domingo, 9 de abril de 2023

97-365

 


Na música, quando surge uma dissonância, não fugimos dela, não a evitamos: deixamo-la em evidência. Quanto mais a dissonância se destaca, melhor vai soar a consonância que lhe sucede. A consonância, aí, funciona como acender uma vela numa sala escura. Quanto mais escuridão - quanto mais a dissonância está presente - mais se nota o brilho da vela - a consonância. Como em tudo neste mundo dual em que vivemos, só conhecemos uma porque existe a outra. Assim como sabemos o que é a claridade porque conhecemos a escuridão. Sabemos o que é o frio porque conhecemos o calor. Por isso, neste mundo dual, não adianta querer excluir algumas partes e ficar com as outras. Só temos uma porque a outra existe. Às vezes, é necessário ouvir a dissonância para apreciar a consonância. Às vezes é preciso viver a dissonância para valorizar a consonância. Às vezes, é preciso perceber em nós as "dissonâncias" para aprendermos a ouvi-las, apreciá-las, aceitá-las como são ou a resolvê-las em consonâncias que sirvam melhor à nossa música. Às vezes, a própria dissonância tem a sua beleza. Se soubermos ouvi-la...

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