segunda-feira, 10 de julho de 2023

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Já há vários anos que absorvi uma grande verdade da qual, para meu próprio bem, tento relembrar-me constantemente: não podemos esperar dos outros o que eles não nos podem dar. Cada um dá o que é e o que pode e sabe (em determinado momento). Quando criamos falsas expectativas, que não correspondem à realidade do que o outro é, estamos a sentenciar-nos a constantes decepções. Não quero com isto dizer que temos de ser pessimistas e esperar o pior dos outros, ou não esperar nada de ninguém. A questão é esperar as coisas certas das pessoas certas. Por exemplo: não posso querer que todos os meus alunos tenham a mesma atitude, postura e resultado. Porque eles são todos diferentes! De alguns espero progressos semanais, de outros apenas que evoluam na aula e progridam, a pouco e pouco, dessa forma. Também não espero atitudes iguais dos meus amigos ou familiares, porque todos são diferentes. Não posso esperar de A as atitudes de B porque A não é B. Aliás, dei por mim a refletir novamente sobre este assunto quando percebi que uma das mensagens mais bonitas e carinhosas de "feliz aniversário" que recebi veio de uma querida amiga que, precisamente, nesse dia, estava a passar por uma dolorosa perda. Ainda assim, dedicou uns minutos do seu dia difícil para derramar amor naquela mensagem. Como tem feito, aliás, ao longo destes anos em que vivo fora. Sempre presente. Além de quaisquer expectativa que eu tivesse quando vim para o Brasil.
É preciso tentar entender quem é o outro, e tentar encaixar as nossas expectativas nessa realidade. Normalmente fazemos o oposto: criamos expectativas baseadas em uma realidade que nós mesmos idealizamos. Um enorme castelo de cartas! Eu acredito que andamos todos aqui a dar o nosso melhor. A questão é que, muitas vezes, padronizamos ou generalizamos o que seria esse "melhor". Só que o melhor de cada um é, literalmente, o melhor de cada um. A nossa tendência é esperar ou querer do outro o que é o nosso melhor, e não o deles: o que nós faríamos, o que nós seríamos naquela situação. (Ou pior: exigir ainda mais dos outros do que nós mesmos sabemos dar!) Mas é o outro que está ali. Não nós. Da mesma forma, por vezes, os outros também se decepcionam connosco porque nos julgam pelos seus padrões, julgam-nos por quem eles são ou por quem gostariam que fôssemos. Mas nós somos só quem somos. E o outro é só quem ele é. Não é dever do outro corresponder às nossas expectativas, assim como não é nosso dever corresponder às dos outros. As expectativas, de parte a parte, são obstáculo ao entendimento. O mais bonito de se amar alguém é saber aceitar o outro por inteiro. Não apenas as partes boas, não apenas "quando" ou "se" (corresponde às nossas expectativas), mas sempre.  Amor incondicional é um dos mais belos pleonasmos da Língua Portuguesa.

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