domingo, 14 de julho de 2013

Coisas que fizeram o Mateus parar



Tatu-bola. No parque a que costumamos ir há uma boa população deles. Na minha terra chamamos-lhe bichinho-de-conta. Curiosamente, eu tinha sensivelmente a mesma idade que o Mateus tem agora quando me encantei por estes bichinhos. "Caçava-os" na escola, e mostrava-os aos meus pais no final do dia. Como podem imaginar, as minhas lembranças da pré-escola não são tão presentes quanto eu gostaria, mas se há coisa de que me lembro é dos bichinhos-de-conta. Todos nós gostávamos de brincar com eles. Tenho outras boas memórias daqueles três anos que ali passei- como é estranho e deixa o coração desencontrado olhar para os prédios que construíram no lugar da nossa escola!.. Havia um cão preso perto do refeitório. Ladrava muito. Nós tínhamos medo, mas não resistíamos a trepar pela cerca e espreitar lá para dentro. Na altura, parecia-nos um ato de coragem...E por falar em refeitório: eu e a Inês ficávamos com mais dois ou três amigos tempos infindáveis até acabar de comer - agora que penso nisso, eu tinha exatamente a idade do Mateus quando conheci alguns dos amigos que mantenho até hoje, e outros tantos que relembro com carinho. Brincávamos num recreio que tinha uns pneus velhos - hoje em dia, não creio que fosse permitido. A minha educadora Maria, por quem tinha adoração e tenho, até hoje, um enorme carinho e amizade- como eu gosto da expressão xi-coração! Quando o senhor fotógrafo ia lá tirar-nos fotografias: à turma toda, sozinhos e com dois amigos que elegíamos. As obras de arte que fazíamos com aquelas tintas a esborratar-nos por completo as mãos. As mini-casas-de-banho. A hora da sesta naquelas caminhas azuis. As histórias que a Maria nos contava, com todos sentados no chão. As brincadeiras com as frutas e legumes de plástico.  As aulas de educação física e de música naquele pequeno ginásio. E quando a Maria casou, ficou um educador connosco por algum tempo. É das coisas que melhor me lembro daqueles anos: um dia em que ele juntou um monte de nós ao redor e disse que ia fazer algo fantástico. Atirou uma corda ao ar, bem alto, o mais alto que conseguiu. Depois, com a voz e a expressão mais entusiasmada que eu já lhe tinha visto, disse-nos: "um pedaço de céu!.. olhem aqui, estão a ver? é um pedaço de nuvem aqui!" Nós não víamos nada, claro, mas todos partilhávamos do entusiasmo dele e enquanto nos acotovelávamos para tentar ver, apontávamos em êxtase: "olha ali!.. olha a nuvem!" Para nós, naquele momento, aquilo era real. A nuvem estava mesmo ali. Conseguíamos vê-la claramente. E, puxa, aquilo era melhor que uma legião de tatus-bola!

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