segunda-feira, 23 de março de 2015

Dia Mundial da Água

Hoje é Dia Mundial da Água e nunca, aqui em São Paulo, se lhe deu tanta importância como agora. Nunca se falou tanto de água. Nunca se pensou tanto em água. Nunca se pediu tanto por água.

Todos os finais de tarde, a água acaba aqui e só volta no outro dia de manhã. Quando temos água nesse horário, até estranhamos, e pensamos "olha, hoje a Sabesp esqueceu-se de nos cortar a água." Habituamo-nos a guardar a água da máquina de lavar e a própria água dos nossos banhos para poder dar descarga. Lavamos a louça sem água corrente e tentando usar o menos possível. Tomamos banhos rápidos e vamos fechando a água enquanto nos ensaboamos.

Uma coisa é certa: depois desta época de crise as pessoas finalmente entenderam que a água não vai durar para sempre e que é preciso mudar de atitude. Habituamo-nos a abrir a torneira e a ver a água jorrar, numa falsa ilusão de que isso sempre iria acontecer com essa facilidade. Pelo menos a crise hídrica tem servido para modificar a postura das pessoas que, agora, aprenderam que é preciso economizar. Tomara que, passada a crise (esperamos nós!..), não voltem a esquecer-se!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Coisas que nos fizeram parar





Uma galeria de arte itinerante! Os artistas passeiam com as obras de arte a tiracolo e levam a sua arte, literalmente, até ao público. Eu e o pequenote gostámos da iniciativa!

domingo, 15 de março de 2015

Coisas que fizeram toda a gente parar




Hoje é dia de manifestação por aqui. Por aqui e um pouco por todo o lado no Brasil.
Aqui em São Paulo, os motoqueiros acordaram cedo, reuniram-se e seguiram para a Avenida Paulista. Cruzei-me com eles na Avenida Brasil. Nunca, em toda a minha vida, tinha visto tanta moto junta! Muitas, muitas, muitas, a perder de vista. Um barulho ensurdecedor das buzinas. Trânsito parado enquanto cruzavam a Avenida 9 de Julho, uma das mais movimentadas daqui. Quem ficou parado a vê-las passar, acenava, apoiava e ouviam-se até alguns gritos de "Brasil! ´Tamos juntos!" Muitas camisetas e bandeiras do Brasil, e as cores verde e amarelo a concorrer com o típico preto utilizado pelos motoqueiros. Uma bela moldura. Emocionante de ver, de sentir a energia das pessoas unidas em torno de um mesmo ideal: um Brasil melhor e mais justo.
Dizem que na região da Paulista, a esta hora (15h45), estão cerca de 1 milhão pessoas. Um milhão de pessoas! Praticamente 1/10 da população de Portugal inteiro!

E agora, dona Dilma?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Nós e os tiros na madrugada

Há umas noites atrás, dormia eu profundamente quando acordei com um som forte e seco. Olhei para o lado "o que foi isto?" O meu marido, já a levantar-se, diz "Tiros." Ele respondeu no plural, embora o máximo que o meu sono me tenha permitido ouvir tivesse sido um - o único que ouvi na minha vida inteira, diga-se! Aguardei um pouco na expectativa de ouvir alguma sirene, de polícia ou resgate. Nada. O meu marido viu pela janela que várias outras pessoas olhavam pelas suas janelas. Algum aglomerado na rua. Nada de sirenes. Caí no sono outra vez. No dia seguinte, contava-se pela rua que um homem tinha baleado uma mulher: cinco tiros, dois certeiros. Foi levada para o hospital, segundo consta. Parece que foi passional. E nada mais consta. 

Eu e as medidas de tempo

Tenho reparado que a minha noção de tempo/distância aqui em São Paulo tem como medida 15 minutos. Passo a explicar: se eu demorar 15 minutos a chegar a algum lugar, é ótimo. Aliás, é quase surreal. Se demorar 30 minutos é bom, a beirar o muito bom. 45 minutos é aceitável. 1 hora já é impraticável. Mais de 1 hora é imponderável. Portanto, concluo que de "até que é possível" para "nem pensar" vai uma distância de 15 minutos apenas.
E nisto se passaram 15 minutos.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Eu e as memórias

A memória é um dos maiores mistérios com que nos deparamos. Porque nos lembramos de certas coisas e esquecemos outras? Claro que há um certo instinto de sobrevivência e tendemos a enterrar, lá bem no fundo, algumas coisas que vivemos e nos deixaram feridas. Por outro lado, o inverso também é totalmente verídico: há tanta coisa que gostaríamos de esquecer e fica ali a martelar, a pingar, a mostrar que não nos deixou, provavelmente pelo mesmo instinto de sobrevivência, de nos sinalizar por onde não é o caminho, e há também outras tantas coisas que gostaríamos de deixar intactas na memória e que, infelizmente, com o passar dos anos se desvanecem. Há ainda aquelas coisas, aparentemente insignificantes e inúteis, que ocupam espaço na memória. Vá-se lá entender...
Todas as semanas, quando dou uma aula nos Jardins, ouço o senhor amolador de facas a passar na rua. Todas as semanas o ouço, naquela melodia tocada na gaita ou qualquer instrumento similar, e todas as semanas aquilo me remete para a minha infância e para os tais mistérios da memória. Todas as semanas surge aquela melodia e, por milésimos de segundo, o meu cérebro engana-se e espanta-se como se fosse a primeira vez que isso acontecesse aqui em São Paulo. Fica estupefacto perante a coincidência de ouvir aquela mesma melodia, tocada a milhares de quilómetros e mais uns tantos anos de distância. Depois como que volta a si mesmo e percebe que já foi apanhado nessa surpresa vezes sem conta, pelo que nem deveria mais ser percebido como uma surpresa. Ainda assim, sempre se surpreende...o que me surpreende. O cérebro, onde as memórias estão armazenadas é, no fundo, o grande X da questão. Quantas vezes vemos uma publicidade e pensamos exatamente a mesma coisa que pensámos quando o vimos vezes anteriores, ou quando passamos num lugar nos acometem as mesmas reflexões? Como se...alguma coisa em nós estivesse "formatada", como se alguma espécie de gatilho fosse disparado no automático. O nosso cérebro, em certa medida, parece ter "vida própria": pula de pensamento em pensamento, de reflexão em reflexão sem que tenhamos muito controle aparente nisso.
Recordo aquela melodia, igual, absolutamente idêntica, dos tempos em que vivia na Póvoa de Santo Adrião, na casa em que vivi desde que nasci até aos 11 ou 12 anos de idade. Não sei porque me lembro daquela melodia, mas lembro-me claramente e, cada vez que a ouço aqui em São Paulo, recordo por breves segundos aquela Praceta, calma no fim-de-semana. Junto com a melodia, recordo cada pedaço que a minha memória permite daquela Praceta. Há 20 anos atrás, jamais poderia supôr que aquela melodia banal, à qual nunca dei especial importância - ou, pelo menos, não que me lembre-, me fosse remeter para aqueles tempos. Preferia lembrar-me melhor de outras coisas. Das pessoas, essencialmente. Do tempo que passei com elas. Tenho memórias cada vez mais difusas da minha infância. Mas, como dizem os grandes sábios, aquilo que nos lembramos da nossa vida não É a nossa vida. É apenas o que nos aconteceu ao longo do caminho. O que a vida realmente É, é um mistério ainda maior do que o da memória. Um imenso, cativante e admirável mistério.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Nós e o bloco de Carnaval

Nos últimos anos habituamo-nos a ver da janela o Bloco dos Esfarrapados a passar na rua. O pequenote, alegremente acenava e entusiasmava-se com a passagem da multidão. Este ano, resolvemos acompanhar o Bloco. O som da música começou a ouvir-se, ao longe. "Estão a chegar!", dizia o pequenote. "Vamos! Vamos!" Fomos, mas não muito longe: só uma quadra. O pequenote, na sua fantasia de palhaço, fez sucesso, mas o que não fez qualquer sucesso com ele foi a espuma que alguns teimam em jorrar em todas as direções. Achou-a "grudenta e nojenta!" Depois daquele primeiro contacto com a espuma, continuou a caminhar, desconfiado, cada vez mais desconfiado. Deixou de acenar ou retribuir qualquer tipo de simpatia que lhe era dirigida. Até que exteriorizou "quero voltar para casa". E lá voltamos, na contramão da multidão.
Ao que parece, o pequeno prefere ver a multidão pela janela e curtir o Carnaval à sua maneira.