domingo, 24 de dezembro de 2023

206-365

 Quem nunca presenciou (ou protagonizou) o célebre "mas eu quero!.." de uma criança pequena? Talvez por ser época do Natal ou, simplesmente, porque tenho refletido um pouco sobre este assunto e, por isso, estou mais atenta a ele, tenho presenciado vários pela cidade. O "mas eu quero" começa subtil...A criança vê alguma coisa que se torna objeto do seu desejo, e exterioriza "mãe/pai, posso...?..." Por alguma razão que, certamente, será válida, o pai/mãe recusa. A criança insiste, entre "por favor" e súplicas de "só um" ou "só hoje". É nesse momento que o pai/mãe, entra com a fase dos argumentos. A criança até parece estar a ouvir. Os argumentos sucedem-se, lógicos, racionais, praticamente imbatíveis. A criança parece prestar atenção. Por momentos, fica em silêncio. O pai acha que venceu na conversa mas, quando termina a sua explanação, o "mas eu quero!" sobe de tom. Vem acompanhado de choro ou mesmo alguns gritos, e torna-se repetitivo, quase um mantra entre as lágrimas "mas eu quero...mas eu quero..." Não há argumento nenhum que o demova. Nem muito menos a criança entende que, por vezes, a recusa do pai/mãe é o melhor para ela. (Não comer aqueles doces antes do almoço, por exemplo, é a melhor opção...)

Fiquei a pensar quantas vezes nós, adultos, ficamos igualmente presos nesse "mas eu quero"...Perdidos em ideias fixas de coisas que achamos que nos vão fazer felizes. Irracionalmente, por vezes contra todas as evidências e argumentos, prevalece o "mas eu quero". Ficamos enredados nesse desejo que nos cega para outras possibilidades. E assim como a criança não entende que, algumas vezes, o "não" é a melhor coisa para ela, também nós temos dificuldade de perceber que, por vezes, não termos o que (achamos que) queremos, é a melhor coisa que nos pode acontecer. A diferença é que a criança, na maior parte das vezes, passado poucos minutos já esqueceu aquilo, mudou o foco e ficou feliz com outra coisa qualquer, e nós, adultos, muitas vezes ficamos estagnados a olhar para aquela porta que se fechou sem perceber que outras tantas estão abertas. Ao invés de pensar "mas eu quero", ouse questionar "mas eu preciso?" Talvez a resposta o ajude a seguir adiante, para a próxima porta aberta.

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