segunda-feira, 31 de julho de 2023

154-365

Depois de conviver há mais de quatro anos com o nosso cachorro, alguns gestos dele são totalmente previsíveis. A forma como corre para a cozinha cada vez que nos ouve mexer em embalagens e, ao chegar lá, senta-se elegante e educadamente à nossa frente com o olhar que diz "estou aqui...olha para mim tão comportado. Tem alguma coisa aí para mim?" Os latidos quando ouve a campainha da porta ou alguém falar na calçada perto da porta. A forma como aguarda, sentado, enquanto nos deitamos e, depois, como se aninha nas minhas pernas. A forma como reage quando ouve algumas palavras como "banho", "brincar lá fora" ou "vamos". A forma como pula para cima de mim com a bola cada vez que me sento no tapete no chão para fazer as minhas práticas de yoga ou exercício.  Podem dizer-me "os animais são assim: condicionados." Mas eu reflito: quantos dos nossos gestos e palavras de todos os dias não são igualmente condicionados? Quantas das nossas palavras, gestos e reações são conscientes? A única diferença entre o nosso cachorro e nós é que nós temos a faculdade e, por isso, a possibilidade de nos libertar, conscientemente, desses condicionamentos. “Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço está o poder de escolher a nossa resposta. Na nossa resposta encontra-se o nosso crescimento e a nossa liberdade.” (Vitor Frankl) O primeiro passo é aperceber-se de que o automatismo existe, perceber que alguma coisa "amarra" a nossa forma de (re)agir. Comece por questionar por que faz o que faz, por que acredita no que acredita, por que certos "gatilhos" mexem aí dentro. Ao questionar, cria um espaço. Nesse espaço, cria uma possibilidade: escolher de forma diferente da que seria a sua "automática". Não é tarefa fácil: dados científicos comprovam que o nosso consciente corresponde apenas a 5% da nossa forma de operar, e a sua capacidade de processamento de dados é mais de 200 mil vezes inferior à do inconsciente! Pense no consciente e inconsciente como o piloto e o piloto automático. O piloto automático tem a sua utilidade na poupança de energia mas, procure, cada vez mais na sua vida, questionar-se "quem está a escolher o destino?"


Sem comentários:

Enviar um comentário