domingo, 10 de setembro de 2023

161-365

 


O sabiá (re)começou a cantar! Ouvi-o ontem de manhã pela primeira vez, e hoje acordámos bem cedo com ele. Nesta época do ano, o macho canta para atrair a fémea e, ao mesmo tempo, marcar território afastando os outros machos. Habitualmente, escolhia o amanhecer para cantar mas, como a cidade está cada vez mais barulhenta durante o dia, nos últimos anos tem-se percebido uma mudança nos hábitos do sabiá. Não raras vezes acordamos em plena madrugada com o canto dele. O sabiá não é uma ave particularmente bonita. Em aparência perde claramente para o bem-te-vi que é uma ave de belíssimas cores, mas o canto é melodioso como o de poucos. O canto do sabiá foi uma das primeiras coisas que me cativou em São Paulo. No meio desta selva de pedra, de prédios, cimento, cinza, aquelas notas musicais a ecoar na cidade começaram a chamar a minha atenção. Ao caminhar pela cidade, comecei a tirar o foco das coisas que eu achava feias na cidade - desculpem-me os paulistanos - e a prestar atenção ao que ouvia. Comecei a perceber a quantidade de árvores pelas quais passava, e cada vez que ouvia o sabiá era literalmente música para os meus ouvidos. E o bichinho é pequeno mas atinge consideráveis decibéis! No silêncio da madrugada, a sensação é de que ele está no pé da nossa cama a cantar para nós! O meu marido, que tem sono leve, chega a irritar-se com a ave que lhe rouba o sono às 3h da manhã. Eu não consigo ter raiva do sabiá: para sempre terei carinho por ele que me mostrou que São Paulo não era toda cinza mas tem belezas escondidas à espera de serem descobertas.


(Neste vídeo, uma colaboração espontânea entre o sabiá e a minha música ao piano - desculpem os ruídos das teclas.)

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