segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

23-365

 


Imagine encontrar um extraterrestre e tentar explicar-lhe como é dormir, qual o sabor do morango, o que é amar alguém, como é dar um mergulho no mar, qual é a sensação de ver nascer um filho, como é ouvir a sua música preferida, como é beijar alguém que se ama, como é perder alguém que se ama, o que é sentir dor. Por mais vocabulário de que disponha, por maior que seja o seu talento para descrever as coisas, nunca, nunca o seu ouvinte poderá saber o que são realmente essas coisas. Nada disso cabe em palavras. Para algumas dessas coisas, não há sequer palavras que lhes façam justiça! O ser humano tem uma tendência natural para querer investigar os porquês de tudo. Ao longo da história, olhamos para as estrelas, para o universo, com tecnologia cada vez mais avançada, pisámos na Lua, aprendemos sobre galáxias distantes. Mas nada que investiguemos com a razão e a lógica poderá dizer-nos o que sentimos ao olhar para uma lua cheia num céu estrelado, ou sequer nos poderá explicar de onde surgiu a primeira molécula de energia e como ou por que razão se expandiu dando origem a todo o Universo.
Prescrutámos no interior do corpo humano, cortámos, observámos, aprendemos cada vez mais sobre o seu funcionamento. Mas nenhuma razão ou lógica explica o que é ou de onde vem essa centelha de Vida que anima o nosso corpo, nem sequer como ele foi criado com as milhares, milhões de estruturas que o compõe, como é possível que seja essa máquina complexa e absolutamente perfeita que funciona incessantemente sem que tenhamos de o ordenar. Tudo o que nos torna humanos,  está muito para além das palavras, da lógica ou razão. Pensemos no amor: podemos ler todos os poemas sobre amor, conhecer todos os grandes romances da história, imaginá-lo, antecipá-lo, conhecer as reações químicas que ocorrem no nosso corpo mas, quando ele nos toca, quando nos atravessa, não há palavras que possam descrevê-lo. Só podemos senti-lo, vivê-lo.
A busca de sentido faz parte da nossa natureza. Mas o nosso equívoco talvez seja pensar que esse sentido pode estar descrito num livro de algum sábio, explicado com equações matemáticas e postulados lógicos. Talvez a nossa busca não seja de um sentido, mas de um sentir. É o sentir que nos percorre por dentro, que penetra em cada célula nossa e nos dá aquela sensação inquestionável de "é isto!" Isto o quê? Não saberia dizer. Mas, por vezes, sinto-o e sigo, de coração aberto e sem qualquer receio, na busca desse sentir.
"Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz." (Alberto Caeiro)

Sem comentários:

Enviar um comentário