domingo, 19 de novembro de 2023

191-365

 Hoje estava a estudar piano e, numa passagem particularmente rápida e exigente tecnicamente, optei por estudar sem pedal. O piano tem um pedal que permite sustentar ou prolongar o som das notas tocadas. Utilizamos esse pedal como um recurso que nos permite, por exemplo, ligar melhor as notas, ou manter as notas do baixo presentes, ou mesmo criar "ambientes sonoros" diferentes. No entanto, se não for corretamente utilizado, é um recurso que pode gerar bastante "poluição" sonora. Não apenas porque podemos estar a usá-lo em excesso ou de forma em que deixamos que as harmonias se misturem ( e, por isso, se desconfigurem), mas também porque há uma tendência para "tapar" erros ou defeitos com o pedal. Sim, é um facto que o pedal pode disfarçar algumas passagens menos "limpas" (com menor precisão técnica). Por isso é tão importante estudar totalmente sem pedal, prestando atenção a cada nota, cada gesto, cada elo de ligação. Dessa forma, podemos olhar para a passagem despida de artifícios, límpida, transparente e, então, sim, podemos torná-la clara, inequívoca, com qualidade sonora. Só então, o pedal é uma ferramenta que vai acrescentar alguma coisa, e não apenas "retirar" um pouco dos erros, como uma maquilhagem disfarça uma mancha no rosto. Tentar disfarçar os erros, fingir que eles não existem, não os resolve. O que resolve os nossos erros ou defeitos é, antes de mais, reconhecê-los, apoderar-se e apropriar-se deles. Então, sim, podemos fazer alguma coisa em relação a eles. Porque quando os reconhecemos como "nossos", assumimos o poder e a responsabilidade de os transformar. Esse é o caminho do crescimento e da evolução, seja em que área ou aspecto da vida for.

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