quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Eu e do que somos feitos

 Na escola, eu tinha alguns colegas que, desde muito novos, sabiam exatamente o que queriam ser: advogados, biólogos, arquitetos. Eu nunca soube muito bem...(Achei, até certo ponto da vida, que seria sempre algo relacionado com ginástica.) Mas sabia o que não queria: médica, por exemplo. Nunca senti a menor vontade ou vocação para seguir alguma coisa relacionada com medicina, ou mesmo com qualquer área de ciências. Sempre fui boa aluna e, em teoria, poderia ter seguido qualquer coisa - excepto Belas Artes (o meu talento para desenhar é praticamente nulo) - mas, na prática, sempre percebi que não, não podemos ser qualquer coisa. E isso sempre me intrigou. Cada um de nós nasce com habilidades e sonhos específicos. Eu jamais tive o sonho de ser médica. Nunca sonhei ir ao espaço, nem descobrir a cura de uma doença. Nunca sonhei ser Presidente ou projectar um edifício. Eu sonhava ir aos Jogos Olímpicos. Fazer música num palco. Escrever um livro. Como dizia o poeta "o sonho comanda a vida", e continuo a alimentar sonhos, antigos e novos, do que reverbera cá dentro, em quem sou, quem já nasci a ser e que vou descobrindo pelo caminho. Percebo que a questão não é que não podemos ser tudo o que quisermos, mas que não queremos ser tudo o que pudermos. Todos somos únicos, cada um com as suas singularidades impressas no corpo e na alma, vindas não se sabe de quando ou onde, mas que nos atravessam Aqui. "Dentro de cada um de nós há um talento à espera de ser revelado. O truque é descobri-lo." (Billy Elliot) A nossa busca deve ser mais de atravessar as camadas do que nos foi sendo acrescentado (por pais, sociedade, cultura, amigos, experiências) e tocar aquele centro que nos anima cá dentro. Talvez a nossa verdadeira questão, a mais essencial de todas, não seja quem quero ser, mas quem sou eu?

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