quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Coisas que me fizeram parar




Próximo ao Clube Paulistano, a primavera dá um ar da graça. Pena que as fotografias não lhe fazem justiça. Estão bonitas, mas nada comparado à beleza que nos entra pelos olhos adentro lá, bem perto daquelas lindas flores. O delicado e, simultaneamente, intenso cor-de-rosa que vestiu esta árvore não é captado pela singela câmara do meu celular. Ali, bem próximo da árvore, não há como a nossa atenção não ser captada. Eu estava com pressa, mas parei. Parei uns minutos. Observei. Apenas observei e, ao parar aqueles instantes, a vida correu em mim, nas minhas veias, pulsou no meu coração, arrepiou-me a pele. Por um momento, apenas ser, existir. Às vezes vale a pena parar por um minuto que seja, sair da rotina da vida e mergulhar no sentido dela. A vida acontece em nós, por mais que nós passemos a vida a correr atrás dela.
Parar por uns instantes, é um belo exercício para se fazer todos os dias. Eu faço-o observando uma árvore, uma flor, um pássaro, o céu ou o rosto do meu filho. Sempre que paro para o observar, cá dentro, tudo fica em paz: tudo faz sentido e isso, dá um sentido a tudo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Eu e o trabalho

Esta semana um aluno perguntou-me qual era o meu trabalho, o que eu fazia durante o dia.
"O que eu faço é isto: estar aqui com vocês a ensinar-vos música", respondi-lhe, surpreendida com a sua dúvida.
"Sim, mas no resto do dia...O que você faz? Qual o seu trabalho?", disse ele não convencido com a minha resposta.
" No resto do dia eu faço isso. Dou aulas de piano. Isso é meu trabalho."
"Como assim? Isso é o seu trabalho?", disse ele um pouco espantado.
"Sou professora. Meu trabalho é ensinar-vos música. Esse é meu trabalho." Com um certo receio da resposta, arrisquei perguntar ainda "Mas por que você achava que eu fazia alguma outra coisa?"
"Porque eu achei que você fazia isto para se divertir, sabe? Que além disso, você teria outro trabalho e isto não seria trabalho, mas alguma coisa, sabe, para você se divertir."
Sorri.
"Sim, eu me divirto. Gosto muito do que faço. Mas é meu trabalho."

Uma criança de 11 anos sabe como ninguém dar-nos a perspetiva certa das coisas, não? Que privilégio ter um trabalho que se confunde com diversão. Que privilégio amar o meu trabalho de forma a que, enquanto trabalho, os outros sentem que me divirto.

Lembrei-me das palavras de Khalil Gibran:


"E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios, e uns aos outros, e a Deus. (...)
E que é trabalhar com amor?(...)
É pôr em todas as coisas que fazeis um sopro de vossa alma. (...)
O trabalho é o amor feito visível. (...)

"O Profeta"

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Coisas que me fizeram parar




Estes cartazes andam espalhados um pouco por toda a cidade. Apesar de sujarem as paredes por aí, deixam mensagens muito interessantes. Gosto particularmente desta:



Fez-me lembrar uma reflexão do grande pensador Osho:

"Você se sente bem, você se sente mal e esses sentimentos borbulham da sua própria inconsciência, do seu próprio passado. Ninguém é responsável, exceto você. Ninguém pode deixar você zangado ou feliz. Você fica feliz por sua própria conta, fica zangado por sua própria conta e fica triste por sua própria conta. A menos que perceba isso, você continuará para sempre um escravo. O domínio do seu próprio eu você conquista quando percebe: "Sou absolutamente responsável por tudo o que me acontece. Seja o que for que acontecer, incondicionalmente - sou inteiramente responsável."
Se continuar a jogar a responsabilidade nas costas dos outros, lembre-se de que você vai continuar sendo sempre um escravo, pois ninguém pode mudar ninguém.
A mudança básica precisa acontecer dentro de você.
Logo você sentirá luz, pois estará livre das outras pessoas. Agora poderá trabalhar em si mesmo. Poderá ser livre, poderá ser feliz. Mesmo que o mundo inteiro esteja infeliz e cativo, isso não vai fazer a mínima diferença. A primeira libertação é parar de pôr a culpa nos outros, a primeira libertação é saber que você é responsável. Depois disso, muitas coisas passam a ser imediatamente possíveis."

Ninguém é responsável pela felicidade de ninguém. Ninguém é responsável pela infelicidade de ninguém. Está em nós a capacidade de estar na vida com otimismo e serenidade. É em nós que encontramos a melhor forma de estar na vida. Está certo que nem sempre é fácil, porque não podemos escolher todas as coisas que nos acontecem na vida e nem todas elas são boas, mas é aí que reside o desafio: nós podemos, sim, escolher o que fazer com elas. Eu escolho ser leve - não carregar sentimentos no coração que me pesem na alma. Eu escolho acreditar - em mim, nos outros, na Vida. Eu não me rendo e, simplesmente, escolho.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Coisas que me fizeram parar

Rua Oscar Freire
Achei este graffiti um encanto. Sensível, simples, bonito.
Se há coisa que eu tenho feito na vida é ouvir o meu coração. Sempre. Em momentos de dúvida, de ansiedade, de hesitação, é a ele que deixo falar mais alto, é a ele que tento ouvir. Há momentos em que todos falam ao mesmo tempo - coração, cabeça, medos - e nem sempre é fácil entendê-lo mas, quando aquela voz consegue sobrepôr-se ao resto, torna-se simples. É inequívoco. É claro e límpido o caminho a seguir. Como aquela sensação de ver a solução das palavras cruzadas "ah, claro, era isto!.."Os caminhos que me indica nem sempre são os mais fáceis, mas eu faço como dizem os árabes: atiro o coração para a frente e corro logo em seguida para o agarrar. E cá estou eu, a correr um bocadinho todos os dias.


domingo, 9 de agosto de 2015

Inverno no Ibirapuera




O meu pai costuma brincar comigo a dizer que aqui não faz frio que "é verão o ano inteiro." Nós, paulistanos - permitam-me a ousadia de me considerar uma paulistana honorária - sabemos que não é totalmente assim. Aqui faz frio, sim. Felizmente não é um frio que dure muito tempo. Visita-nos duas semanas, vai embora, volta em alguns dias, vai embora, espreita de novo, vai embora. Agora estamos no inverno. O calendário diz-nos que sim. Os dias de sol e calor desacreditam-no e dão razão ao meu pai.
Tiramos estas fotografias no Ibirapuera a semana passada. Lindas cores, árvores floridas, tudo bem verde, um sol luminoso e um céu azul. Realmente bem diferente do inverno cinzento e despido de folhas ou flores da Europa. Muitas crianças a aproveitar os últimos dias de férias...do inverno.



terça-feira, 4 de agosto de 2015

Coisas que sempre me fazem parar




Esse mural de Os Gemeos que está no MAM (Parque do Ibirapuera). Desta vez, detive-me mais nos detalhes e reparei numa das personagens: teclados amarrados aos braços que se abrem como asas.
Gostei. Gosto mais de ter os dedos no piano mas, se tivesse que ter alguma coisa amarrada aos braços, que fossem dois teclados. Além do mais, podemos dizer que, poeticamente, esta personagem voa nas asas da música.