domingo, 19 de novembro de 2023

192-365

 


Após um exame importante de piano, a minha professora presenteou-me com uma partitura de Debussy. Autografou-a escrevendo algo como "ofereço esta bela obra para a qual não te falta sensibilidade para interpretar." Lembro-me de ficar particularmente intrigada com a palavra "sensibilidade". Na cultura ocidental, somos programados para ver "sensível" como algo frágil, fraco, susceptível. Lembro-me de ter conversado com a minha mãe sobre isso, e de ela me ter explicado que, na verdade, era um elogio à minha forma de olhar para o mundo. Se virmos no dicionário, atribui-se a "sensibilidade" "a faculdade de sentir". E, se pararmos para pensar, nada nos torna mais humanos do que a nossa capacidade de sentir. Nenhum outro ser vivo tem o privilégio de poder emocionar-se com uma música, um pôr-do-sol, uma paisagem. Nenhum outro ser vivo pode usufruir da mesma forma que nós do privilégio da contemplação. Sim, vemos manifestações de afeto em diversos animais, mas nenhum outro pode deixar-se tocar pelo mundo que o rodeia como nós e, da mesma forma, impactar o mundo que nos rodeia através da expressão das nossas emoções. Eu sempre fui sensível porque eu sempre me permiti sentir. Por qualquer razão que seja, sempre existiu em mim essa abertura. Sentir o vento que bate no rosto, o sol que aquece a pele, as cores do céu, das flores, das borboletas, o som do canto dos pássaros, das ondas do mar, das músicas, a emoção que surge com um bom filme ou um bom concerto. (Sou de "lágrima fácil".) E hoje, percebo que ser sensível não é qualquer tipo de fraqueza. Na verdade, talvez seja preciso uma certa coragem para se abrir a sentir. Eu abraço essa característica sem o menor constrangimento porque, hoje, acredito que é uma das melhores partes de mim. É essa sensibilidade que transborda na minha música e nos meus textos. É essa sensibilidade que toca a sensibilidade de quem me ouve ou lê. É essa sensibilidade que me mostra o mundo como eu o vejo - e é um lugar que vale a pena ver, e que eu gostaria que todos pudessem ver! E é nessa sensibilidade que vive a minha maior força: a sensação de pertencimento a algo maior que eu. Nada nos torna mais humanos do que isso.

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