domingo, 10 de setembro de 2023

170-365

 Matinais na Sala São Paulo são sempre um excelente passeio de domingo de manhã. Quando o programa do concerto é maravilhoso, melhor ainda. E hoje foi especial. Começamos com obras de Johann Sebastian Bach (orquestradas, respectivamente, por Ottorino Respighi e Max Reger). Se na primeira, Passacaglia e Fuga em dó menor, BWV 582, se reconhece o estilo fugado tão característico e envolvente da escrita de Bach, e um final apoteótico em uma surpreendente tonalidade maior, que encheu a Sala de Luz, na segunda, o coral "O Mensch, bewein' dein' Sünde gross", BWV 622, entramos numa atmosfera mais meditativa, instrospetiva, aquele carácter quase místico, espiritual ao qual Bach nos conduz com tanta maestria. Graças ao prévio pedido do simpático e competente maestro José Soares, o público aguardou o sinal dele para aplaudir após a música terminar. Isso concedeu-nos uns preciosos e mágicos segundos de silêncio. Um silêncio no qual a música adentrou, no qual mergulhamos, que nos acolheu, abraçou. Um silêncio difícil de ser ouvido no dia-a-dia. Profundo. Total. Imenso. Simultaneamente vazio e indizivelmente preenchido. Nenhuma palavra que eu escreva poderá descrever aqueles segundos. E, depois, vieram os "Pinheiros de Roma" de Respighi. Obra absolutamente incrível que ouvi, pela segunda vez, na Sala São Paulo. Hoje, à minha frente, estava um menino de uns 3 anos sentado no colo da mãe. Quando as flautas começaram a soar no terceiro andamento, ele disse "mamãe, tem pássaros na Sala?" Ela disse que não, que eram os instrumentos da orquestra. A música continuou e ele reiterou "São pássaros na Sala!" Mérito do compositor e da Orquestra que conseguiram, genuinamente, retratar os ditos pássaros. Logo em seguida, entramos em outro andamento, com instrumentos graves, e o menino comenta "mamãe, agora é um 'fante!" Achei adorável. E, mais uma vez, a partir de meio desse andamento até ao fim, é emoção pura! Arrepios, lágrimas, energia a fluir pelo corpo inteiro, uma emoção que transborda a cada vez que a música sobe mais um pouco, a cada vez que os metais ressoam de lugares inesperados da Sala. Absolutamente, totalmente... indescritível. Depois do último acorde, o público explodiu em palmas e bravos e ninguém, absolutamente ninguém ficou sentado na cadeira. Obrigada, OSESP. Obrigada, mastro José Soares. Obrigada, Sala São Paulo.

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