sábado, 21 de janeiro de 2023

21-365


Imagine uma televisão sintonizada em um canal que passa notícias e informações 24 horas por dia, 365 dias por ano. Imagine que essa televisão só funciona bem, com som e imagem claras quando, pacientemente, ajusta a sua antena.
A televisão são as nossas sensações: 24h por dia a passar-nos informações de todo o tipo. A percepção é a antena: o que nos permite, por alguns momentos, descodificar as informações constantemente recebidas e prestar-lhes atenção.
As sensações são as informações, a percepção é o quanto estamos sintonizados para receber e descodificar as informações.
Quanto mais apuramos a nossa percepção, mais poderemos aperceber-nos das nossas sensações e tentar entendê-las, e esse é um dos caminhos para nos conhecermos melhor. Por que certas coisas me causam certas sensações? Que sensações são essas? Qual a sua origem? Por que reajo de certa forma a determinadas sensações? Por que não consigo reagir quando algumas sensações surgem? Por que nos colocamos, repetidamente, em situações diferentes, que geram sensações idênticas? Se não apuramos a nossa percepção, as nossas sensações vão acontecer sem que as questionemos, o que será como ter uma imensa amálgama de dados não processados. Imagine que a sua casa tem pilhas e pilhas de dados espalhadas por todo o lado. Já se habituou a vê-las ali, naqueles lugares específicos e nem repara que estão lá. Por isso, move-se pela sua casa em piloto automático, sempre pelos mesmos caminhos, e nem questiona que possa existir outra forma de se movimentar, outros caminhos possíveis. Na verdade, esse traçado que percorre repetidamente de forma automática, torna-se cada vez mais vincado. A dada altura, aceita-o como inevitável. A sua (falta de) percepção não lhe permite notar que está rodeado de dados que podem ser observados, catalogados, organizados e, dessa forma, criar espaços novos por onde se mover.
Estar ciente das sensações, investigá-las, prescrutá-las, é um passo desafiador mas necessário se quisermos evoluir para formas mais conscientes de existir: conhecer o caminho, como foi construído, e decidir se é por ali que quer continuar a seguir ou se vai, conscientemente, construir um novo que lhe sirva melhor.
Olhar para dentro é trabalhoso e nem sempre é um lugar confortável, mas... crescer nunca é.

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