sexta-feira, 14 de julho de 2023

140-365

 


Há momentos marcantes na nossa vida em que sentimos uma felicidade extasiante, que nos faz flutuar. Aquele beijo, aquele concerto, aquela conquista profissional, o nascimento de um filho. Momentos únicos e inesquecíveis que nos tiram completamente do chão! E há momentos aparentemente banais, em que a felicidade nos preenche por completo, vinda não se sabe de onde. Porque o vento fez balançar as folhas, porque a lua nos sorriu, porque o ar entrou nos nossos pulmões ou o coração bateu no peito, porque sentimos o perfume das flores, porque a nuvem dançou no céu, ou a água correu para nosso deleite. Ou por uma mera sensação. Apenas porque parámos um segundo, percebemos o mundo à nossa volta e o percebemos inteiro dentro de nós. E isso fez-nos sentir profundamente gratos por ter o privilégio de estar Aqui. Essa felicidade agarra-nos ao chão. Faz-nos enraizar em nós mesmos. Nela, percebemo-nos como uma parte de tudo o que nos rodeia, e percebemos tudo o que nos rodeia como parte de nós.
Guardo na memória todos os momentos incríveis que me fazem flutuar, mas percebo cada vez mais que a felicidade mais autêntica encontra-se é nestes momentos de pé no chão, em que ela nos visita sem razão aparente (ou por todas as razões aparentes). Só porque estávamos receptivos à sua chegada, de coração aberto. Já dizia o genial Guimarães Rosa “Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria… Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos… Essa… a alegria que ele quer.” Essa, a felicidade que, nas palavras do mesmo autor "se acha é em horinhas de descuido". 

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