terça-feira, 31 de outubro de 2023

175-365

 Na música, há um fenómeno ao qual ninguém está imune: quando tocamos mais forte ou em crescendo sonoro, temos tendência para tocar mais rápido, e quando tocamos mais piano ou num decrescendo sonoro, temos tendência para tocar mais devagar. Isso obriga-nos, em determinadas partes das músicas, a "enganar" a nossa mente: em forte, temos que pensar "mais devagar" e em piano temos que pensar em "manter o movimento". Por vezes, isso gera-nos uma sensação de que estamos a atrasar ou a apressar. No entanto, se ouvirmos uma gravação, percebemos que o que aconteceu é que conseguimos, através desse artifício e dessa sensação errónea, deixar o andamento certo.

Por vezes, é necessário enganar a mente. A mente é naturalmente preguiçosa, tendencialmente negativista - herança dos nossos ancestrais que, a qualquer momento, poderiam ter um encontro indesejável com um predador - e caprichosamente difícil de controlar. Então, muitas vezes, a melhor maneira de lidar com ela é enganando-a. É mais fácil convencê-la a fazer 30 abdominais se forem 10 + 10 + 10. Assusta-se menos com 10 de cada vez do que com 30 de uma vez. É mais fácil uma passada atrás da outra do que uma maratona. É mais fácil escrever uma linha após a outra do que um livro inteiro. É mais fácil mudar um hábito de cada vez do que querer mudar a vida inteira de uma só vez. É mais fácil um dia de cada vez do que "nunca mais" ou "para sempre". Como diz Marisa Peer "A mente vai acreditar em tudo o que lhe disser, então, por que não contar-lhe uma mentira (que o sirva) melhor?" 

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