sábado, 27 de maio de 2023

112-365

 


Os meus avós paternos eram do Benfica. Os meus avós maternos também. Os meus pais são do Benfica, e eu e os meus irmãos também.
Sempre que ouço o hino do Benfica, lembro-me imediatamente da minha avó materna que o sabia todo de cor. Acredito que as primeiras vezes que ouvi o hino foi com ela, e foi com ela que memorizei as primeiras frases do hino "ser benfiquista é ter na alma a chama imensa que nos conquista..." E contava a história de quando foi ao (antigo) Estádio da Luz com o irmão, ainda jovens, e o Benfica foi, inesperadamente, campeão, devido ao resultado de outro encontro, e todos invadiram o relvado, incluindo ela. "Foi uma felicidade tão grande, tão grande, que eu nem quis saber e fui também para o relvado!", contava ela.
Eu devia ter uns 6 ou 7 anos quando o Benfica perdeu para o PSV Eindhoven nos penaltis a Taça dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões). Lembro-me perfeitamente de estar com os meus pais a ver o jogo na televisão. Da expectativa dos penaltis, da esperança de ganhar, e de como fiquei triste quando perdemos. Sim, chorei. De raiva. O meu pai, que devia estar tão ou mais desapontado que eu, tentou fazer o seu papel, e disse-me que era assim mesmo: "Às vezes ganha-se, outras perde-se." Que haveria outras oportunidades. (Embora, 35 anos depois, não tenha chegado, ainda, outra oportunidade de um título europeu.)
Também me lembro muito bem do título de 1994, com o Rui Costa na sua última época no Benfica - regressou, anos mais tarde, para encerrar a carreira -, e o João Vieira Pinto. Depois desse título, passámos épocas atrás de épocas desastrosas, em que a grande figura foi, a par de João Vieira Pinto, Michel Preud'Homme.
Fui várias vezes ao estádio antigo e algumas vezes ao estádio novo. A energia do estádio, da águia Vitória a fazer o seu vôo é indescritível. Emoção pura.
Não escolhi ser do Benfica assim como não escolhi ser portuguesa ou ter olhos verdes. Não me torna melhor nem pior do que ninguém. E nem o Benfica é melhor nem pior do que nenhum outro clube. Hoje culminou uma boa época em título de campeão nacional. Nos 3 ou 4 anos anteriores, outras equipas foram melhores. Mas eu não escolhi ser do Benfica, por isso, eu sou do Benfica nas derrotas e nas vitórias, quando joga bem e quando joga mal. Eu sou do Benfica e é isso que o torna especial para mim. Como em tudo na vida, é a nossa ligação às coisas que lhes dá significado. As coisas, em si, não têm valor nem significado: somos nós que o atribuímos, pela nossa interpretação, pela nossa vivência e emoção. Aliás, a própria expressão "sou do Benfica" já é reveladora da ligação que existe. Então, hoje, fiquei feliz porque o Benfica se sagrou campeão. Longe ou perto, comemoro: Glorioso, SLB.

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