quarta-feira, 31 de maio de 2023

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Lembro-me da véspera de Natal quando era criança. À meia-noite abríamos os presentes. Depois de todos abrirem todos os presentes e arrumarmos, minimamente, as coisas, eu escolhia uma das coisas novas e ficava com o meu pai até mais tarde a montá-la. Eu queria montar rapidamente para poder brincar. O meu pai, calmamente, pegava nas instruções, lia-as e seguia, religiosamente, cada passo. "O material tem sempre razão." Com toda a tranquilidade, procurava entender como montar e como fazer a coisa funcionar - para meu desespero, que não me aguentava de tanta ansiedade! Seja o que for que utilizamos na nossa vida, temos que perceber como funciona para poder tirar partido dela. Quanto melhor lermos o manual de instruções, quanto mais conhecermos o mecanismo de funcionamento, mais otimizada será a nossa utilização, mais funcionalidades poderemos dominar. E nós? O nosso corpo, a nossa mente? Quanto tempo da nossa vida dedicamos a aprender e conhecer como funciona o nosso corpo e mente, que são as nossas ferramentas de interação com o mundo? Isso deveria ser a nossa maior prioridade! "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses." (Sócrates) Como podemos funcionar no máximo da nossa potencialidade se não conhecemos os nossos mecanismos de funcionamento? É certo que não nascemos com manual de instruções, mas muitos dos que vieram antes de nós já desbravaram caminhos e sugeriram estratégias. O yoga, por exemplo, é um excelente manual de instruções para nós mesmos. Mas também a terapia, por exemplo, ajuda a olhar para dentro de si. Não há apenas uma ferramenta possível para se chegar ao autoconhecimento. Mas há apenas um caminho: dedicar tempo para mergulhar dentro de si mesmo. Quem sou? Quem quero ser? Quem não quero ser? Por que sou como sou? Por que acredito que no acredito? O que me faz bem? O que me faz mal? (Fisicamente e emocionalmente) Que mecanismo me faz reagir como reajo? Que mecanismo me faz agir como ajo? O que me dá energia? O que me suga energia? Que ações e pensamentos me elevam? Que ações e pensamentos me deixam letárgico? De que forma posso utilizar a minha mente para influenciar o meu corpo? De que forma posso utilizar o meu corpo para influenciar a minha mente? Estas perguntas - e tantas outras - deveriam fazer parte da nossa vida, da nossa aprendizagem. Porque somos seres complexos, que não somos apenas constituídos de carne, ossos e pele, mas também de partes mais subtis como mente e espírito (alma, coração ou o que lhe preferirem chamar). Somos seres de várias camadas, visíveis e não visíveis, um sistema complexo em que todas as partes interagem entre si. Muitas vezes, essa interação acontece de uma forma que não nos beneficia. Quantas vezes ficamos doentes no nosso corpo porque a nossa mente não pára e deixa o corpo em stress constante enfraquecendo o nosso sistema imunitário? A questão é que podemos aprender a utilizar essa interação a nosso favor: trabalhando a mente para beneficiar o corpo, e conhecendo o corpo para aprender estratégias que beneficiam a mente - por exemplo, técnicas de respiração. Nunca é tarde para aprender. E é uma aprendizagem que não tem idade para acabar. Somos obras em construção, seres em constante evolução. É essa a grande beleza de Ser humano.

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