domingo, 10 de setembro de 2023

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 Uma das frases que mais ouvíamos nos treinos de ginástica era "têm que ter espírito de sacrifício." Ouvíamos isso enquanto fazíamos dezenas de abdominais, flexões, enquanto corríamos em sprints sucessivos ou subíamos escadas vez após vez, ou enquanto as nossas pernas e costas eram levadas ao limite da sua extensão. Quem vê o resultado final numa prova de ginástica, talvez não imagine o esforço, dedicação, entrega e, sim, sacrifício envolvidos naquele momento belo e harmonioso. Há muita dor envolvida. Se quero ser flexível, tenho de aceitar a dor do caminho até lá chegar. Mas suportamos porque sabemos que isso serve um propósito maior. Abdicamos de comer aquele doce, porque ter o corpo na melhor forma, é mais importante do que o prazer de comer. Eu cresci nesse entendimento: que é preciso entrega e disciplina para se alcançar os objetivos. Que é preciso trabalhar para, talvez, ter os resultados. Treinamos para ser o mais precisos possível, mas ninguém está isento de falhar. Há sempre imprevistos, imponderáveis. O resultado nunca é garantido. Talvez por isso, eu sinta tanta afinidade com o universo do yoga. No yoga, a disciplina também é um pilar essencial. O esforço continuado, a repetição. E também a rendição, aceitar as coisas como elas são, que não temos o controle sobre todas as coisas, sobre o resultado que vamos obter. Temos, sim, controle sobre as nossas escolhas e ações. Se sabemos onde queremos chegar, se sabemos aquilo de que estamos à procura, não cedemos a distrações, não perdemos tempo, não nos prejudicamos a nós mesmos. Seguimos em frente, abdicando do que for necessário, com "espírito de sacrifício" que em nada nos pesa, porque é ele que vai abrindo o caminho. O amor é maior que qualquer dor. E é ele que nos alimenta. Não nos aprisiona: liberta-nos.

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