segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

202-365

É muito comum os alunos ficarem ansiosos quando existem pausas na música. Não raras vezes, tendem a querer "encurtar" o tempo da pausa e dar seguimento à música. Eu mesma já passei por isso. Aquele silêncio entre as notas pode, por vezes, deixar-nos inseguros, desconfortáveis. No geral, a verdade é que o silêncio tende a incomodar-nos. Qual de nós não passou já pela experiência de estar com estranhos no elevador e sentir na pele aquele silêncio quase cortante? Mas o silêncio faz, sim, parte da música e deve, sim, fazer parte da nossa vida. Uma das coisas mais belas de assistir a um concerto numa sala de concertos é, precisamente, a oportunidade de mergulhar no silêncio mágico que ali acontece: antes da música começar, entre as notas, imediatamente após a música terminar. É nesse silêncio que a música reverbera (principalmente em nós). É nesse silêncio que nos percebemos. É nesse silêncio que se cria o espaço para que a música possa acontecer. E assim é na vida: é preciso cultivar a pausa. A pausa antes de responder. A pausa antes de reagir. A pausa após a nossa reação automática. A pausa antes de comer aquele doce. A pausa antes de escolher. A pausa entre uma respiração e a outra. A pausa antes de começar a azáfama do dia. A pausa antes de terminar o dia. É nessas pausas que ampliamos o espaço para a investigação e a compreensão de nós mesmos. É a pausa que nos tira do piloto automático e pode levar-nos a melhores escolhas. "A música acontece no espaço entre as notas" (Debussy). Tão essencial quanto ouvir as notas, é aprender a ouvir os silêncios. E tão importante como as nossas ações, é aprender de onde elas vêm. "O silêncio não é vazio, é cheio de respostas."

Sem comentários:

Enviar um comentário