muito de mim.
domingo, 14 de julho de 2013
Coisas que fizeram o Mateus parar
Tatu-bola. No parque a que costumamos ir há uma boa população deles. Na minha terra chamamos-lhe bichinho-de-conta. Curiosamente, eu tinha sensivelmente a mesma idade que o Mateus tem agora quando me encantei por estes bichinhos. "Caçava-os" na escola, e mostrava-os aos meus pais no final do dia. Como podem imaginar, as minhas lembranças da pré-escola não são tão presentes quanto eu gostaria, mas se há coisa de que me lembro é dos bichinhos-de-conta. Todos nós gostávamos de brincar com eles. Tenho outras boas memórias daqueles três anos que ali passei- como é estranho e deixa o coração desencontrado olhar para os prédios que construíram no lugar da nossa escola!.. Havia um cão preso perto do refeitório. Ladrava muito. Nós tínhamos medo, mas não resistíamos a trepar pela cerca e espreitar lá para dentro. Na altura, parecia-nos um ato de coragem...E por falar em refeitório: eu e a Inês ficávamos com mais dois ou três amigos tempos infindáveis até acabar de comer - agora que penso nisso, eu tinha exatamente a idade do Mateus quando conheci alguns dos amigos que mantenho até hoje, e outros tantos que relembro com carinho. Brincávamos num recreio que tinha uns pneus velhos - hoje em dia, não creio que fosse permitido. A minha educadora Maria, por quem tinha adoração e tenho, até hoje, um enorme carinho e amizade- como eu gosto da expressão xi-coração! Quando o senhor fotógrafo ia lá tirar-nos fotografias: à turma toda, sozinhos e com dois amigos que elegíamos. As obras de arte que fazíamos com aquelas tintas a esborratar-nos por completo as mãos. As mini-casas-de-banho. A hora da sesta naquelas caminhas azuis. As histórias que a Maria nos contava, com todos sentados no chão. As brincadeiras com as frutas e legumes de plástico. As aulas de educação física e de música naquele pequeno ginásio. E quando a Maria casou, ficou um educador connosco por algum tempo. É das coisas que melhor me lembro daqueles anos: um dia em que ele juntou um monte de nós ao redor e disse que ia fazer algo fantástico. Atirou uma corda ao ar, bem alto, o mais alto que conseguiu. Depois, com a voz e a expressão mais entusiasmada que eu já lhe tinha visto, disse-nos: "um pedaço de céu!.. olhem aqui, estão a ver? é um pedaço de nuvem aqui!" Nós não víamos nada, claro, mas todos partilhávamos do entusiasmo dele e enquanto nos acotovelávamos para tentar ver, apontávamos em êxtase: "olha ali!.. olha a nuvem!" Para nós, naquele momento, aquilo era real. A nuvem estava mesmo ali. Conseguíamos vê-la claramente. E, puxa, aquilo era melhor que uma legião de tatus-bola!
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