domingo, 9 de julho de 2023

137-365

 


Festival de Inverno de Campos do Jordão é sempre uma boa oportunidade para visitar a Sala São Paulo. E não poderíamos ter escolhido dia mais simbólico: hoje a Sala comemora 24 anos de existência. Quase meio século a brindar São Paulo com o melhor da música, e em condições privilegiadas: é, sem dúvida, uma sala de concertos muito especial. Impressiona pela estética, pela beleza única e pela fantástica acústica. Hoje aproveitamos o Boulevard que liga a lindíssima Estação da Luz ao estacionamento da Sala São Paulo de forma prática e mais segura.
Ouvimos Wagner e Shostakovich. Excelente música, e primorosamente interpretada pelos jovens da Orquestra do Festival. Infelizmente, por se tratar de um concerto gratuito, o público não foi dos mais fáceis. Logo no primeiro minuto de Prelúdio e Morte de Amor (de "Tristão e Isolda", de Wagner), exatamente no primeiro silêncio dramático da música, começou a tocar incessante e gritantemente um alarme de telefone que se assemelhava a um alarme de incêndio. O maestro baixou os braços, encarou a orquestra, esperou que o silêncio se reinstalasse, e recomeçou a música! Nunca antes na minha vida tinha visto tal coisa. E foi, sem dúvida, a melhor opção. Pelo meio, tivemos de lidar com dois bebés de meses que resolveram interagir entre si durante "Tristão e Isolda". O Mateus segredou-me discretamente "Eles estão a dialogar!.." Sim, dialogaram e expressaram-se muito para além do que seria desejável. Isto sem mencionar as terríveis tosses barulhentas que parecem atormentar qualquer sala de concertos seja lá em que lugar do mundo for. Poderia ter ficado chateada, irritada com aqueles percalços, mas fiz uma escolha consciente de simplesmente curtir a música, trazendo o meu foco de volta a ela a cada vez que alguma distração surgisse. E, assim, pude aproveitar mais de uma hora de música incrível e vibrante. Temos sempre uma escolha. Apesar e além de todas as circunstâncias. Temos sempre uma escolha. É preciso escolher sempre o que nos faz bem, o que nos faz felizes. Saímos de lá a rir das situações caricatas que ali presenciamos e inspirados e emocionados pela força da música russa que tínhamos acabado de ouvir. Valeu a pena.

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