quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Eu e o stress

 Treinávamos por meses até chegar ao momento da competição. E, ali na hora da verdade, horas e horas de trabalho consubstanciavam-se em poucos minutos de prova. Uma hipótese apenas de acertar os movimentos que tínhamos treinado tanto. Dava aquele "friozinho" na barriga. O corpo entrava em "modo stress": super mobilizado. Não raras vezes, aconteciam quedas por um excesso de adrenalina. A vontade de fazer, de mostrar o trabalho feito, atropelava o nosso planejamento. Por vezes, íamos com tanta força e velocidade que caíamos para trás após a recepção do mortal para trás, por exemplo. Ou a saída das paralelas saía demasiado alta para o que estávamos habituados. Esses pequenos desvios eram suficientes para nos tirar do eixo. Da mesma forma que estudamos uma música no instrumento com toda uma mobilização muscular e gestos pensados para determinada velocidade e, na hora da apresentação, por o nosso sistema estar acelerado (batimentos cardíacos, ritmo respiratório) em função do stress, podemos cair no erro de tocar bem mais rápido do que tínhamos planeado. A adrenalina e o stress, por mobilizarem o nosso corpo para situações extremas, podem ajudar-nos a melhorar as nossas performances. Mas, se não conseguirmos lidar com eles, podem levar-nos ao resultado oposto. Por isso, é tão importante incluí-los no nosso trabalho. Na ginástica, mais próximo das provas, simulávamos a sensação de stress criando desafios. Por exemplo: cinco vezes sem cair e, se cair, começa de novo a contagem. A primeira vez era tranquila. A segunda também. A terceira já com um pouco de nervoso. A quarta já com stress e a quinta já bem próximo do que se sente no dia da prova "tenho que acertar!" Outra estratégia é gravar-se. É impressionante como o simples gesto de apertar o REC altera todo o nosso estado mental e físico. Falhas totalmente inesperadas acontecem!

É preciso ter ferramentas para lidar com o stress, criar formas internas de responder a ele mantendo-se no controle de si mesmo. Primeiro, em momentos de tranquilidade, criamos o condicionamento. Por exemplo, respirar algumas vezes de forma absolutamente consciente antes da apresentação, com foco em exalação lenta. Visualizar o exercício físico, no caso da ginástica, ou ouvir internamente o início da melodia no piano. Depois, essas mesmas ferramentas devem ser trabalhadas naquelas "simulações" de stress - X vezes sem errar, gravar-se, etc.
E estas estratégias devem ser levadas para a vida. Frequentemente somos enredados em situações de stress: trânsito, correria, problemas no trabalho, discussões familiares. No momento em que estamos em conflito, é impossível tentar implementar uma ferramenta. Escolha momentos serenos para começar a criar condicionamentos que o levem a um estado pacificado. Se, nesse momento, perceber que aquela ferramenta não serviu, tudo bem: redirecione o seu esforço para outra. Experimente, investigue, perceba quais funcionam melhor. Tentativa e erro. Treino. Tudo na vida melhora com a prática. Até a nossa resposta ao stress.

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